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8/01/2015

Papel da família é essencial no tratamento do alcoolismo

Os parentes estão envolvidos desde a adesão ao tratamento até a superação das dificuldades

A dependência alcoólica geralmente representa um impacto profundo em diversos aspectos da vida do indivíduo e também daqueles que estão ao seu redor. Na novela "Em Família", no ar na Rede Globo às 21h, o personagem Felipe (Thiago Martins) é alcoólatra, e é possível perceber como isso afeta sua família. Tanto que sua sobrinha Luiza (Bruna Marquezine), decidiu ajudá-lo a superar o problema.

Devido à complexidade da doença, é interessante que os programas de tratamento sejam multidisciplinares para atender às diversas necessidades do paciente, como aspectos sociais, psicológicos, profissionais e até jurídicos, conforme demonstrado em diversos estudos, sendo mais eficaz na alteração dos padrões de comportamentos que o levam ao uso da substância, assim como seus processos cognitivos e funcionamento social.

Antes de iniciar o tratamento, é necessária uma avaliação do paciente, procedimento que pode envolver diversos profissionais da saúde, como médicos clínicos e psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, assistentes sociais e enfermeiros. Quando diagnosticado, deve contar com acompanhamento a médio e longo prazo para garantir o sucesso do mesmo, que varia conforme a progressão e gravidade da doença. 

Durante o tratamento, deve-se ter como meta a abstinência; no entanto, por inúmeras razões, esta pode não ser obtida no início e nem mesmo ao longo do tempo. Apesar disso, o indivíduo ainda pode ter benefícios por permanecer no processo, com minimização dos prejuízos psicossociais, tratamento de comorbidades clínicas e psiquiátricas, além de outras condições ligadas à dependência. Nota-se, ainda, que quanto maior o número de envolvidos no processo, como família, amigos, professores e colegas de trabalho, maiores são as chances de adesão ao tratamento e recuperação.

A família, em especial, é a peça-chave tanto na prevenção do uso nocivo do álcool, conforme abordei no artigo "O papel da família na prevenção e no consumo precoce de álcool", como em casos em que o problema já está instalado. Inclusive, não são poucas as vezes em que o tratamento inicia-se pela família, principalmente porque o usuário de álcool não aceita seu problema, não reconhece que o uso de bebidas alcoólicas lhe traz consequências negativas ou, até mesmo, sente-se desmotivado para buscar ajuda.

Portanto, um acompanhamento específico e dirigido para os familiares é essencial para que compreendam a doença e seus desdobramentos e, posteriormente, recebam orientação adequada sobre a melhor forma de ajudar o ente querido e a si mesmo. Além da Orientação (ou Aconselhamento) Familiar, cujo objetivo é fornecer informações sobre a substância, orientar a família sobre como lidar com a dependência e propiciar meios para que eles se sensibilizem com o problema, há outros dois modelos frequentemente aplicados: 

Terapia sistêmica

Destinada à natureza interdependente do relacionamento familiar e como essas relações influenciam (positiva ou negativamente) a doença, sob a perspectiva da família como um sistema. O foco do tratamento é intervir nos complexos padrões de relações entre os membros da família a ponto de gerar mudanças positivas para todo o núcleo.

Terapia Cognitivo-Comportamental (familiar e de casal)

Considerando que comportamentos associados ao uso indevido de álcool podem ser reforçados por meio de interações familiares, essa abordagem tem como objetivos principais alterar comportamentos que atuam como gatilho para o uso de álcool, melhorar a comunicação entre os membros da família e fortalecer e ampliar habilidades sociais.

No entanto, vale ressaltar que muitas vezes a família adoece junto ao dependente ? fenômeno chamado de codependência. Em termos gerais, ela é descrita como uma relação disfuncional entre o paciente e o familiar, na qual o familiar passa a se preocupar mais com o dependente do que consigo mesmo, sentindo-se dominado pelas suas necessidades e desejos. 

Com o tempo, esse padrão de pensamentos e comportamentos pode se tornar compulsivo e prejudicial, como se a pessoa se tornasse dependente do dependente. Nesses casos, as próprias abordagens psicoterápicas citadas acima podem auxiliar o familiar. Contudo, existem grupos de ajuda mútua específicos para familiares, como é o caso do Codependentes Anônimos (CoDA) e os Grupos Familiares Al-Anon.

Em síntese, a família desempenha um papel importante no tratamento da dependência do álcool, já que auxilia na aderência, permanência, na superação de dificuldades decorrentes do processo e no estabelecimento de um novo estilo de vida sem o uso do álcool. Por último, a família também pode ajudar a equipe multidisciplinar identificando mudanças comportamentais abruptas, por exemplo: isolamento, irritabilidade, instabilidade do humor, prejuízo no desempenho do trabalho, que possam ser indicativos de complicações ou possíveis recaídas, as quais muitas vezes podem ser evitadas.

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