Vários estudos têm identificado Filhos de Alcoolistas - FAs como um grupo com alto risco para desenvolver problemas psiquiátricos. Além disso, filhos de pais alcoólicos são mais freqüentadores de escolas para crianças com dificuldades de aprendizagem e possuem chances quatro vezes maiores de serem adultos também dependentes de álcool ou outras drogas se comparados à população em geral.
Como um grupo de risco, FAs podem fornecer dados importantes aos estudos sobre a interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais no alcoolismo. No entanto, as pesquisas nessa área têm apresentado problemas metodológicos e resultados contraditórios. Uma variável que confunde freqüentemente é o gênero, fator muito importante no desenvolvimento de psicopatologias.
Embora um comportamento problemático na infância prediga uma possível doença psiquiátrica futura tanto em homens quanto em mulheres, os padrões são diferentes. Além disso, saber qual dos pais é alcoolista faz uma importante diferença. Pais homens alcoólicos, por exemplo, parecem estar mais associados a um elevado risco de alcoolismo de seus filhos também do sexo masculino na fase adulta, e a associação parece ainda mais forte quando o pai é diagnosticado como anti-social.
Pesquisa publicada no Brazilian Journal of Medical and Biological Research examinou a influência do alcoolismo dos pais no desenvolvimento sócio-emocional de seus filhos, e explorou particularmente as diferenças de gênero.
A pesquisa foi realizada como parte do programa Brasil-Alemanha de cooperação e troca, no projeto “Comportamento do uso de Drogas: Fatores de risco e Modelos de Vulnerabilidade”. Mais especificamente, os dados foram retirados do Estudo com Crianças de Risco de Mannheim, cidade alemã. Participaram 219 crianças, sendo 193 (95 meninos e 98 meninas) de pais não-alcoólicos, e 26 (14 meninos e 12 meninas) de pais alcoólicos (FAs).
As crianças foram analisadas do nascimento aos 11 anos de idade. Foram avaliados dados sócio-demográficos, desenvolvimento cognitivo, número e severidade de problemas de comportamento. Também foi analisada a relação entre o gênero e as diferenças nas taxas de transtornos de comportamento e de transtornos emocionais que aparecem habitualmente durante a infância ou na adolescência, segundo o Código Internacional de Doenças - CID (versão 10). Foram utilizados instrumentos como testes de QI, questionários e entrevistas.
A análise revelou um efeito significativo do alcoolismo paterno sobre o número de problemas psiquiátricos dos filhos. Houve um padrão similar entre meninas e meninos filhos de alcoolistas, com predominância de comportamentos delinqüentes e agressivos. Ao contrário dos garotos FAs, as garotas apresentaram com maior freqüência sintomas de transtornos emocionais até os 11 anos de idade.
O artigo concluiu que as crianças de pais alcoólicos estão em um grupo de alto risco para o desenvolvimento de doenças psicológicas. As diferenças relacionadas ao gênero parecem existir e podem contribuir para características externas diferentes entre meninos e meninas durante o desenvolvimento da infância para a adolescência.
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