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9/08/2012

Teorias da Personalidade



Uma das características do ser humano que mais se relacionam com a resiliência é a personalidade. Diferentes personalidades reagem de formas distintas à necessidade de decisões, de enfrentamento, medo, tensão e estresse. Assim, nesse artigo procura-se abordar as, diferentes teorias comportamentais, de forma a melhor compreendê-las, bem como enfocar de forma particular as personalidades do dependente químico.

Carver e Scheier dão a seguinte definição: "Personalidade é uma organização interna e dinâmica dos sistemas psicofísicos que criam os padrões de comportar-se, de pensar e de sentir, característicos de uma pessoa". Esta definição de trabalho salienta que personalidade:
·       É uma organização e não um aglomerado de partes soltas;
·       É dinâmica, não estática e imutável;
·       É um conceito psicológico, mas intimamente relacionado com o corpo e seus processos;
·       É uma força ativa que ajuda a determinar o relacionamento da pessoa com o mundo que a cerca;
·       Mostra-se em padrões, isto é, através de características recorrentes e consistentes;
·       Se expressa de diferentes maneiras - comportamento, pensamento e emoções.
Asendorpf complementa essa definição. Para ele personalidade são as particularidades pessoais duradouras, não patológicas e relevantes para o comportamento de um indivíduo em uma determinada população. Esta definição acrescenta àquela de Carver e Scheier alguns pontos importantes:
·       Os traços de personalidade são relativamente estáveis no tempo;
·       As diferenças interpessoais são variações frequentes e normais - o estudo das variações anormais é objeto da psiquiatria e da psicologia clínica;
·       A personalidade é influenciada culturalmente. Sua observação se relaciona apenas à população em que foi estudada e, qualquer extrapolação para outras populações só pode ser feita por meio de verificação empírica e, preferencialmente, estudos antropológicos, sociais e culturais.
Forma Física
A possibilidade de haver uma real relação entre a forma física e as características psicológicas não é improvável, mas não de maneira direta, como pensava Kretschmer. A forma física pode, através de um processo de auto percepção, ser considerada positiva ou negativa.
Assim, pode influenciar a autoestima e os traços de comportamento, influenciar os motivos e interesses, assim como as tendências de comportamento. No entanto, não apenas a auto percepção pode influenciar a autoestima e os interesses de alguém; o juízo de outras pessoas e a reação dessas também desempenha um importante papel nesse processo.

Temperamento

Temperamento designa as disposições do indivíduo, ligadas à forma do comportamento, principalmente as ligadas aos "três A’s da personalidade": Afetividade, Ativação (excitação) e Atenção.

Competências ou habilidades

Competências ou habilidades são traços da personalidade que exprimem a capacidade de alguém de alcançar determinada realização ou desempenho.

Inteligência

Inteligência é um construto complexo que descreve a capacidade intelectual do indivíduo.

Criatividade

Guilford define criatividade como a capacidade de pensar divergentemente, ou seja, de encontrar soluções diferentes e novas para um problema, em oposição ao pensamento convergente que encontra soluções para problemas para os quais há apenas uma resposta correta. Já Russ (1993) trabalha com um conceito mais amplo, que inclui traços afetivos do indivíduo, como a tolerância de ambiguidade, a abertura diante de novas experiências, grande número de interesses e baixa tendência para o uso de mecanismos de defesa.

Competência social e inteligência emocional

É a capacidade de lidar com outras pessoas, sendo de difícil definição, por conter dois componentes distintos, que têm entre si uma correlação muito pequena: a capacidade de defender e/ou de impor os próprios interesses e a capacidade de construir relacionamentos.
Em todas as suas definições não representa uma atividade intelectual - ou seja, não corresponde à ideia de inteligência. O termo "inteligência emocional" refere-se, sobretudo, a determinadas competências no lidar com emoções que, apesar de serem estáveis na personalidade do indivíduo, costumam variar de acordo com as emoções envolvidas - ou seja, a pessoa pode saber lidar bem com a emoção medo, mas não com a raiva.

Necessidades, motivos e interesses

Enquanto "temperamento" refere-se à forma do comportamento ou da ação, necessidades, motivos e interesses dizem respeito à direção da ação, ou seja, aos seus objetivos - estando assim intimamente ligados à motivação. As pessoas variam com relação ao significado pessoal de diferentes necessidades, que determinam, por sua vez, suas ações e seu comportamento.
Motivos são disposições ligadas ao valor atribuído às consequências dos atos - como, por exemplo, a "busca de sucesso" ou a "evitação de fracassos"; podem ser fins mais ou menos desejáveis e são frutos de uma interação entre necessidades e pressões externas. Interesses também incluem uma valoração, mas direcionados para a ação em si, independente do resultado - por exemplo, jogar xadrez ou jogar cartas podem ser consideradas ações mais ou menos agradáveis, independentemente do sucesso atingido.
Os motivos são disposições ligadas ao valor dado às consequências de uma ação. Eles estão assim intimamente ligados às expectativas do indivíduo com relação a suas ações. Há diferentes estilos de expectativas, como é o caso de pessoas mais ou menos pessimistas ou otimistas. Durante a realização de uma atividade agem os chamados mecanismos de controle da ação, que têm por objetivo, proteger a ação contra intenções concorrentes.
Aqui podem manifestar-se diferentes estilos de controle da ação. Por exemplo, pessoas perseverantes são capazes de "desligar-se" por algum tempo de outras atividades a fim de alcançar um determinado resultado, enquanto pessoas menos perseverantes distraem-se mais facilmente.
Quando a ação atinge o seu resultado surgem juízos relacionados à sua causa: por que determinada coisa aconteceu? A esse tipo de juízo dá-se o nome de atribuição. Também quanto à atribuição há diferentes estilos - por exemplo, algumas pessoas tendem a colocar a culpa sempre nos outros ou a se sentir sempre responsáveis.
Esses três grupos de características da personalidade (estilos de expectativas, de controle da ação e de atribuição) foram chamados por Asendorpf de convicções ligadas à ação.
Um tipo especial de expectativas são as chamadas expectativas de auto eficácia, percebidas, ou ainda, expectativas subjetivas de competência. Estes termos designam a expectativa que uma pessoa tem de ser capaz de realizar determinada tarefa. Esta característica da personalidade está intimamente ligada aos diferentes estilos de atribuição.
Uma pessoa que tende a se considerar incapaz de realizar uma tarefa pode considerar, com maior probabilidade, o seu sucesso como mera obra do acaso e não uma realização pessoal.

Estilos de superação

O termo coping foi gerado no contexto da pesquisa sobre o estresse e designa os mecanismos que auxiliam o indivíduo a superar uma situação estressante. Lazarus (1966) diferencia entre dois tipos de coping:
·         Coping orientado para o problema, que é a busca de uma modificação da situação que causa o estresse, e
·         Coping intrapsíquico, que é uma mudança na maneira da pessoa lidar com a situação ou com as emoções provocadas.

Juízo de Valor

Temperamento, competências e as disposições ligadas à ação são traços de personalidade ligados ao comportamento. Outro grupo de traços está ligado às particularidades da valoração ou do juízo de valor. Valorar um objeto, da percepção ou do imaginário, é dar-lhe valor, gerando preferências que podem tornar-se relevantes para o comportamento.

Postura

Por postura entende-se a tendência individual de se julgarem determinados objetivos ou disposições de ação como desejáveis ou indesejáveis. Entre os diferentes tipos de postura e as disposições de comportamento correspondentes há uma correlação - ou seja, pessoas que valorizam novidades (postura) tendem a ser curiosas (disposição de comportamento); pessoas ansiosas (disposição de comportamento) costumam valorizar a segurança (postura).

Atitude

Atitude designa as particularidades individuais na valoração de objetos específicos, quer da percepção, quer da imaginação. As atitudes influenciam não o comportamento diretamente em uma dada situação, mas o comportamento em uma série de situações diferentes. A principal diferença entre postura e atitude é o grau de abstração dos objetivos a que se referem, referindo-se a atitude a elementos mais concretos. No entanto a diferença entre "mais" e "menos" concreto é uma diferença quantitativa e assim a distinção entre as duas disposições nem sempre é clara.

Disposições ligadas à própria pessoa

Eu, designa a instância interna da pessoa que é responsável pela ação e pelo conhecimento;
Mim, designa a parte interna da pessoa que é objeto do conhecimento, ou seja, aquilo que eu sei sobre mim. Esse conhecimento tem, por sua vez, duas partes: uma descritiva, a autoimagem, e outra valorativa, a autoestima.
Autoimagem é a descrição de si mesmo; é também disposicional, ou seja, é uma tendência relativamente estável que a pessoa tem de se ver de uma determinada maneira em determinadas situações. Ela é composta tanto pelo conhecimento universal, que diz respeito a todas as pessoas que são como eu, como pelo conhecimento individual, ou seja, relativo somente a mim. Como se vê esse conhecimento também é influenciado por preconceitos e ideias preconcebidas.

Autoestima

A autoestima, como parte valorativa do conhecimento de si mesmo, ou seja, o juízo que eu faço sobre mim mesmo. Pode ser concebida como a atitude de uma pessoa sobre si mesma e assim também uma característica da personalidade, se bem que menos estável do que a autoimagem por ser sensível a variações do humor. A autoestima é uma característica da situação-específica, ou seja, ela varia de acordo com a situação: eu posso estar satisfeito comigo mesmo quando estou na universidade, mas insatisfeito quando estou na quadra de esportes.
Outros aspectos ligados à autoestima são as chamadas cognições ligadas a si mesmo: propriocepção, a percepção do próprio corpo e do próprio comportamento; a memória de si, as recordações ligadas à própria pessoa e às experiências do passado; o reflexo social, ou seja, a opinião que pensamos que outras pessoas têm a nosso respeito e a comparação social, ou seja, a autoestima não é apenas baseada na nossa percepção de nós mesmo, mas também na percepção que nós fazemos dos outros a nosso redor.
Um dos motivos mais descritos na literatura psicológica é o motivo de aumento da autoestima: todas as pessoas desejam ter uma autoestima positiva e têm assim uma tendência a se supervalorizar.
Essa tendência é normal e saudável até um determinado ponto, em que passa a ser socialmente condenada. Nesse momento, caracterizado pela falta de empatia, hipersensibilidade com relação a críticas e variações do humor, essa tendência recebe o nome de narcisismo - mas não se trata ainda do transtorno de personalidade narcísico, mas de uma variação normal da personalidade.
Outro processo importante ligado ao conceito de si mesmo é a auto representação. O sociólogo E. Goffman comparou o comportamento social a um teatro público, em que nós nos representamos a nós próprios. Essa representação tem um determinado fim: a administração da própria imagem, ou seja, cada um procura controlar a impressão que ele provoca sobre os outros.
Há momentos em que temos a nossa atenção voltada para nós mesmos. A esse estado normalmente curto dá-se o nome de autorreflexão. A essa disposição Asendorpf deu o nome de autoconsciência. Esta é por sua vez composta de três fatores (Feingstein et al., 1975): (i) autoconsciência privada, ou seja, a tendência de pensar muito sobre si mesmo; (ii) autoconsciência pública, em outras palavras, a tendência de se preocupar sobre a impressão que se causa sobre outros, e (iii) ansiedade social, que é a tendência a ter medo em situações sociais.
Uma forma muito interessante de avaliar essas disposições pode ser a aplicação da Janela de Johari. É uma técnica utilizada para promover o entendimento das relações interpessoais e relacionamentos entre os participantes de um grupo.

Para facilitar o entendimento das regras básicas da comunicação interpessoal, Joseph Luft e Harry Inghan idealizaram, em 1961, um diagrama conhecido pelo nome de Janela de Johari, onde através de apenas quatro retângulos, dispostos em forma de janela, podemos conceituar todo o processo de percepção de um indivíduo em relação a si mesmo e aos outros. Os autores partiram do princípio de que cada um de nós tem (ou pode ter) quatro imagens distintas:
§     Imagem aberta: Você sabe que é o os outros sabem que você é.
§     Imagem secreta: Você sabe que é, mas os outros não sabem que você é.
§     Imagem cega: Você não sabe que é, mas os outros sabem que você é.
§     Imagem desconhecida: Nem você nem os outros sabem que você é.
A imagem aberta é aquela que expomos plenamente; nós somos assim e todos sabem que somos assim. É uma espécie de retrato onde nos identificamos imediatamente e todos são capazes de nos identificar.
A imagem secreta é de difícil percepção pelos demais, seja em razão do nosso propósito em escondê-la, seja pela dificuldade que apresenta para ser decodificada. Esta imagem comporta as taras sexuais e os sentimentos como o da inveja, por exemplo.
A imagem cega é aquela que traduz o lado desconhecido por nós mesmos, mas de fácil percepção pelos outros. É caso do "chato"; ele não sabe que é chato, mas as pessoas o veem como tal e não têm a menor dúvida disso.
A imagem desconhecida é a mais complexa de todas, visto que nem nós nem os outros temos acesso a ela dentro dos padrões convencionais de comunicação interpessoal. Normalmente é aquela que encerra nossas potencialidades e todo o complexo mundo do nosso subconsciente.
Considerando que a nossa capacidade de comunicação decorre fundamentalmente da facilidade que oferecemos para a "decodificação" da nossa imagem, entende-se que quanto mais aberta for a nossa imagem, mais interação pode provocar no meio em que vivemos.
Convém, entretanto, lembrar que as imagens são decodificadas segundo padrões estabelecidos pela sociedade (conceitos). Assim, a imagem aberta será tão mais aberta quanto mais enquadrada estiver dentro de tais conceitos. Por exemplo: o homem culto - e que sabe que é culto - só será visto como culto se os outros tiverem o mesmo conceito de cultura que ele. E esta regra se aplica em todas as circunstâncias.

Bem-estar

O bem-estar designa a parte subjetiva da saúde mental. Apesar de ser também influenciado por fatores externos ao indivíduo e de suas capacidades, o bem-estar representa também um determinado traço da personalidade relativamente independente de tais fatores.
A pesquisa conseguiu determinar princípios para descrever a estabilidade dos traços de personalidade da seguinte maneira:
·                     Quanto maior o intervalo entre a primeira e a segunda medição, maior a mudança - ou seja, os traços da personalidade se modificam com o passar do tempo;
·                     Em diferentes áreas da personalidade a estabilidade também é diferente - por exemplo: durante a vida a inteligência tem uma estabilidade muito alta; já o temperamento tem uma estabilidade mediana enquanto a autoestima pode variar muito;
·                     Muitos traços da personalidade são tanto mais instáveis quanto mais instáveis são as variáveis do ambiente social – assim, mudanças bruscas no ambiente podem trazer consigo mudanças maios ou menos abruptas na personalidade da pessoa;
·                     Na infância, quanto mais cedo é feita a primeira medição, mais instáveis são os traços da personalidade - isto é, com o aumento da idade há uma tendência de estabilização das características da personalidade, se bem que na puberdade possa haver alguns momentos passageiros de instabilidade;
·                     No decorrer do desenvolvimento a autoimagem torna-se cada vez mais estável - o conhecimento que a criança tem de si mesma cresce com o tempo e, se o ambiente for relativamente estável, também a estabilidade nas formas de reação a ele cresce;
·                     Com o aumento da idade aumenta também a possibilidade de a criança modificar o seu ambiente a fim de que ele se adéque à própria personalidade - a criança pode escolher as atividades que lhe agradam, os amigos, etc.;
·                     Não apenas os traços individuais tendem a se tornar cada vez mais estáveis – mas, o perfil geral da personalidade também tende a uma crescente estabilidade.
Com relação ao comportamento a resiliência é uma medida qualitativa da capacidade do indivíduo adaptar-se de maneira positiva diante de situações adversas, mantendo seu desenvolvimento normal e recuperando-se dos efeitos estressores. A forma como cada um lida com situações como morte, separação, traição, agressão, abuso sexual, perseguição racial, entre tantas outras é muito variável e sujeita a incertezas significantes, retornando diferentes padrões de resiliência.
Esta qualidade de seguir em frente e sair fortalecido de uma crise tem feito com que a medicina se interrogue por que alguns são mais resilientes que outros. Têm sido detectados alguns fatores retratores como: os traços de personalidade, a maturidade, a capacidade de manejar as próprias emoções, a capacidade de lidar com ocorrências adversas e estressantes.
Aceitar as circunstâncias que não podem ser mudadas pode ajudar a concentrar-se sobre as que se podem alterar. Agir em lugar de tentar evitar o confronto com os problemas é ser resiliente. As pessoas podem aprender sobre si mesmas a partir de suas lutas e de suas perdas, desenvolvendo a confiança em sua habilidade para resolver problemas e valorizando seus instintos que irão ajudar a construir a resiliência.
Resumindo, resiliência é a capacidade de psicoadaptação de cada ser humano. Adaptar a sua psique às mudanças da vida sempre com retorno positivo.
Teoria dos Traços de Personalidade

A teoria dos traços de personalidade é um modelo explicativo do comportamento humano que implica na existência de recursos estáveis na estrutura da personalidade dos indivíduos. Deste ponto de vista, a personalidade consiste de uma hierarquia de traços estáveis e consistentes que determinam, explicam e, de certa forma, permitem prever comportamentos individuais, na medida em que guiam a forma com que cada indivíduo pensa e interpreta a realidade. Essa é uma área onde os avanços da informática mais têm contribuído, permitindo o desenvolvimento de pesquisas que expliquem esses fenômenos de um ponto de vista sistêmico, incerto, dinâmico, complexo e, porque não, caótico.

A metodologia para o estudo e a explicação do comportamento humano foi desenvolvida com base em modelos diferentes. A um nível geral, podem-se distinguir três modelos principais:
O Modelo Internalista pressupõe que o comportamento humano é determinado por variáveis próprias internas e individuais, portanto, é estável e consistente. Dentro do modelo de internalista podem ser distinguidas:
·         As teorias processuais ou de estado, que salientam a importância dos estados e mecanismos internos do indivíduo;
·         As teorias estruturais ou dos traços, onde o comportamento é determinado por uma estrutura de personalidade formada por uma série de fatores globais e estáveis.
O Modelo Situacionista enfatiza determinantes externos do comportamento humano, assumindo que o mesmo varia a qualquer momento dependendo das condições ambientais.
O Modelo Interacionista considera que o comportamento pode ser explicado pela interação entre os dois tipos de variáveis; internos e externos.
Um dos primeiros teóricos que se aventurou no estudo do comportamento humano do ponto de vista dos traços de personalidade foi Gordon Allport. Para Allport, comportamento humano responde à necessidade de conduta de acordo com o que é chamado uma operação própria ou proprium; ou seja, de uma forma consistente com a maneira em que o indivíduo se percebe. Neste sentido, o proprium é derivado do conceito do self proposto do ponto de vista fenomenológico.
Assim, o proprium é formado através do desenvolvimento de uma série de traços ou disposições pessoais. Allport definiu esta disposição como uma estrutura neuropsíquica generalizada de (peculiar do indivíduo) que tem a capacidade de transformar muitos estímulos em funcionalmente equivalentes e de iniciar e orientar formas consistentes (equivalentes) de comportamento estilístico e adaptável.

No proprium, Allport distinguiu três tipos de traços ou disposições, em função do seu grau de penetração e influência no comportamento do indivíduo.

·         Os traços cardinais seriam aqueles que estão presentes em todos os comportamentos;

·         Os traços centrais seriam aqueles de natureza genérica que caracterizam a personalidade e normalmente oscilam entre cinco a dez por pessoa;

·         Os traços secundários seriam disposições menos gerais ou mais periféricas, mas que ocorrem esporadicamente em certos comportamentos específicos.

Modelos fatoriais da personalidade
A teoria dos traços de personalidade tem recorrido frequentemente à técnica estatística de análise fatorial para articular o conjunto de características e dimensões sobre os quais se estrutura a personalidade humana. Existem duas correntes distintas a esse respeito. Por um lado, os modelos fatoriais biológicos baseiam-se na influência exercida por fatores fisiológicos e constitucionais para caracterizar traços de estrutura de personalidade. Por outro lado, modelos léxicos fatoriais baseiam-se em termos linguísticos que podem descrever os diferentes atributos da personalidade.

Assim, enquanto os primeiros são baseados em conceitos psicobiológicos, os segundos recorrem ao vocabulário e à linguagem para identificar as principais dimensões da personalidade. Neste sentido, tem sido considerado que o modelo fatorial léxico sofre de uma menor capacidade explicativa ao limitar-se a uma mera descrição dos comportamentos, com base em conceitos puramente linguísticos, enquanto o modelo biológico dá um passo adiante para fazer inferências causais de tipo psicobiológico sobre os comportamentos observados.

Teoria da personalidade de Eysenck
O modelo proposto por Eysenck baseia-se numa longa tradição de pesquisa sobre a personalidade, sendo capaz de definir um número de etapas que contribuem significativamente para o modelo final exposto pelo psicólogo alemão. Assim, sua teoria da personalidade considera as seguintes fontes:
A teoria dos quatro humores ou temperamentos proposta por Hipócrates e Galeno, que remete para os quatro temperamentos básicos: hipocondríaco, fleumático, melancólico e sanguíneo.
As contribuições de Wundt inspiradas pela tradição kantiana ao dividir os quatro temperamentos clássicos em uma teoria de dois eixos: intensidade/força e rapidez/velocidade que se correspondem com as dimensões de Eysenck de neuroticismo e introversão/extroversão, respectivamente.
A interpretação de Ivan Pavlov dos temperamentos clássicos em eixos de força / fraqueza; equilíbrio / desequilíbrio e impulsividade / lentidão.
As teorias constitucionais de Ernst Kretschmer e William Herbert Sheldon.
Os estudos de Carl Jung, que relacionou a extroversão com transtornos histéricos e a introversão com os transtornos psicastênicos.
As contribuições de Francis Galton, Charles Spearman, Louis Leon Thurstone, Karl Pearson e Raymond Cattell à utilização da metodologia estatística e especificamente da análise fatorial, no campo da psicologia e no estudo das diferenças individuais.
Estrutura hierárquica da personalidade
Usando métodos estatísticos como a análise fatorial, Eysenck determinou que muitos traços que são adequados para descrever a personalidade humana podem ser reduzidos a três dimensões básicas: Psicoticismo, Neuroticismo e Extroversão. Esses 'superfatores' seriam ortogonais, ou seja, independentes. A personalidade de cada indivíduo poderia ser determinada consoante à sua pontuação em cada uma dessas três dimensões.
As três dimensões, propostas por Eysenck são o resultado do agrupamento de fatores mais específicos através de técnicas estatísticas de análise multivariada. Assim, Eysenck desenvolveu um modelo hierárquico em quatro níveis, de menor à maior especificidade.
§  No primeiro nível encontram-se ações, cognições e emoções específicas;
§  No segundo nível, ações, emoções e cognições usuais;
§  No terceiro nível aparecem os traços;
§  No quarto nível de abstração se conformam três dimensões ou superfatores. Assim, as dimensões são compostas dos seguintes traços:
·         Neuroticismo: Tristeza, timidez, depressão, ansiedade, tensão, medo, culpa, irracionalidade, vergonha, mau humor, emotividade, preocupação.
· Extroversão/Introversão: sociabilidade, atividade, assertividade, despreocupação, dominância, busca por sensações, ousadia, espontaneidade, rapidez.
·         Psicoticismo: Impulsividade, agressividade, hostilidade, frieza, egocentrismo, falta de empatia, crueldade, falta de conformismo, resistência mental.

Eysenck entendeu que cada um desses fatores se relaciona a determinadas estruturas cerebrais. Assim, o neuroticismo está relacionado com o grau de ativação do sistema límbico e a extroversão com a atividade do sistema reticular ativador ascendente. A dimensão 'Psicoticismo' tem sido objeto de um menor número de estudos, mas é frequentemente associada ao sexo masculino.

Instrumentos de medida

Eysenck desenvolveu uma série de instrumentos de avaliação da personalidade com base nestas dimensões. Assim, entre outros, estão:

§   O questionário médico de Maudsley (MMQ, 1952); para medir o Neuroticismo, incluindo 18 itens da escala L (mentira) do MMPI.

§   O inventário de personalidade de Maudsley (MPI, 1959); um instrumento de medida das dimensões Neuroticismo e Extroversão, elaborado a partir das escalas R (Ratimia) e (C) (Emocionalidade) de Joy Paul Guilford, consistindo de duas subescalas de 21 itens cada.

§   O inventário de personalidade de Eysenck (EPI, 1965); também para medir o Neuroticismo e a Extroversão. Inclui uma escala de sinceridade: Questionário de personalidade de Eysenck (EPQ, 1975), que mede o Neuroticismo (N), a Extroversão (E), o Psicoticismo (P) e uma escala de sinceridade (L).

Modelo de Gray

A partir da combinação dos fatores do modelo hierárquico de Eysenck, Gray desenvolveu uma reformulação própria, com base em duas dimensões unipolares, ou seja, sem um polo oposto, oferecendo uma gradação de maior ou menor intensidade em cada indivíduo.

Ansiedade: Uma mistura das dimensões introversão e neuroticismo. Esta dimensão teria correlação fisiológica na ativação de um sistema de inibição comportamental ativada ante o castigo, a omissão de recompensas ou de novos estímulos. Gray localiza este sistema inibitório no sistema septohipocâmpico do sistema límbico.

Impulsividade: Uma mistura das dimensões extroversão, psicoticismo e neuroticismo. Sua contraparte fisiológica seria o sistema de ativação comportamental, que passa a funcionar nas situações de reforço comportamental e necessidade de fuga ou evitação ativa. O sistema de ativação está relacionado com os circuitos dopaminérgicos do CNS.

Modelo de Zuckerman

Combinando a tradição biofatorial com a abordagem da teoria léxico-fatorial do modelo dos cinco grande de McCrae e Costa, Zuckerman desenvolveu um modelo de cinco fatores chamado Cinco Alternativos (Zuckerman, Kuhlman, Joireman, Teta e Kraft, 1993) a partir de suas pesquisas em torno da dimensão Busca de Sensações. Tentando elaborar sobre a caracterização de 'Psicoticismo' da dimensão de Eysenck, Zuckerman introduziu um modelo que consiste dos seguintes fatores:

§  Neuroticismo-ansiedade;

§  Agressão – Hostilidade;

§  Atividade;

§  Sociabilidade;

§  Busca de sensações impulsivas não socializadas.

 

Os fatores Atividade e Sociabilidade ocorrerem ocasionalmente sob um único fator chamado Extroversão, semelhante à proposta de Eysenck. Zuckerman desenvolveu um questionário de personalidade conhecido como questionário de personalidade Zuckerman-Kuhlman (ZQPQ, 1993) para avaliar as dimensões propostas na população, consistindo de 99 itens e uma escala adicional que avalia distorções nas respostas.

Teoria da personalidade de Cattell
Raymond Cattell desenvolveu uma teoria da personalidade fatorial baseada no conceito de traços, entendidos como uma tendência relativamente permanente e ampla, reagindo de maneiras muito específicas. Cattell entende o conceito de recurso do ponto de vista nomotético, isto é, tendo em conta que existem algumas características comuns a todos os indivíduos, ao contrário de outros autores, como Allport, para quem os traços reais são individuais.
Ao definir o número e características dos traços de personalidade importantes, Cattell recorreu à metodologia estatística de análise fatorial, com base no pressuposto de que todo o comportamento relevante para a compreensão da personalidade é refletido na linguagem. Por esse motivo, o modelo de Cattell se situa no grupo dos modelos fatoriais léxicos. Cattell postulou a existência de três tipos de traços, de acordo com seu conteúdo e seu grau de consistência e estabilidade.
Elaborou uma lista de traços de primeira ordem que, posteriormente foram a base do questionário Sixteen Personality Factor Questionnaire, 16 PF (Cattel, 1970-1975).
Traços temperamentais: caracterizados por uma forte estabilidade, são os traços de caráter inato que têm um elevado grau de hereditariedade. Eles definem o modo particular de comportamento de um indivíduo.
Traços aptitudinais ou de habilidades: referindo-se às habilidades do sujeito para enfrentar e resolver situações complexas. Também mostram um elevado nível de hereditariedade.
Traços dinâmicos: fazem alusão ao aspecto motivacional do comportamento, pois tratam dos traços que apresentam um maior nível de flutuação. Eles são subdivididos em dois componentes:
A motivação propriamente dita, que se refere ao grau de intensidade dos impulsos experimentados:
Os Érgios que são considerados tendências inatas para responder de maneira específica ante um determinado estímulo; acasalamento, medo, comportamento exploratório e belicosidade;
Os sentimentos são padrões atitudinais aprendidos no ambiente cultural e respondem a fenômenos como o sentimento religioso, a realização profissional ou a autoestima.
O estado, que faz referências às condições do organismo quanto ao grau de privação de estímulos apresentados. Assim, em condições de privação, a resposta a impulsos será mais provável que em condições de saciedade.


Índice
Traço
Baixa Pontuação
Alta pontuação
A
Afeto ou Afetotimia
Sizotimia
Afetotimia
B
Inteligência
Inteligência baixa
Inteligência alta
C
Força do self
Pouca força do self / instabilidade emocional
Muita força do self / estabilidade emocional
E
Dominância
Submissão
Dominância
F
Impulsividade
Desurgência
Surgência
G
Força do superego
Pouca força do superego
Muita força do superego
H
Audácia
Trectia
Parmia
I
Sensibilidade emocional
Harria
Premsia
L
Suspeita
Alaxia
Protensão
M
Imaginação
Praxernia
Autia
N
Astúcia
Simplicidade
Astúcia
O
Culpa
Adequação imperturbável
Tendência à Culpabilidade
Q1
Rebeldia
Conservadorismo
Radicalismo
Q2
Autossuficiência
Adesão ao grupo
Autossuficiência
Q3
Autocontrole
Baixa integração de pensamentos próprios
Alta integração de pensamentos próprios
Q4
Tensão érgica
Pouca tensão érgica
Alta tensão érgica


Ao se tratar de traços de primeira ordem, estes fatores ainda apresentavam correlações entre si, portanto uma nova análise fatorial foi realizada, obtendo finalmente oito fatores de segunda ordem:
o    Exvia;
o    Ansiedade;
o     Cortertia;
o     Independência;
o    Critério ;
o    Subjetividade;
o    Inteligência ;
o    Boa educação.
Na quinta edição do questionário de personalidade, esses fatores de segunda ordem foram reduzidos a cinco:
o    Introversão;
o    Ansiedade;
o    Autocontrole;
o     Independência;
o    Dureza.

O Modelo dos Grandes Cinco - McCrae e Costa
Seguindo a metodologia usada por Cattell, Costa e McCrae recorreram à abordagem léxico-fatorial para desenvolver o que hoje é considerado o modelo mais aceito na descrição da personalidade humana. Como abordagem léxica, toma como base um amplo conjunto de descritores da personalidade existentes na linguagem natural, para, em seguida, estabelecer uma redução e depuração dos itens iniciais, por meio de vários critérios de inclusão e exclusão. Finalmente, a técnica de análise fatorial pode identificar cinco fatores essenciais, de acordo com este modelo, quando se trata de moldar a estrutura da personalidade humana.
§  Estrutura ou taxonomia básica da personalidade,
§  Consistência nos resultados obtidos com técnicas muito diferentes
§  Auto avaliações e hetero-avaliação, tanto nos questionários compostos por adjetivos como nos compostos por frases; em estudos interculturais e com acompanhamento longitudinal dos resultados obtidos.
Além disso, o modelo pretende ir um passo além da mera descrição e, como acontece com as teorias de Cattell e Eysenck, dar uma explicação causal sobre a natureza dos traços propostos, suas inter-relações e possíveis aplicações práticas.
McCrae e Costa produziram um teste específico para medir as dimensões propostas. O NEO-PI; um inventário de personalidade que deve seu nome às iniciais das três dimensões: neuroticismo, extroversão e abertura à experiência. Tem um conjunto de 181 itens no formato da escala de Likert, e outra versão revisada (NEO-PI - R) de 1992. Cada uma das dimensões propostas consiste em vários subfatores ou facetas.

Neuroticismo

Extroversão ou Afloramento
Abertura à Experiência
Cordialidade o Amabilidade vs. Antagonismo
Responsabilidade vs. Negligência

Ansiedade

Cordialidade

Fantasia

confiança

Competência

Hostilidade

Gregarismo

Estética

Sinceridade

Ordem

Depressão

Assertividade

Sentimentos

Altruísmo

Senso de dever

Ansiedade social

Atividade

Ações

Atitude conciliatória

Necessidade de realização

Impulsividade

Busca de emoções

Ideias

Modéstia

Autodisciplina

Vulnerabilidade

Emoções positivas

Valores

Sensibilidade com outros

Deliberação


Pode-se dizer que o modelo dos cinco grandes provou sua consistência nos estudos realizados em diferentes idiomas e culturas, o que é interessante quando se trata de julgar a universalidade das dimensões propostas. Da mesma forma, estudos longitudinais mostram uma estabilidade de pontuações ao longo do tempo.
Ainda com respeito aos traços de personalidade, os lobos frontais são considerados o centro de controle emocional e lócus da personalidade. Estão envolvidos na função motora, solução de problemas, espontaneidade, memória, linguagem, iniciação, julgamento, controle de impulsos e comportamentos sociais e sexuais.
Existem diferenças assimétricas importantes nos lobos frontais. O lobo frontal esquerdo está envolvido no controle de movimentos relacionados à linguagem, enquanto o lobo frontal direito desempenha um papel em habilidades não-verbais. Alguns pesquisadores enfatizam que esta regra não é absoluta e que em muitas pessoas ambos os lobos estão envolvidos em praticamente todos os comportamentos.
Um fenômeno interessante causado por danos no lobo frontal é o seu efeito insignificante em testes de QI tradicionais. Pesquisadores acreditam que isto ocorre, pois os testes de QI testam, tipicamente, o pensamento convergente, ao invés do pensamento divergente. Danos no lobo frontal parecem ter um impacto no pensamento divergente, ou na flexibilidade e na habilidade de resolver problemas, refletindo-se de certa maneira na capacidade resiliente do indivíduo.
Pensamento divergente é um processo de pensamento cujo objetivo é achar o maior número possível de soluções para um problema. Essa habilidade é usada para gerar ideias e resolver algo criativamente, estando estreitamente relacionado à resiliência. Dele surge a produção divergente, ou seja, a obtenção criativa de múltiplas respostas a um problema. Em oposição, o pensamento convergente que consiste em achar uma única solução apropriada a um problema e, portanto, denota uma baixa resiliência.
Uma das características mais comuns do dano no lobo frontal é a dificuldade para interpretar respostas ambientais. Perseveração em uma resposta (Milner, 1964), comportamentos de risco, insubordinação às regras (Miller, 1985) e perdas na aprendizagem associativa (pelo uso de pistas externas para ajudar a guiar o comportamento) (Drewe, 1975) são alguns poucos exemplos deste tipo de déficit.
Um dos efeitos mais comuns do dano frontal pode ser a mudança dramática no comportamento social. A personalidade de um indivíduo pode sofrer mudanças significantes depois de um dano nos lobos frontais, especialmente quando ambos os lobos são envolvidos. Existem algumas diferenças no lobo esquerdo em relação ao lobo direito nestas áreas. Danos no lobo esquerdo geralmente se manifestam como pseudodepressão e danos no lobo direito como pseudopsicopatia (Blumer e Benson, 1975).
O comportamento sexual também pode ser afetado por lesões frontais. Danos órbito-frontais podem desencadear um comportamento sexual anormal, enquanto danos dorso-laterais podem reduzir o interesse sexual (Walker e Blummer, 1975).
Alguns testes comuns para o funcionamento do lobo frontal são: o Winsconsin Card Sorting (inibição de resposta); Finger Tapping (habilidades motoras); e o Token Test (habilidades linguísticas).