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9/14/2012

Demência Alcoólica



Podemos dizer que a demência pode se relacionar ao alcoolismo de várias formas:
1. Alcoolistas de longa data que, pela exposição continuada do SNC aos efeitos neurotóxicos do etanol, iniciam paulatinamente distúrbios cognitivos e comportamentais, geralmente irreversíveis, e que tenderão a evoluir progressivamente, a não ser que o uso do etanol seja descontinuado.
2. Alcoolistas que desenvolvem encefalopatias agudas a partir de deficiências metabólicas ou hidreletrolíticas e que cursam com alterações cognitivas e comportamentais. encefalopatia de Wernicke e depois a psicose de Korsakoff, mielinólise pontina central (relacionada a distúrbio da concentração de sódio plasmático), doença de Marchiafava-Bignami (relacionada à necrose das porções centrais do corpo caloso).
3. Outras formas de demência (demência frontotemporal, doença de Alzheimer etc.), que se iniciam com alterações da ingestão alcoólica (num contexto de alteração orgânica da personalidade ou hiperoralidade) em pacientes sem antecedentes pessoais de alcoolismo.
4. Etilistas que apresentam encefalopatia hepática ou que foram vítimas de traumatismos cranianos ou ainda aqueles que, em virtude de TCE, apresentam hematomas subdurais crônicos.
Em alguns casos, torna-se difícil estabelecer se o alcoolismo é conseqüência ou causa do quadro comportamental observado. Isto porque sabemos que a hiperoralidade (comportamento caracterizado pela tendência aumentada de levar à boca itens comestíveis ou não), que pode se apresentar como um aumento na ingestão de álcool, é um dos manifestados pelas demências.
Também a mudança de personalidade, a perda de insight, do controle emocional e da empatia, que inclusive podem levar a atos de violência, são características tanto do alcoolismo quanto de diversas formas de demência.
De outro lado, sabemos que a dependência alcoólica crônica pode acarretar perda sináptica nas lâminas corticais frontais superiores, bem como perda neuronal significativa no córtex frontal traduzida por atrofia observada no exame anatomopatológico, bem como na neuroimagem e esta atrofia pode ser correlacionada com a presença de sintomas negativos e "hipofrontalidade" nestes pacientes, o que colaboraria para a conformação de um quadro clínico muito parecido com o que observamos nas demências. Snowden et aL (1996), defendem que uma história clínica cuidadosa geralmente é suficiente para se esclarecer se o consumo abusivo de álcool é anterior ou posterior à eclosão da demência.
A presença de complicações neurológicas do alcoolismo (neuropatias, ataxia cerebelar etc.), como também de ­conseqüências sistêmicas sobre o fígado e tubo digestivo, contrastam com a boa condição física geralmente apresentada pelo paciente com demência pura (por exemplo, doença de Alzheimer e demência frontotemporal), porém esta diferenciação pode não ser tão ­clara, principalmente se considerarmos a dificuldade em definirmos um pon­to de corte entre as manifestações cognitivas e comportamentais do alcoolismo e aquelas da demência alcoólica, até porque parece existir um continuum entre ambas as condições. Diga-se de passagem, esta dificuldade em estabelecer um divisor de águas entre as duas condições constitui a principal responsável pela relativa indefinição do que vem a ser a "demência alcoólica".
A literatura reconhece os seguintes sintomas como fazendo parte da demência alcoólica:
  •          Confusão mental ou delirium,
  •          Confabulação.
  •          Alucinações.
  •          Distúrbios de memória.
  •          Falta de insight

·    Entre as alterações de observadas na demência alcoólica, podemos ressaltar, segundo diferentes estudos:
  • Déficits na recuperação tardia e imediata de material narrativo.
  • Dificuldades relacionadas à associação de símbolos com números ou de números com uma localização   particular numa linha horizontal.
  • Desempenho ruim em testes de memória sensorial/táctil.
  • Desempenho pior da memória visual que da memória para material verbal
  • Dificuldades graves em testes de memória espacial.

Tais dados fazem supor a possibilidade de que os danos no hemisfério direito possam ser maiores que no esquerdo na demência alcoólica, indicando talvez uma maior vulnerabilidade deste hemisfério aos efeitos neurotóxicos do álcool. Cabe ressaltar, entretanto, que tal diferença não é. confirmada pelos exames de neuroimagem, que apontam para um comprometimento bilateral.