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5/25/2012

Neurobiologia da Dependência Química

Anatomia do Sistema Nervoso

O sistema nervoso rege as relações do homem com o mundo exterior e ajusta e coordena a atividade dos órgãos. É esse o sistema encarregado de perceber o mundo e promover as adaptações necessárias para a manutenção da vida. Ele coleta informações, compara-as àquelas arquivadas em experiências anteriores e decide a melhor maneira de lidar com a situação. É o sistema responsável pelo gerenciamento da informação do organismo. Informação: eis a unidade monetária do sistema nervoso. 
Os órgãos dos sentidos são os informantes. São eles que retiram do ambiente a informação bruta, a matéria prima. Essa informação chega ao sistema nervoso central. Após analisá-la, encarrega o sistema muscular e esquelético da execução de suas decisões. Isso pode significar a contração de uma glândula, o aumento da tensão muscular para preparar uma fuga, ou o aviso de que o ambiente é propício para o relaxamento.
FIGURA 1: O sistema nervoso. As porções mais escuras, formadas pelo encéfalo
 (cérebro, cerebelo e tronco encefálico) e pela medula espinhal,
constituem o sistema nervoso central. As porções mais claras
(gânglios e nervos periféricos) compõem o sistema nervoso periférico.


FIGURA 2: O cérebro humano visto a partir de sua porção lateral esquerda.

As divisões do sistema nervoso
O sistema nervoso humano é dividido didaticamente em sistema nervoso central e sistema nervoso periférico (Figura 1). O sistema nervoso central é composto pelo encéfalo e pela medula espinhal. O encéfalo é composto pelo cérebrocerebelo e tronco encefálico. Esse último tem continuação com a medula espinhal. 
Funcionalmente, pode-se dividir o sistema nervoso em sistema nervoso de vida de relação ou somático, ou seja, aquele que relaciona o organismo com o meio ambiente; e o sistema nervoso visceral, que inerva e controla as estruturas viscerais. Esse último atua de maneira autônoma, ou seja, independentemente da vontade do indivíduo. 
Exemplos da ação desse sistema são os batimentos cardíacos, o movimento dos intestinos, a secreção de hormônios, o suor, entre outros.
É claro que qualquer divisão para o sistema nervoso tem propósito exclusivamente didático, uma vez que as partes atuam de maneira integrada e una, tanto do ponto de vista anatômico, quanto funcional.
Dentro do sistema nervoso, o cérebro é a estrutura mais conhecida, desenvolvida e importante. Ele ocupa cerca de 80 - 85% da cavidade craniana. O cérebro é o órgão-alvo para o estudo das bases neurobiológicas da dependência química. As alterações causadas pelo consumo de drogas, bem como os sistemas relacionados ao surgimento da dependência estão nele situados.
Anatomia macroscópica do cérebro
Genericamente, pode-se dizer que o cérebro é composto por dois hemisférios unidos por uma estrutura denominada corpo caloso, que permite a troca e a integração das informações entre ambos (Figura 3). À primeira vista, nota-se que a superfície do cérebro é dotada de uma série de circunvoluções denominadas giros, separados e delimitados por depressões denominadas sulcos. A existência dos sulcos permite um aumento considerável da superfície do cérebro, sem grande aumento do volume. 


FIGURA 3: O cérebro humano observado de cima. À esquerda as meninges, membranas que envolvem o cérebro e cuja função é proteger o cérebro e dar sustentação aos vasos sanguíneos locais. Ao centro, os dois hemisférios cerebrais, onde se observam os giros e sulcos. À direita, removida parte central dos hemisférios, vê-se o corpo caloso, estrutura que integra os dois hemisférios e permite a comunicação entre ambos. VIRTUAL HOSPITAL (www.vh.org)
O sistema nervoso central é envolvido por membranas denominadas meninges (Figura 3; Figura 4). Há cavidades entre as meninges e o cérebro que são preenchidos por líquido incolor, cuja função é amortecer qualquer impacto mecânico sofrido pelo sistema nervoso e facilitar a distribuição e o acesso das células de defesa a qualquer região deste. Esse líquido aquoso é conhecido por líquor. 

FIGURA 4: O sistema nervoso central em relação ao corpo humano.

Os lobos cerebrais
Os sulcos cerebrais dividem o cérebro em quatro porções, denominadas lobos (Figura 5). São elas o lobo frontal, temporal, parietale occipital. Dentro dos lobos cerebrais há regiões que desempenham funções específicas (Figura 5).

Desse modo as funções memória, linguagem, audição e emoções encontram-se fundamentalmente no lobo temporal; as funções psíquicas superiores, tais como raciocínio, abstração, planejamento e resolução de problemas encontram-se no lobo frontal; a recepção e o processamento das informações vindas dos órgão do sentido e das vísceras encontram-se no lobo parietal; enquanto a visão está concentrada no lobo occipital. 

FIGURA 5: “Os lobos cerebrais recebem sua denominação de acordo com os ossos do crânio com os quais se relacionam. Assim, temos os lobos frontal, temporal, parietal e occipital. A divisão em lobos, embora de grande importância clínica, não corresponde a uma divisão funcional, exceto pelo lobo occipital, que parece ser todo relacionado com a visão.” Ângelo Machado. Neuroanatomia funcional. RJ: Atheneu; 1988.Descrição: http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/imagens/shim.gif

Mais uma vez, não é possível imaginar o sistema nervoso dividido em estruturas e funções isoladas. Todas as estruturas e suas respectivas funções estão inter-relacionadas e interagem entre si sem cessar.

A organização interna do cérebro

Uma rápida olhada num corte do cérebro (Figura 6) deixa evidente até para o olhar mais desatento a presença de duas tonalidades: uma escura, composta pela fina superfície externa do cérebro e por alguns núcleos na base cerebral; e outra mais clara, que preenche os espaço delimitado pela superfície externa e pelos núcleos. A porção escura é denominada substância cinzenta, composta pelo córtex cerebral (superfície externa) e pelos núcleos da base. A porção mais clara é denominada substância branca. 
FIGURA 6: A organização interna do cérebro. Nota-se de pronto a presença de duas tonalidades: uma mais escura, denominada substância cinzenta, e outra mais clara, denominada substância branca. A diferença de cores se dá porque a primeira é composta por corpos neuronais e a segunda, por axônios. VIRTUAL HOSPITAL (www.vh.org)

A diferença de cores se dá porque o córtex e os núcleos da base são compostos por corpos neuronais e a substância branca por axônios, estruturas que serão discutidas a seguir. 
Anatomia microscópica do cérebro
O cérebro é composto por células denominadas neurônios (Figura 7). Todo o neurônio é composto por um corpo neuronal, dendritos e axônio. A comunicação entre os neurônios é feita por meio de uma terminação especial, denominada sinapse. 
FIGURA 7: Os componentes do neurônio. Os corpos neuronais povoam o córtex e os núcleos da base, conhecidos por substância cinzenta. A substância branca é na realidade os prolongamentos dos corpos neuronais (axônios). O revestimento dos axônios, uma camada gordurosa chamada bainha de mielina, lhe confere a coloração mais clara.

1. Corpo neuronal: a porção mais importante da célula, onde se localizam o núcleo e todas as outras organelas responsáveis pela produção de energia e pela síntese de proteínas e outras substâncias.
2. Dendritos: são prolongamentos do corpo celular que se comunicam com corpos ou axônios de outros neurônios. 
FIGURA 8: Corpos neuronais e seus prolongamentos. Há uma grande possibilidade de ramificações, que visam a ampliar as redes de comunicação entre os diversos neurônios do organismo.

3. Axônios: são prolongamentos de extensões variadas (podendo ir milímetros ou metros). Sua função é conduzir as informações de neurônio para o outro. Os axônios são revestidos por uma camada lipídica (gordurosa), denominada bainha de mielina, que o isola do meio circundante. É essa camada gordurosa a responsável pela cor mais clara da substância branca do cérebro. 

4. Sinapse: são junções entre dois neurônios, através da qual as informações provenientes de um neurônio podem ser propagadas, bloqueadas, potencializadas ou integradas com informações de outros neurônios. 

Há ainda alguns aspectos relevantes acerca da organização dos neurônios, como a sua forma de agrupamento e a emissão de seus prolongamentos, que serão tratamentos conjuntamente com a fisiologia do sistema nervoso central.