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8/07/2011

Teste da Figura Complexa de Rey

Nome: Teste de Cópia e de Reprodução de Figuras Complexas

Autor: André Rey (1942)

Objetivo: Diagnóstico diferencial entre a debilidade mental constitucional e o défice adquirido em consequência de uso de substâncias químicas. Posteriormente, Paul Osterrieth realizou alguns estudos que dotaram esta prova de características genéticas, permitindo avaliar a actividade perceptiva e a memória visual, avaliando também o modo como o indivíduo apreendeu os dados perceptivos que lhe são fornecidos e o que foi conservado espontaneamente pela memória.

O Teste:  A figura tem as seguintes propriedades: ausência de significado evidente, fácil realização gráfica e a estrutura de conjunto suficientemente complicada de forma a exigir uma actividade analítica e de organização. A figura desta prova foi, assim, escolhida de forma a que não evoque, no conjunto, nenhum objecto conhecido.

A Figura Complexa de Rey permite, assim, o estudo do desenvolvimento mental a partir da observação dos diferentes tipos de reprodução e da riqueza da representação gráfica nas diferentes idades. Permite estudar o atraso no desenvolvimento mental e as perturbações na estruturação espacial. Avalia a actividade perceptiva e a memória visual.

Observa-se a forma como o sujeito copia a figura  e conhece-se, até certo ponto, a sua actividade perceptiva. A prova de memória dá a indicação sobre o grau de fiabilidade da memória visual do sujeito que se pode comparar com um modo de percepção definido. A elaboração perceptiva pode ser insuficiente por falta de conhecimento ou de métodos adequados, quer porque o sujeito não os tenha adquirido, quer porque tenha sido incapaz de os formar no decurso do seu desenvolvimento.

Sendo assim, há que distinguir os sujeitos com insuficiência de instrução e de treino, daqueles cujo desenvolvimento intelectual tenha sido afectado por enfermidades congénitas ou precoces. Pode não haver um verdadeiro defeito da memória, mas insuficiência na elaboração dos estímulos apresentados para fixação. Há que ver se o sujeito tem a noção de consistência do objecto, o que lhe permite fazer a projecção na sua ausência. Há que também ver o grau de ansiedade do sujeito, pois se for invasiva e significativa não lhe permite fazer a reprodução.
Ana Katharina Leite

A Figura Complexa de Rey é um teste bastante utilizado. O objetivo básico é a compreensão  da memória não-verbal (visual) e da habilidade visuo-espacial do cliente. A aplicação é individual, a partir dos quatros anos de idade e seu tempo de aplicação é variável (entre 5 e 25 minutos).
A aplicação do teste é mais simples que a interpretação dos seus resultados, sendo necessário conhecimento prévio das instruções do Manual.


A aplicação consiste basicamente em três fases. A primeira é apresentar a figura, como é dito nas normas do teste, pedir que o cliente copie, informando-o que não é necessária uma cópia exata, mas prestar atenção as proporções e, acima de tudo, não ter pressa.

Fonte: JAMUS, 2005.


Alguns autores recomendam o uso de lápis de cor, evidenciando a seqüência copiada. Mas qual o momento para o troca de lápis? O sugerido é que essa troca seja realizada nos possíveis momentos de dúvida do exame do documento. A intenção é deixar claro qual a seqüência das partes que foram copiadas. Por exemplo, a maioria das pessoas sem déficits inicia pelo retângulo central e, em seguida, passa a copiar as estruturas internas ou externas dessa armação. Crianças, em geral, iniciam a cópia por um detalhe, então o momento da troca, neste caso, é quando um outro detalhe for copiado.
Terminada a cópia do desenho, é iniciada a segunda etapa, cujo intervalo não deve ser maior que três minutos. A segunda etapa é a da memória imediata, na qual o examinado deve reproduzir de memória a figura copiada. Se houver pressa, apenas um lápis pode ser utilizado, mas o lápis de cor também pode ser útil nessa segunda fase. O tempo de reprodução é livre, o examinado é que indica quando considera a figura finalizada.
Após um intervalo de trinta minutos, pede-se ao examinado que reproduza mais uma vez a figura. Deve-se salientar que, o examinador deve estar atento para não usar outros testes de memorização de figuras durante esse intervalo.

E lembre-se: para aplicação do teste é necessário a aquisição do mesmo, com leitura do manual. As informações aqui disponibilizadas não substituem o manual, são somente informações trazidas pelas fontes citadas, ou seja, o objetivo é levar ao conhecimento de muitos profissionais e estudantes a existência do teste, a facilidade ou não do uso e as fontes onde podem obter mais informações.


EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Estudo dos prejuízos cognitivos na dependência do álcool

MÉTODO

Participantes 
A amostra foi composta por um total de 152 participantes do sexo masculino, escolhidos aleatoriamente, internados em unidades especializadas no tratamento de dependência química, com idades entre 26 e 60 anos, sendo a idade média de M=40,61 anos (DP=7,76). Todos os participantes, no momento da coleta de dados, residiam na cidade de Porto Alegre, localizada no sul do Brasil. Dentre o total da amostra (N=152), 73% eram casados, e 21,71% eram solteiros (33,55% estavam separados). Quanto à escolaridade 63,81% tiveram de 5 a 8 anos de estudo, 29,6% tiveram de nove a dez anos de estudo, e somente 6,59% tiveram mais de 11 anos de estudo. Destes indivíduos 36,84% possuía uma renda mensal de 1 a 4 salários mínimos, e 43,42% uma renda de 4 à 10 salários mínimos.
O presente estudo implicou na aplicação do teste das figuras complexas de Rey (Rey, 1999), em dois momentos, com um intervalo de três meses entre as aplicações. No primeiro momento foi aplicado o instrumento no número total de sujeitos. Na reavaliação conseguiu-se aplicar em 58,5% da amostra inicial, constituindo um n=85.
Material Para a avaliação da memória recente
Utilizou-se a Figura Complexa de Rey forma A. Este instrumento foi desenvolvido por André Rey em 1942 e consiste em um cartão com um desenho geométrico complexo em preto e branco (Rey, 1999).
As Figuras Complexas de Rey (1999) reúnem as seguintes propriedades: ausência de significado evidente; fácil realização gráfica; estrutura de conjunto suficientemente complicada de forma a exigir uma atividade analítica e de organização. A Figura Complexa de Rey é composta de 18 unidades que juntas formam o todo da figura, sendo pontuadas de 0 à 36 pontos.
O objetivo é avaliar o modo como o indivíduo apreende os dados perceptivos que lhe são fornecidos e o que foi conservado espontaneamente pela memória. Observando a forma como o sujeito copia a figura pode-se conhecer até certo ponto, a sua atividade perceptiva. A reprodução efetuada depois de tirado o modelo dá-nos indicação sobre o grau e fidelidade de sua memória visual que, deste modo se pode comparar com o modo de percepção definido.
O instrumento utilizado para a avaliação da severidade da dependência do álcool foi o SADD (Jorge & Masur, 1986). Este consiste em um questionário auto-aplicável, composto por 15 itens, sendo que estes se referem aos fatores relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas. Possui 4 alternativas de respostas (0 à 3) e conforme o total de pontos obtidos o paciente é classificado da seguinte forma: 1-9 pontos=baixa dependência; 10-19 pontos=dependência moderada; 20-45 pontos=dependência grave.


Procedimentos 
Primeiramente entrou-se em contato com as direções de duas instituições especializadas em dependência química, apresentando-se o projeto para as comissões de ética. Após este contato, passou-se a coleta de dados nestes locais.
Todos os pacientes que participaram da pesquisa, receberam informações sobre o que seria avaliado, e que haveria uma segunda avaliação dentro do período de três meses. Os pacientes que decidiam participar da pesquisa, assinavam um termo de consentimento informado, como comprovante de sua participação intencional no estudo. A aplicação do instrumento era feita de forma individual, em sessão única e o pesquisador instruía verbalmente como se desenvolveria a mesma.
Com o propósito de verificar uma provável diferença de desempenho no teste da Figura complexa de Rey (1999), entre a primeira e a segunda aplicação, foi utilizado o teste estatístico Wilcoxon (n=85), pois o tipo de delineamento proposto implica que o mesmo indivíduo seja submetido à uma aplicação do teste da figura de Rey em dois momentos, com um período de três meses entre os mesmos (ver Figura 1). No que tange à atividade perceptiva dos participantes, encontrou-se um valor de estatística de teste igual à T=-1,42, que implica num valor (p=0,15), o que permite afirmar que não existe diferença estatisticamente significativa entre a primeira e a segunda aplicação do teste da figura de Rey, no que se refere à esta variável.


Figura: Desempenho no teste da figura de Rey


Quanto à memória, encontrou-se um valor de estatística de teste igual à T=-5,81, que implica num valor (p=0,0001), o que nos permite afirmar que existe diferença significativa entre os resultados da primeira e da segunda aplicação do teste da figura de Rey no que se refere à esta variável.
No que se refere ao grau de severidade da dependência alcoólica demonstrado pelos sujeitos através do instrumento SADD, verificou-se que 72% dos sujeitos apresenta dependência grave do álcool, e 28% apresenta dependência moderada (n=152). Nenhum sujeito pontuou este instrumento na categoria leve. Os sujeitos que, de acordo com o SADD, apresentaram um nível de alcoolismo moderado, não apresentaram melhoras significativas no que se refere ao fator cópia no segundo momento da aplicação do teste Figura Complexa de Rey. 

Quanto à memória imediata, que foi avaliada por este mesmo instrumento, ocorreram diferenças significativas entre o desempenho dos sujeitos na primeira e na segunda aplicação (p=0,004), indicando uma melhora nesta função cognitiva. Nos sujeitos com dependência alcoólica grave, constatou-se que não houveram diferenças significativas no fator cópia entre as duas aplicações. Entretanto, no que se refere à memória, houveram diferenças significativas (p=0,0001), indicando uma melhora nesta função cognitiva.
No que tange à manutenção da abstinência dos sujeitos durante o intervalo de três meses entre as duas aplicações da Figura de Rey, constatou-se que 66,3% dos sujeitos manteve-se abstinente, e 33,7% recaiu. E os sujeitos que mantiveram-se abstinentes durante o intervalo entre as duas aplicações do teste Figuras Complexas de Rey, apresentaram melhoras significativas tanto no fator cópia (p=0,008) quanto no fator memória (p=0,0001). Os sujeitos que não mantiveram-se abstinentes no mesmo período, não apresentaram melhoras significativas em relação à variável cópia, porém, apresentaram melhoras pouco significativas quanto à variável memória (p=0,02).
A partir dos resultados encontrados, pôde-se avaliar longitudinalmente as mudanças que ocorreram na memória de alcoolistas em tratamento. Em primeiro lugar, observou-se a existência de uma importante recuperação desta função para toda a amostra estudada. O que vai ao encontro de outros achados, e sugere que mudanças cognitivas estão relacionadas com o decréscimo no uso de álcool (Ackermann, Mann, Gunther, & Stetter, 1999; Swstzwelder, Pyapali, & Turner, 1999).
Constatou-se melhoras significativas na memória imediata dos sujeitos que possuem grau de severidade alcoólica moderado. Porém esta melhora foi mais intensa entre os sujeitos que possuem um grau de severidade alcoólica grave.
Uma possível explicação para este fato, é que no momento da primeira avaliação, os sujeitos com dependência grave, estavam com esta função cognitiva mais prejudicada do que os sujeitos com dependência moderada (Brown & Tapert, 2000; Hohmann, Savage, & Candon, 2000; Marlatt, Blume, & Schmaling, 2000; Pfefferbaum, Sullivan, & Rosenbloon, 2000). E três meses depois, houve uma homogeneização no desempenho desta função para os dois grupos. Isto está de acordo com o que afirmam estudos anteriores, de que a performance cognitiva começa a melhorar durante as três primeiras semanas de abstinência (Ackermann, Mann, Gunther, & Stetter, 1999; Arias, Santin, & Rubio, 2000; Langlais & Ciccia, 2000; Pfefferbaum, Sullivan, & Rosenbloon, 2000), ou por períodos um pouco mais longos (Swstzwelder, Pyapali, & Turner, 1999).
Outro aspecto que prejudicou a memória dos participantes com dependência severa na primeira aplicação do teste, foi a existência de resquícios mais intensos da síndrome de abstinência alcoólica, o que pode ter prejudicado a função cognitiva da memória (Arias, Santin, & Rubio, 2000; Langlais & Ciccia, 2000).
Os participantes que mantiveram-se sem ingerir álcool durante o intervalo entre as duas avaliações, apresentaram melhora em sua atividade perceptiva e de memória. Os participantes que ingeriram álcool, ainda que em pequenas quantidades, demonstraram melhoras somente na função memória, sendo que esta melhora foi mais branda quando comparada com a dos participantes que mantiveram-se em abstinência no mesmo período. Este fato está em consonância com a afirmação de que possíveis disfunções cerebrais ligadas ao álcool são reversíveis, após um período de abstinência (Arias, Santin, & Rubio, 2000; Pfefferbaum, Sullivan, & Rosenbloon, 2000).
Sugere-se como tema para futuros trabalhos, a investigação mais detalhada do padrão de ingestão alcoólica, e a sua influência na recuperação da memória imediata. Propõe-se também que se avalie a recuperação da memória durante períodos mais longos de abstinência, abordando-se de forma mais rigorosa os prejuízos de memória causados pela dependência alcoólica.

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