Descartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da matemática
moderna", é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental.
Inspirou contemporâneos e várias gerações de filósofos posteriores. Boa parte
da filosofia escrita a partir de então foi uma reação às suas obras ou a
autores supostamente influenciados por ele.
Muitos especialistas afirmam que a
partir de Descartes inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna. Décadas mais tarde, surgiria nas Ilhas
Britânicas um movimento filosófico que, de certa
forma, seria o seu oposto - o empirismo, com John Locke e David Hume.
No entanto, Descartes nunca exerceu Direito, e em 1618 foi para a Holanda alistou-se no exército do Príncipe Maurício, com a intenção de seguir carreira militar. Mas se achava menos um ator do que um espectador: antes ouvinte numa
escola de guerra do que verdadeiro militar. Conheceu então Isaac Beeckman, que o influenciou fortemente e compôs um pequeno
tratado sobre música intitulado Compendium Musicae (Compêndio de
Música).
Também é dessa época (1619-1620) o Larvatus prodeo (Ut comœdi,
moniti ne in fronte appareat pudor, personam induunt, sic ego hoc mundi teatrum
conscensurus, in quo hactenus spectator exstiti, larvatus prodeo. Esta declaração do jovem Descartes no preâmbulo das Cogitationes
Privatae (1619) é interpretada como uma confissão que introduz o tema da dissimulação, e,
segundo alguns, marca uma estratégia de separação entre filosofia e teologia.
Jean-Luc Marion, em seu artigo Larvatus pro Deo : Phénoménologie et
théologie refere-se à abordagem dionisíaca do homem escondido diante de
deus (larvatus pro Deo) como justificativa teológica do filósofo que avança
mascarado (larvatus prodeo).
Em 1628 compõe as Regulae ad directionem ingenii (Regras para a Direção do Espírito) e parte para os Países Baixos, onde viverá até 1649. Em 1629, começa a redigir o Tratado do Mundo, uma obra de Física na qual aborda a sua tese sobre o heliocentrismo. Porém, em 1633, quando Galileu é condenado pela Inquisição, Descartes abandona seus planos de publicá-lo.
Em 1637, publica três pequenos tratados científicos: A Dióptrica, Os
Meteoros e A Geometria, mas o prefácio dessas obras é que faz seu futuro reconhecimento:
o Discurso sobre o método.
Em 1641, aparece sua obra filosófica e metafísica mais imponente:
as Meditações Sobre a Filosofia Primeira, com os primeiros seis conjuntos
de Objeções e Respostas. Os autores das objeções são: do primeiro
conjunto, o teólogo holandês Johan de Kater; do segundo, Mersenne; do terceiro, Thomas Hobbes; do quarto, Arnauld; do quinto, Gassendi; e do sexto conjunto, Mersenne.
Em 1642, a segunda edição das Meditações incluía uma sétima objeção, feita pelo
jesuíta Pierre Bourdin, seguida de uma Carta a Dinet. Em 1643, o cartesianismo é condenado pela Universidade
de Utrecht. Descartes inicia a sua longa correspondência com a Princesa Isabel (1618 – 1680), filha mais velha
de Frederico V e de Isabel da
Boêmia. A correspondência durou sete anos, até a
morte do filósofo, em 1650.
Também no ano de 1643, Descartes publica Os Princípios da Filosofia, onde resume seus princípios filosóficos que formariam
"ciência". Descartes teria declarado que o Universo é totalmente
preenchido por um "éter" onipresente. Assim, a rotação do Sol,
através do éter, criaria ondas ou redemoinhos, explicando o movimento dos
planetas, tal qual uma batedeira. O éter também seria o meio pelo qual a luz se propaga, atravessando-o pelo espaço, desde o Sol até nós.A Igreja Católica coloca os seus livros na lista proibida.
O pensamento de Descartes é revolucionário para a sociedade feudalista em que ele nasceu, onde a influência da Igreja ainda era muito forte
e quando ainda não existia uma tradição de "produção de
conhecimento". Aristóteles tinha deixado um legado intelectual que o clero se
encarregava de disseminar.
Foi um dos precursores do movimento, considerado o pai do racionalismo, e
defendeu a tese de que a dúvida era o primeiro passo para se chegar ao
conhecimento. Descartes viveu numa época marcada pelas guerras religiosas
entre Protestantes e Católicos na Europa - a Guerra
dos Trinta Anos. Viajou muito e viu que sociedades
diferentes têm crenças diferentes, mesmo contraditórias.
Aquilo que numa região
é tido por verdadeiro, é considerado ridículo, disparatado e falso em outros
lugares. Descartes viu que os "costumes", a história de um povo, sua
tradição "cultural" influenciam a forma como as pessoas pensam
naquilo em que acreditam.
Descartes é considerado o primeiro filósofo moderno, . A sua contribuição à epistemologia é essencial, assim como às ciências
naturais por ter estabelecido um método que
ajudou no seu desenvolvimento. Descartes criou, em suas obras Discurso sobre o
método e Meditações - a primeira escrita em francês, a segunda escrita em latim, língua tradicionalmente utilizada nos textos eruditos de sua época - as
bases da ciência contemporânea.
O método
cartesiano consiste no Ceticismo
Metodológico - que nada tem a ver com a
atitude cética: duvida-se de cada ideia que não seja clara e distinta. Ao contrário dos
gregos antigos e dos escolásticos, que acreditavam que as coisas existem
simplesmente porque precisam existir, ou porque assim deve ser etc.,
Descartes instituiu a dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que puder ser
provado, sendo o ato de duvidar indubitável. Baseado nisso, Descartes busca
provar a existência do próprio eu (que duvida, portanto, é sujeito de algo
- ego
cogito ergo sum- eu que penso, logo existo) e de Deus.
O método consiste de quatro regras básicas:
Verificar se existem evidências reais e
indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada;
Analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades
mais simples e estudar essas coisas mais simples;
Sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um
todo verdadeiro;
Enumerar todas as conclusões e princípios
utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento.
Em relação à Ciência, Descartes desenvolveu uma filosofia que influenciou muitos, até ser
superada pela metodologia de Newton. Ele sustentava, por exemplo, que o
universo era pleno e não poderia haver vácuo. Acreditava que a matéria não
possuía qualidades secundárias inerentes, mas apenas qualidades primárias de
extensão e movimento.
Ele dividia a realidade em res cogitans (consciência, mente) e res extensa (matéria). Acreditava também que Deus criou o
universo como um perfeito mecanismo de moção vertical e que funcionava
deterministicamente sem intervenção desde então.
Matemáticos consideram Descartes muito importante por sua
descoberta da geometria
analítica. Até Descartes, a geometria e a álgebra apareciam como ramos completamente separados da Matemática. Descartes mostrou como traduzir problemas de geometria para a álgebra,
abordando esses problemas através de um sistema de coordenadas.
A teoria de Descartes forneceu a base para o Cálculo de Newton e Leibniz, e então, para muito da matemática
moderna. Isso parece ainda mais incrível tendo em
mente que esse trabalho foi intencionado apenas como um exemplo no
seu Discurso Sobre o Método.
O interesse de Descartes pela matemática surgiu cedo, no “College de la
Flèche”, escola do mais alto padrão, dirigida por jesuítas, na qual ingressara aos oito anos de idade. Mas por uma razão muito
especial e que já revelava seus pendores filosóficos: a certeza que as
demonstrações ou justificativas matemáticas proporcionam.
Aos vinte e um anos de idade, depois de frequentar rodas matemáticas em
Paris (além de outras), já graduado em Direito, ingressa voluntariamente na
carreira das armas, uma das poucas opções “dignas” que se ofereciam a um jovem
como ele, oriundo da nobreza menor da França. Durante os quase nove anos que
serviu em vários exércitos, não se sabe de nenhuma proeza militar realizada por
Descartes.
A geometria
analítica de Descartes apareceu em 1637 no
pequeno texto chamado Geometria, como um dos três apêndices do Discurso do
Método, obra considerada o marco inicial da filosofia moderna. Nela, em resumo,
Descartes defende o método matemático como modelo para a aquisição de
conhecimentos em todos os campos.
No livro
surpreendente e polêmico, "O Erro de Descartes", António Damásio,
psiquiatra português que dirige um dos principais centros de estudos
neurológicos dos Estados Unidos, mostra como, na verdade, a ausência de emoção
e sentimento pode destruir a racionalidade. Utilizando-se das mais recentes
descobertas da neurobiologia, Damásio desafia os dualismos tradicionais do
pensamento ocidental - mente e corpo, razão e sentimento, explicações
biológicas e explicações culturais - para oferecer uma visão científica e
integrada do ser humano e sugerir hipóteses inovadoras sobre o funcionamento do
cérebro humano.
"Refinado
observador de distúrbios psicológicos e neurológicos, António Damásio é também
um pensador profundo que escreve com notável elegância. Em O erro de Descartes
todos os seus talentos estão a serviço de uma fascinante exploração da biologia
da razão e de sua dependência inseparável da emoção."







