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10/03/2012

"O ERRO DE DESCARTES" OU O ERRO DE DAMÁSIO SOBRE "O ERRO DE DESCARTES"



Como distinguir um neurocientista de um filósofo

Outro dia me questionava sobre a interpretação pseudofilosófica feita pelo brilhante neurocientista português Antônio Damásio em seu livro “O Erro de Descartes”. Digo pseudo porque na verdade percebi ao ler o livro que o brilhante autor meio que deixou passar aspectos importantes da visão filosófica de Descartes e, em momentos em que mais me incomodava, tinha a impressão de que o fazia de uma maneira senão proposital, por desconhecimento do tema que escolheu para escrever.

Sempre me perguntava: mas porque diabos Descartes, porque o autor não atacou um pensamento filosófico, mas um pensador. Porque não o erro de Aristóteles, de Kant, Jung ou Nietzsche? Porque não questionar dogmas ao invés de questionar postulados científicos. Confesso que apesar de admirar a obra do autor no campo das Neurociências, creio que algo de vaidade ou algum interesse pouco prudente levaram-no a se emaranhar em assuntos filosóficos. Digo emaranhar, pois essa é a impressão que me fica.

Contesta Descartes, mas não apresenta argumentos sólidos para tal, confunde-se em definições e teorias, atrapalha-se ao não ser capaz de sustentar suas hipóteses, mas, brilhantemente consegue talvez o que foi o real objetivo da obra. Um imenso sucesso da obra. Não sei bem porque, mas pensando no Dr. Damásio me vem à mente a figura do Paulo Coelho, que me recuso a sequer discutir. Algumas semelhanças haverá entre os dois. Uma eu percebo claramente. Nem um nem outro entendem nada de Filosofia.

Resulta que pesquisando sobre o tema e outras visões sobre o livro, deparei-me com um texto de 1995, escrito por uma filósofa portuguesa que, além de conhecer muito bem o tema, daria sem sombras de dúvidas uma excelente defensora pública. Coisas que a mim me encantam. Chama-se a senhora “Maria de Jesus Fonseca” e o texto por ela escrito “A concepção de ciência e o paradigma mecanicista que subjaz à ciência moderna” de 1994 e este, que transcreverei a seguir de 1995 cujo título resolvi adotar nessa pequena reflexão.

Adorei a argumentação da filósofa portuguesa e, que me desculpem os neurocientistas entre os quais me incluo, muito melhor do que qualquer coisa que um de nós já tenha escrito sobre o tema. Que nos ajude Jorge Bucay brilhante argentino tão ou mais famoso que Damásio na defesa dessa senhora e por meio dela, na defesa de Descartes. Diz ela:

Situar-me-ei, nessa análise, a partir do ponto de vista de Descartes e daquela que é a interpretação consensual da filosofia cartesiana. De algum modo me considero, portanto, advogada de defesa de Descartes. Não me coloco simultaneamente como advogada de acusação de Damásio - o que é, aliás, manifestamente impossível no âmbito dos códigos legais.

O que está em análise é a obra, esta obra, e não o autor. Mas analisar o texto ou a obra implica sempre um diálogo a três: o autor, o texto ou a obra, o leitor. Por isso, por vezes, é muito difícil manter a análise na obra sem passar pelo autor, já que o texto interpela-nos, nós interpelamos o texto e, às vezes, interpelar o texto é também interpelar o seu autor.

O título

Curioso o título para um livro que, confessadamente, não trata de Descartes nem sequer da filosofia "embora tenha sido por certo acerca da mente, do cérebro e do corpo", (Damásio (1995): 20) daquilo que o autor designa, numa palavra, por neurociência. Isto mesmo é confirmado pela contagem (não muito rigorosa evidentemente) do número de vezes que aparece o nome de Descartes. Vinte e cinco vezes Descartes. Seis vezes cartesiana. Trinta e uma vezes no total em duzentas e setenta e umas páginas!

Ora, se assim é, a primeira questão que coloco é esta: Porque não inverteu o autor o título? O subtítulo passa a título principal e o título a subtítulo:

EMOÇÃO, RAZÃO E CÉREBRO HUMANO. O erro de Descartes.

E por que O Erro de Descartes e não de Platão ou Kant, por exemplo? Autores a que o texto faz referência. “Mas há quem possa perguntar por que motivo incomodar Descartes e não Platão cujas ideias sobre o corpo e a mente são muito mais exasperantes." (Damásio (1995): 255) Infelizmente o autor não responde à sua própria pergunta!

A única resposta que encontrámos é indireta e é aquela que o autor dá para justificar o título e a escolha de Descartes. Descartes é "a figura emblemática que moldou a abordagem mais difundida respeitante à relação mente-corpo." (Damásio (1995): 20) Ora, desta opinião não são os profissionais e os especialistas da filosofia, que consideram, precisamente, que essa figura emblemática é Platão e não Descartes.

Sendo assim, parece, desde logo, que o título é inadequado. O próprio autor parece Ter consciência disto, porquanto afirma que, de fato, o livro não é sobre Descartes e, assim, Descartes é meramente um pretexto. Por que, então, este título? Por que, então, Descartes?

Poderia propor algumas explicações, entre outras: Por marketing? Para chamar a atenção? Por moda? Atentemos à última hipótese. Não deixa de ser curioso que títulos deste gênero  que direta ou indiretamente evocam Descartes, tenham ultimamente vindo à luz e nada tenham a ver com a filosofia. Curioso também que vão já a várias reimpressões.

O próprio livro de Damásio que já vai, nesta data, na 12ª edição e todas publicadas entre Maio de 1995 e Agosto do mesmo ano. Indubitavelmente, Descartes está hoje na ordem do dia. É um autor pleno de atualidade. E, de facto, quem não conhece Descartes e o seu famoso “penso, logo existo"? E toda a gente conhece o Discurso: todos o lemos quando passamos pela escola.

O homem comum, com uma cultura geral média, conhece melhor Descartes que Platão ou Kant. Quem não sabe que o "penso, logo existo" é uma afirmação cartesiana? Quanto a Platão ou Kant, que afirmações famosas lhes pode atribuir o homem comum?... O próprio Damásio considera que o "penso, logo existo" é uma afirmação "talvez mais famosa da história da filosofia." (Damásio (1995): 254).

Tiremos então a ilação que parece óbvia. O título não podia ser outro senão O Erro de Descartes porque Descartes é mais conhecido que qualquer outro filósofo e isso, aliado ao facto de que Descartes, afinal, e a crer em Damásio, errou, é garantia de sucesso ou, pelo menos, desperta a nossa atenção.

Os Erros de Descartes

Descartes errou, segundo Damásio. Mas afinal em que errou Descartes? Qual foi então o Erro de Descartes? Para dizer a verdade, foram vários os erros de Descartes na perspectiva de Damásio. Enunciemo-los:

Primeiro, o mais fundamental, sob o ponto de vista de Damásio, aquele que vai ser alvo de todas as críticas, é o erro do dualismo.

Segundo: Mas Descartes cometeu outros erros, aliás "bem mais espetaculares"! (Damásio (1995):255). Por exemplo, os erros presentes na explicação que dá para a circulação do sangue (o calor é que faz circular o sangue) ou para a explicação do movimento dos músculos (por recurso aos "espíritos animais"). (Cf. Damásio (1995):255). No que diz respeito a estes últimos, Damásio não lhes atribui qualquer importância, porquanto "há muito tempo que sabemos que ele estava errado nestes aspectos concretos." (Damásio (1995):255)

Restam os outros dois, o erro do dualismo e o do mecanicismo.

Destes, o erro mais grave e decisivo é o erro do dualismo, pois o dualismo "continua a prevalecer" e a influenciar a ciência e a cultura hodierna. (Cf. Damásio (1995):255).

Apresentados os erros de Descartes, segundo Damásio, cumpre agora apreciá-los, saber se Descartes efetivamente errou e se Damásio tem ou não razão.

O(s) Erro(s) de Descartes

O Erro do Dualismo

Comecemos pela análise daquele que é, na perspectiva de Damásio, o único erro autêntico - o do dualismo. Em que consiste este erro? Na radical separação e diferença entre corpo e alma, res cogitans e res extensa, matéria e espírito.

Erro patente, desde logo, e segundo Damásio, no "penso, logo existo" - que é a formulação que aparece no Discurso do Método (publicado em 1637). Mas Descartes dá outras formulações desse mesmo princípio, formulações essas que mutuamente se esclarecem. "Cogito, ergo sum” nos Princípios da Filosofia (publicada em 1644) e "sum res cogitans" nas Meditações Metafísicas (publicada em 1642). 

Sou. Sou o quê? Sou uma coisa que pensa, existo porque penso e enquanto penso, eis o que significam essas formulações. Se deixar de pensar, deixo de existir porque deixo de ter garantia, a certeza e a consciência da minha existência. Por isso, pensar e existir são, no fundo, uma só e mesma coisa e Descartes pode falar de intuição na apreensão desta única verdade.

Mas o grande problema, para Damásio, reside no facto de “como sabemos que Descartes via o ato de pensar como uma atividade separada do corpo, esta afirmação celebra a separação da mente, a 'coisa pensante' (res cogitans) do corpo não pensante, o qual tem extensão e partes mecânicas (res extensa)." (Damásio (1995:254) E se isso é, de algum modo, pelo menos na aparência, verdade, tenho, contudo, algumas objeções a propor).

1ª objeção - O dualismo patente na acusação de Damásio e Descartes é uma consequência do sistema, não é uma opção primeira do sistema cartesiano. Isto é, Descartes não parte do dualismo, ele chega ao dualismo, resultando isso da forma como Descartes põe os problemas.

Por outro lado, o dualismo nunca satisfez o próprio Descartes que, por isso, o tentou ultrapassar, até porque como explicar que no homem a res cogitans (a mente) coexista e se relacione com a res extensa (o corpo). Daí o recurso cartesiano à glândula pineal - atual hipófise - (a que Damásio alude algumas vezes) como forma de explicar a intersecção e a inter-relação entre a mente e o corpo.

E se a explicação pela glândula pineal mereceu algum louvor, o próprio Damásio o atesta quando afirma "curiosamente essa interligação [do corpo com a mente, a razão, o sentimento, a emoção] ocorre de forma intensa não muito longe da glândula pineal" (Damásio (1995):138), também é verdade que tal explicação não satisfaz ninguém nem o próprio Descartes. 

Ouçamo-lo: "é necessário saber que a alma está verdadeiramente unida a todo o corpo, e que em rigor não se pode dizer que exista numa das suas partes com exclusão das outras, pois o corpo é uno e de certo modo indivisível". (Descartes (1968):115) Ao ouvir este texto quase se diria que estávamos a ouvir Damásio!...

2ª objeção - Damásio engana-se na interpretação que faz de Descartes.

Primeiro erro de interpretação - Descartes procura uma resposta para uma questão metafísica e não para uma questão de origem, como Damásio afirma. Ora Descartes não se questiona de onde vem ou provem a mente. Interroga-se pelo SER.

O que é que existe? E responde: Existe o pensamento (primeira existência e primeira verdade fora de toda a dúvida), existe Deus (Segunda existência e Segunda verdade) e existe o Mundo (terceira existência e terceira verdade). Mas estes primeiro, segundo e terceiro não aparecem por ordem de importância ou por ordem de origem. Correspondem meramente à ordem da fundamentação do sistema. E por isso a uma só questão - o que é que existe? - um só resposta: existe o pensamento, Deus e o Mundo.

Segundo erro de interpretação - Descartes não procurava uma fundação lógica para a filosofia, como Damásio afirma, procurava, quando muito, uma fundação lógico-metodológica e gnoseológica - e isto é verdade ao nível do Discurso. Mas a autêntica fundamentação que Descartes busca é uma fundação ontológica e metafísica, que só ela garante a outra fundamentação lógico-gnoseológica, porquanto se quero conhecer, quero conhecer coisas que realmente existam, caso contrário o meu conhecimento seria ilusão, falsidade, mentira, fantasmagoria, porque conhecimento de nada, de algo que não existia.

Mas mais. Quando se procura um primeiro princípio fundante - como é o caso de Descartes - é evidente que esse princípio, como qualquer princípio, é indemonstrável. É que o princípio funda mas não é fundado. Os princípios, portanto, não se provam, aceitam-se (ou não). São fruto, em última análise, de uma opção/decisão e objeto de uma crença.

Ora como pode Damásio considerar errado o primeiro princípio cartesiano se, como princípio que é, não se pode demonstrar a sua verdade ou falsidade?

Para mais, Damásio faz a mesma coisa que Descartes, aparentemente sem se aperceber disso, radicando a confusão no sentido indiscriminado que Damásio dá ao tempo origem, que considera sinônimo de princípio. Ora, na terminologia filosófica, tais termos não são, de modo nenhum, equivalentes.

Princípio é fundamento e origem é causa. E, de facto, Damásio não se pergunta apenas pela origem (causa) da mente, pergunta também, antes de mais, pelo princípio. E na resposta que dá, onde, aliás, está bem patente a confusão terminológica referida, coloca-se nos antípodas de Descartes. "Para nós, portanto, no princípio foi a existência e só mais tarde chegou o pensamento. E para nós, no presente quando vimos ao mundo e nos desenvolvemos começamos ainda por existir e só mais tarde pensamos na medida em que existimos, visto o pensamento ser, na verdade, causado por estruturas e operações do ser." (Damásio (1995):254)

Damásio a formular o seu próprio princípio metafísico! A existência! No princípio era a existência e é a existência que na sua própria evolução, desenvolvimento e complexificação permite o aparecimento do pensamento. E o que é verdade para a perspectiva filogenética, também o é na perspectiva ontogenética. 

Portanto, primeiro existimos. Existimos sem pensar. Depois, mais tarde , pensamos, existimos e pensamos. À existência acrescentou-se o pensamento. E, tal como é posta, a afirmação é também uma afirmação dualista. Porque primeiro existe uma coisa e depois outra diferente da primeira.

Parece, portanto, que Damásio sofre do mesmo mal de que acusa Descartes: uma doença chamada dualismo agudo... ou crônico, dependendo da perspectiva.

3ª objeção - Um dos aspectos cruciais da argumentação de Damásio contra Descartes consiste em considerar que este erro do dualismo é imperdoável, porquanto é uma concepção errada que perdura até hoje e determina ainda hoje o modo como conhecemos as relações mente-corpo.

Ora a minha objecção vai no sentido de considerar que o dualismo já estava presente em concepções anteriores a Descartes - por exemplo em Platão que distingue matéria e forma, Kosmos aisthetos e Kosmos noetos, corpo e razão. E que dizer do Cristianismo que, mais que nenhuma outra força cultural, marcou decisivamente a nossa tradição ocidental? E que distingue alma de corpo, espírito de matéria, bem e mal... E só o primeiro polo destas dicotomias é valorizado! Por que, pois, atribuir a Descartes a culpa do dualismo, se ele não foi o primeiro nem sequer o último dos dualistas?

O Erro do Mecanicismo

O segundo erro de Descartes: o mecanicismo. Erro que, tal como o anterior, ainda não foi refutado e continua a perdurar nos nossos dias. Muito curioso que, relativamente a este erro, Damásio só o enuncie, parecendo que, de repente, foi atacado por algum ataque de amnésia que o fez esquecer-se de refutá-lo.

Primeira conclusão: o erro do mecanicismo perdura e, neste caso, pode perdurar já que Damásio não o desfaz. Última conclusão: o mecanicismo, afinal, não é um erro! Há aqui, indubitavelmente, uma contradição em Damásio.

De qualquer forma, também o mecanicismo não é apenas uma concepção cartesiana. Ele é o modelo que preside à interpretação do mundo e da natureza na moderna concepção de ciência, desde os seus inícios no século XVII e já antes de Descartes, com Kepler, Copérnico e Galileu.

Consiste o mecanicismo em considerar que tudo na natureza se explica analogamente ao funcionamento de uma máquina, em que tudo acontece sempre da mesma maneira, as mesmas causas provocando sempre os mesmos efeitos. Logo, a hipótese do mecanicismo é indissociável da hipótese da causalidade. E se o mecanicismo é um erro então a ciência é um erro!

Podemos compreender, então, o súbito ataque de amnésia de que parece ser vítima Damásio e porque é que ele não desfaz este pretenso erro. É que Damásio é ele mesmo um mecanicista! Aliás, como cientista, não podia deixar de o ser.

Por isso só posso concluir que não foi Descartes o culpado de "os biólogos adotarem até hoje, uma mecânica de relojoeiro como modelo dos processos vitais" (Damásio (1995):253-254), como afirma Damásio. E posso mesmo concluir mais: que Damásio adota "uma mecânica de relojoeiro como modelo dos processos vitais" (Damásio (1995):254) e neurológicos ou não afirme ele que o cérebro é causa da mente!

Diz Damásio: "Poderíamos começar com um protesto e censurá-lo [a Descartes] por Ter convencido os biólogos a adotarem até hoje uma mecânica de relojoeiro como modelo dos processos vitais. Mas talvez isso não fosse muito justo." (Damásio (1995):253-254) Convenhamos que, de facto, não é nada justo! E Damásio sabe-o bem!

“No Post-Scriptum (Damásio (1995):258-271) dirige uma última crítica a Descartes.” A negligência cartesiana da mente, por parte da biologia e da medicina ocidentais, tem tido duas consequências principais. A primeira situa-se no campo da ciência. O esforço para compreender a mente em termos biológicos em geral atrasou-se várias décadas e pode dizer-se que só agora começa. “(...) A Segunda consequência negativa relaciona-se com o diagnóstico e com o tratamento eficaz das doenças que nos confrontam” (Damásio (1995): 261), a saber, as doenças da mente.

Ora mais uma vez sou obrigada a contradizer Damásio. Mas aqui Descartes nem sequer precisa que o defendam. Ele próprio se defende e contradiz Damásio quando no Discurso afirma "De maneira que esse eu, isto é, a alma pela qual sou o que sou é mais fácil mesmo de conhecer que o corpo" (Descartes (1968):40) ou quando afirma nas Meditações, e é o título da Segunda Meditação "Da natureza do espirito humano: que se conhece melhor que o corpo". (Descartes (1976):117) E não resisto a citá-la como ela foi escrita originalmente pelo próprio Descartes em latim "De natura mentis humanae: quod ipsa sit notior quam corpus." (Descartes (1970):36)

E provando que a mente é mais simples e fácil de conhecer que o corpo, Descartes aventura-se no estudo da alma ou da mente escrevendo o Tratado das Paixões da Alma, publicado em 1649. Não parece, de modo nenhum, a não ser por um erro muito grosseiro ou má-fé, que possamos acusar Descartes de ter esquecido a mente e de, por essa razão, ser igualmente culpado pelo atraso no estudo da mente!

Posto isto, não estejam à espera de uma conclusão, não me peçam uma conclusão, não me podem sequer pedir que conclua. De facto, é uma impossibilidade concluir. Há muito ainda por explicar, nada está fechado e, portanto, concluído. Tudo está aberto e permanece, ainda, em aberto.

Nota em alegação final - A única "conclusão" que posso "concluir", em resposta ao repto que me foi lançado no início, é que, em face do exposto, julguem os senhores, distintos jurados! E penso que não podem proferir outro veredicto no caso que esteve presente neste Tribunal de Damásio versus Descartes, a não ser o do réu, o acusado, não é culpado, mas inocente!

Aliás, é essa a minha profunda convicção ou não teria aceitado esta defesa quando me foi proposta. O veredicto de inocência que espero, já está, por isso, implícito num dos títulos que vos propus.

É, como diz o ditado, presunção e água benta, cada um toma a que quer, eu adjunto, cada macaco no seu galho. É mais prudente.

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