Se Descartes errou então a Neurociência é uma fraude
Prof. Dr. Amandio Luís de Almeida Teixeira
Introdução
Preocupado com o cartesianismo de Descartes e do quanto ele significou na evolução do conhecimento e das bases filosóficas que nele se sustentam, outra vez voltei aos livros, buscando, como ele, a comprovação; a veracidade dos fatos existente nos fenômenos estudados dentro de um universo de coisas reais.
Não é um plágio a Descartes, mas a constatação de que o que aprendi na Ciência e muito daquilo em que acredito e molda meu comportamento ante a vida, é por fim cartesiano.
Quando enveredei pelas Neurociências fui constatando alguns dos princípios filosóficos e epistemológicos que as regem e que me fizeram acreditar que nem a psiquiatria ou a psicologia sozinhas podiam explicar a complexidade da existência, do ser, do pensar, do existir, mesmo sequer defini-los sem um embasamento filosófico consistente, sobre o qual repousasse o conhecimento científico, seus avanços, seus interesses e, em última instância, a evolução do próprio conhecimento, razão, a meu ver, primordial na tentativa de se entender o complexo universo chamado Homem.
Neófito, de natureza curiosa, pus-me a ler tudo que encontrava pela frente, de forma caótica e mais preocupada com o acúmulo de informação do que com a compreensão do conhecimento adquirido.
Com o passar dos anos, felizmente, e como creio que seja normal acontecer, passei a preocupar-me mais com a qualidade do que com a quantidade do que lia e mais, comecei a pôr em dúvida aquilo com que me defrontava e que, a sua vez, me levava a mais pesquisas, mais leitura e mais reflexão.
Percebi que na verdade o que me faltava era um pilar filosófico onde pudesse ancorar o conhecimento adquirido e justificar dessa maneira aquilo em que acredito, faço e ensino. Faltava-me filosofar. Faltava-me enveredar pela história do pensamento e pela história dos grandes pensadores. Faltava-me na verdade uma visão epistemológica, uma ciência que explicasse o próprio conhecimento; as ciências enfim.
Resulta que pesquisando sobre o tema e outras opiniões sobre o livro, deparei-me com um texto de 1995, escrito por uma filósofa portuguesa que, além de conhecer muito bem o tema, daria sem sombras de dúvidas uma excelente defensora pública. Coisas que a mim me encantam.
Chama-se a senhora, “Maria de Jesus Fonseca”, e o texto por ela escrito “A concepção de ciência e o paradigma mecanicista que subjaz à ciência moderna” de 1994 e este, que transcreverei a seguir de 1995 cujo título resolvi adotar nessa pequena reflexão:
"O erro de Descartes" ou o erro de Damásio sobre "o erro de Descartes" - Como distinguir um neurocientista de um filósofo
Adorei a argumentação da filósofa portuguesa e, que me desculpem os neurocientistas entre os quais me incluo, muito melhor do que qualquer coisa que um de nós já tenha escrito sobre o tema. Diz ela:
Situar-me-ei, nessa análise, a partir do ponto de vista de Descartes e daquela que é a interpretação consensual da filosofia cartesiana. De algum modo me considero, portanto, advogada de defesa de Descartes. Não me coloco simultaneamente como advogada de acusação de Damásio - o que é, aliás, manifestamente impossível no âmbito dos códigos legais.
O que está em análise é a obra, esta obra, e não o autor. Mas analisar o texto ou a obra implica sempre um diálogo a três: o autor, o texto ou a obra, o leitor. Por isso, por vezes, é muito difícil manter a análise na obra sem passar pelo autor, já que o texto interpela-nos, nós interpelamos o texto e, às vezes, interpelar o texto é também interpelar o seu autor.
O título
Curioso o título para um livro que, confessadamente, não trata de Descartes nem sequer da filosofia "embora tenha sido por certo acerca da mente, do cérebro e do corpo", (Damásio (1995): 20) daquilo que o autor designa, numa palavra, por neurociência.
Isto mesmo é confirmado pela contagem (não muito rigorosa evidentemente) do número de vezes que aparece o nome de Descartes. Vinte e cinco vezes Descartes. Seis vezes cartesiana. Trinta e uma vezes no total em duzentas e setenta e uma páginas!
Ora, se assim é, a primeira questão que coloco é esta: Porque não inverteu o autor o título? O subtítulo passa a título principal e o título a subtítulo:
EMOÇÃO, RAZÃO E CÉREBRO HUMANO. O erro de Descartes.
E por que O Erro de Descartes e não de Platão ou Kant, por exemplo? Autores a que o texto faz referência. “Mas há quem possa perguntar por que motivo incomodar Descartes e não Platão cujas ideias sobre o corpo e a mente são muito mais exasperantes." (Damásio (1995): 255). Infelizmente o autor não responde à sua própria pergunta!
A única resposta que encontrámos é indireta e é aquela que o autor dá para justificar o título e a escolha de Descartes. Descartes é "a figura emblemática que moldou a abordagem mais difundida respeitante à relação mente-corpo." (Damásio (1995): 20).
Ora, desta opinião não são os profissionais e os especialistas da filosofia, que consideram, precisamente, que essa figura emblemática é Platão e não Descartes.
Sendo assim, parece, desde logo, que o título é inadequado. O próprio autor parece ter consciência disto, porquanto afirma que, de fato, o livro não é sobre Descartes e, assim, Descartes é meramente um pretexto. Por que, então, este título? Por que, então, Descartes?
Poderia propor algumas explicações, entre outras: Por marketing? Para chamar a atenção? Por moda? Atentemos à última hipótese. Não deixa de ser curioso que títulos deste género, que direta ou indiretamente evocam Descartes, tenham ultimamente vindo à luz e nada tenham a ver com a filosofia. Curioso também que vão já a várias reimpressões.
O próprio livro de Damásio que já vai, nesta data, na 12ª edição e todas publicadas entre maio de 1995 e agosto do mesmo ano. Indubitavelmente, Descartes está hoje na ordem do dia. É um autor pleno de atualidade. E, de facto, quem não conhece Descartes e o seu famoso “penso, logo existo"? E toda a gente conhece o Discurso: todos o lemos quando passámos pela escola.
O homem comum, com uma cultura geral média, conhece melhor Descartes que Platão ou Kant. Quem não sabe que o "penso, logo existo" é uma afirmação cartesiana? Quanto a Platão ou Kant, que afirmações famosas lhes podem atribuir o homem comum? ... O próprio Damásio considera que o "penso, logo existo" é uma afirmação "talvez mais famosa da história da filosofia." (Damásio (1995): 254).
Tiremos então a ilação que parece óbvia. O título não podia ser outro senão O Erro de Descartes porque Descartes é mais conhecido que qualquer outro filósofo e isso, aliado ao facto de que Descartes, afinal, e a crer em Damásio, errou, é garantia de sucesso ou, pelo menos, desperta a nossa atenção.
Os Erros de Descartes
Descartes errou, segundo Damásio. Mas afinal em que errou Descartes? Qual foi então o Erro de Descartes? Para dizer a verdade, foram vários os erros de Descartes na perspectiva de Damásio. Enunciemo-los:
Primeiro, o mais fundamental, sob o ponto de vista de Damásio, aquele que vai ser alvo de todas as críticas, é o erro do dualismo.
Segundo: Mas Descartes cometeu outros erros, aliás "bem mais espetaculares"! (Damásio (1995):255). Por exemplo, os erros presentes na explicação que dá para a circulação do sangue (o calor é que faz circular o sangue) ou para a explicação do movimento dos músculos (por recurso aos "espíritos animais"). (Cf. Damásio (1995): 255).
No que diz respeito a estes últimos, Damásio não lhes atribui qualquer importância, porquanto "há muito tempo que sabemos que ele estava errado nestes aspectos concretos." (Damásio (1995): 255)
Restam os outros dois, o erro do dualismo e o do mecanicismo.
Destes, o erro mais grave e decisivo é o erro do dualismo, pois o dualismo "continua a prevalecer" e a influenciar a ciência e a cultura hodierna. (Cf. Damásio (1995): 255).
Apresentados os erros de Descartes, segundo Damásio, cumpre agora apreciá-los, saber se Descartes efetivamente errou e se Damásio tem ou não razão.
O(s) Erro(s) de Descartes
O Erro do Dualismo
Comecemos pela análise daquele que é, na perspectiva de Damásio, o único erro autêntico - o do dualismo. Em que consiste este erro? Na radical separação e diferença entre corpo e alma, res cogitans e res extensa, matéria e espírito.
Erro patente, desde logo, e segundo Damásio, no "penso, logo existo" - que é a formulação que aparece no Discurso do Método (publicado em 1637). Mas Descartes dá outras formulações desse mesmo princípio, formulações essas que mutuamente se esclarecem. "Cogito, ergo sum” nos Princípios da Filosofia (publicada em 1644) e "sum res cogitans" nas Meditações Metafísicas (publicada em 1642).
Sou. Sou o quê? Sou uma coisa que pensa, existo porque penso e enquanto penso eis o que significam essas formulações. Se deixar de pensar, deixo de existir porque deixo de ter garantia, a certeza e a consciência da minha existência. Por isso, pensar e existir são, no fundo, uma só e mesma coisa e Descartes pode falar de intuição na apreensão desta única verdade.
Mas o grande problema, para Damásio, reside no facto de “como sabemos que Descartes via o ato de pensar como uma atividade separada do corpo, esta afirmação celebra a separação da mente, a 'coisa pensante' (res cogitans) do corpo não pensante, o qual tem extensão e partes mecânicas (res extensa)." (Damásio (1995:254) E se isso é, de algum modo, pelo menos na aparência, verdade, tenho, contudo, algumas objecções a propor).
1ªobjeção - O dualismo patente na acusação de Damásio e Descartes é uma consequência do sistema, não é uma opção primeira do sistema cartesiano. Isto é, Descartes não parte do dualismo, ele chega ao dualismo, resultando isso da forma como Descartes põe os problemas.
Por outro lado, o dualismo nunca satisfez o próprio Descartes que, por isso, o tentou ultrapassar, até porque como explicar que no homem a res cogitans (a mente) coexista e se relacione com a res extensa (o corpo).
Daí o recurso cartesiano à glândula pineal - atual hipófise - (a que Damásio alude algumas vezes) como forma de explicar a intersecção e a inter-relação entre a mente e o corpo.
E se a explicação pela glândula pineal mereceu algum louvor, o próprio Damásio o atesta quando afirma "curiosamente essa interligação [do corpo com a mente, a razão, o sentimento, a emoção] ocorre de forma intensa não muito longe da glândula pineal" (Damásio (1995):138), também é verdade que tal explicação não satisfaz ninguém nem o próprio Descartes.
Ouçamo-lo: "é necessário saber que a alma está verdadeiramente unida a todo o corpo, e que em rigor não se pode dizer que exista numa das suas partes com exclusão das outras, pois o corpo é uno e de certo modo indivisível". (Descartes (1968):115). Ao ouvir este texto quase se diria que estávamos a ouvir Damásio!
2ªobjeção - Damásio engana-se na interpretação que faz de Descartes.
Primeiro erro de interpretação - Descartes procura uma resposta para uma questão metafísica e não para uma questão de origem, como Damásio afirma. Ora Descartes não se questiona de onde vem ou provem a mente. Interroga-se pelo SER.
O que é que existe? E responde: Existe o pensamento (primeira existência e primeira verdade fora de toda a dúvida), existe Deus (Segunda existência e Segunda verdade) e existe o Mundo (terceira existência e terceira verdade). Mas estes primeiro, segundo e terceiro não aparecem por ordem de importância ou por ordem de origem. Correspondem meramente à ordem da fundamentação do sistema. E por isso a uma só questão - o que é que existe? - Uma só resposta: existe o pensamento, Deus e o Mundo.
Segundo erro de interpretação - Descartes não procurava uma fundação lógica para a filosofia, como Damásio afirma, procurava, quando muito, uma fundação lógico-metodológica e gnosiológica - e isto é verdade ao nível do Discurso.
Mas a autêntica fundamentação que Descartes busca é uma fundação ontológica e metafísica, que só ela garante a outra fundamentação lógico-gnosiológica, porquanto se quero conhecer, quero conhecer coisas que realmente existam, caso contrário o meu conhecimento seria ilusão, falsidade, mentira, fantasmagoria, porque conhecimento de nada, de algo que não existia.
Mas mais. Quando se procura um primeiro princípio fundante - como é o caso de Descartes - é evidente que esse princípio, como qualquer princípio, é indemonstrável. É que o princípio funda, mas não é fundado. Os princípios, portanto, não se provam, aceitam-se (ou não). São fruto, em última análise, de uma opção/decisão e objeto de uma crença.
Ora como pode Damásio considerar errado o primeiro princípio cartesiano se, como princípio que é, não se pode demonstrar a sua verdade ou falsidade?
Para mais, Damásio faz a mesma coisa que Descartes, aparentemente sem se aperceber disso, radicando a confusão no sentido indiscriminado que Damásio dá ao tempo origem, que considera sinónimo de princípio. Ora, na terminologia filosófica, tais termos não são, de modo nenhum, equivalentes.
Princípio é fundamento e origem é causa. E, de facto, Damásio não se pergunta apenas pela origem (causa) da mente, pergunta também, antes de mais, pelo princípio. E na resposta que dá, onde, aliás, está bem patente a confusão terminológica referida, coloca-se nos antípodas de Descartes.
"Para nós, portanto, no princípio foi a existência e só mais tarde chegou o pensamento. E para nós, no presente quando vimos ao mundo e nos desenvolvemos começamos ainda por existir e só mais tarde pensamos na medida em que existimos, visto o pensamento ser, na verdade, causado por estruturas e operações do ser." (Damásio (1995):254)
Damásio a formular o seu próprio princípio metafísico! A existência! No princípio era a existência e é a existência que na sua própria evolução, desenvolvimento e complexificação permite o aparecimento do pensamento. E o que é verdade para a perspectiva filogenética, também o é na perspectiva ontogenética. Portanto, primeiro existimos.
Existimos sem pensar. Depois, mais tarde, pensamos, existimos e pensamos. À existência acrescentou-se o pensamento. E, tal como é posta, a afirmação é também uma afirmação dualista. Porque primeiro existe uma coisa e depois outra diferente da primeira.
Parece, portanto, que Damásio sofre do mesmo mal de que acusa Descartes: uma doença chamada dualismo agudo... ou crônico, dependendo da perspectiva.
3ª objeção - Um dos aspectos cruciais da argumentação de Damásio contra Descartes consiste em considerar que este erro do dualismo é imperdoável, porquanto é uma concepção errada que perdura até hoje e determina ainda hoje o modo como conhecemos as relações mente-corpo.
Ora a minha objecção vai no sentido de considerar que o dualismo já estava presente em concepções anteriores a Descartes - por exemplo em Platão que distingue matéria e forma, Kosmos aisthetos e Kosmos noetos, corpo e razão.
E que dizer do Cristianismo que, mais que nenhuma outra força cultural, marcou decisivamente a nossa tradição ocidental? E que distingue alma de corpo, espírito de matéria, bem e mal... E só o primeiro polo destas dicotomias é valorizado! Por que, pois, atribuir a Descartes a culpa do dualismo, se ele não foi o primeiro nem sequer o último dos dualistas?
O Erro do Mecanicismo
O segundo erro de Descartes: o mecanicismo. Erro que, tal como o anterior, ainda não foi refutado e continua a perdurar nos nossos dias. Muito curioso que, relativamente a este erro, Damásio só o enuncie, parecendo que, de repente, foi atacado por algum ataque de amnésia que o fez esquecer-se de refutá-lo.
Primeira conclusão: o erro do mecanicismo perdura e, neste caso, pode perdurar já que Damásio não o desfaz. Última conclusão: o mecanicismo, afinal, não é um erro! Há aqui, indubitavelmente, uma contradição em Damásio.
De qualquer forma, também o mecanicismo não é apenas uma concepção cartesiana. Ele é o modelo que preside à interpretação do mundo e da natureza na moderna concepção de ciência, desde os seus inícios no século XVII e já antes de Descartes, com Kepler, Copérnico e Galileu.
Consiste o mecanicismo em considerar que tudo na natureza se explica analogamente ao funcionamento de uma máquina, em que tudo acontece sempre da mesma maneira, as mesmas causas provocando sempre os mesmos efeitos. Logo, a hipótese do mecanicismo é indissociável da hipótese da causalidade. E se o mecanicismo é um erro então a ciência é um erro!
Podemos compreender, então, o súbito ataque de amnésia de que parece ser vítima Damásio e porque é que ele não desfaz este pretenso erro. É que Damásio é ele mesmo um mecanicista! Aliás, como cientista, não podia deixar de o ser.
Por isso só posso concluir que não foi Descartes o culpado de "os biólogos adoptarem até hoje, uma mecânica de relojoeiro como modelo dos processos vitais" (Damásio (1995):253-254), como afirma Damásio.
E posso mesmo concluir mais: que Damásio adopta "uma mecânica de relojoeiro como modelo dos processos vitais" (Damásio (1995):254) e neurológicos ou não afirme ele que o cérebro é causa da mente!
Diz Damásio: "Poderíamos começar com um protesto e censurá-lo [a Descartes] por Ter convencido os biólogos a adoptarem até hoje uma mecânica de relojoeiro como modelo dos processos vitais. Mas talvez isso não fosse muito justo." (Damásio (1995):253-254). Convenhamos que, de facto, não é nada justo! E Damásio sabe-o bem!
“No Post-Scriptum (Damásio (1995):258-271) dirige uma última crítica a Descartes. ” A negligência cartesiana da mente, por parte da biologia e da medicina ocidentais, tem tido duas consequências principais. A primeira situa-se no campo da ciência. O esforço para compreender a mente em termos biológicos em geral atrasou-se várias décadas e pode dizer-se que só agora começa. “(...)
A Segunda consequência negativa relaciona-se com o diagnóstico e com o tratamento eficaz das doenças que nos confrontam” (Damásio (1995): 261), a saber, as doenças da mente.
Ora mais uma vez sou obrigada a contradizer Damásio. Mas aqui Descartes nem sequer precisa que o defendam. Ele próprio se defende e contradiz Damásio quando no Discurso afirma "De maneira que esse eu, isto é, a alma pela qual sou o que sou é mais fácil mesmo de conhecer que o corpo" (Descartes (1968):40) ou quando afirma nas Meditações, e é o título da Segunda Meditação "Da natureza do espirito humano: que se conhece melhor que o corpo". (Descartes (1976):117)
E não resisto a citá-la como ela foi escrita originalmente pelo próprio Descartes em latim "De natura mentis humanae: quod ipsa sit notior quam corpus." (Descartes (1970):36)
E provando que a mente é mais simples e fácil de conhecer que o corpo, Descartes aventura-se no estudo da alma e da mente escrevendo o Tratado das Paixões da Alma, publicado em 1649. Não parece, de modo nenhum, a não ser por um erro muito grosseiro ou má-fé, que possamos acusar Descartes de ter esquecido a mente e de, por essa razão, ser igualmente culpado pelo atraso no estudo da mente!
Posto isto, não estejam à espera de uma conclusão, não me peçam uma conclusão, não me podem sequer pedir que conclua. De facto, é uma impossibilidade concluir. Há muito ainda por explicar, nada está fechado e, portanto, concluído. Tudo está aberto e permanece, ainda, em aberto.
Nota em alegação final - A única "conclusão" que posso "concluir", em resposta ao repto que me foi lançado no início, é que, em face do exposto, julguem os senhores, distintos jurados! E penso que não podem proferir outro veredicto no caso que esteve presente neste Tribunal de Damásio versus Descartes, a não ser o do réu, o acusado, não é culpado, mas inocente!
Aliás, é essa a minha profunda convicção ou não teria aceitado esta defesa quando me foi proposta. O veredicto de inocência que espero, já está, por isso, implícito num dos títulos que vos propus.
René Descartes
René Descartes notabilizou-se, sobretudo, por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento como matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, ele foi uma das figuras-chave na Revolução Científica.
Descartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da matemática moderna", é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental.
Inspirou contemporâneos, e várias gerações de filósofos posteriores. Boa parte da filosofia escrita a partir de então foi uma reação às suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele.
René Descartes também conhecido como Renatus Cartesius (forma latinizada), foi filósofo, físico e matemático francês. Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, ele foi uma das figuras-chave na Revolução Científica.
Nasceu em La Haye, a cerca de 300 quilômetros de Paris. Seu pai, Joachim Descartes, advogado e juiz, possuía terras e o título de escudeiro, além de ser conselheiro no Parlamento de Rennes, na Bretanha.
Com um ano de idade, Descartes perdeu a mãe, Jeanne Brochard, no seu terceiro parto, e foi criado pela avó. Esta circunstância influenciará a vida futura de Descartes, pois o liberou facilmente para a vida militar e viagens. Este modelo de vida foi-lhe facilitado em vista de não se haver preocupado com o casamento. Na condição de órfão o menino Descartes ingressou em 1604, aos 8 anos, num Colégio, que os jesuítas acabavam de fundar (1603) em La Flèche.
Ali, completou o curso médio em 1612, tendo atingido, portanto seus 16 anos, com alguns rudimentos de letras e filosofia. Seu pai se casou novamente e chamava o filho de "pequeno filósofo". Mais tarde, aborreceu-se com ele quando não quis exercer o direito, curso que concluiu na universidade de Poitiers em 1616.
Em 1618, Descartes foi para a Holanda e se alistou no exército de Maurício de Nassau. A escola militar era, para ele, uma complementação da sua educação. Nessa época fez amizade com o duque filósofo, doutor e físico Isaac Beeckman, e a ele dedicou o "Compendium Musicae", um pequeno tratado sobre música.
Em 1619, viajou para a Dinamarca, Polônia e Alemanha, onde, segundo a tradição, no dia 10 de novembro, teve uma visão em sonho de um novo sistema matemático e científico. Três anos depois retornou a França e passou os anos seguintes em Paris e em outras partes da Europa.
Também é dessa época (1619-1620) o Larvatus prodeo (Ut comœdi, moniti ne in fronte appareat pudor, personam induunt, sic ego hoc mundi teatrum conscensurus, in quo hactenus spectator exstiti, larvatus prodeo.
Esta declaração do jovem Descartes no preâmbulo das Cogitationes Privatae (1619) é interpretada como uma confissão que introduz o tema da dissimulação, e, segundo alguns, marca uma estratégia de separação entre filosofia e teologia.
Jean-Luc Marion, em seu artigo Larvatus pro Deo: Phénoménologie et théologie refere-se à abordagem dionisíaca do homem escondido diante de deus (larvatus pro Deo) como justificativa teológica do filósofo que avança mascarado.
Em 1628, Descartes, incentivado pelo cardeal De Bérulle, escreveu "Regras para a Direção do Espírito". Buscando tranqüilidade, partiu para os Países Baixos, onde viveu até 1649.
Em 1629 começou a trabalhar em "Tratado do Mundo", uma obra de física. Mas em 1633, quando Galileu foi condenado pela igreja católica, Descartes não quis publicá-lo. Em 1635 nasceu sua filha ilegítima, Francine, que morreria em 1640.
Em 1637, publica três pequenos tratados científicos: A Diótrica, Os Meteoros e A Geometria,
Em 1637, publicou anonimamente "Discurso sobre o Método para Bem Conduzir a Razão a Buscar a Verdade Através da Ciência". O prefácio dessa obra é que faz seu futuro reconhecimento: O Discurso sobre o método. Seu nome e suas teorias se tornaram conhecidos nos círculos ilustrados e sua afirmação "Penso, logo existo" (Cogito, ergo sum) tornou-se popular.
Em 1641, surgiu sua obra mais conhecida: as "Meditações Sobre a Filosofia Primeira", com os primeiros seis conjuntos de "Objeções e Respostas". Os autores das objeções foram Johan de Kater; Mersene; Thomas Hobbes; Arnauld e Gassendi. A segunda edição das Meditações incluía uma sétima objeção, feita pelo jesuíta Pierre Bourdin, seguida de uma "Carta a Dinet".
Em 1643, a filosofia cartesiana foi condenada pela Universidade de Utrecht (Holanda) e, acusado de ateísmo, Descartes obteve a proteção do Príncipe de Orange. No ano seguinte, lançou "Princípios de Filosofia", onde resume seus princípios filosóficos que formariam "ciência".
Descartes teria declarado que o Universo é totalmente preenchido por um "éter" onipresente. Um livro em grande parte dedicado à física, o qual ofereceu à princesa Elizabete da Boêmia, filha mais velha de Frederico V e de Isabel da Boêmia, com quem mantinha correspondência. A correspondência durou sete anos, até a morte do filósofo, em 1650.
Assim, a rotação do Sol, através do éter, criaria ondas ou redemoinhos, explicando o movimento dos planetas, tal qual uma batedeira. O éter também seria o meio pelo qual a luz se propaga, atravessando-o pelo espaço, desde o Sol até nós. A Igreja Católica coloca os seus livros na lista proibida.
Uma cópia manuscrita do "Tratado das Paixões" foi enviada para a rainha Cristina da Suécia, através do embaixador francês. Frente a insistentes convites, Descartes foi para Estocolmo em 1649, com o objetivo de instruir a rainha de 23 anos em matemática e filosofia.
O horário da aula era às cinco horas da manhã. No clima rigoroso, sua saúde deteriorou. Em fevereiro de 1650, ele contraiu pneumonia e, dez dias depois, morreu. Em 1667, depois de sua morte, a Igreja Católica Romana colocou suas obras no Índice de Livros Proibidos.
O pensamento de Descartes é revolucionário para a sociedade feudalista em que ele nasceu, onde a influência da Igreja ainda era muito forte e quando ainda não existia uma tradição de "produção de conhecimento". Aristóteles tinha deixado um legado intelectual que o clero se encarregava de disseminar.
Foi considerado o pai do racionalismo, e defendeu a tese de que a dúvida era o primeiro passo para se chegar ao conhecimento. Descartes viveu numa época marcada pelas guerras religiosas entre Protestantes e Católicos na Europa. Viajou muito e viu que sociedades diferentes têm crenças diferentes, mesmo contraditórias.
Aquilo que numa região é tido por verdadeiro, é considerado ridículo, disparatado e falso em outros lugares. Descartes viu que os "costumes", a história de um povo, sua tradição cultural influenciam a forma como as pessoas pensam naquilo em que acreditam.
Descartes é considerado o primeiro filósofo moderno. A sua contribuição à epistemologia é essencial, assim como às ciências naturais por ter estabelecido um método que ajudou no seu desenvolvimento.
Descartes criou, em suas obras Discurso sobre o método e Meditações - a primeira escrita em francês, a segunda escrita em latim, língua tradicionalmente utilizada nos textos eruditos de sua época - as bases da ciência contemporânea.
O método cartesiano consiste no Ceticismo Metodológico - que nada tem a ver com a atitude cética: duvida-se de cada ideia que não seja clara e distinta. Ao contrário dos gregos antigos e dos escolásticos, que acreditavam que as coisas existem simplesmente porque precisam existir, ou porque assim deve ser.
Descartes instituiu a dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que puder ser provado, sendo o ato de duvidar indubitável. Baseado nisso, Descartes busca provar a existência do próprio eu (que duvida, portanto, é sujeito de algo - ego cogito ergo sum- eu penso, logo existo) e de Deus.
A maior parte da obra de Descartes é consagrada às ciências (domínios da matemática e da ótica), mas o que ele mais queria era conseguir um modo de chegar a verdades concretas.
Sua filosofia, exposta principalmente em o "Discurso sobre o Método", o mais amplamente lido de todos os seus trabalhos, é a proposta de meios para tal.
Descartes parte da dúvida chamada metódica, porque ela é proposta como uma via para se chegar à certeza e não é dúvida sistemática, sem outro fim que o próprio duvidar, como para os céticos.
Argumenta que as idéias em geral são incertas e instáveis, sujeitas à imperfeição dos sentidos. Algumas, porém, se apresentam ao espírito com nitidez e estabilidade e ocorrem a todas as pessoas da mesma maneira, independentes das experiências dos sentidos, e isto significa que residem na mente de todas as pessoas e são inatas.
Descartes vai, por etapas, nomear as idéias que ele inclui nessa categoria de claras, distintas, e inatas e vai demonstrar que essas são idéias verdadeiras, não podem ser idéias falsas.
A primeira ideia que examina é a do próprio Eu. Desta ideia, diz ele que não pode duvidar. É a ideia do Eu pensante.
Deus verdadeiro
A garantia que Descartes dá para a existência de Deus é que nenhum ser imperfeito ou finito, sendo igual ao homem, poderia ter produzido a ideia de um ser infinito e perfeito; somente Deus poderia ter revelado isto ao homem, como "a marca do artista impressa em sua obra". Portanto, conclui no "Discurso sobre o Método", a ideia de Deus implica a real existência de Deus.
Ele também rejeita a visão escolástica de que existe uma distinção entre vários tipos de conhecimento baseados na diversidade dos objetos conhecíveis, cada um com seu conceito fixo. Para ele o "poder de conhecer" é sempre o mesmo, qualquer que seja o objeto ao qual seja aplicado.
Bem aplicado pode chegar à verdade e à certeza, mal aplicado vai cair no erro ou dúvida. A mente, em muitas de suas atividades, é dependente do corpo: a paixão, ou seja, aquilo que é sentido, é uma ação sobre o corpo.
Ética
Descartes reconhece o corpo humano como a mais perfeita das máquinas; trabalha por impulsos naturais - o que é hoje chamado reflexos condicionados - mas os efeitos destes instintos automáticos e desejos podem ser controlados ou modificados pela mente, pelo poder da vontade racional.
A higiene do corpo é importante, mas há igualmente a necessidade de uma higiene mental, a qual é baseada no conhecimento verdadeiro dos fatores psicológicos que condicionam o comportamento. A mente necessita do treinamento do "bom senso" e a aquisição de sabedoria, o que por sua vez depende do conhecimento das verdades da metafísica a qual, a metafísica, por seu turno, inclui o conhecimento de Deus.
Descartes assim conclui que a atividade moral está baseada no conhecimento verdadeiro dos valores, ou seja, em idéias claras e distintas garantidas por Deus, do valor relativo das coisas.
O método
O seu Método para o raciocínio correto é principalmente “nunca aceitar qualquer coisa como verdade se essa coisa não pode ser vista clara e distintamente como tal”. Descartes assim implica a rejeição de todas as idéias e opiniões aceitas, a determinação a duvidar até ser convencido do contrário por fatos auto evidentes.
Propõe também preceitos metodológicos complementares ou preparatórios da evidência: o preceito da análise (dividir as dificuldades que se apresentem em tantas parcelas quantas sejam necessárias para serem resolvidas), o da síntese (conduzir com ordem os pensamentos, começando dos objetos mais simples e mais fáceis de serem conhecidos, para depois tentar gradativamente o conhecimento dos mais complexos) e o da enumeração (realizar enumerações de modo a verificar que nada foi omitido).
Revolução científica
Quanto à filosofia e à ciência, Descartes viveu no início da revolução científica. Seu importante trabalho, Meditações sobre a Filosofia Primeira, foi publicado em 1641, o ano anterior à morte de Galileu e nascimento de Newton. A grande preocupação na virada do século XVI para o século XVII: encontrar um caminho novo.
"As múltiplas opiniões eram caminhos vários e inseguros que não levavam a qualquer meta definitiva e estável. "Precisava-se achar o método para a ciência. Francis Bacon (1561-1626) e Galileu haviam deixado bem claro o novo caminho do método experimental, indutivo, que formularia suas leis, partindo da consideração dos casos particulares.
Alguns, como eles próprios, Bacon e Galileu, enfrentam a hegemonia do pensamento lógico dedutivo dos aristotélicos até então predominante e apoiado pelas forças do Estado e da Igreja. Constituem com Hobbes, Locke, Berkeley e Hume a chamada corrente empirista, que, de um golpe irá devastar o território da alquimia, da astrologia, da cabala, e constrói pacientemente a ciência moderna.
Outros reconhecem o valor do método indutivo, mas compreendem que ele é apenas o complemento novo que possibilitou a descoberta do método experimental e que o único instrumento com respeito às causas e aos fins últimos inatingíveis pela experimentação, será sempre a dedução lógica, e se arrojam por essa estrada.
Classificação das ciências
No "Princípios da Filosofia", Descartes classifica as ciências quanto à sabedoria ou grau de clareza e nitidez de idéias que é possível atingir em cada uma. A ciência, ele diz, pode ser comparada a uma árvore; a metafísica é a raiz, a física é o tronco, e os três principais ramos são a mecânica, a medicina, e a moral, estes formando as três aplicações do nosso conhecimento, que são o mundo externo, o corpo humano, e a conduta da vida.
Mas os conhecimentos científicos não bastam a si mesmos: o tronco da física sustenta-se em raízes metafísicas. É o Bom Deus quem garante o conhecimento científico, porque garante as idéias claras. A física cartesiana resulta, assim, de deduções racionais abstratas.
Deus existe e serve de apoio para retirar do domínio da dúvida o conhecimento que é claro e evidente. O mundo físico está de antemão provado por uma ideia inata, a de extensão, que é a essência da corporeidade.
Geometria
O La Géométrie é a parte mais importante do "Discurso". Ele representa o primeiro passo para uma teoria dos invariantes, que em estágios posteriores desrelativisa o sistema de referencia e remove arbitrariedades.
A álgebra faz possível reconhecer os problemas típicos na geometria e trazer junto os problemas que na roupagem geométrica não pareceriam de nenhum modo estar relacionados. A álgebra introduz na geometria os princípios mais naturais da divisão e a mais natural hierarquia do método.
Realmente, o grande avanço feito por Descartes foi criar uma fórmula algébrica para representar o fato trivial e então já conhecido de que um ponto em uma folha de papel retangular está infalivelmente, como é evidente, onde as duas linhas de suas duas distancias medidas perpendicularmente a duas margens adjacentes da folha, se encontram.
Em linguagem geométrica, isto quer dizer que um ponto em um plano pode ser representado pelos valores (hoje chamados "coordenadas cartesianas") das suas duas distâncias (x, y) tomadas perpendicularmente a dois eixos que se cruzam em ângulo reto nesse plano, com a convenção de lado positivo e negativo para um e outro lado do ponto de cruzamento dos eixos.
Então uma equação f(x,y)=0 pode ser satisfeita por um infinito número de valores de x e y. O importante é que esses valores de x e y podem representar as coordenadas de vários pontos de uma curva, da qual a equação f(x,y)=0 expressa alguma propriedade geométrica, isto é, a propriedade verdadeira da curva em cada ponto dela. E isto é geometria analítica, sua invenção.
Ótica e Universo
Dos dois restantes apêndices do Discours um era devotado à ótica, outro a natureza. Seu maior interesse está nas leis da refração, coincidentes, no entanto, com os achados de Snell, cujos experimentos originais Descartes deve ter repetido em Paris, em 1626 e 1627, e provavelmente se esqueceu de mencionar.
Descartes estava em dúvida se os raios de luz procediam do olho e tocavam os objetos, como supunham os gregos, ou se, ao contrário, procediam do objeto e afetavam o olho.
Porém, como ele considerava a velocidade da luz ser infinita, ele não considerou esse ponto particularmente importante.
No Meteoros, Descartes discute numerosos fenômenos atmosféricos, inclusive o arco-íris, que não explica corretamente por ignorar fatos importantes relativos ao índice de refração das substâncias para diferentes cores de luz. Sua física do universo, de base metafísica, reunindo muito do que havia preparado para o não publicado Le Monde, encontra-se exposta no seu Principia, de 1644.
Descartes não acreditava em ação à distância. Conseqüentemente, não podia admitir haver vácuo em torno da terra e sim alguma matéria que seria o meio pelo qual as forças poderiam ser transferidas.
A mecânica de Descartes supõe o universo cheio com a matéria que, devido a algum movimento inicial, se estabeleceu como um sistema de vórtices que carregam o sol, as estrelas, os planetas e seus satélites, e os cometas em seus trajetos.
Por muitas razões a teoria de Descartes, é mais satisfatória do que o efeito misterioso da gravidade agindo à distância. Ele assume que a matéria do universo tem que estar em movimento, e que o movimento deve resultar em diversos vórtices.
Sustenta que o sol está no centro de um imenso redemoinho de matéria, no qual os planetas flutuam e são arrastados em círculo como palhas em um redemoinho de água. Supõe que cada planeta está, por sua vez, no centro de um redemoinho secundário no qual os seus satélites são carregados em órbita.
Estes redemoinhos secundários supostamente produzem variações de densidade no meio que os circunda e assim afetam o redemoinho primário principal, fazendo os planetas se moverem em elipses e não em círculos.
Descartes e sua contribuição na educação
A contribuição filosófica de Descartes para a educação centra-se na proposta do método sem o qual a mente não se organiza para processar o conhecimento seguro. Para ele, a razão é igual em todos os homens. A razão é o bom senso e todos devem desejar possuí-la, pois representa o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso.
Para Descartes, a diversidade de opiniões decorre do direcionamento do pensamento e por não serem consideradas as mesmas coisas por todos, indistintamente. Não haveria, a princípio, pessoas mais racionais que outras. Pois, seria insuficiente ter o espírito bom, o importante seria aplicá-lo bem, se continuasse pelo caminho reto mesmo avançando devagar, sem desistir, poderiam avançar bem mais do que aqueles que não persistiram.
Desde muito cedo Descartes foi instruído nas letras. Estava convencido de que, por intermédio delas, poder-se-ia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil na vida. Porém, assim que terminou os estudos, mudou radicalmente de opinião pelo fato de estar embaraçado em inúmeras dúvidas e erros, o que, pensava, não seria próprio ocorrer após ter recebido instruções.
Constatou que quanto mais tentava se instruir, descobria cada vez mais a sua ignorância, apesar de ter estudado numa das mais célebres escolas da Europa, onde imaginava que devia haver homens sábios, se é que havia em algum lugar da Terra.
Porém, isso não o desestimulava a deixar de apreciar os exercícios com os quais se ocupavam nas escolas, pois tinha convicção da necessidade e do valor que representavam para a sua personalidade ávida por conhecimentos.
Com isso, Descartes não abria mão das formas possíveis de conhecer a realidade. Uma dessas formas merece destaque: a conversação com as pessoas mais qualificadas do passado, que se estabelece com a leitura de bons livros.
Para Descartes, a educação deve fazer a equalização entre o passado e o presente para nortear o futuro. E mais, deve dar vazão à cultura que está próxima, sem afastar a possibilidade de conhecer a de outros povos.
Em conclusão, embora não fosse a intenção de Descartes em dar contribuições efetivas para a educação, a forma que pautou a sua vida e o relato dessa experiência acabou por não só alertar à humanidade sobre a necessidade do método como também legar um método (método cartesiano) como caminho seguro para a produção de conhecimentos seguros.
O método cartesiano partia da premissa “duvidar de tudo” e tinha quatro regras principais: (1) só aceitar como verdadeiro o que está claro e não suscita dúvidas; (2) dividir cada problema em tantas partes quantas forem necessárias; (3) analisar cada parte com clareza e plenamente, acrescentando-a ao conhecimento do todo; (4) não deixar de levar em conta nada que possa ser fonte de erro.
Em outras palavras o método consiste de quatro regras básicas:
· Verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada;
· Analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades mais simples e estudar essas coisas mais simples;
· Sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro;
· Enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento.
A teoria de Descartes forneceu a base para o Cálculo de Newton e Leibniz, e então, para muito da matemática moderna. Isso parece ainda mais incrível tendo em mente que esse trabalho foi intencionado apenas como um exemplo no seu Discurso Sobre o Método.
Descartes defende o método matemático como modelo para a aquisição de conhecimentos em todos os campos. Muitos especialistas afirmam que a partir de Descartes inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna.
A tese cartesiana deu luz à ideia de que o mundo pode ser visto sob uma perspectiva objetiva externa a ele, em que o observador pode ser neutro e passivo.
Seu pensamento exerceu grande influência no mundo europeu, atingindo diretamente o pensamento de Kant e indiretamente as teorias de Hegel. Essa influência não tocou apenas o pensamento metafísico, mas, principalmente, o espírito crítico e o método racionalista.
Grandes filósofos como Locke, Hume e Kant utilizaram suas teorias e princípios. Como Galileu, Descartes concorda com o modelo o cosmológico de Copérnico.
Os grandes filósofos que o sucedem desenvolvem sua filosofia em concordância com a de Descartes, seja desenvolvendo (Malebranche) ou opondo-se (Hobbes, Pascal, Espinosa e Leibniz).
Descartes foi uma figura importante no racionalismo continental, posição defendida por Spinoza e Leibniz, tendo como opositores Hobbes, Locke, Berkeley, Rousseau e Hume.
Inspirou contemporâneos e várias gerações de filósofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de então foi uma reação às suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas afirmam que a partir de Descartes inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna.
Cartesianamente, embora a ciência devesse se constituir de uma pretensão de universalidade, esta poderia ser pensada por apenas um único indivíduo, pois que todos são dotados natural e igualmente de razão.
Considerando que o campo da matemática conduzia à verdade e à certeza, em razão da incontestabilidade de suas demonstrações, cuja validade das argumentações independiam do tempo e do espaço, Descartes buscou a transposição dessa noção para os problemas da vida.
Tratava-se, por conseguinte, de encontrar as leis que regiam a natureza. Livrando-se dos enganos que ofuscam a razão, a ideia implicava em encontrar a certeza por meio de testes de dúvidas: duvidando-se de tudo (Montaigne), encontra-se um princípio de certeza, qual seja, se duvido, penso!
Dessa forma, esse primeiro princípio se originou da ideia cartesiana do gênio malvado, que impunha considerar que o humano pode estar errado em todos os momentos nos quais considera estar certo.
A partir dessa dúvida hiperbólica, Descartes considerou que somente o fato de duvidar de tudo conduz ao humano uma certeza, a de pensar. Daí o porquê de, no âmbito de uma pesquisa, se rejeitar como falso tudo o que se pode supor a menor dúvida, para verificar se resta algo de incontestável.
Descartes formulou um método de conhecimento baseado no imperativo da razão.
Caso conheça-se o complexo a partir de um encadeamento do mais simples, isto é, de uma ideia parcelada, a dedução permite a razão e a certeza (tal como as regras da aritmética). Continua-se o raciocínio. Se duvido, penso! Todavia, o penso (alma) se refere à própria subjetividade e não garante a existência do mundo exterior ao próprio pensamento.
Essa formulação, portanto, é a primeira da série de encadeamento racional, cuja continuação natural seria: Se penso, logo existo! (Cogito ergo sum!). Aqui a razão é elevada a última potência, existindo a dualidade disjuntiva entre alma e corpo, pois a natureza inteligente não se confunde com a corporal.
Descartes e a Filosofia
Filosofia na Grécia Antiga
A palavra filosofia é de origem grega e significa amor à sabedoria. Ela surge desde o momento em que o homem começou a refletir sobre o funcionamento da vida e do universo, buscando uma solução para as grandes questões da existência humana.
Os pensadores, inseridos num contexto histórico de sua época, buscaram diversos temas para reflexão. A Grécia Antiga é conhecida como o berço dos pensadores, sendo que os sophos (sábios em grego) buscaram formular, no século VI a.C., explicações racionais para tudo aquilo que era explicado, até então, através da mitologia. Um racionalismo ainda faria sentido no século VII e que influenciou de maneira fundamental o pensamento cartesiano.
Os Pré-Socráticos
Podemos afirmar que foi a primeira corrente de pensamento, surgida na Grécia Antiga por volta do século VI a.C. Os filósofos que viveram antes de Sócrates se preocupavam muito com o Universo e com os fenômenos da natureza.
Buscavam explicar tudo através da razão e do conhecimento científico. Podemos citar, neste contexto, os físicos Tales de Mileto, Anaximandro e Heráclito. Pitágoras desenvolve seu pensamento defendendo a ideia de que tudo preexiste a alma, já que esta é imortal. Demócrito e Leucipo defendem a formação de todas as coisas, a partir da existência dos átomos.
Período Clássico
Os séculos V e IV a.C. na Grécia Antiga foram de grande desenvolvimento cultural e científico. O esplendor de cidades como Atenas, e seu sistema político democrático, proporcionou o terreno propício para o desenvolvimento do pensamento. É a época dos sofistas e do grande pensador Sócrates.
Os sofistas, entre eles Górgias, Leontinos e Abdera, defendiam uma educação, cujo objetivo máximo seria a formação de um cidadão pleno, preparado para atuar politicamente para o crescimento da cidade. Dentro desta proposta pedagógica, os jovens deveriam ser preparados para falar bem (retórica), pensar e manifestar suas qualidades artísticas.
Sócrates começa a pensar e refletir sobre o homem, buscando entender o funcionamento do Universo dentro de uma concepção científica. Para ele, a verdade está ligada ao bem moral do ser humano. Ele não deixou textos ou outros documentos, desta forma, só podemos conhecer as ideias de Sócrates através dos relatos deixados por Platão. Este à sua vez foi outro dos grandes influenciadores da obra de Descartes.
Platão foi discípulo de Sócrates e defendia que as ideias formavam o foco do conhecimento intelectual. Os pensadores teriam a função de entender o mundo da realidade, separando-o das aparências.
Outro grande sábio desta época foi Aristóteles que desenvolveu os estudos de Platão e Sócrates. Foi ele quem desenvolveu a lógica dedutiva clássica, como forma de chegar ao conhecimento científico. A sistematização e os métodos devem ser desenvolvidos para se chegar ao conhecimento pretendido, partindo sempre dos conceitos gerais para os específicos.
Período Pós-Socrático
Está época vai do final do período clássico (320 a.C.) até o começo da Era Cristã, dentro de um contexto histórico que representa o final da hegemonia política e militar da Grécia.
Ceticismo
De acordo com os pensadores céticos, a dúvida deve estar sempre presente, pois o ser humano não consegue conhecer nada de forma exata e segura.
Epicurismo
Os epicuristas, seguidores do pensador Epicuro, defendiam que o bem era originário da prática da virtude. O corpo e a alma não deveriam sofrer para, desta forma, chegar-se ao prazer.
Estoicismo
Os sábios estoicos como, por exemplo Marco Aurélio e Sêneca, defendiam a razão a qualquer preço. Os fenômenos exteriores à vida deviam ser deixados de lado, como a emoção, o prazer e o sofrimento.
Pensamento Medieval
O pensamento na Idade Média foi muito influenciado pela Igreja Católica. Desta forma, o teocentrismo acabou por definir as formas de sentir, ver e também pensar.
De acordo com Santo Agostinho, importante teólogo romano, o conhecimento e as ideias eram de origem divina. As verdades sobre o mundo e sobre todas as coisas deviam ser buscadas nas palavras de Deus.
Porém, a partir do século V até o século XIII, uma nova linha de pensamento ganha importância na Europa. Surge a escolástica, conjunto de ideias que visava unir a fé com o pensamento racional de Platão e Aristóteles. O principal representante desta linha de pensamento foi São Tomás de Aquino.
Pensamento Filosófico Moderno
Com o Renascimento Cultural e Científico, o surgimento da burguesia e o fim da Idade Média, as formas de pensar sobre o mundo e o Universo ganham novos rumos.
A definição de conhecimento deixa de ser religiosa para entrar num âmbito racional e científico. O teocentrismo é deixado de lado e entre em cena o antropocentrismo (homem no centro do Universo).
William de Ockham 1285-1350 criador da teoria da Navalha de Ockham, foi um frade franciscano, filósofo, lógico e teólogo escolástico inglês, considerado como o representante mais eminente da escola nominalista
Provavelmente, quando escreveu que as teorias devem ser tão simples quanto possível, mas nem sempre devemos escolher as mais simples, Albert Einstein estava se referindo ao princípio de Ockham em sua Teoria da Relatividade,
Maquiavel 1469-1527 Hegel, Herder, Macaulay e Burd foram alguns de seus defensores, certamente fundamentando sua interpretação no capítulo final de O Príncipe em que Maquiavel faz uma apaixonada defesa de uma Itália unificada, afirmando que um povo só pode ser feliz e próspero se estiver unido.
Thomas More 1478-1535. É geralmente considerado como um dos grandes humanistas do Renascimento.
A burguesia, camada social em crescimento econômico e político, tem seus ideais representados no empirismo e no idealismo.
No século XVII, o pesquisador e sábio inglês Francis Bacon cria um método experimental, conhecido como empirismo. Neste mesmo sentido, desenvolvem seus pensamentos Thomas Hobbes e John Locke.
O iluminismo surge em pleno século das Luzes, o século XVIII. A experiência, a razão e o método científico passam a ser as únicas formas de obtenção do conhecimento.
Este, a única forma de tirar o homem das trevas da ignorância. Podemos citar, nesta época, os pensadores Immanuel Kant, Hegel, Montesquieu, Diderot, D'Alembert e Rosseau.
O século XIX é marcado pelo positivismo de Auguste Comte. O ideal de uma sociedade baseada na ordem e progresso influencia nas formas de refletir sobre as coisas. O fato histórico deve falar por si próprio e o método científico, controlado e medido, deve ser a única forma de se chegar ao conhecimento.
Neste mesmo século, Karl Marx utiliza o método dialético para desenvolver sua teoria marxista. Através do materialismo histórico, Marx propõe entender o funcionamento da sociedade para poder modificá-la.
Através de uma revolução proletária, a burguesia seria retirada do controle dos bens de produção que seriam controlados pelos trabalhadores.
Ainda neste contexto, Nietzsche, faz duras críticas aos valores tradicionais da sociedade, representados pelo cristianismo e pela cultura ocidental. O pensamento, para libertar, deve ser livre de qualquer forma de controle moral ou cultural.
Época Contemporânea
Durante o século XX várias correntes de pensamentos agiram ao mesmo tempo. As releituras do marxismo e novas propostas surgem a partir de Antonio Gramsci, Henri Lefebvre, Michel Foucault, Louis Althusser e Gyorgy Lukács.
A antropologia ganha importância e influencia o pensamento do período, graças aos estudos de Claude Lévi-Strauss.
A fenomenologia, descrição das coisas percebidas pela consciência humana, tem seu maior representante em Edmund Husserl. A existência humana ganha importância nas reflexões de Jean-Paul Sartre, o criador do existencialismo.
Contemporâneos de Descartes
Giordano Bruno 1548-1600 As suas ideias sobre a relatividade anteciparam as de Galileu: num universo infinito, qualquer perspectiva de qualquer objeto é sempre relativa à posição do observador, há infinitos referenciais possíveis e não existe nenhum privilegiado em relação aos demais.
Além de defender a existência de planetas extrassolares, pode ter introduzido algumas ideias do que seria depois a Teoria da Evolução de Darwin.
Francis Bacon 1561-1626 É considerado como o fundador da ciência moderna. Em suas investigações, ocupou-se especialmente da metodologia científica e do empirismo. O objetivo do método baconiano é constituir uma nova maneira de estudar os fenômenos naturais.
Para Bacon, a descoberta de fatos verdadeiros não depende do raciocínio silogístico aristotélico, mas sim da observação e da experimentação regulada pelo raciocínio indutivo. O conhecimento verdadeiro é resultado da concordância e da variação dos fenômenos que, se devidamente observados, apresentam a sua causa.
Francis Bacon (1561-1626) e Galileu haviam deixado bem claro o novo caminho do método experimental, indutivo, que formularia suas leis, partindo da consideração dos casos particulares. Alguns, como eles próprios, enfrentam a hegemonia do pensamento lógico dedutivo dos aristotélicos até então predominante e apoiado pelas forças do Estado e da Igreja.
Hobbes, Locke, Berkeley e Hume constituem a chamada corrente empirista, que, de um golpe irá devastar o território da alquimia, da astrologia, da cabala, e construir pacientemente a ciência moderna.
Outros reconhecem o valor do método indutivo, mas compreendem que ele é apenas o complemento novo que possibilitou a descoberta do método experimental e que o único instrumento com respeito às causas e aos fins últimos inatingíveis pela experimentação, será sempre a dedução lógica, e se arrojam por essa estrada.
Nesse sentido, o século XVII foi caracterizado por duas vertentes de pensamento. A primeira foi representada pelo empirista Francis Bacon, para o qual a ciência deveria se fundamentar na observação de fatos concretos para, indutivamente, generalizar suas considerações.
A segunda, por sua vez, se caracterizou pelo pensamento racionalista moderno de René Descartes, que detinha a pretensão de unificar todos os conhecimentos em um edifício calcado em bases seguras e verdadeiras, isto é, por certezas racionais.
Galileu Galilei (1564-1642) foi personalidade fundamental na revolução científica. Um apoio muito importante foi dado a Galileu por Kepler. Desenvolveu os primeiros estudos sistemáticos do movimento uniformemente acelerado e do movimento do pêndulo.
Descobriu a lei dos corpos e enunciou o princípio da inércia e o conceito de referencial inercial, ideias precursoras da mecânica newtoniana. Galileu melhorou significativamente o telescópio refrator e com ele descobriu as manchas solares, as montanhas da Lua, as fases de Vênus, quatro dos satélites de Júpiter, os anéis de Saturno e as estrelas da Via Láctea.
Estas descobertas contribuíram decisivamente na defesa do heliocentrismo. Contudo a principal contribuição de Galileu foi para o método científico, pois a ciência se assentava numa metodologia aristotélica.
O físico desenvolveu ainda vários instrumentos como a balança hidrostática, um tipo de compasso geométrico que permitia medir ângulos e áreas, o termômetro de Galileu e o precursor do relógio de pêndulo.
O método empírico, defendido por Galileu, constitui um corte com o método aristotélico mais abstrato utilizado nessa época; devido a isso, Galileu é considerado como o "pai da ciência moderna".
Filósofos pós Descartes
Newton (1643-1727) estudou no Trinity College de Cambridge, e graduou-se em 1665. Um dos principais precursores do Iluminismo, seu trabalho científico sofreu forte influência de seu professor e orientador Barrow (desde 1663), Schooten, Viète, John Wallis, Descartes, Fermat, Cavalieri e das concepções de Galileu Galilei e Johannes Kepler.
O matemático francês Abraham de Moivre, um dos melhores amigos de Newton, lhe indagou sobre as origens do seu interesse por matemática, e pediu detalhes a respeito de seus estudos.
Descobriu que o interesse de Newton começou em 1663, aos 20 anos, quando ele comprou um livro de astrologia e não conseguiu entender a matemática usada nele. Assim, Newton comprou um livro de trigonometria, e não conseguindo entender as demonstrações, começou a estudar Os Elementos de Euclides, que leu inteiro. Prosseguiu para o Clavis Mathematicae, de Oughtred, e então para o La Géométrie, de Descartes.
Pascal, Blaise (1623-1662) O talento precoce para as ciências físicas levou a família a Paris, onde ele se consagra ao estudo da matemática. Acompanha o pai quando este é transferido para Rouen e lá realiza as primeiras pesquisas no campo da Física.
Suas experiências sobre sons resultaram em um pequeno tratado (1634). No ano seguinte chega à dedução de 32 proposições de geometria estabelecidas por Euclides. Publica Essay pour les coniques (1640), obra na qual está formulado o célebre teorema de Pascal.
Blaise Pascal contribuiu decisivamente para a criação de dois novos ramos da matemática: a Geometria Projetiva e a Teoria das probabilidades. Em Física, estudou a mecânica dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e vácuo, ampliando o trabalho de Torricelli.
É ainda o autor de uma das primeiras calculadoras mecânicas, a Pascaline, e de estudos sobre o método científico.
O cálculo diferencial e integral de Newton e Leibniz que seria a base da física moderna foi inspirado em um tratado publicado por Blaise Pascal sobre os senos num quadrante de um círculo onde buscou a integração da função seno, que também viria a ser a base da matemática moderna.
Estabeleceu, juntamente com Pierre de Fermat, as bases da teoria das probabilidades e da análise combinatória, que o holandês Huygens desenvolveria posteriormente (1657).
Pascal afirmou que apenas as definições do primeiro tipo são importantes para a ciência e a matemática, argumentando que esses campos devem adotar a filosofia do formalismo, tal como formulado por Descartes.
Spinoza, Baruch de (1632-1677) foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz.
Da combinação da epistemologia de Kant saíram os "panteísmos" de Fichte, Schelling e de Hegel. Influenciou os conceitos de Schopenhauer, Nietzsche e Bergson em seus "vontade de vencer", "vontade de poder" e "élan vital", respectivamente. Inspirou o pensador inglês Coleridge, ainda os conterrâneos, Wordsworth e Shelley.
Locke, John (1632-1704) A filosofia da mente de Locke é frequentemente citada como a origem das concepções modernas de identidade e do "Eu". O conceito de identidade pessoal, seus conceitos e questionamentos figuraram com destaque na obra de filósofos posteriores, como David Hume, Jean-Jacques Rousseau e Kant.
Locke foi o primeiro a definir o "si mesmo" através de uma continuidade de consciência. Ele postulou que a mente era uma lousa em branco (tabula rasa). Em oposição ao Cartesianismo, ele sustentou que nascemos sem ideias inatas, e que o conhecimento é determinado apenas pela experiência derivada da percepção sensorial.
Locke costuma ser incluído entre os empiristas britânicos, ao lado de David Hume e George Berkeley, principalmente por sua obra relativa a questões epistemológicas.
Leibniz, Gottfried (1646-1716) O uso de "função" como um termo matemático foi iniciado por Leibniz, em uma carta de 1694, para designar uma quantidade relacionada a uma curva, tal como a sua inclinação em um ponto específico. Descreveu o primeiro sistema de numeração binário moderno (1705), tal como o sistema numérico binário utilizado nos dias de hoje.
Demonstrou genialidade também nos campos da lei, religião, política, história, literatura, lógica, metafísica e filosofia. Ao contrário de Descartes e Espinoza, Leibniz tinha uma formação universitária completa na área de filosofia.
Leibniz era profundamente interessado em novos métodos e nas conclusões de Descartes, Huygens, Newton e Boyle, mas viu estes trabalhos através de uma lente fortemente matizada por noções escolásticas.
Montesquieu (1689-1755) A volta ao pensamento indutivo, à forma humana, ao equilíbrio do Neoclassicismo foi o legado que homens como Montesquieu deixaram para a arte do século posterior.
Voltaire (1694-1778) Foi influenciado pelo cientista Isaac Newton e pelo filósofo John Locke;
Hume, David (1711-1776) se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. Ao lado de John Locke e George Berkeley, Hume compõe a famosa tríade do empirismo britânico, sendo considerado um dos mais importantes pensadores do chamado iluminismo escocês e da própria filosofia ocidental.
Hume opôs-se particularmente a Descartes e às filosofias que consideravam o espírito humano desde um ponto de vista teológico-metafísico. Assim Hume abriu caminho à aplicação do método experimental aos fenômenos mentais.
Sua importância no desenvolvimento do pensamento contemporâneo é considerável. Teve profunda influência sobre Kant, sobre a filosofia analítica do início do século XX e sobre a fenomenologia.
Kant, Immanuel (1724-1804) Kant operou, na epistemologia, uma síntese entre o racionalismo continental (de René Descartes e Gottfried Leibniz, onde impera a forma de raciocínio dedutivo), e a tradição empírica inglesa (de David Hume, John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução).
Kant é famoso sobretudo pela elaboração do denominado idealismo transcendental: todos nós trazemos formas e conceitos a priori (aqueles que não vêm da experiência) para a experiência concreta do mundo, os quais seriam de outra forma impossíveis de determinar.
A filosofia da natureza e da natureza humana de Kant é historicamente uma das mais determinantes fontes do relativismo conceptual que dominou a vida intelectual do século XX. No entanto, é muito provável que Kant rejeitasse o relativismo nas formas contemporâneas, como por exemplo o Pós-modernismo.
A geometria analítica (Descartes) permite reduzir as figuras a equações e vice-versa. O cálculo infinitesimal (Leibniz) arremata essa compenetração definindo a lei de desenvolvimento de um ponto em qualquer direção do espaço. A matemática é, pois, um conjunto de leis a priori, que coincidem com a experiência e a tornam cognoscível.
Apesar de ter adaptado a ideia de uma filosofia crítica, cujo objetivo primário era "criticar" as limitações das nossas capacidades intelectuais, Kant foi um dos grandes construtores de sistemas, levando a cabo a ideia de crítica nos seus estudos da metafísica, ética e estética.
Em sua obra filosófica, cumpre destacar duas grandes contribuições à geografia: a classificação da geografia como ciência dentro do esquema do conhecimento humano e as obras kantianas que tratam sobre o tema da observação e do estudo dos fenômenos naturais.
Hegel (1770-1831) Hegel foi um dos criadores do idealismo alemão e naturalmente da gênese do que é chamado de hegelianismo. Hegel influenciou escritores de posições largamente díspares, incluindo seus admiradores (Strauss, Bauer, Feuerbach, Stirner, T. H. Green, Marx, F. H. Bradley, Dewey, Sartre, Küng, Kojève, Fukuyama, Žižek, Brandom, Iqbal) e seus detratores (Schopenhauer, Schelling, Kierkegaard, Nietzsche, Peirce, Popper, Russell, Heidegger).
Era fascinado pelas obras de Spinoza, Kant e Rousseau, assim como pela Revolução Francesa. Muitos consideram que Hegel representa o ápice do idealismo alemão do século XIX, que teve impacto profundo no materialismo histórico de Karl Marx.
A filosofia de Hegel afirmava que tudo o que é real, é também racional; e, por corolário, tudo o que é racional, é real. O fim da história era, para Hegel, a parusia do espírito; e o desenvolvimento histórico podia ser equiparado ao desenvolvimento de um organismo (os componentes têm funções definidas, sendo que enquanto trabalham, afetam o restante).
Hegel acreditava em uma norma divina, fulcrada no princípio de que em tudo se encontra a volição de Deus, a qual é conduzir o homem para a liberdade; porquanto é panteísta. Justifica, então, a desgraça histórica: todo o sangue e a dor, a pobreza e as guerras, constituem "o preço" necessário a ser pago para alcançar a liberdade da humanidade.
Schopenhauer, Arthur (1788-1860) A influência oriental em sua filosofia o fez aceitar o ateísmo. Ficou vulgarmente conhecido por seu pessimismo e entendia o budismo (e a essência da mensagem cristã, bem como o essencial da maior parte das culturas religiosas de todos os povos em todos os tempos) como uma confirmação dessa visão realista-pessimista.
Schopenhauer acreditava no amor como meta na vida, mas não acreditava que ele tivesse a ver com a felicidade. A filosofia de Schopenhauer influenciou marcadamente vários pensadores, entre os quais destacam-se: Eduard von Hartmann, Nietzsche, Hartmann, Simmel, Thomas Mann, Bergson e Freud.
Comte, Augusto (1798-1857) Em sua nova ciência inicialmente chamada de física social e posteriormente sociologia, Comte usaria a observação, a experimentação, a comparação e a classificação como métodos - resumidas na filiação histórica - para a compreensão (isto é, para conhecimento) da realidade social.
Comte afirmou que os fenômenos sociais podem e devem ser percebidos como os outros fenômenos da natureza, ou seja, como obedecendo a leis gerais; entretanto, sempre insistiu e argumentou que isso não equivale a reduzir os fenômenos sociais a outros fenômenos naturais (isso seria cometer o erro teórico e epistemológico do materialismo): a fundação da Sociologia implica que os fenômenos sociais são um tipo específico de realidade teórica e que devem ser explicados em termos sociais.
Nietzsche, Friedrich (1844-1900) As ideias-chave de Nietzsche incluíam a dicotomia apolíneo/dionisíaca, o perspectivismo, a vontade de poder, a "morte de Deus", o Übermensch (Além-Homem) e eterno retorno.
Seu questionamento radical do valor e da objetividade da verdade tem sido o foco de extenso comentário e sua influência continua a ser substancial, especialmente na tradição filosófica continental compreendendo existencialismo, pós-modernismo e pós-estruturalismo.
Dentre os poucos elogios deferidos por Nietzsche, coletamos citações, muitas vezes com ressalvas a Schopenhauer, Spinoza, Dostoievski, Shakespeare, Dante, Napoleão, Goethe, Darwin, Leibniz, Pascal, Edgar Allan Poe, Lord Byron, Musset, Leopardi, Kleist, Gogol, Voltaire e ao próprio Wagner, grande amigo e confidente de Nietzsche.
Russell, Bertrand (1872-1970) Durante sua longa vida, Russell elaborou algumas das mais influentes teses filosóficas do século XX, e, com elas, ajudou a fomentar uma das suas tradições filosóficas, a assim chamada Filosofia Analítica.
Dentre essas teses, destacam-se a tese logicista, ou lógica simbólica, de fundamentação da Matemática. Segundo Russell, todas as verdades matemáticas - e não apenas as da aritmética, como pensava Gottlob Frege- poderiam ser deduzidas a partir de umas poucas verdades lógicas, e todos os conceitos matemáticos reduzidos a uns poucos conceitos lógicos primitivos.
A superação do empirismo, para Bachelard, se dá através do racionalismo. A postura epistemológica do novo cientista não se satisfaz com aproximações empiristas sobre os objetos, ao contrário, proclama-se no "novo espírito científico" o primado da realização sobre a realidade.
As experiências já não são feitas no vazio teórico, mas são, ao invés disso, a realização teórica por excelência. O cientista aproxima-se do objeto, na nova ciência, não mais por métodos baseados nos sentidos, na experiência comum, mas através da teoria. Isso significa que o método científico já não é direto, imediato, mas indireto, mediado pela razão.
O vetor epistemológico, segundo Bachelard, segue o percurso do "racional para o real", o que é contrário à epistemologia até então predominante na história das ciências.
A obra bachelardiana encontra-se no contexto da revolução científica promovida no início do século XX (1905) pela Teoria da Relatividade, formulada por Albert Einstein.
É justamente sobre o essencialismo racionalista cartesiano que recai a crítica de Bachelard. Esse pensador percebe que existe em Descartes uma negligência filosófica, ou seja, que ele faz da ingenuidade um método científico.
Isso quer dizer: racionalmente se pretende que o conhecimento seja direto, imediato e intuído pela razão abstrata e lucidez (luz) nata. Sob essa ótica, o ser que duvida, pensa. Pensa como ser pensante um pensamento cognoscente, alijado da existência ou realidade.
Sartre, Jean-Paul (1905-1980) foi um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como representante do existencialismo. Acreditava que os intelectuais têm de desempenhar um papel ativo na sociedade. Era um artista militante, e apoiou causas políticas de esquerda com a sua vida e a sua obra.
Sartre mantém o individualismo e o desinteresse pela política que conservaria até o fim da Segunda Guerra. No campo filosófico, além de Bergson, passou a ler Nietzsche, Kant, Descartes e Spinoza.
Já na escola começa a desenvolver as primeiras ideias de uma filosofia da liberdade leiga, da oposição entre os seres e a consciência, do absurdo e da contingência que ele viria a desenvolver posteriormente em suas grandes obras filosóficas. Seu principal interesse filosófico é o indivíduo e a psicologia.
Foucault, Michel (1926-1984) Michel Foucault foi um filósofo, historiador das ideias, teórico social, filólogo e crítico literário. Suas teorias abordam a relação entre poder e conhecimento e como eles são usados como uma forma de controle social por meio de instituições sociais.
Segundo Capra, as descobertas da física subatômica revolucionaram o conhecimento do que se percebe como a realidade material. Com a inexistência de uma linguagem própria para se referir aos resultados dessas novas descobertas, houve a necessidade de pensar conceitos radicalmente novos.
No intuito de explicar essa nova realidade, deve-se afirmar que, de acordo com física subatômica, não existe matéria sólida, vez que os átomos consistem em espaços vazios, isto é, em um núcleo e em elétrons nas bordas, e entre isso, nada. A matéria não existe com certeza em lugares definidos, mas mostra tendências (probabilidades) de existir.
Epistemologia
A epistemologia é o ramo da filosofia que estuda os problemas relacionados com a crença e o conhecimento, a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento, motivo pelo qual também é conhecida como teoria do conhecimento.
Relaciona-se com a metafísica, a lógica e a filosofia da ciência, pois, em uma de suas vertentes, avalia a consistência lógica de teorias e suas credenciais científicas. Este fato torna-a uma das principais áreas da filosofia (à medida que prescreveria "correções" à ciência).
A sua problemática compreende a questão da possibilidade do conhecimento - nomeadamente, se é possível ao ser humano alcançar o conhecimento total e genuíno, dos limites do conhecimento (haveria realmente uma distinção entre o mundo cognoscível e o mundo incognoscível?)
Por quais faculdades atingimos o conhecimento? Haverá conhecimento certo e seguro em alguma concepção a priori? Em última instância é o juiz universal daquilo que se propõe como ciência, pura ou aplicada, mas norteada sobre seus preceitos.
Devo esse amadurecimento ao Prof. António Damázio, brilhante neurocientista português que com sua obra “O erro de Descartes”, despertou em mim toda essa busca filosófica e que creio se sintetiza nesse texto que paradoxalmente me leva a criticá-lo por não ter, aparentemente, aquilo que também a mim faltava.
Não critico a pessoa nem o cientista cujo valor é indiscutível. Ponho em questão a obra que li e que por caminhos inversos, quase por antítese, me fizeram chegar até aqui.
Outro dia me questionava sobre sua interpretação pseudofilosófica sobre Descartes. Digo pseudo porque na verdade percebi que o autor meio que deixou passar aspectos importantes da visão de Descartes e, em momentos em que mais me incomodava, tinha a impressão de que o fazia de uma maneira senão proposital, por desconhecimento do tema que escolheu para escrever.
Sempre me perguntava: mas porque diabos Descartes, porque o autor não atacou um pensamento filosófico, mas um pensador. Porque não o erro de Aristóteles, Platão ou Sócrates?
Por que não Leibniz, Galileu, Copérnico, Laplace ou Kepler? Porque não Hegel, Kant, Jung, Comte, Heisemberg, Wundt ou Hume? Mais próximos à visão do neurocientista? Por que não Schopenhauer ou Nietzsche? Por que não Freud? Esse sim gostaria de ver questionado em sério.
Porque não questionar dogmas ao invés de questionar postulados científicos. Confesso que apesar de admirar a obra do autor no campo das Neurociências, creio que algo de vaidade ou algum interesse pouco prudente levaram-no a se emaranhar em assuntos filosóficos. Digo emaranhar, pois essa é a impressão que me fica.
Contesta Descartes e seus paradigmas, mas não apresenta argumentos sólidos para tal, confunde-se em definições e teorias, atrapalha-se ao não ser capaz de sustentar suas hipóteses, mas, brilhantemente consegue talvez o que foi o real objetivo do livro. Um imenso sucesso.
Não sei bem porque, mas pensando no Dr. Damásio me vem à mente a figura do Paulo Coelho, que me recuso a sequer discutir. Algumas semelhanças haverão entre os dois. Uma eu percebo claramente. Nem um nem outro entendem nada de Filosofia.
Metafísica
Aristóteles é considerado um dos maiores pensadores de todos os tempos e é o criador do Pensamento Lógico, sendo que ele está entre o mais influente filósofo grego juntamente com Sócrates e Platão, ele contribuiu na política, física, psicologia, poesia, lógica, ética, metafísica, biologia, zoologia, historia natural e retórica.
Em comparação com seu professor Platão, Aristóteles é um realista que antes de cantar as excelências de um estado ideal prefere analisar as diversas constituições políticas e os diversos sistemas de governo. Este grande filósofo grego queria o entendimento unitário de tudo o que ocorreu no Universo.
Partindo como Platão do mesmo problema acerca do valor objetivo dos conceitos, Aristóteles constrói um sistema inteiramente original tendo como caracteres desta grande síntese como
A Observação fiel da natureza, Rigor no método e Unidade do conjunto. A sua teologia é o primeiro motos imóvel, o pensamento do pensamento.
A filosofia de Aristóteles é a relação e conexão entre as várias áreas pensadas pelo filosofo, versa sobre praticamente todos os ramos do conhecimento de sua época exceto a matemática.
Seus escritos eram divididos em duas espécies uma era exotérica e a outra acroamática, sendo que as exotéricas eram destinadas ao público em geral eram obras de caráter introdutório composto na forma de diálogo, e as acroamáticas eram destinadas apenas aos discípulos do Liceu e compostas na forma de tratados.
Concretamente, isso significa que a metafísica clássica ocupa-se das "questões últimas" da filosofia, tais como: há um sentido último para a existência do mundo? A organização do mundo é necessariamente essa com que deparamos, ou seriam possíveis outros mundos?
Existe um Deus? Se existe como podemos conhecê-lo? Existe algo como um "espírito"? Há uma diferença fundamental entre mente e matéria? Os seres humanos são dotados de almas imortais? São dotados de livre-arbítrio? Tudo está em permanente mudança, ou há coisas e relações que, a despeito de todas as mudanças aparentes, permanecem sempre idênticas?
Em sua concepção clássica, os objetos da metafísica não são acessíveis à investigação empírica; ao contrário, são realidades transcendentes que só podem ser descobertas pelas luzes da razão.
Essa pretensão de estabelecer teses gerais que não se curvam à orientação da experiência foi repetidas vezes criticada - as críticas sistemáticas aos pensamentos metafísicos tradicionais tornaram-se parte importante de várias correntes e escolas filosóficas, especialmente nos séculos XIX e XX.
A metafísica estuda os princípios da realidade para além das ciências tradicionais A metafísica busca também dar explicações sobre a essência dos seres e as razões de estarmos no mundo. Outro campo de análise da Metafísica são as relações e interações dos seres humanos com o Universo.
Aristóteles foi o filósofo que pensou e produziu mais conhecimentos sobre metafísica na antiguidade. Já na época Moderna, podemos destacar os estudos do matemático e filósofo francês René Descartes.
No Discurso sobre o Método, Descartes pensa sobretudo na ciência. Para bem compreender sua metafísica, é necessário ler as Meditações.
Descartes inicia seu itinerário espiritual com a dúvida. Mas é necessário compreender que essa dúvida tem um outro alcance que a dúvida metódica do cientista. Descartes duvida voluntária e sistematicamente de tudo, desde que possa encontrar um argumento, por mais frágil que seja.
Por conseguinte, os instrumentos da dúvida nada mais são do que os auxiliares psicológicos, de uma ascese, os instrumentos de um verdadeiro "exército espiritual".
Duvidemos dos sentidos, uma vez que eles freqüentemente nos enganam, pois, diz Descartes, nunca tenho certeza de estar sonhando ou de estar desperto! (Quantas vezes acreditei-me vestido com o "robe de chambre", ocupado em escrever algo junto à lareira; na verdade, "estava despido em meu leito").
Duvidemos também das próprias evidências científicas e das verdades matemáticas! Mas quê? Não é verdade - quer eu sonhe ou esteja desperto - que 2 + 2 = 4?
Existe, porém, uma coisa de que não posso duvidar, mesmo que o demônio queira sempre me enganar. Mesmo que tudo o que penso seja falso, resta a certeza de que eu penso. Nenhum objeto de pensamento resiste à dúvida, mas o próprio ato de duvidar é indubitável. "Penso, cogito, logo existo, ergo sum".
Não é um raciocínio (apesar do logo, do ergo), mas uma intuição mais sólida que a do matemático, pois é uma intuição metafísica, metamatemática. Ela trata não de um objeto, mas de um ser.
O cogito de Descartes, portanto, não é, como já se disse, o ato de nascimento do que, em filosofia, chamamos de idealismo (o sujeito pensante e suas idéias como o fundamento de todo conhecimento), mas a descoberta do domínio ontológico (estes objetos que são as evidências matemáticas remetem a este ser que é meu pensamento).
Nesse nível, entretanto, nesse momento de seu itinerário espiritual, Descartes é solipsista. Ele só tem certeza de seu ser, isto é, de seu ser pensante (pois, sempre duvido desse objeto que é meu corpo; a alma, diz Descartes nesse sentido, "é mais fácil de ser conhecida que o corpo").
Dentre as idéias do meu cogito existe uma inteiramente extraordinária. É a ideia de perfeição, de infinito. Não posso tê-la tirado de mim mesmo, visto que sou finito e imperfeito.
Eu, tão imperfeito, que tenho a ideia de Perfeição, só posso tê-la recebido de um Ser perfeito que me ultrapassa e que é o autor do meu ser. Por conseguinte, eis demonstrada a existência de Deus. E nota-se que se trata de um Deus perfeito, que é todo bondade. Eis o fantasma do gênio maligno exorcizado.
Se Deus é perfeito, ele não pode ter querido enganar-me e todas as minhas idéias claras e distintas são garantidas pela veracidade divina. Uma vez que Deus existe, eu então posso crer na existência do mundo. O caminho é exatamente o inverso do seguido por São Tomás.
Compreenda-se que, para tanto, não tenho o direito de guiar-me pelos sentidos (cujas mensagens permanecem confusas e que só têm um valor de sinal para os instintos do ser vivo). Só posso crer no que me é claro e distinto (por exemplo: na matéria, o que existe verdadeiramente é o que é claramente pensável, isto é, a extensão e o movimento).
Alguns acham que Descartes fazia um circulo vicioso: a evidência me conduz a Deus e Deus me garante a evidência! Mas não se trata da mesma evidência. A evidência ontológica que, pelo cogito, me conduz a Deus fundamenta a evidência dos objetos matemáticos.
Por conseguinte, a metafísica tem, para Descartes, uma evidência mais profunda que a ciência. É ela que fundamenta a ciência (um ateu, dirá Descartes, não pode ser geômetra!).
Não mais se trata de partir de mim, que tenho a ideia de Deus, mas antes da ideia de Deus que há em mim. Apreender a ideia de perfeição e afirmar a existência do ser perfeito é a mesma coisa. Pois uma perfeição não-existente não seria uma perfeição.
É o argumento ontológico, o argumento de Santo Anselmo que Descartes (que não leu Santo Anselmo) reencontra: trata-se, ainda aqui, mais de uma intuição, de uma experiência espiritual (a de um infinito que me ultrapassa) do que de um raciocínio.
Dualismo
Os dualistas compreendem a existência como uma oposição entre formas distintas, ou seja, entre o bem e o mal, o consciente e o inconsciente, luz e trevas, matéria e espírito, alma e corpo, entre outras, as quais não podem ser reduzidas umas às outras.
Esta corrente de pensamento pressupõe a diferença fundamental entre corpo e mente, por mais que pareçam não ser distintos um do outro à luz da percepção sensorial.
René Descartes, porém, ardoroso defensor desta ideia, não confia no conhecimento revelado através dos sentidos. Assim, para este filósofo há no mundo duas substâncias - res cogitans ou res extensa.
Outro aspecto importante da filosofia de Descartes é sua concepção do homem em uma dualidade corpo-espírito. O universo consiste de duas diferentes substâncias: as mentes, ou substância pensante, e a matéria, a última sendo basicamente quantitativa, teoricamente explicável em leis científicas e fórmulas matemáticas.
Só no homem as duas substâncias se juntaram em uma união substancial, unidas, porém delimitadas e, assim, Descartes inaugura um dualismo radical, oposto da consubstancialidade ensinada pela escolástica tomista.
Da primeira esfera se destaca o universo do pensamento, da reflexão, da atividade intelectual e da liberdade de agir; da segunda partiria o plano da extensão, de tudo que está determinado de alguma forma, e da atitude passiva.
Muitos estudiosos vêem na mentalidade cartesiana algumas sérias dificuldades herdadas pela Filosofia, como a embaraçosa tentativa de definir como interagem entre si forças tão diferentes.
Para Descartes, em uma visão que tende ao panteísmo, apenas em Deus estas substâncias poderiam se fundir e constituir um todo, pois é da Divindade que elas teriam se originado. Mas ele não consegue explicar como algo finito pode ter como fonte um ser infinito.
Ainda segundo o pensamento cartesiano, a aparente oposição entre espírito e mente não é verdadeira, pois ambos pertencem à esfera do res cogitans.
Alguns acreditam na distinção entre eles pelas características próprias de cada um, uma vez que o primeiro é ativo, mutante, inventivo, enquanto a mente tende ao ato reflexivo, meditativo, mantendo-se quase inalterável.
No res cogitans, portanto, o elemento laborioso é o espiritual, ao passo que o intelecto é a fração inerte, algo por vir, que pode ser praticamente pesado, tocado. É possível identificar traços destes pensamentos em Sócrates, Aristóteles e Santo Agostinho, entre outros filósofos.
Compreendendo o dualismo em seu sentido mais geral, como a contraposição de duas tendências irredutíveis entre si, pode-se apreender suas manifestações ao longo da história da filosofia sob uma enorme variedade de formas.
Bem e mal, matéria e espírito, alma e corpo, limitado e ilimitado, uno e múltiplo, liberdade e determinação, sujeito e objeto são algumas das maneiras como ele se pode apresentar. São conceitos muito melhor discutidos na Metafísica.
No entanto, é preciso fazer uma ressalva. Dualismo e monismo são caracterizações insuficientes para abarcar a filosofia em seus diversos desdobramentos. No entanto, a radicalidade de sua investigação ultrapassará sempre e necessariamente qualquer tentativa de apropriação esquemática. Esta permanece forçosamente fora da dimensão própria à filosofia.
O termo aparece pela primeira vez na Veterum Persarum et Parthorum et Medorum Religionis Historia (1700), de Thomas Hyde, obra que tratava da doutrina de Zoroastro, com seus dois princípios ou divindades - o bem e o mal -, em luta permanente. Bayle (Dictionnaire historique et critique) e Leibniz (Essais de Théodicée sur la bonté de Dieu, la liberté de l'homme et l'origine du mal) também utilizam o termo no mesmo sentido.
No entanto, o uso do termo na acepção mais difundida pela tradição filosófica data da segunda metade do século XVIII, com Christian Wolff (1670-1754). Wolff deslocou o emprego da palavra para a relação entre corpo e alma, opondo o dualismo ao monismo.
Segundo ele "são dualistas aqueles que admitem a existência de substâncias materiais e de substâncias espirituais" e o fundador do dualismo teria sido Descartes, que formalizou sua versão mais conhecida em 1641, ao reconhecer a existência de duas espécies diferentes de substância: a corpórea e a espiritual.
Descartes foi o primeiro a assimilar claramente o espírito (substância imaterial) à consciência e distingui-lo do cérebro, que seria o suporte da inteligência. Chamou a mente de res cogitans ("coisa pensante") e o corpo de res extensa ("coisa extensa", isto é, que ocupa lugar no espaço).
A ligação entre a mente e corpo, segundo ele, seria feita através do tálamo, uma pequenina parte do cérebro. Foi Descartes, portanto, quem primeiro formulou o problema do corpo-espírito do modo como se apresenta modernamente.
Assim, em termos metafísicos, a realidade se constitui de duas substâncias - material e espiritual - sendo a substância material, a realidade sensível; e o espírito, o não físico, não material, constituindo a realidade mental ou espiritual.
Posteriormente, o uso do termo foi muito ampliado. "Dualismo" passou a designar toda contraposição de tendências irredutíveis entre si, tal como a oposição aristotélica entre matéria e forma, assim como a oposição medieval entre existência e essência e o dualismo kantiano da necessidade e liberdade, fenômeno e númeno.
Já no século XX, Arthur O. Lovejoy examinou historicamente o dualismo e defendeu a existência de dois tipos de realidade - os objetos e as ideias que eles representam - em The Revolt Against Dualism (1930). O título da obra é inadequado, pois Lovejoy argumenta a favor de uma espécie de dualismo ontológico - e não contra, como o título sugere.
Segundo ele, ideias e objetos, dada a sua incongruência espaço-temporal, não podem ser idênticos e, portanto, teriam naturezas diferentes, separadas, não sendo possível estabelecer uma relação entre ambos.
Criticismo
Caracteriza-se por considerar que a análise crítica da possibilidade, da origem, do valor, das leis e dos limites do conhecimento racional constitui-se no ponto de partida da reflexão filosófica, tendo sido conceitualizada por Kant cujo objeto de estudo é o processo pelo qual se estrutura o conhecimento, a partir das críticas ao empirismo e ao racionalismo.
Se considerarmos que as teorias do conhecimento que se desenvolveram na Antiguidade e na Idade Média não colocavam em dúvida a possibilidade de conhecer a realidade tal qual ela é e que as influências do Renascimento levaram ao questionamento da possibilidade do conhecimento, dando, nas respostas ensaiadas, origem às teorias empiristas e racionalistas de inúmeros filósofos seguidores do pensamento de Descartes, percebe-se que o marco fundamental de Kant só supera essa dicotomia, por partir delas, concluindo que o conhecimento só é possível pela conjunção das suas fontes: a sensibilidade e o entendimento.
Immanuel Kant, busca no Criticismo (Racionalismo Crítico) resolver o problema do Racionalismo e do Empirismo. Para Kant, as ideias são produtos subjetivos; são internas.
Quando entramos em contato com a realidade, damos a forma às coisas de acordo com a ideia interna que temos delas mesmas. Assim, o mundo externo é uma produção da subjetividade humana.
O criticismo preconiza a investigação dos fundamentos do conhecimento como condição para toda e qualquer reflexão filosófica. Segundo esta posição, a pergunta pelo conhecer deve ter primazia sobre a pergunta acerca do ser, uma vez que, sem aquela, não se pode garantir com segurança sobre que base a questão do ser está a ser afirmada.
Levado às suas últimas consequências, o criticismo pode ser encarado como uma atitude que nega a verdade de todo conhecimento que não tenha sido, previamente, submetido a uma crítica de seus fundamentos.
Neste sentido, o criticismo aproxima-se do ceticismo, por pretender averiguar o substrato racional de todos os pressupostos da ação e do pensamento humanos.
Devemos referir que tal como o dogmatismo o criticismo acredita na razão humana e confia nela. Mas ao contrario do dogmatismo, o criticismo "pede contas à razão".
A sua meta consiste em determinar o que o entendimento e a razão podem conhecer, encontrando-se livres de toda experiência, bem como os limites impostos a este conhecimento pela necessidade de fazer apelo à experiência sensível para conhecermos.
Pretende-se fundamentar um pensamento metafísico de carácter cético. Entre o cepticismo e o dogmatismo, o criticismo kantiano instaura-se como a única possibilidade de repensar as questões próprias à metafísica. Resumindo criticismo é a tentativa de superação do impasse criado pelo ceticismo e o dogmatismo.
Criticismo representa em filosofia a posição metodológica própria do kantismo. Caracteriza-se por considerar que a análise crítica da possibilidade, da origem, do valor, das leis e dos limites do conhecimento racional constituem-se no ponto de partida da reflexão filosófica.
Mecanicismo
O mecanicismo é uma teoria filosófica determinista segundo a qual todos os fenômenos se explicam pela causalidade mecânica ou em analogia à causalidade mecânica (causalidade linear ou, instrumentalmente, como meio para uma causa final).
Em filosofia, o mecanicismo é defendido pelo deísmo, que sustenta que o universo é um mecanismo, o qual pressupõe a existência um ser superior não mecânico (Deus), assim como um relógio pressupõe a existência do relojoeiro que o construiu.
A relação entre causalidade (ou determinação) e liberdade é um dos assuntos mais debatidos em filosofia. Muitos veem a causalidade como sinônimo de mecanicismo (tal como no modelo de causalidade linear), e acreditam que nenhuma determinação (nenhuma relação de causalidade) pode explicar a liberdade humana ou o livre-arbítrio.
Esta posição fundamenta o dualismo, segundo o qual causalidade e liberdade são inconciliáveis, afirmando que há duas substâncias separadas ou dois universos separados (pensamento / extensão, espírito / matéria, vontade / necessidade, alma / corpo).
Descartes vai propor a um mundo recém-saído da era medieval o contexto do mundo moderno, a concepção revolucionária de responder à subjetividade não usando de artifícios espirituais complementados pela escolástica (que reinava todas as discussões intelectuais da filosofia medieval, principalmente na França), ou voltado aos pensamentos de uma pequena elite letrada.
O novo pensamento reacionário se voltaria ao livre pensar, concepção de tentarmos responder a questões tão triviais e subjetivas ao nosso próprio ver, numa atmosfera de ascendente saber científico.
O pensamento mecanicista linguisticamente tem uma maior compatibilidade ao estudo do intelecto sendo esta a nomeação mais privilegiada e cabível ao argumento de uma tese que simbolize os estudos da mentalidade de uma sociedade.
Portanto, estabelecer relações de mecanicidade entre o homem e a sociedade é a discussão essencial, o homem enquanto “ser individual” representa para Descartes uma dádiva mecânica perfeita “ré extensa” (extensão da matéria), que é autônoma em relação aos valores espirituais ou a emoção da mente, no que para Descartes representa a “coisa pensante” ou no original “rés cogitans”.
Uma ruptura de valores compõe o homem cartesiano, porem a discussão argumentativa se encaixa a partir do lugar do homem na sua sociedade, nos aspectos mais divididos e analisados para cada homem compor determinada função e moldando um modelo de sociedade.
Descartes foi a ponte de ligação do homem em sua relação “mecânica” com a sociedade.
Há algumas concepções cartesianas que diagnosticam o homem em sua biologia como uma máquina corporal, no sentido médico em sua atualidade contemporânea, esse estudo está totalmente refutado dos ensinos básicos da medicina humana, mas sabemos que o mesmo Descartes que estudou a biologia humana com afinco também era um filósofo, e logo percebo que “desenhar” o homem pressupondo uma máquina (ao menos se adentrarmos no campo psicológico) não é totalmente errôneo, vejamos a citação a seguir:
“Descartes comparou o corpo dos animais a um ‘relógio (...) composto (...) de rodas e molas’ e estendeu essa comparação ao corpo humano: ‘Considero o corpo humano uma máquina. (...) Meu pensamento (...) compara um homem doente e um relógio mal fabricado com a ideia de um homem saudável e um relógio bem-feito. ’ ”.
Para compreendermos melhor o fascínio de Descartes por uma ideologia mecânica, devemos nos situar no contexto da época moderna em que viveu. Na Europa moderna surgira uma nova fase científica para o homem, o Renascimento, por assim dizer condizia ao homem não mais a imutável explicação teológica de como tudo funcionava, e sua principal característica é o chamado antropocentrismo como a figura primordial de como o homem devia ver o mundo, a partir de uma concepção voltada ao universo humano.
Com um lento avanço na medicina (principalmente com a popularização do ato de dissecar cadáveres), começa-se a perceber que o corpo humano não é um corpo divino e organizado de um modo especial pelo deus cristão da Europa ocidental, e quando Descartes estuda melhor esse corpo humano percebe nele uma sincronia perfeita dos órgãos vitais com todos funcionando em perfeita comunhão com o órgão cerebral os guiando.
Na proposta cartesiana o homem enfermo por quaisquer que sejam os motivos, está em plena desvantagem do homem funcional, Descartes não notabilizou este princípio as relações de trabalho com o estado, se limitando apenas ao fator biológico do “homem mecânico”, mas se esse homem enfermo tivesse reparado suas peças corporais de uma maneira não desgastante e tentado prevenir essa situação de uma maneira mais responsável possível (isto é, se aplicarmos a analogia do relógio), teria ele conseguido fazer funcionar um relógio mais eficiente e tal como um “relógio”, seu tempo de vida igualmente aumentaria.
Portanto o exato sentido da “mecanização” do homem em sua individualidade na proposta cartesiana da época moderna culminou para aquele de quem lida com a história em si enxergar alguns fatos na história humana que são passíveis de serem pensadas sob um ponto de vista mecanicista, outrora bem anterior a Descartes, além de conjugar essa perspectiva individual para uma abordagem de âmbito coletivo como a mecanização do “meio” pelo homem, ou do “homem” pelo meio.
Contudo não basta perceber apenas as dimensões cartesianas do pensamento mecanicista do homem; vale à pena ressaltar, não devemos levar a questão da mecanicidade humana ao pé da letra, diagnosticar a perspectiva mecanicista na sociedade humana só pode ser possível quando lidamos com apenas algumas disciplinas acadêmicas do conhecimento humano, e aplicar a lógica cartesiana (onde tudo deve ser dissecado e estudado minuciosamente a partir de partes isoladas do processo) sincronizou perfeitamente com o estudo histórico da sociedade no tempo, pois a capacidade de separar fatos e investigá-los de maneira detalhada e isolada do processo como um todo, é basicamente o trabalho do historiador.
No mais, a mecanicidade do homem enquanto sujeito histórico será apenas tomado pelo ponto de vista coletivo, aliás, ninguém faz história sozinho na perspectiva de desenvolver rupturas sociais e políticas de acordo com seu tempo, penso que serão as definições oriundas na mecanicidade do homem e da sociedade, que passaremos a enxergar um novo tipo de conhecimento histórico, uma escola do conhecimento que está mais preocupada em entender a funcionalidade repetitiva presente na história, do que a análise de um fato isolado na história.
O trabalho do historiador mecanicista consistirá em analisar de uma forma mais “cartesiana” possível as diferentes partes do processo e suas conexões com as partes anteriores, e frequentemente imaginar (com certa criatividade talvez) o espaço histórico dos novos fatos.
Os deterministas argumentam que, se a inteligibilidade de qualquer fenômeno supõe sempre apreender sua determinação (ou seja, apreender a maneira específica na qual os eventos se relacionam e surgem), então quem afirma que a liberdade se opõe à determinação afirma também que a liberdade não é inteligível, o que para eles é absurdo.
A teoria do caos e a teoria da emergência, por exemplo, apresentam a ideia de redes de determinações simultâneas que engendram diversos níveis de realidade (por exemplo a interação entre seres vivos formando um outro nível de realidade, um ecossistema, assim como a interação entre indivíduos forma outro nível de realidade, a sociedade).
Os diversos níveis de realidade (por exemplo, molecular, biológico, psíquico, social, planetário...) apresentam modos de causalidade diversos que possuem, cada um, uma consistência que lhe dá autonomia, jamais cessando, porém, de interagir com os outros níveis, ou mesmo de desaparecer ou surgir neles.
A inteligibilidade de um fenômeno ocorre quando a determinação deste fenômeno é passível de ser pensada ou conhecida. Não é possível compreender um evento sem apreender a maneira como esse evento se determina ao se relacionar com outros eventos (sejam eles simultâneos ou anteriores).
Por esta razão, a inteligibilidade de algo depende também da aptidão ou habilidade do pensamento para apreender as relações pelas quais ocorre a determinação desse algo. Esta aptidão do pensamento é o que se chama inteligência, raciocínio ou perspicácia.
Assim surge a lógica, isto é, o problema de saber se o que pensamos de um evento é verdadeiro ou falso, bem como o problema de saber maneiras corretas de pensar as relações entre os eventos. Além disso, a questão de conhecer as capacidades e os limites do pensamento fundamenta a epistemologia.
A filosofia cartesiana apresentou uma consciência e sentido da liberdade sendo regidas por algo pertencente a nós mesmos. Foi uma filosofia voltada para o futuro, embasada na razão, uma filosofia de progresso e não de conservação.
Descartes parte do cogito (pensamento) que faz parte do seu interior, colocando em dúvida a sua própria existência para chegar a uma certeza sobre a concepção de homem, o qual faz um novo pensar sobre a problemática (homem) considerando duas principais substancias existentes, o corpo e a alma, que se fundem.
O cartesianismo também pode ser definido numa perspectiva de senso comum como a primeira filosofia moderna que acabou estabelecendo as bases da ciência moderna e contemporânea.
Descartes foi o responsável pelo racionalismo, fazendo oposição ao empirismo. Não se considera mestre e sim um estudioso, descobridor e explorador daquilo que encontrou.
Recentes estudos historiográficos alteraram a noção tradicional de que a ciência moderna derivou exclusivamente da Astronomia e da Mecânica desenvolvidas entre os séculos XVI e XVII. Assim é que novos estudos a respeito de Descartes, antes tido como o pai do Mecanicismo, agora o apresentam como personagem pré-moderno híbrido, resultante das tensões entre as muitas correntes de pensamento visando à supremacia na nova "filosofia natural" de então.
O bispo e cientista J. Wilkins (1614-1672), tradicionalmente tido como pertencente à tendência mecanicista, é um destes "filósofos naturais" do século XVII que igualmente demandariam uma urgente revisão. Afinal, ele foi um dos principais responsáveis pela introdução das novas idéias cientificas na Inglaterra, bem como da estruturação da ciência britânica, não obstante seus trabalhos não fossem revolucionários.
Dogmatismo
O dogmatismo fundamenta-se na crença absoluta de “verdades” inquestionáveis, não sujeitas a qualquer tipo de revisão ou crítica. O dogmatismo é a base do fundamentalismo.
Dogma é uma crença estabelecida, um ponto fundamental e indiscutível, doutrina, religião, ideologia ou qualquer tipo de organização que exista sob a orientação primeira dessa crença ou conjunto de crenças. O dogmatismo é a posição filosófica que defende a existência de verdades absolutas não questionáveis.
Pode-se entender o dogmatismo em três sentidos:
· Como a posição própria do realismo, ou seja, disposição ingênua que admite não só a possibilidade de conhecer as coisas no ser verdadeiro, mas também a efetividade deste conhecimento no uso diário e direto com as coisas.
· Como confiança absoluta num determinado órgão de conhecimento (ou suposto conhecimento), principalmente a razão.
· Como a completa submissão, a determinados princípios ou à autoridade que os impõe ou revela. Em geral, é uma atitude adotada no problema da possibilidade do conhecimento e, portanto compreende as duas primeiras acepções.
O dogmatismo absoluto do realismo não existe propriamente na filosofia, que começa sempre com a pergunta acerca do ser verdadeiro e, portanto, procura este ser mediante um exame crítico.
O pensamento de Descartes foi revolucionário sim, para a sociedade feudalista em que ele nasceu, onde a influência da Igreja era muito forte e quando ainda não existia uma tradição de "produção de conhecimento".
Para a sociedade feudal, o conhecimento estava nas mãos da Igreja, onde não havia reflexões em torno da existência e da racionalidade.
Mesmo assim, o cartesianismo forjou a mentalidade (racionalista-matemática) dos maiores filósofos que o sucederam, incluindo Kant. Também propôs os grandes problemas em torno dos quais girou a especulação desses filósofos, a saber: a relação entre substância finita de um lado, e espírito e matéria do outro.
Daí surgiu o ontologismo e o ocasionalismo de Malebranche, a harmonia preestabelecida de Leibniz e o panteísmo psicofísico de Spinoza.
Como sabemos o Dogmatismo, ele tem certeza pode conhecer. Ele tem a crença na possibilidade de conhecer, ele ussa os sentidos para solucionar o problema, ele usa a razão e busca de qualquer jeito a verdade.
O dogmatismo critico: é possível conhecer, mas não de maneira trivial. Crê que a razão e os sentidos podem ser enganosos. Porém, o homem pode superar a ilusão e encontrar a verdade. O dogmatismo ingênio: Acredita que vê, percebe, as coisas (o fenômeno) como são.
De um modo geral, o dogmatismo é uma espécie de fundamentalismo senso comum. Os dogmas expressam verdades talvez não certas, indubitáveis e não sujeitas a qualquer tipo de revisão ou crítica. Deve-se ao filósofo alemão Immanuel Kant (1724 - 1804) e à obra Crítica da Razão Pura o significado filosoficamente pejorativo do termo.
Dogmatismo é uma atitude espontânea que temos desde criança com senso. É uma tendência para acreditar que o mundo é da maneira que aprendemos.
O sentido filosófico do termo dogmatismo é diferente do usado para definir um termo não pertencente a realidade. Nesta última, o dogmatismo é o conjunto de dogmas teológicos, isto é, de expressões surgidas com pensamentos filosóficos ou pertencentes à hierarquia mais alta da Igreja absolutamente indubitáveis.
Em contrapartida, o vocábulo dogma significou primitivamente oposição. Tratando-se assim de uma opinião centrista, isto é, algo que se referia à opinião em sim. Por isso, o termo dogmatismo significava "relativo à doutrina" ou "fundado em princípio".
Com o decorrer dos séculos, o dogmatismo começou a ser percebido como posição filosófica defendendo que as verdades absolutas existem. Os filósofos que insistiam nos princípios metafísicos acabavam por não prestar atenção aos factos ou argumentos que pudessem pôr em dúvida esses princípios.
Esses filósofos não consagravam o principal da sua atividade à observação ou ao exame, mas sim à afirmação. Foram por isso chamados filósofos dogmáticos, ao contrário dos filósofos examinadores ou céticos.
Com tudo isto, o dogmatismo pode entender-se principalmente em três sentidos:
· Como a posição própria do realismo, ou seja, disposição ingênua que admite não só a possibilidade de conhecer as coisas no ser verdadeiro mas também a efetividade deste conhecimento no uso diário e direto com as coisas.
· Como confiança absoluta num determinado órgão de conhecimento, principalmente a razão.
· Como a completa submissão, a determinados princípios ou à autoridade que os impõe ou revela. Em geral, é uma atitude adotada no problema da possibilidade do conhecimento compreende as duas primeiras acepções.
Contudo, a ausência do exame crítico revela-se também em certas formas de cepticismo e por isso diz-se que certos cépticos são, a seu modo, dogmáticos.
O dogmatismo absoluto do realismo ingênuo não existe propriamente na filosofia, que começa sempre com a pergunta acerca do ser verdadeiro e, portanto, procura este ser mediante um exame crítico da aparência.
Isso acontece não só no chamado dogmatismo dos primeiros pensadores gregos, mas também no dogmatismo racionalista do século XVIII, que desemboca numa grande confiança na razão, embora a submeta a algumas críticas.
Reducionismo
É a teoria que afirma que os significados de fenômenos complexos podem ser sempre reduzidos às suas partes constituintes mais simples a fim de explicá-los. Assim, a ênfase nas partes seria a maneira mais correta de definir uma teoria, ou verificar se ela é falsa ou verdadeira.
O reducionismo metodológico está relacionado diretamente à ciência, afirmando que se deve sempre buscar as explicações por meio de respostas continuamente reduzidas, relacionadas às entidades mais simples que constituem o fenômeno estudado, com o objetivo final de entender o todo.
É o caso da ciência cartesiana, focada no pensamento analítico, que acredita que em qualquer sistema complexo o comportamento do todo pode ser analisado em termos das propriedades de suas partes. É a antítese do Holismo.
Dado que o mecanicismo é uma forma de reducionismo, não é de admirar que o principal objetivo de Descartes tenha sido o de unificar as diferentes ciências como se de uma só se tratasse, de modo a constituir um saber universal.
Não via mesmo qualquer motivo para que se estudasse cada uma das ciências em separado, visto que a razão em que se apóia o estudo de uma ciência é a mesma que está presente no estudo de qualquer outra.
Todas as ciências não são mais do que sabedoria humana, que permanece sempre una e sempre a mesma, por mais diferentes que sejam os objetos aos quais ela se aplica, e que não sofre nenhuma alteração por parte desses objetos, da mesma forma que a luz do Sol não sofre nenhuma modificação por parte das variadíssimas coisas que ilumina.
Já o reducionismo ontológico está diretamente relacionado ao ser humano, à sua compreensão e à natureza da existência comum que é inerente a todos e a cada um dos seres, sob a ótica de que tudo que existe é feito de um pequeno número de elementos básicos que se comportam de forma regular.
Kant mostra que tempo e espaço são fundamentais na percepção e que o cérebro dispões de ferramentas que só podem ser usadas no momento em que se dá a experiência.
Ao tentar imaginar algo que exista fora do tempo e não tenha pelo menos uma dimensão no espaço, o cérebro humano não consegue produzir esta percepção e, se esta não existe, não se dá a cognição - o entendimento, que é uma das faculdades da razão. O entendimento nos fornece as categorias com as quais podemos operar as sínteses sobre o caos inerente às experiências vivenciadas. Fornece as evidências de causa e efeito que permitem emitir juízos sobre o mundo, próprias do conhecimento e da experiência.
Há, por isso, o conhecimento a priori de algumas coisas, uma vez que a mente tem que ter estas categorias, de forma a poder compreender a experiência pura, não-interpretada, que se apresenta à consciência.
A filosofia crítica de Kant pergunta quais as condições para que o nosso conhecimento do mundo possa se concretizar. Conclui que todo raciocínio, toda descoberta é redutível a uma combinação ordenada de elementos tais como números, palavras, sons ou cores. Kant distinguia a visão determinística causal que a mente impõe sobre o universo e a fenomenológica onde o universo existe por si só.
Kant foi muito influenciado pela obra de Leibniz, seja pelo quanto concordava com ela, seja pelo que paradoxalmente os afastava. Embora quase cem anos separassem os dois, Leibniz já enunciava alguns dos princípios que nortearam a obra de Kant.
Dizia ele que a contingência se opõe à noção de necessidade, não à de determinação. A ação é sempre contingente, porque seu oposto é sempre possível. À sua vez, Leibniz trazia uma profunda influência do pensamento cartesiano o que permite de certa maneira inferir que os três foram reducionistas (e dualistas) e de alguma maneira compartilharam do pensamento cartesiano.
A ação é espontânea, quando o princípio de determinação está no agente, não no exterior deste. Toda ação é espontânea e tudo o que o indivíduo faz depende, em última instância, dele próprio.
Qualquer animal pode agir de forma contingente e espontânea. O que diferencia o animal humano dos demais é a capacidade de reflexão que, quando operada, caracteriza uma ação livre. Os homens têm a capacidade de pensar a ação e saber por que agem.
Primeiramente os pesquisadores definem proposições lógicas ou suposições - as hipóteses - para explicar certos fenômenos e observações, e então desenvolvem experiências ou observações em que testam essas hipóteses. Se confirmadas, as hipóteses podem gerar leis, e juntamente com as evidências associadas, geram as teorias científicas.
Outra característica do método é que o processo de produção do conhecimento científico precisa ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretação dos resultados.
Sobre a objetividade, que consiste em atender às propriedades do objeto em estudo e não às do sujeito que as estuda (subjetividade), é conhecida a afirmação de Hans Selye, pesquisador canadense que formulou a moderna concepção de stress:
"Quem não sabe o que procura não entende o que encontra" referindo-se à necessidade de formulação de definições precisas (a essência dos conceitos) e que possam ser respondidas com um simples sim ou não e aos cuidados que se deve ter com a subjetividade inerente ao ser humano.
Tanto a imparcialidade (evidência) como a objetividade foram incluídas por Descartes nas regras lógicas que caracterizam o método científico.
Além disso, o procedimento precisa ser documentado, tanto no que diz respeito à fonte de dados como às regras de análise, para que outros cientistas possam reanalisar, reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados.
Assim se distinguem os relatos científicos (artigos, monografias, teses e dissertações) de um simples estilo (padrão) ou arquitetura de texto orientada pelo que caracteriza as normas da retórica.
É comum o uso da análise matemática ou estatística de forma direta ou mediante aproximação por modelos abstratos idealizados ao qual se acrescem gradualmente as variáveis necessárias para satisfazer à complexidade do problema enfocado e precisão desejada. Embora os estudos preliminares possam ter natureza qualitativa, o enfoque final deve ser quantitativo.
É importante ter em mente que as pesquisas científicas se relacionam com modelos, com uma constelação de pressupostos e hipóteses, escalas de valores, técnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade científica num determinado momento histórico, ou seja, a um paradigma válido à época em consideração.
Holismo
Em primeira análise é a antítese do reducionismo. É a corrente filosófica que afirma que as propriedades de um sistema, que trate de seres humanos ou outros elementos, não podem ser explicadas apenas pela soma dos seus componentes.
A compreensão do sistema transcende o entendimento das entidades que o compõem. O sistema visto como um todo é o determinante do comportamento conjunto das partes. O princípio geral do holismo pode ser resumido por Aristóteles, na sua Metafísica, quando afirma:
“O todo é maior do que a simples soma das suas partes. ”
O princípio do holismo foi discutido por diversos pensadores ao longo da História, principalmente pelo filósofo que lhe deu cunho científico, o francês Auguste Comte.
Em sua obra ele sobrepõe a importância do estudo do conjunto ou da síntese, a dos detalhes (ou análise), para uma compreensão adequada da ciência em si e de seu valor para a existência humana. Comte é sem dúvida um dos maiores nomes, senão o maior, da visão holística da ciência.
Ceticismo
O Ceticismo é uma escola filosófica fundada pelo grego Pirro (360 a.C.-272 a.C.) que questiona as bases do conhecimento metafísico, científico, moral e, especialmente, religioso.
Nega a possibilidade de se conhecer com certeza qualquer verdade e recusa toda afirmação dogmática - aquela que é aceita como verdadeira, sem provas.
Para os céticos, uma afirmação para ser provada exige outra, que requer outra, até o infinito. O conhecimento, para eles, é relativo: depende da natureza do sujeito e das condições do objeto por ele estudado.
Costumes, leis e opiniões variam segundo a sociedade e o período histórico, tornando impossível chegar a conceitos de real e irreal, de correto e incorreto.
Condições como juventude ou velhice, saúde ou doença, lucidez ou embriaguez influenciam o julgamento e, consequentemente, o conhecimento. Por isso, os seguidores de Pirro defendem a suspensão do juízo, o total despojamento e uma postura neutra diante da realidade. Se for impossível conhecer a verdade, tudo se torna indiferente e equilibrado. Para eles, o ideal do sábio é a indiferença.
Não excluem a ciência, mas procuram fundamentá-la sobre representações e fenômenos encontrados de modo indiscutível e inevitável na experiência.
Esse ceticismo positivo tem papel fundamental no pensamento do escocês David Hume, um dos maiores expoentes da filosofia moderna. Para os empiristas modernos, na impossibilidade de conhecer as coisas em si, o homem se utiliza da crença e do hábito para poder agir. A filosofia contemporânea, inspirada no ceticismo, discute questões da relatividade do conhecimento e dos limites da razão humana.
O ceticismo é a doutrina que afirma que não se pode obter nenhuma certeza absoluta a respeito da verdade, o que implica uma condição intelectual de questionamento permanente e na inadmissão da existência de fenômenos metafísicos, religiosos e dogmas.
O Ceticismo filosófico é uma postura em que pessoas escolhem examinar de forma crítica se o conhecimento e a percepção que possuem são realmente verdadeiros, e se alguém pode ou não dizer que possui o conhecimento absolutamente verdadeiro;
O Ceticismo científico questiona de forma constante e contumaz a veracidade de qualquer alegação; procurando de forma permanente por argumentos que possam corroborá-las ou invalidá-las, fazendo-o sempre em acordo com o método científico.
O ceticismo científico tem relação com ceticismo filosófico, mas eles não são idênticos. Muitos praticantes do ceticismo científico não são adeptos do ceticismo filosófico clássico.
Quando críticos de controvérsias científicas, terapias alternativas ou paranormalidades são ditos céticos, isto se refere apenas à postura científica cética adotada.
A ciência moderna é baseada no ceticismo. Por um lado, a ciência deve estar sempre aberta a novas idéias (por mais estranhas que pareçam), desde que apoiadas em evidências científicas, mas deve fazê-lo de forma que sejam sempre devidamente escrutinadas, de modo a assegurar a veracidade de suas implicações e resultados.
Sempre que uma nova hipótese é formulada ou uma nova alegação é realizada, toda a comunidade científica se mobiliza de modo a comprovar sua viabilidade teórica e prática.
Como em qualquer outro plano, quanto mais incomuns forem as novas idéias e invenções, mais resistência tendem a enfrentar durante seu escrutínio por meio do método científico.
Uma conseqüência disso é que vários cientistas através da história, ao apresentarem suas idéias, foram inicialmente recebidos com alegações de fraude por colegas que não desejavam ou não eram capazes de aceitar algo que requereria uma mudança em seus pontos de vista estabelecidos.
Por exemplo, Michael Faraday foi chamado de charlatão por seus contemporâneos quando disse que podia gerar uma corrente elétrica simplesmente movendo um ímã por uma bobina de fio.
Max Planck observou em seu livro "The Philosophy of Physics", de 1936: "uma importante inovação científica raramente faz seu caminho vencendo gradualmente e convertendo seus oponentes: raramente acontece que 'Saulo' se torne 'Paulo'.
O que realmente acontece é que os seus oponentes morrem gradualmente e a geração que cresce está familiarizada com a ideia desde o início".
O ceticismo não tem certeza suspende o juízo, nele não há conhecimento, duvida da crença dos sentidos, duvida da razão, suspensão do juízo. Ceticismo Subjetivista: faz a relação entre o "sujeito e o objeto". Cético relativista: o cético relativista dado a multiplicidade do mundo não fundamenta nenhum tipo de conhecimento absoluto.
Um cientista cético (ou empírico) questiona crenças com base na compreensão científica. A maioria dos cientistas, sendo cientistas céticos, testam a confiabilidade de certos tipos de afirmações, submetendo-as a uma investigação sistemática usando alguma forma de método científico. O ceticismo científico é uma defesa do público crédulo contra o charlatanismo e explicações sobrenaturais para fenômenos naturais.
Apesar de o ceticismo envolver o uso do método científico e do pensamento crítico, isto não necessariamente significa que os céticos usem estas ferramentas constantemente.
Os céticos são freqüentemente confundidos com, ou até mesmo apontados como, cínicos. Porém, o criticismo cético válido (em oposição a dúvidas arbitrárias ou subjetivas sobre uma ideia) origina-se de um exame objetivo e metodológico que geralmente é consenso entre os céticos.
Note também que o cinismo é geralmente tido como um ponto de vista que mantém uma atitude negativa desnecessária acerca dos motivos humanos e da sinceridade.
Apesar de as duas posições não serem mutuamente exclusivas, céticos também podem ser cínicos, cada um deles representa uma afirmação fundamentalmente diferente sobre a natureza do mundo.
Os céticos científicos constantemente recebem também, acusações de terem a "mente fechada" ou de inibirem o progresso científico devido às suas exigências de evidências cientificamente válidas.
Eles se defendem argumentando que tais críticas são, em sua maioria, provenientes de adeptos de pseudociências como homeopatia, reiki, paranormalidade e espiritualismo, cujas visões não são adotadas ou suportadas pela ciência.
Segundo Carl Sagan, cético e astrônomo, "você deve manter sua mente aberta, mas não tão aberta que o cérebro caia", e ele também afirmava que "o primeiro vicio da humanidade foi a fé e a primeira virtude foi o ceticismo".
A necessidade de evidências cientificamente adequadas como suporte a teorias é mais evidente na área da saúde, onde utilizar uma técnica sem a avaliação científica dos seus riscos e benefícios pode levar a piora da doença, gastos financeiros desnecessários e abandono de técnicas comprovadamente eficazes.
Semiótica
A Semiótica é a ciência que estuda de forma geral a simbologia e os signos. O pai da Semiótica Peirce, acreditava que tudo o que se apresenta ante o consciente do ser humano estimulando a percepção e em seguida a cognição se faz num fluxo de três elementos formais de toda e qualquer experiência.
A primeira é a qualidade da consciência imediata, é o presente, o inicial, original, espontâneo e livre, precedendo toda síntese e toda diferenciação.
Agrupa todas as qualidades puras que, naturalmente, não estabelecem entre si qualquer tipo de relação. A sua vez, estas podem ser traduzidas como um conjunto de possibilidades do vir a acontecer. Está muito relacionado aos conceitos lógicos de indução e dedução.
A segunda relaciona-se ao momento em que aquilo que é percebido passa a ser compreendido, onde o conteúdo toma profundidade. A palavra chave deste conceito é a ocorrência, a atualização das qualidades da primeira.
A Terceira corresponde à camada "inteligibilidade", ou pensamento em símbolos, através da qual se representa e interpreta o mundo além do espectro de estrutura do fato.
O indivíduo conecta o percebido à sua experiência de vida, fornece um contexto pessoal e o relaciona à capacidade de previsão de futuras ocorrências, já que não só já conhece o acontecimento como já o viu em ação, e como tal, já lhe é intrínseco.
Dialética
Originalmente, é a arte do diálogo, da contraposição de ideias que leva a outras ideias. O conceito de dialética, porém, é utilizado por diferentes doutrinas filosóficas e, de acordo com cada uma, assume um significado distinto.
Immanuel Kant retoma a noção aristotélica quando define a dialética como a "lógica da aparência". Para ele, a dialética é uma ilusão, pois se baseia em princípios que, na verdade, são subjetivos.
Hegel, desejando solucionar o problema das transformações às quais a realidade está submetida, apresenta a dialética como um movimento racional que permite transpor uma contradição. Uma tese inicial contradiz-se e é ultrapassada por sua antítese.
Essa antítese, que conserva elementos da tese, é superada pela síntese, que combina elementos das duas primeiras, num progressivo enriquecimento. A dialética hegeliana não é um método, mas um movimento conjunto do pensamento e da realidade. Segundo Hegel, a história da humanidade cumpre uma trajetória dialética marcada por três momentos: tese, antítese e síntese.
O primeiro vai das civilizações orientais antigas até o surgimento da filosofia na Grécia. Hegel o classifica como objetivo, porque considera que o espírito está imerso na natureza. O segundo é influenciado pelos gregos, mas começa efetivamente com o cristianismo e termina com Descartes. É um momento subjetivo, no qual o espírito toma consciência de sua existência e surge o desejo de liberdade.
O terceiro, ou a síntese absoluta, acontece a partir da Revolução Francesa, quando o espírito consciente controla a natureza e o desejo de liberdade concretiza-se na concepção do Estado moderno.
Marx e Engels reformam o conceito hegeliano de dialética: utilizam a mesma forma, mas introduzem um novo conteúdo. Chamam essa nova dialética de materialista, porque o movimento histórico, para eles, é derivado das condições materiais da vida.
A dialética materialista analisa a história do ponto de vista dos processos econômicos e sociais e a divide em quatro momentos: Antiguidade, feudalismo, capitalismo e socialismo. Cada um dos três primeiros é superado por uma contradição interna, chamada "germe da destruição".
A contradição da Antiguidade é a escravidão; do feudalismo, os servos; e do capitalismo, o proletariado. O socialismo seria a síntese final, em que a história cumpre seu desenvolvimento dialético.
Fenomenologia
Tomado em sentido etimológico, o termo fenomenologia provém de duas palavras gregas, phainomenon e logos. Assim, seu sentido primeiro é ciência ou estudo dos fenômenos.
A amplitude deste sentido permite identificar a fenomenologia com a própria investigação filosófica, uma vez que esta deve, necessariamente, partir disso que se apresenta, dos fenômenos, de modo a conferir-lhes uma unidade de sentido.
O termo fenomenologia foi empregado em várias acepções, por vários pensadores, ao longo da história da filosofia. Assim, no século XVIII, Lambert denomina fenomenologia a investigação que visa distinguir entre verdade e aparência, de modo a destruir as ilusões que com frequência se apresentam ao pensamento. Esta investigação é afirmada como o fundamento de todo saber empírico.
Para Kant, fenomenologia é o nome da ciência que estuda a matéria enquanto objeto possível da experiência. Este filósofo postula, ainda, a necessidade de uma phenomenologia generalis, que trace a distinção entre os âmbitos sensível e inteligível.
Hegel denomina fenomenologia do espírito a ciência do movimento da consciência, que parte da consciência sensível.
Evolucionismo
Wundt afirmou que o sujeito é processo volitivo, afetivo e cognitivo; não é nem espírito nem matéria, é fluxo, processo. Uma posição similar encontra-se em James que afirma que o sujeito é processo, fluxo do pensamento, e descreve as propriedades desse fluxo, dizendo que o pensamento é subjetivo, contínuo, dinâmico, cognitivo, interessado e volitivo.
O evolucionismo foi determinante na interpretação da consciência como uma perfeição adicionada pela evolução, com a função de adaptar as pessoas aos ambientes e de ajudá-las a sobreviver.
A consciência é especialmente importante quando as pessoas se defrontam com situações complexas e com muitas alternativas de escolha. É nessa hora que ela seleciona o curso de ação. Mas isso a Psicologia não discute.
Se a evolução não tivesse chegado à consciência, o homem não existiria. A consciência não é somente teórica. Não está destinada somente a conhecer os objetos do mundo e a si própria. Ela também é prática.
Os processos mentais, como pensar, sentir, lembrar, são atividades, são ações, são instrumentos com a finalidade de garantir a sobrevivência (pode-se vislumbrar aí o germe da ideia behaviorista de que os processos mentais são processos comportamentais).
Empirismo
Com este nome designa-se uma doutrina filosófica e em particular gnosiológica segundo a qual o conhecimento se funda na experiência. Costuma contrapor-se o empirismo ao racionalismo, para o qual o conhecimento se funda pelo menos em grande parte na razão.
Contrapõe-se também ao inatismo, segundo o qual o espírito, a alma, e, em geral, o chamado "sujeito cognoscente”.
A escola racionalista, inaugurada por Descartes, tem um posicionamento diferente em relação à maneira como é adquirido o conhecimento. Vivendo em um ambiente diferente dos empiristas, assolado por guerras (Guerra dos 30 anos de 1618 a 1648) e perseguições religiosas (Massacre de São Bartolomeu em 1572), os filósofos racionalistas foram mais apegados a conceitos imutáveis, como os das ciências teóricas (matemática e geometria).
Para os filósofos racionalistas, cujos representantes principais foram Descartes, Malebranche, Espinosa e Leibniz, é necessário descobrir uma metodologia de investigação filosófica sobre a qual se possa construir todo o conhecimento.
A resposta a esta questão, encontrada por Descartes foi que o conhecimento válido não provem da experiência, mas encontra-se inato na alma. Em relação ao método para atingir este conhecimento, o filósofo francês propõe colocar em dúvida qualquer conhecimento que não seja claro e distinto.
Este conhecimento pode ser obtido através da análise racional, com a qual é possível apreender a natureza verdadeira e imutável das coisas. Trata-se, de certa forma, de uma reedição do platonismo, possibilitando a metafísica e a aceitação de uma moral baseada em princípios tidos como racionais e universalmente válidos.
A dicotomia entre racionalismo e empirismo perpassa toda a filosofia dos séculos XVII e XVIII. A possibilidade do conhecimento efetivo e absoluto, afirmado pelos racionalistas e negado pelos empiristas é estudada detalhadamente pelo filósofo Immanuel Kant.
Este teve sua atenção despertada para o problema do conhecimento após ler a obra do empirista Hume, que, segundo o próprio Kant, o acordou do “sonho dogmático”.
A solução para a oposição entre o racionalismo e o empirismo foi chamada por ele mesmo de “Revolução copernicana da filosofia”, numa referência à revolução paradigmática feita por Copérnico na astronomia, que mudou nossa visão do mundo e de sua posição no universo.
Kant postula que a razão é inata, mas é uma estrutura vazia e sem conteúdo, que não depende da experiência para existir. A razão fornece a forma do conhecimento e a matéria é fornecida pelo conhecimento.
Desta maneira, a estrutura da razão é inata e universal, enquanto os conteúdos são empíricos, obtidos pela experiência. Baseado nestes pressupostos, Kant afirma que o conhecimento é racional e verdadeiro.
Efetivamente, depois de Kant a Teoria do Conhecimento tomou um rumo bastante diverso daquele do racionalismo e empirismo originais. A solução dada ao tema pelo filósofo de Königsberg não eliminou as discussões, mas deu-lhes uma profundidade muito maior.
Acima destes processos encontra-se o processo chamado reflexão, mediante o qual se torna possível o reconhecimento de conceitos e, em geral, de algo universal. Isto não significa que o universal seja aceite como propriamente real.
Os autores que são, ao mesmo tempo, empiristas e nominalistas manifestam especialmente uma grande desconfiança para com tudo o que aparece como abstrato e, relativamente a este tema, estabelecem-se grandes diferenças entre os autores empiristas.
Também diferem os empirismos no que respeita à diferença dos processos de inferência e àquilo a que Hume chamou relações de ideias.
A admissão de uma diferença básica entre os fatos e as ideias, como propõe Hume (para o qual as ideias, no sentido de relações de ideias, são meras possibilidades de combinação) não é o único tipo de empirismo existente, mas é um dos formulados com maior precisão e que exerceu maior influência.
Grande parte das tendências empiristas contemporâneas, inclusive o positivismo lógico, seguiram, neste aspecto, o empirismo de Hume. Nos empiristas mencionados, é característico aquilo a que chamamos "empirismo psicológico", a que dão um alcance gnosiológico.
Contra isto se rebelou Kant. No princípio da Crítica da Razão Pura, declara que, embora todo o conhecimento comece com a experiência, nem todo o conhecimento procede de a experiência. Isto quer dizer que a origem do conhecimento reside (psicologicamente) na experiência, mas a validade do conhecimento reside (gnosiologicamente) fora da experiência.
Assim, nem todo o conhecimento é, para Kant, a posteriori; constitui-se por meio do a priori. Para os empiristas ingleses, especialmente para Hume, o a posteriori é sintético e o a priori é analítico. Para Kant existe a possibilidade de juízos sintéticos a priori (na matemática e na física).
O empirismo provoca revolução na ciência. A partir da valorização da experiência, o conhecimento científico, que antes se contentava em contemplar a natureza, passa a querer dominá-la, buscando resultados práticos.
Na ciência, o empirismo é normalmente utilizado quando falamos no método científico tradicional (que é originário do empirismo filosófico), o qual defende que as teorias científicas devem ser baseadas na observação do mundo, em vez da intuição ou da fé, como lhe foi passado.
Um conceito capital no método científico é que toda evidência deve ser empírica, isto é, depende da comprovação feita pelos sentidos. Geralmente, são empregados termos que o diferenciam do empirismo filosófico, como o adjetivo empírico, que aparece em termos como método empírico ou pesquisa empírica, usado nas ciências sociais e humanas para denominar métodos de pesquisa que são realizadas através da observação e da experiência (por exemplo, o funcionalismo).
O nominalismo, corrente proveniente da Escolástica, foi outra notável escola empirista medieval. Argumentava que os termos que designavam idéias abstratas ou universais não teriam correspondência no mundo real, sendo conceitos que só existiriam no papel.
Só nomes que designam indivíduos e coisas que a experiência pode provar corresponderiam à verdade filosófica. No século XIV, essas ideias foram desenvolvidas e levadas ao extremo por William de Ockham, filósofo inglês que separou filosofia e religião, chegando a admitir que a filosofia ocupa-se apenas dos dados obtidos pela experiência.
Graças aos trabalhos do filósofo inglês Francis Bacon, o empirismo começou a se delimitar tal como o conhecemos hoje. Bacon criticava tanto o conhecimento que não fosse proveniente dos sentidos quanto os próprios empiristas de épocas anteriores.
Para ele, o método utilizado por empiristas anteriores não era sistemático: embora recolhessem dados da experiência, essas informações eram "capturadas" ao acaso, sem o auxílio de um método rigoroso e sem constituir um todo coerente.
Era necessário, portanto, um método que classificasse e sistematizasse as várias experiências e as orientasse no sentido de dar ao homem uma ciência útil, em oposição ao conhecimento científico medieval. A partir das sensações, a inteligência, seguindo o método da indução, elaboraria o conhecimento científico.
Dessa maneira, se relacionaria o conhecimento sensível, que forneceria material para a inteligência, e a racionalidade, que manipularia e daria sentido aos dados dos sentidos. Partindo desses princípios, Francis Bacon traçou as bases de uma ciência sistemática em sua obra mais famosa, Novum Organum, publicada em 1620.
Levando ainda mais adiante o pensamento de Berkeley, o escocês David Hume identifica dois tipos de conhecimento: matérias de fato e relação de idéias. O primeiro está relacionado com a percepção imediata e seria a única forma verdadeira de conhecimento.
A relação de ideias é uma inferência de outras ideias, ou seja, ao relacionar duas ideias que temos na nossa mente provenientes da experiencia concluímos outra ideia.
Esta nova ideia, é logicamente verdadeira e necessária, pois é inferida através de um raciocínio demonstrativo (regras da lógica formal). Mas este conhecimento é tautológico, pois não acrescenta nada de novo, é apenas uma relação de ideias que já possuíamos.
Se aproximamos nossas mãos do fogo, temos uma ideia de calor, que também corresponde à realidade. Mas quando aproximamos um metal do fogo e observamos que ele se dilata com o calor, não podemos concluir que "o corpo se dilata porque esquenta".
As idéias "o corpo esquenta" e "o corpo se dilata" teriam como origem duas impressões dos sentidos, provenientes, respectivamente, do tato e da visão.
O problema está na expressão por que. Que impressão sensível origina a ideia de por quê? Como concluímos que um fenômeno é a causa de outro?
Para Hume, o simples fato de um fenômeno ser sempre seguido de outro faz com que eles se relacionem entre si de tal forma que um é encarado como causa do outro. Causa e efeito, enquanto impressões sensíveis, não seriam mais do que um evento seguido de outro.
A noção de causalidade seria, portanto, uma "criação" humana, uma acumulação de hábitos desenvolvidos em resposta às sensações. No entanto, a crença nessas "verdades" pretensamente inabaláveis, que dariam ao mundo uma aparência de estabilidade, seria ilusão.
Dessa forma, muitas verdades científicas seriam apenas relações de idéias que não existiriam na realidade, e, portanto, impossíveis de se confirmar.
Racionalismo
O racionalismo é uma teoria filosófica que dá a prioridade à razão, como faculdade de conhecimento relativamente aos sentidos.
O racionalismo pode ser dividido em diferentes vertentes: a vertente metafísica, que encontra um caráter racional na realidade e indica que o mundo está ordenado de forma lógica e sujeito a leis; a vertente epistemológica ou gnosiológica, que contempla a razão como fonte de todo o conhecimento verdadeiro, sendo independente da experiência; e a vertente ética, que acentua a relevância da racionalidade, respetivamente, à ação moral.
Os princípios da razão que tornam possível o conhecimento e o juízo moral são inatos e convergem na capacidade do conhecimento humano ("lumen naturale").
A defesa da razão e a preponderância desta corrente filosófica se transformou na ideologia do iluminismo francês e, no contexto religioso, criou uma atitude crítica em relação à revelação, que culminou na defesa de uma religião natural.
O racionalismo nos dá a ideia de que o conhecimento sensível é enganador e a razão é a única fonte de conhecimento válido, pelo menos para Platão (que na antiguidade, deu inicio ao pensamento racionalista) e para Descartes (considerado o pai da modernidade), que acreditam que há ideias inatas.
Descartes também afirma, em uma de suas obras, que o conjunto de aptidões onde os indivíduos aprendem mais rapidamente novas informações e se revelam mais eficientes no manejo e aproveitamento adequado de conhecimentos, podem fazer com que através da análise lógica se descubram processos ou sistemas mais rapidamente.
Em sentido mais amplo e comum, racionalismo é o ato de pensar, raciocinar, fazer uso da razão, que é uma das características que distingue o homem dos outros animais que lhes são inferiores na escala evolutiva.
Também o definimos como a crença na razão e na evidência das demonstrações. Os principais conceitos de racionalismo preconizados pelas diversas doutrinas, estão no método de observar à sua volta baseado exclusivamente na razão, considerada como única autoridade quanto à maneira de pensar e agir e como fundamento de todo conhecimento possível.
A teoria que se fundamenta na suposição de que a investigação da verdade feita sob orientação do pensamento puro, ultrapassaria os dados oferecidos imediatamente pelos sentidos e pela experiência, que são incapazes de nos proporcionar todos os conhecimentos.
As leis do pensamento racional e do objeto do conhecimento, são as mesmas; o real é, em última análise, racional, e a razão é capaz de conhecê-lo e de chegar à verdade sobre a natureza das coisas; corrente filosófica que privilegia formas argumentativas, empíricas ou dedutivas de conhecimento como meios para a compreensão da realidade em detrimento da fé, do misticismo e da revelação religiosa (linha de pensamento do filósofo Baruch Spinoza).
Doutrina que se caracteriza por uma auto-observação crítica por parte da razão, na qual esta determina seus próprios limites; o racionalismo iluminista caracterizou-se pela confiança na razão, no progresso e na ciência, e pelo incentivo à liberdade de pensamento, onde a ideia iluminista era levar esses valores a prevalecer e triunfar sobre o mito, a crendice, o “sobre-natural”, o misticismo, a fé, o dogma, o fanatismo e a intolerância.
Principais Pensadores Racionalistas
René Descartes (1596-1650), tem um “pé” dentro da filosofia moderna, onde desejava encontrar um método que não fosse o aristotélico, e que lhe permitisse um caminho para novos descobrimentos.
A matemática influiu decisivamente no método cartesiano. A “dúvida metódica” levou à afirmação do “Penso, logo existo”. Descartes estabeleceu algumas regras para seu método cartesiano, dentre elas encontramos a de não admitir coisa alguma como verdadeira, desde que saiba com evidência que o é.
Dividir em quantas partes for possível cada dificuldade, para assim melhor encontrar uma solução; conduzir os pensamentos ordenando dos mais simples e fáceis de conhecer, e gradualmente, chegar aos mais compostos; fazer recontagens e revisões tão gerais, que chegue a estar certo de não ter omitido nada.
Baruch Spinoza procura o bem supremo, através da filosofia, que é Deus. Para isso, usa o método matemático de Descartes. Substância é o que é em si mesmo e por si mesmo se concebe, isto é, aquilo cujo conceito não necessita de outros conceitos para ser formado, essa substância infinita é Deus, a causa de si mesmo e sua essência implica sua existência.
Para Spinoza, diferente de Descartes, não há duas substancias, a pensante e a extensa, mas ambas são atributos de Deus. Os tributos pensamento e extensão, são os únicos compreendidos pelo homem de um modo distinto e claro, por isso é que a doutrina de Spinoza se chamou panteísmo, e significa que Deus é tudo ou tudo é Deus.
Leibnitz teve muitos aspectos filosóficos estudados por nós. Ele aceitava que a natureza não dá saltos. De um estado para outro, encontramos uma infinita série de intermediários. É assim que existe uma perfeita continuidade na natureza, e essa só poderia ser expressada através de uma análise do infinito.
Leibnitz se opõe a física cartesiana, sobretudo à concepção de que um corpo seja apenas extensão, e o mecanismo de Descartes é substituído por um dinamismo que o seu conceito novo de força iria oferecer. O universo é harmônico, porque Deus preestabeleceu assim, e tudo quanto sucede por uma disposição já previamente determinada pelo Criador.
A Construção da epistemologia cartesiana
A obra de Descartes, mais especificamente o seu Discurso do Método pode ser vista como uma sistemática reflexão sobre seu tempo através de uma tomada de posição específica frente a uma crise que, a partir de seu posicionamento, inaugurou uma nova epistemologia e uma nova maneira de olhar a realidade.
É preciso assumir uma perspectiva hermenêutica na leitura da obra de Descartes a partir do momento em que sua época se desprendia de uma visão de mundo centralizada na autoridade e no poder centralizado da religião.
Porém, essa perspectiva hermenêutica não pode deixar de levar em conta que o que ele pensou também foi assumido pela tradição como forma de conciliar os dogmas religiosos com a ciência que despontava na modernidade. Necessário é salientar que essa conciliação foi um processo gradual.
Assumindo, de certa forma, o espírito humanista de sua época e centralizando-se na capacidade racional humana na busca do conhecimento, Descartes preocupou-se fundamentalmente em construir um modo para que pudéssemos chegar a um conhecimento seguro. Esse modo é a dúvida, o seu método, o caminho.
Para esse objetivo ele incorporou o espírito que se formava na época e diferenciou seu discurso dos tratados filosóficos medievais impessoais e abstratos, escrevendo na maioria das vezes na primeira pessoa e exemplificando suas idéias a partir de suas experiências pessoais.
Seu estilo pessoal, quase confessional, mescla sentenças de cunho afirmativo-perceptivo de caráter universal e logo em seguida é justificada sua validade a partir da narrativa de sua experiência pessoal racional. Vemos esse exemplo nesse trecho:
“As maiores almas são capazes dos maiores vícios, como também das maiores virtudes, e aqueles que só andam muito devagar podem avançar bem mais, se seguirem sempre pelo caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam.
Quanto a mim, nunca cheguei a supor que meu espírito fosse em nada mais perfeito do que os dos outros em geral. Muitas vezes cheguei mesmo a desejar ter o pensamento tão rápido, ou a imaginação tão nítida e diferente, ou a memória tão abrangente ou tão presente, quanto alguns outros. ”
É com esse tom pessoal e de certa forma intimista, embora tente sempre universalizar os conceitos que decorram de seu raciocínio pessoal, que Descartes começa seu Discurso do Método, com uma das frases mais emblemáticas da modernidade; não tanto por seu caráter axiomático, mas por seu caráter aforístico:
“O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída, porquanto cada um acredita estar tão bem provido dele que, mesmo aqueles que são os mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa, não costumam desejar tê-lo mais do que já o têm. ”
Descartes usa esse enunciado para argumentar a ideia de que todos são dotados igualmente de razão e que só chegam a opiniões diferentes por que não possuem um método adequado. É claro que, embora aforisticamente seja interessante, é difícil imaginar que cada homem não veja necessidade de ter mais bom senso do que julga ter como evidência de que todos de fato tenham.
Mas essa ideia se configura como pedra basilar de um consenso que se forma na época, já formulado no final do medievo por Nicolau de Cusa: o homem seria um microcosmo, reproduzindo em si, sinteticamente, a totalidade da natureza.
Descartes introduz a temática do sujeito que conhece como fundamento de sua epistemologia. Essa temática irá deslocar o questionamento sobre o Objeto que se mostra a uma razão capaz de captar a ordem efetiva das coisas para o Sujeito que volitivamente se direciona para o Objeto na intenção de captar essa ordem.
A preocupação moderna, inaugurada por Descartes é como esse Sujeito pode assegurar um conhecimento verdadeiro e seguro do Objeto.
Descartes então parte da premissa que, antes de voltar-se ao Objeto, esse Sujeito precisa voltar-se para si mesmo e fundamentar nele a possibilidade desse conhecimento.
· - Quem é esse sujeito que conhece?
· - Quais suas potencialidades e limitações?
· - É possível sair do ceticismo e alcançar a verdade sobre algo?
Eis os pontos tematizados a partir de Descartes em seu Discurso do Método.
A perspectiva ontológica que Descartes tematiza sobre o Sujeito do Conhecimento só seria abandonada pelo empirismo e depois por Kant. Descartes confia na capacidade fundante da Razão como possibilidade de conhecer e descarta a possibilidade de qualquer conhecimento seguro a partir do sensível, reeditando a tradição iniciada em Platão.
Embora Descartes liberte a epistemologia da fundamentação teológica, centralizando no racionalismo toda a nossa possibilidade de conhecimento (inclusive o teológico), ainda postula uma participação divina em nós, e a exemplo de Platão, separa o Sujeito em duas instâncias substanciais que formam o Ser Humano: a res cogitans e a res extensa.
A fundamentação racional desse dualismo contribuirá para avanços científicos, onde a noção de corpo como uma máquina a serviço da alma racional, irá proporcionar a permissão para autópsias, por exemplo.
Descartes chega a seu método assumindo uma postura cética, porém postula um ceticismo que não duvida para negar, e sim para chegar através da dúvida metódica ao verdadeiro conhecimento.
Seu método estabelece que tanto os sentidos quanto a percepção não se configuram como um conhecimento seguro, e estabelece o caminho para esse segurança por quatro preceitos básicos:
· Evidência: aquilo que aparece imediatamente ao entendimento;
· Análise: divisão do problema em partes menores;
· Síntese: ordenar o pensamento do mais simples ao mais complexo;
· Evidência do Conjunto ou Intuição Geral: enumeração dos dados e revisões gerais.
O caminho cético proposto por Descartes procura desestruturar a própria postura cética ao usar o ceticismo para buscar algo que fundamente a possibilidade do conhecimento seguro. Ela, portanto, é propedêutica. Para isso ele cria o argumento do Cogito, cujo objetivo é estabelecer os fundamentos do conhecimento e encontrar uma certeza imune a qualquer questionamento cético.
Propondo esvaziar-se de todas as crenças e conhecimento adquiridos, Descartes encontra a questão que garante a certeza segura de algo: “Penso, logo existo”. A existência, a partir dessa constatação, se torna a pedra basilar da certeza de que podemos conhecer de fato algo sem qualquer tipo de questionamento que possa negá-lo: se soubermos que pensamos, é por que necessariamente existimos.
O Cogito, portanto, a partir da descoberta de uma realidade primária, necessária e indubitável, nos dará a base para a construção do conhecimento possível humano. A existência de Deus, para Descartes, a partir da constatação do Eu Penso, se circunscreve a partir da ideia que temos dela.
É com essa constatação que Descartes chega a seu Argumento Ontológico: sendo o único método possível de conhecimento a dúvida metódica, duvidar é menos perfeito que conhecer.
Ao não possuirmos um conhecimento direto que nos exime da dúvida como método, só poderíamos ter ideia da perfeição se houvesse alguma natureza que fosse mais perfeita e acima de nós. Essa natureza seria Deus. Não sou só eu que existo, pois não sou perfeito e se tenho ideia da perfeição, além de mim devem existir outras coisas.
A ponte entre o pensamento subjetivo na busca de uma certeza indubitável e o pensamento objetivo que pode proferir conhecimento sobre um objeto está na fundamentação última da realidade que independe da experiência sensível, isto é, na razão pura inata. Só haverá ciência quando a razão puder explicar através de leis e princípios indubitáveis como a realidade se configura e funciona.
A ponte para fora de si mesmo e o rompimento com o solipsismo no pensamento cartesiano é sua argumentação sobre a existência de Deus. Deus existindo, as coisas existem fora do meu pensamento, e é caminhando em direção a Deus através de minha razão é que posso conhecer as coisas.
Nunca mais a ciência seria a mesma com a publicação do Discurso do Método de Descartes, embora o empirismo fosse dar um caráter comprobatório mais robusto ao conhecimento possível humano.
Cartesianismo
Conjunto dos fundamentos tradicionalmente considerados como típicos da doutrina de Descartes e aos quais se faz habitualmente referência tanto no sentido de aceitar quanto de refutar. Podem ser resumidos nos seguintes pontos:
· 1 - Caráter originário do pensamento como antevidência do sujeito pensante e princípio de todas as outras evidências;
· 2 - Presença das ideias no pensamento, como únicos objetos passíveis de conhecimento imediato;
· 3 - Caráter universal e absoluto da razão que, partindo do pensamento e valendo-se das ideias, pode chegar a descobrir todas as verdades possíveis;
· 4 - Função subordinada, em relação à razão, da experiência (isto é, da observação e do experimento), que só é útil para decidir nos casos em que a razão apresenta alternativas equivalentes;
· 5 - Dualismo de substância pensante e substância extensa, pelo qual cada uma delas se comporta segundo lei própria: a liberdade é a lei da substância espiritual; o mecanicismo é a lei da substância extensa ou matéria.
Paradigma
Paradigma é o pressuposto de um padrão a ser seguido. É um conceito filosófico que dá origem ao estudo de um campo científico; uma realização científica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial para estudos e pesquisas.
São paradigmáticas as realizações científicas que geram modelos que, por períodos mais ou menos longos e de modo mais ou menos explícito, orientam o desenvolvimento posterior das pesquisas na busca da solução para os problemas por elas suscitados.
Observa-se que pressupostos e crenças, escalas de valores, técnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade científica, num determinado momento histórico, são simultaneamente conjuntos de procedimentos consagrados, capazes de validar ou condenar as práticas ditas científicas.
Erroneamente, muitas vezes é compreendido como um conjunto de "vícios" de pensamento e bloqueios lógico-metafísicos, que obrigam os cientistas de uma determinada época, a permanecer confinados ao âmbito do que definiram como seu universo de estudo e apenas àquelas conclusões admitidas como plausíveis.
Quando falamos hoje em ciência moderna devemos ter como referência os séculos XVI e XVII que foram importantíssimos no processo de construção da mesma, eles ficaram conhecidos na história como a Idade da Revolução Científica. Segundo Capra:
A ciência do século XVI e XVII baseou-se num novo método de investigação, defendido vigorosamente por Francis Bacon, o qual envolvia a descrição matemática da natureza e o método analítico de raciocínio concebido pelo gênio de Descartes. Reconhecendo o papel crucial da ciência na concretização dessas importantes mudanças, os historiadores chamaram os séculos XVI e XVII de a Idade da Revolução Científica.
Para Capra, “...Os cientistas medievais, investigando os desígnios subjacentes nos vários fenômenos naturais, consideravam do mais alto significado as questões referentes a Deus, à alma humana e à ética”.
As pessoas viviam em comunidades pequenas e coesas, e vivenciavam a natureza em termos de relações orgânicas, caracterizadas pela interdependência dos fenômenos espirituais e materiais e pela subordinação das necessidades individuais às da comunidade.
Predominava um paradigma Teocêntrico, que supõe a existência de dois mundos, e o conceito vigente de universo era geocêntrico.
Destacamos aqui que o conceito de paradigma utilizado é o mesmo de Kuhn. Considero “paradigmas” as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência...”.
A partir do século XVI a visão de mundo orgânica foi substituída pela noção de mundo como se ele fosse máquina, e o paradigma Teocêntrico deu espaço para o Antropocêntrico ou newtoniano-cartesiano, conhecido ainda como mecanicismo.
A ciência medieval é substituída por um novo modelo de ciência baseado em um novo método de investigação, estabelecido dentre outros pelos seguintes pensadores: Francis Bacon, Galileu Galilei, René Descartes e Isaac Newton.
É importantíssimo frisar o papel que teve Copérnico nesse processo. Copérnico se opôs à concepção Geocêntrica de Ptolomeu, que estabelece a Terra como centro do Universo, defendida pela Igreja Católica, e que foi um dos sustentáculos intelectuais usados por ela.
Em oposição a essa teoria, Copérnico vai defender a concepção heliocêntrica, segundo a qual, a Terra orbita em torno do Sol, sendo este astro o centro, e não mais a Terra, estas idéias vão gerar uma enorme mudança na maneira de pensar e de ver o mundo, a igreja por sua vez, vai perseguir todos que passam a defender essa ideia, o próprio Copérnico.
Afirma Lakatos:
Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos são ciências. Dessas afirmações podemos concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos.
Afirma Newton:
Eis, pois a “maravilhosa ciência” anunciada por Descartes. Usando seu método de pensamento analítico, ele tentou apresentar uma descrição precisa de todos os fenômenos naturais num único sistema de princípios mecânicos. Sua ciência pretendia ser completa, e o conhecimento que ofereceu tinha a intenção de fornecer uma certeza matemática absoluta.
Descartes, é claro, não pôde executar esse plano ambicioso, e ele próprio reconheceu que sua ciência era incompleta. Mas seu método de raciocínio e as linhas gerais da teoria dos fenômenos naturais que forneceu, embasaram o pensamento científico ocidental durante três séculos.
Newton foi o grande sintetizador das obras de Copérnico, Kepler, Bacon, Galileu e Descartes, desenvolvendo uma formulação matemática da concepção mecanicista da natureza. A partir dele estava plenamente estabelecido o paradigma mecanicista ou newtoniano-cartesiano.
Antes de Newton, duas tendências opostas orientavam a ciência seiscentista: o método empírico, indutivo, representado por Bacon, e o método racional, dedutivo, representado por Descartes.
Newton, em seus Principia, introduziu a combinação apropriada de ambos os métodos, sublinhando que tanto os experimentos sem interpretação sistemática quanto a dedução a partir de princípios básicos sem evidência experimental não conduziriam a uma teoria confiável.
Ultrapassando Bacon em sua experimentação sistemática e Descartes em sua análise matemática, Newton unificou as duas tendências e desenvolveu a metodologia em que a ciência natural passou a basear-se desde então.
Assim, estava montado o modelo de ciência que vigora até o presente momento, que foi um dos grandes responsáveis pelos avanços e retrocessos, pelas descobertas e esquecimentos, pelos benefícios e malefícios que a sociedade moderna atual vive até o presente momento.
Racionalismo e Empirismo
O rigor da argumentação kantiana fez da filosofia uma meta disciplina a qual todo acadêmico deveria saber, caso quisesse tratar de epistemologia. Desde Kant, a ciência só poderia avançar dentro dos limites impostos pela filosofia.
Somente depois que matemáticos e lógicos, como George Boole, Gottlob Frege, Giuseppe Peano e Georg Cantor, entre outros, propuseram uma nova compreensão dos processos formais de entendimento, foi possível alguma transformação no projeto kantiano.
A lógica simbólica nascente, que esses autores ajudaram a criar, estudava a relação direta entre as regras da lógica e os axiomas e teoremas da matemática. Ao lado da física, também questionavam a condição transcendental do tempo e do espaço, bem como a impossibilidade de uma psicologia empírica.
Ao tentarem derivar todos enunciados da matemática das leis da lógica, aqueles matemáticos atacavam a noção kantiana de juízo sintético a priori que vinculava o conhecimento matemático à experiência.
Na monumental obra, Principia Mathematica, os lógicos-matemáticos Alfred N. Whitehead e Bertrand Russell estabeleceram outra forma de relacionar as ciências empíricas com a lógica e a matemática.
Enquanto Kant defendia uma teoria compacta de todo conhecimento, fundada na filosofia, Whitehead e Russell argumentavam que as disciplinas deveriam enfrentar os problemas isoladamente, um de cada vez, num método mais próximo das ciências.
Pelo método científico e não filosófico, reduções sucessivas levariam finalmente ao encontro da verdade. Cada passo da investigação aperfeiçoaria o anterior, ao invés de rejeitá-lo totalmente.
O objetivo era eliminar a distância entre o conhecimento imediato e o obtido por intermédio de inferências lógicas. Uma construção lógica tornaria possível a explicação do mundo exterior, a partir de dados sensoriais.
O programa lógico-empírico -também conhecido por positivismo lógico- de abordagem da experiência sensorial humana substituiu, então, a filosofia kantiana e passou a influenciar grande parte do século XX, incluindo muitos cientistas cognitivos.
Em 1922, Ludwig Wittgenstein, aluno de Russell, apresentou seu Tractatus Logico-Phylosophicus, onde tentava mostrar a estrutura lógica da linguagem, que, para ele, retratava o estado de coisas no mundo.
A suposição era de que houvesse uma correspondência formal entre a configuração dos objetos no mundo, pensamentos na mente e palavras na linguagem.
Depois de Wittgenstein, a filosofia assumiu a tarefa de esclarecer as proposições sobre o mundo. Ao centrar-se apenas nas proposições de uma ciência natural, questões sobre ética, metafísica, ontológica e estética passavam a ser consideradas sem significado, por não representarem nada no mundo. Essas ideias serviram de inspiração ao Círculo de Viena, formado por Moritz Schlick e outros empiristas lógicos, no período entre as duas Grandes Guerras.
Em poucas palavras, esse grupo ambicionou separar as questões filosóficas que poderiam ou não ser formalizadas logicamente. Os enunciados matemáticos, por exemplo, eram analisáveis e passíveis de verificação, enquanto os problemas metafísicos mantinham-se inacessíveis, devendo, portanto, ser descartados.
O verificacionismo dominante, então, sustentava que as afirmações empíricas adquiriam um significado verdadeiro ou falso se pudessem ser verificadas em condições ideais de investigação. Segundo Rudolf Carnap, um dos membros do círculo vienense, as circunstâncias em que as pessoas usam uma proposição determinam seu valor de verdade e o método de verificação fornece seu significado.
Ao lado do verificacionismo, o fisicalismo era outra característica marcante do positivismo lógico. Para os fisicalistas, as proposições relacionadas aos estudos mentais possuíam equivalentes lógicos nas referências do comportamento externo e nas leis da física. Cada sentença da psicologia deveria ter uma reformulação em termos do comportamento físico, tanto em seres humanos, como em animais.
Por causa desses princípios, o Círculo de Viena rejeitava um papel especial para a filosofia, uma vez que a ciência empírica era capaz de abranger a filosofia, que seria responsável apenas pelo estudo da linguagem científica.
Carnap, seguindo à risca esse programa, começou a traduzir todas as sentenças sobre o mundo em dados sensoriais.
Examinando a relação entre estas sentenças, a natureza de uma entidade era determinada pelas inferências entre cada uma das proposições.
A análise sintática lógica apontaria os possíveis erros de construção lógica, apontando a resolução ou não de um problema filosófico correspondente.
A importância do Círculo de Viena para a ciência cognitiva está nessa concepção de sintaxe como um conjunto de símbolos e regras que traduzem as operações mentais.
Graças a isso, Noam Chomsky pôde postular uma sintaxe básica para a gramática, enquanto Newell e Simon simulavam com símbolos lógicos o raciocínio humano em computador e Bruner e George Armitage Miller buscavam as regras de classificação, de acordo com uma lógica mental. Jerry Fodor, mais tarde, herdaria esse tipo de postura ao afirmar a existência de uma linguagem do pensamento, nos moldes carnapianos.
Apesar do modelo carnapiano não ter obtido êxito científico notável, sua influência pode ainda ser observada em algumas áreas da ciência cognitiva. Historicamente, a postura do Círculo de Viena mostrou-se artificial e conveniente ao behaviorismo e positivismo, porém mesmo aqueles que a criticaram não ficaram livres de seu contágio.
Os psicólogos seriam exemplos de tentativas equivocadas de solucionar o problema psicológico, pois ao tratarem-no de modo científico, eles não perceberiam que todo erro estava inserido num uso inadequado da linguagem.
Os operadores mentais não teriam um funcionamento a ser descoberto, mas relações linguísticas com a experiência cotidiana e o comportamento de um grupo.
Todo defeito da psicologia estava em sua confusão conceitual, o que tornava o seu método experimental incapaz de resolver os problemas que passariam longe uns dos outros, quando bastaria apenas descrever o fenômeno, ao contrário de tentar explicá-lo.
O racionalismo foi representado por Spinoza, Malebranche e Leibniz. O empirismo ficou marcado pelo trabalho de Locke, Berkeley e Hume, sendo uma experiência sensível do ser como a fonte do conhecimento humano.
Na visão de Kant, o conhecimento é resultado da interação entre conceitos inatos e dados sensoriais brutos.
Os objetos do conhecimento – as coisas de nossa experiência cotidiana – são resultado de uma elaboração prévia: os sentidos fornecem os dados originais que, por sua vez, são ordenados por aquelas estruturas inatas.
Kant concede aos empiristas que os dados sensoriais são imprescindíveis, mas, em sua teoria, também é necessário que esses dados sejam sistematizados e organizados por estruturas conceptuais inatas. Em síntese, qualquer conhecimento requer forma e conteúdo.
A forma é fornecida pelas estruturas inatas e o conteúdo pelos dados sensoriais. Interessante que por um viés filosófico, Kant termina por aceitar muito da visão cartesiana de Descartes.
Segundo Kant, a suposição de que essas estruturas conceptuais possam operar satisfatoriamente quando destituídas de qualquer conteúdo sensorial é o erro fundamental dos sistemas metafísicos.
Outra vez percebemos Kant com uma tendência a aceitar o pensamento de Descartes. À semelhança de Kant, Descartes também tinha problemas com a religião; melhor, com a Igreja.
Mesmo nos meios religiosos onde Descartes era visto como subversor da ordem instaurada, dos dogmas bem assentados e de uma Igreja que fazia crer-se a única fonte das verdades necessárias ao homem, mesmo aí, Descartes tinha seguidores de orientação platônico-agostiniana, mais ou menos ortodoxos.
Entretanto, as maiores oposições contra o cartesianismo surgiram evidentemente no ambiente eclesiástico e político, quer católico quer protestante. Nesses ambientes houve a intuição de um perigo revolucionário para a religião e a ordem social, por causa do criticismo, mecanicismo e a crença na infinitude do universo, próprios da filosofia.
Kant estabeleceu uma separação entres as formas de tratar as questões metafísicas. De um lado, estaria a "metafísica transcendente" e a sua promessa, segundo Kant, irrealizável de revelar a natureza de coisas que estão além de toda a experiência possível; de outro, a sua proposta, a "metafísica crítica".
Uma abordagem mais comedida cuja pretensão é descrever as estruturas gerais do pensamento e do conhecimento. Em vez de tentar abarcar coisas que não estão ao alcance da razão humana, a metafísica crítica busca apresentar a forma como nós concebemos e conhecemos.
Racionalismo de Descartes
Como corrente filosófica, o racionalismo nasce com Descartes, e atinge o seu auge em B. Espinoza, G. W. Leibniz e Ch. Wolff. O racionalismo cartesiano indica que só é possível chegar ao conhecimento da Verdade através da razão do ser humano.
Para Descartes, existiam três categorias de ideias: as adventícias, as factícias e as inatas. As adventícias representam as ideias que surgem através de dados obtidos pelos nossos sentidos; factícias são as ideias que têm origem na nossa imaginação; e as ideias inatas, que não dependem da experiência e estão dentro de nós desde que nascemos.
Segundo Descartes, conceitos matemáticos e a noção da existência de Deus eram exemplos de ideias inatas.
A filosofia racionalista não somente trouxe novos problemas à metafísica, mas também inaugurou um estilo ousado de especulação filosófica.
Na elaboração de seus sistemas metafísicos, os racionalistas trabalhavam com o pressuposto de que a razão desassistida, sem qualquer auxílio da experiência, poderia desvelar verdades fundamentais sobre a realidade.
Esse pressuposto foi questionado pelos empiristas. Para filósofos como John Locke e David Hume a origem de nossos conceitos está na experiência sensorial.
Qualquer teoria ou hipótese sobre o mundo ou sobre a mente deve estar amparada em dados empíricos. Como muitos dos conceitos e noções dos racionalistas eram elaborações sem qualquer vínculo evidente com a experiência, esses conceitos e noções não poderiam constituir nenhum conhecimento cientificamente válido.
Mais uma vez vemos aqui que Descartes teve uma influência decisiva na evolução da metafísica aristoteliana e toda a concepção dualística que o antecedeu.
René Descartes, Spinoza e Leibniz introduzem o racionalismo na filosofia moderna. Hegel, por sua vez, identifica o racional ao real, supondo a total inteligibilidade deste último.
O racionalismo é baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento a priori, ou seja, conhecimentos que não vêm da experiência e são elaborados somente pela razão.
Na passagem do século XVIII para o XIX, Immanuel Kant revê essa tendência de associar o pensamento à análise pura e simples e inaugura o neoracionalismo.
A nova doutrina aceita as formas a priori da razão, afirmando, entretanto, que elas necessariamente devem ser conjugadas aos dados da experiência para que possa haver conhecimento. O racionalismo dos séculos XVII e XVIII influencia a religião e a ética até hoje.
A filosofia de Descartes pode ser entendida como racionalista onde tudo que existe tem uma causa inteligível, mesmo que não possa ser demonstrada de fato, como a origem do Universo. Privilegia a razão em detrimento da experiência do mundo sensível como via de acesso ao conhecimento.
Considera a dedução como o método superior de investigação filosófica. René Descartes, Spinoza e Leibniz introduzem o racionalismo na filosofia moderna. Friedrich Hegel, por sua vez, identifica o racional com o real, supondo a total inteligibilidade deste último.
O racionalismo é baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento a priori, ou seja, conhecimentos que não vêm da experiência e são elaborados somente pela razão. O Racionalismo Clássico foi marcado por três grandes mudanças intelectuais.
Primeira Mudança
Aquela conhecida como o “surgimento do sujeito do conhecimento”, isto é, a Filosofia, em lugar de começar seu trabalho conhecendo a Natureza e Deus, para depois referir-se ao homem, começa indagando qual é a capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos. Em outras palavras, a Filosofia começa pela reflexão, isto é, pela volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer sua capacidade de conhecer.
O ponto de partida é o sujeito do conhecimento como consciência reflexiva de si, isto é, como consciência que conhece sua capacidade de conhecer. O sujeito do conhecimento é um intelecto no interior de uma alma, cuja natureza ou substância é completamente diferente da natureza ou substância de seu corpo e dos demais corpos exteriores.
Segunda Mudança
A segunda pergunta da Filosofia, depois de respondida a pergunta sobre a capacidade de conhecer, é: Como o espírito ou intelecto pode conhecer o que é diferente dele? Como pode conhecer os corpos da Natureza?
A resposta à pergunta deu origem à segunda grande mudança - diz respeito ao objeto do conhecimento. As coisas exteriores podem ser conhecidas desde que sejam consideradas representações, ou seja, ideias ou conceitos formulados pelo sujeito do conhecimento.
Isso significa, por um lado, que tudo o que pode ser conhecido deve poder ser transformado num conceito ou numa ideia clara e distinta, demonstrável e necessária, formulada pelo intelecto; e, por outro lado, que a natureza e a sociedade podem ser inteiramente conhecidas pelo sujeito, porque elas são inteligíveis em si mesmas, isto é, são racionais em si mesmas e propensas a serem representadas pelas ideias do sujeito do conhecimento.
Terceira Mudança
Essa concepção da realidade como intrinsecamente racional e que pode ser plenamente captada pelas ideias e conceitos preparou a terceira grande mudança intelectual moderna.
A realidade, a partir de Galileu, é concebida como um sistema racional de mecanismos físicos, cuja estrutura profunda e invisível é matemática. O “livro do mundo”, diz Galileu, “está escrito em caracteres matemáticos”.
A realidade, concebida como sistema racional de mecanismos físico-matemáticos, deu origem à ciência clássica, isto é, à mecânica, por meio da qual são descritos, explicados e interpretados todos os fatos da realidade: astronomia, física, química, psicologia, política, artes são disciplinas cujo conhecimento é de tipo mecânico, ou seja, de relações necessárias de causa e efeito entre um agente e um paciente.
A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem. Nasce a ideia de experimentação e de tecnologia (conhecimento teórico que orienta as intervenções práticas).
Predomina nesse período a ideia de conquista científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da invenção das máquinas, graças às experiências físicas e químicas.
Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções e, pela vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governá-las e dominá-las, de sorte que a vida ética pode ser plenamente racional.
Nunca mais, na história da Filosofia, haverá igual confiança nas capacidades e nos poderes da razão humana como houve no Grande Racionalismo Clássico. Os principais pensadores desse período foram: Francis Bacon, Descartes, Galileu Galilei, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley, Newton e Gassendi entre outros.
Em geral, a atitude de quem confia nos procedimentos da razão para a determinação de crenças ou de técnicas em determinado campo. Esse termo foi usado a partir do século XVII para designar tal atitude no campo religioso; "Há uma nova seita difundida entre eles (presbiterianos e independentes) que é a dos racionalistas: o que a razão lhes dita, eles consideram bom até que achem algo melhor.
Nesse sentido Baumgarten dizia: "Racionalismo é o erro de quem elimina da religião todas as coisas que estão acima da própria razão". Kant foi o primeiro a adotar esse termo como símbolo de sua doutrina, estendendo-o do campo religioso para os outros campos de investigação.
Deu o nome de Racionalismo à sua filosofia transcendental, ao passo que chamava de noologistas ou dogmáticos os filósofos que a historiografia alemã do século XIX chamou depois de racionalistas.
No terreno da moral, defendia "o Racionalismo do juízo, que da natureza sensível toma apenas o que a Razão Pura pode pensar por si, ou seja, a conformidade com a lei", opondo-se por isso ao misticismo e ao empirismo da razão prática. Finalmente, caracterizava como Racionalismo seu ponto de vista em matéria religiosa:
"O racionalista, em virtude desse mesmo título, deve manter-se nos limites da capacidade humana. Portanto, nunca usará o tom contundente do naturalista nem contestará a possibilidade nem a necessidade de uma revelação.
Por outro lado, Hegel foi o primeiro a caracterizar como Racionalismo a corrente que vai de Descartes a Spinoza e Leibniz, opondo-o ao empirismo de origem lockiana.
Por Racionalismo ele entendeu a "metafísica do intelecto", que é a "tendência à substância, em virtude da qual se afirma, contra o dualismo, uma única unidade, um único pensamento, da mesma maneira como os antigos afirmavam o ser.
A contraposição entre racionalismo e empirismo fixou-se depois nos esquemas tradicionais da história da filosofia, por mais que o próprio Hegel notasse seu caráter aproximativo.
Quanto ao "Racionalismo religioso", Hegel afirmava que ele é "o oposto da filosofia" porque coloca "o vazio no lugar do céu" e porque sua forma é um raciocinar sem liberdade, e não um entender conceitualmente".
Com base nessas observações históricas, pode-se dizer que o termo em foco compreende os seguintes significados:
1º O Racionalismo religioso designa algumas correntes protestantes, ou um ponto de vista semelhante ao de Kant.
2º O Racionalismo filosófico designa propriamente a doutrina de Kant (que adotou esse termo), ou então a corrente metafísica da filosofia moderna, de Descartes a Kant.
3º Em sua significação genérica, pode ser usado para indicar qualquer orientação filosófica que recorra à razão.
Método científico
O Discurso sobre o Método
As ideias de René Descartes influenciaram diversos pensadores, entre os quais se destacam o holandês Bento de Espinoza e o alemão Gottfried Leibniz, filósofo, matemático e político que desenvolveu o cálculo infinitesimal, utilizado até os dias de hoje, além de defender o racionalismo, afirmando que algumas ideias e princípios existem em nós e são percebidos pelos sentidos, mas não provêm deles. Como exemplos de conhecimentos inatos, ele citava a Geometria, a Lógica e a Aritmética.
Os quatro métodos
· O primeiro método era jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresente tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida. (Ceticismo)
· O segundo método era dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las. (Reducionismo)
· O terceiro método era conduzir por ordem os pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros. (Holismo ou Racionalismo?)
· O quarto método era o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que se tivesse a certeza de nada omitir.
Todo o trabalho de Descartes estava calcado no método científico e para ele não podia ser considerada ciência qualquer teoria que nele não se baseasse.
Enumeração
A quarta regra do método enunciada por Descartes na segunda parte do Discurso do Método. Fazer em tudo Enumerações tão completas e revisões tão gerais que se esteja seguro de nada omitir. Assim expressa, essa regra refere-se mais ao controle dos resultados do procedimento racional do que à descoberta desses resultados.
Factício
Termo que se emprega quase exclusivamente com referência à classificação cartesiana das ideias em inatas, inesperadas e factícias; as últimas são as ideias feitas e inventadas por nós.
O método científico é um conjunto de regras básicas de como se deve proceder a fim de produzir conhecimento dito científico, quer seja este um novo conhecimento quer seja este fruto de uma integração, correção (evolução) ou uma expansão da área de abrangência de conhecimentos pré-existentes.
Na maioria das disciplinas científicas consiste em juntar evidências empíricas verificáveis, baseadas na observação sistemática e controlada, geralmente resultantes de experiências ou pesquisa de campo, e analisá-las sob a ótica da lógica.
Literalmente refere-se ao estudo dos pormenores dos métodos empregados em cada área científica específica, e em essência dos passos comuns a todos estes métodos, ou seja, do método da ciência em sua forma geral, que se supõe universal.
Embora procedimentos variem de uma área da ciência para outra (as disciplinas científicas), diferenciadas por seus distintos objetos de estudo, consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o método científico de outros métodos encontrados em áreas não científicas.
A metodologia científica tem sua origem no pensamento de Descartes, que foi posteriormente desenvolvido empiricamente pelo físico inglês Isaac Newton. Descartes propôs chegar à verdade através da dúvida sistemática e da decomposição do problema em pequenas partes, características que definiram a base da pesquisa científica.
Compreendendo-se os sistemas mais simples, gradualmente se incorporam mais e mais variáveis, em busca da descrição do todo. Aqui se encontram as bases do reducionismo e do holismo.
Karl Popper demonstrou que nem a verificação nem a indução sozinhas serviam ao propósito em questão - o de compreender a realidade conforme esta é e não conforme se gostaria que fosse - pois o cientista deve trabalhar com o falseamento, ou seja, deve fazer uma hipótese e testar suas hipóteses procurando não apenas evidências de que elas estão certas, mas, sobretudo evidências de que elas estão erradas.
Se a hipótese não resistir ao teste, diz-se que ela foi falseada. Caso não, diz-se que foi corroborada. Popper afirmou também que a ciência é um conhecimento provisório, que funciona através de sucessivos falseamentos.
Thomas Kuhn percebeu que os paradigmas são elementos essenciais do método científico, sendo os momentos de mudança de paradigmas chamados de revoluções científicas. O método científico é construído de forma que a ciência e suas teorias evoluam com o tempo.
Averso ao pensamento cartesiano, Edgar Morin propõe, no lugar da divisão do objeto de pesquisa em partes, uma visão sistêmica, do todo. Esse novo paradigma é chamado de Teoria da Complexidade.
Embora tal paradigma não implique a rigor na invalidade do método científico em sua forma geral, este certamente propõe uma nova forma de aplicá-lo.
Entretanto, surpreendentemente a teoria da complexidade não invalida o reducionismo, mas o aceita como forma inicial de decompor um problema de maneira a encontrar uma explicação que seja mais complexa que a soma das partes originalmente estudadas (Holismo).
Coerência
1 - Ordem, conexão, harmonia de um sistema de conhecimento. Nesse sentido, Kant atribuía aos conhecimentos a função de dar ordem e Coerência às representações sensíveis. A Coerência foi assumida por alguns idealistas ingleses como critério da verdade.
Segundo Bradley, por exemplo, a realidade é uma Consciência absoluta que abarca, na forma de Coerência harmoniosa, toda a multiplicidade dispersa e contraditória da aparência sensível.
A Coerência, é muito mais do que a simples compatibilidade entre os elementos de um sistema: implica, não só a ausência de contradição, mas a presença de conexões positivas que estabeleçam harmonia entre os elementos do sistema.
Nessa acepção, esse termo não tem significado lógico.
2 - O mesmo que compatibilidade. Esse significado é assumido com frequência por esse termo em italiano e francês, já que nessas línguas o termo compatibilidade não se presta a exprimir o caráter do sistema desprovido de contradição, mas designa o caráter de não-contradição recíproca dos enunciados.
Causalidade
Conexão entre duas coisas, em virtude da qual a segunda é univocamente previsível a partir da primeira. Historicamente, essa noção assumiu duas formas fundamentais:
1 - A forma de conexão racional, pela qual a causa é a razão do seu efeito e este, por isso, é dedutível dela. Nessa concepção, a ação da causa é frequentemente descrita como a de uma força que gera ou produz efeito.
2 - A forma de uma conexão empírica ou temporal, pela qual o efeito não é dedutível da causa, mas é previsível com base nela pela constância e uniformidade da relação de sucessão. Essa concepção elimina a ideia de força da relação causal.
Ambas formas são comuns às noções de previsibilidade unívoca, infalível, do efeito a partir da causa e, portanto, também a de necessidade da relação causal.
Causalidade é a relação entre um evento A (a causa) e um segundo evento B (o efeito), provido que o segundo evento seja uma consequência do primeiro. Identifica-se logicamente a causalidade em "se não A, então não B", provida a ocorrência empírica de ao menos um B.
A expressão anterior não equivale a rigor à expressão "se A, então B", sendo, contudo, esta e não aquela a usualmente atrelada em senso comum ao conceito de causalidade.
Em termos diretos, A é causa de B quando A é requisito necessário, mas não necessariamente um requisito suficiente, para ocorrência de B. A expressão popular "Se A então B" implica suficiência, o que faz a mesma não abarcar todos os casos de causalidade, e ajusta-se também às situações ocasionais onde, mesmo que o escrutínio revele que a ocorrência de B seja per facto independente de A, A tenha precedido a ocorrência de B em todos os casos não controlados.
Caracterizar uma relação causal, distinguindo-a de uma simples correlação, é um assunto delicado que por certo transcende a simples lógica booleana. Pelo método científico, deve-se estabelecer não apenas a correlação significativa entre os eventos em questão, mas também os mecanismos físicos de ação que levam A a determinar B, ou melhor, a ausência de A a inibir B.
Num sentido mais amplo, a causalidade ou determinação de um fenômeno é a maneira específica na qual os eventos se relacionam e surgem. Apreender a causalidade de um fenômeno é apreender sua inteligibilidade.
Efeito dominó
Muitos modelos de causalidade são utilizados para explicar os fenômenos, seja nas ciências (humanas ou exatas), seja no senso comum.
Ocorre quando uma causa provoca um efeito de proporção diferente (não-linear) em sua proximidade, que então acarretará outra mudança na proximidade da mesma proporção, e assim por diante, em seqüência linear.
A seguir, alguns exemplos:
Causalidade linear ou simples
Ocorre quando uma causa provoca um efeito proporcional (isto é, linear). Se uma bola está parada no chão e outra bola se choca com ela, o efeito é proporcional à causa.
Se alguém dá um chute numa bola e ela é atirada ao longe, a causa do seu movimento foi a força muscular aplicada à bola através do chute. Se uma maçã cai da árvore, dizemos que a causa de sua queda foi a força de atração da Terra (gravidade), que se exerce sobre todos os corpos.
Gatilho
Ocorre quando uma causa provoca um efeito desproporcional (isto é, não-linear). Por exemplo, um simples peteleco numa imensa rocha em equilíbrio instável sobre uma montanha destrói uma casa na base da montanha. Outro exemplo: uma faísca faz uma casa inteira pegar fogo.
Retroalimentação (feedback)
Dá-se quando o efeito modifica (modula) a causa. A retroalimentação é positiva quando o efeito de um processo aumenta a intensidade desse processo ("quanto mais, mais"), e é negativa quando reduz sua intensidade ("quanto mais, menos").
Efeito borboleta
Ocorre quando uma mudança insignificante provoca mudanças a tal ponto desproporcionais que podem alterar todo o sistema em que a mudança inicial ocorreu.
Desde o fim do iluminismo, a ideia de causalidade linear tende a ser considerada insuficiente para explicar a maioria dos fenômenos (naturais, sociais, biológicos, existenciais, psicológicos, etc.), que se provaram melhor explicáveis por vários outros modelos de causalidade.
A ideia de causalidade ou de determinação que predomina desde o fim do iluminismo é a de causalidade complexa, segundo a qual nem todo efeito está totalmente contido na causa anterior, isto é, que o próprio efeito pode simultaneamente interagir (causalmente) com outros efeitos, podendo inclusive acarretar um nível de realidade diferente do nível das causas anteriores (por exemplo a interação no nível molecular formando um outro nível de realidade, a vida, ou a interação entre indivíduos formando um outro nível de realidade, a sociedade).
A teoria do caos e a teoria da emergência, por exemplo, apresentam a ideia de redes de determinações simultâneas que engendram diversos níveis de realidade (por exemplo a interação entre seres vivos formando um outro nível de realidade, um ecossistema, assim como a interação entre indivíduos forma outro nível de realidade, a sociedade).
Os diversos níveis de realidade (por exemplo, molecular, biológico, psíquico, social, planetário...) apresentam modos de causalidade diversos que possuem, cada um, uma consistência que lhe dá autonomia, jamais cessando, porém, de interagir com os outros níveis, ou mesmo de desaparecer ou surgir neles.
Aleatoriedade
A aleatoriedade de um processo ou sistema refere-se à incapacidade de prever o desenvolvimento no tempo desse processo. Suponha-se que imediatamente a lançarmos um par de dados, paramos o tempo. Será que podemos dizer que números vão sair?
Admita-se que o mundo é determinista. Se não soubermos as leis da natureza ou houver imprecisão no nosso conhecimento das condições iniciais tudo pode acontecer segunda a nossa perspectiva. Haverá uma aleatoriedade subjectiva, pois depende do nosso desconhecimento das coisas, apesar de haver previsibilidade em princípio.
A descoberta de sistemas deterministas mas caóticos impõe dificuldades acrescidas à nossa capacidade de prever, aumentando a aleatoriedade subjetiva.
Contudo se o indeterminismo for verdadeiro e relevante ao nível macroscópico dos dados, então mesmo com o conhecimento exato das leis da natureza e das condições iniciais não poderemos saber o que vai suceder. Neste caso não poderíamos dizer com antecedência que números iriam obter pois a aleatoriedade objectiva não permitiria.
A interpretação ortodoxa da mecânica quântica oferece esta interpretação. Os sistemas dinâmicos não lineares podem ser exemplificados como ambientes ecológicos, movimentações e rotas momentâneas de seres vivos, (peixes, insetos, aves, por exemplo, todos ao acaso), movimentos econômicos da economia mundial, movimentos atmosféricos, ou meteorológicos, além de outros. A característica principal dos sistemas dinâmicos não lineares é a aleatoriedade, ou o movimento ou comportamento aleatório, ou caótico.
A Navalha de Ockham
É um princípio lógico que afirma que a explicação para qualquer fenômeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias à explicação do mesmo e eliminar aquelas que não causam qualquer diferença nas predições da hipótese ou teoria. O princípio é designado por ‘Lex Parsimoniae’ (Lei da Parcimônia).
"Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem" - “Pluralitas non est ponenda sine neccesitate”
(As entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade - Pluralidades não devem ser postas sem necessidade).
William de Ockham(?)
"A perfeição não é alcançada quando já não há mais nada para adicionar, mas quando já não há mais nada que se possa retirar"
Antoine de Saint-Exupéry
“Sempre que possível deve-se substituir as construções feitas a partir de entidades conhecidas pelas inferências causadas por entidades desconhecidas”
Bertrand Russell
Esta formulação é muitas vezes parafraseada como:
"Se em tudo o mais forem idênticas às várias explicações de um fenômeno, a mais simples é a melhor".
A Navalha de Ockham entende a intuição como ponto de partida para o conhecimento do universo. Defende o princípio de que a natureza é por si mesma econômica, optando invariavelmente pelo caminho mais simples.
Todo conhecimento racional tem por base a lógica, de acordo com os dados proporcionados pelos sentidos. Uma vez que só conhecemos entidades palpáveis e concretas, nossos conceitos não passam de meios linguísticos para expressar uma ideia; portanto, precisam de comprovação através da realidade física.
A Navalha de Occam ou Navalha de Ockham é um princípio lógico atribuído ao lógico e frade franciscano inglês Guilherme de Ockham (século XIV).
O princípio afirma que a explicação para qualquer fenômeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias à explicação do mesmo e eliminar todas as que não causariam qualquer diferença aparente nas predições da hipótese ou teoria.
O princípio é frequentemente designado pela expressão latina Lex Parsimoniae (Lei da Parcimônia) enunciada como:"entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem" (as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade).
O princípio recomenda assim que se escolha a teoria explicativa que implique o menor número de premissas assumidas e o menor número de entidades.
Originalmente um princípio da filosofia reducionista do nominalismo, é hoje tido como uma das máximas heurísticas (regra geral) que aconselham economia, parcimônia e simplicidade, especialmente nas teorias científicas.
Lógica
Entendida popularmente como o estudo do raciocínio correto, a lógica surge no Ocidente com o filósofo grego Aristóteles. Para mostrar que os sofistas (mestres da retórica e da oratória) podem enganar os cidadãos utilizando argumentos incorretos, Aristóteles estuda a estrutura lógica da argumentação.
Revela, assim, que alguns argumentos podem ser convincentes, embora não sejam corretos. A lógica, segundo Aristóteles, é um instrumento para atingir o conhecimento científico. Só se pode chamar de ciência aquilo que é metódico e sistemático, ou seja, lógico.
Na obra Organon, Aristóteles define a lógica como um método do discurso demonstrativo, que utiliza três operações da inteligência: o conceito, o juízo e o raciocínio. O conceito é a representação mental dos objetos. O juízo é a afirmação ou negação da relação entre o sujeito (neste caso, o próprio objeto) e seu predicado. E o raciocínio é o que leva à conclusão sobre os vários juízos contidos no discurso.
Os raciocínios podem ser analisados como silogismos, nos quais uma conclusão decorre de duas premissas. "Todo homem é mortal. Sócrates é homem, logo, Sócrates é mortal", diz ele, para exemplificar. "Sócrates", "homem" e "mortal" são conceitos. "Sócrates é mortal" e "Sócrates é homem" são juízos.
O raciocínio é a progressão do pensamento que se dá entre as premissas "Todo homem é mortal", "Sócrates é homem" e, a conclusão, "Sócrates é mortal".
Leibniz critica a lógica aristotélica por demonstrar verdades conhecidas, mas não revelar novas verdades. Além disso, a lógica tradicional sistematiza apenas juízos do tipo sujeito e predicado, como "Sócrates é mortal". Já os modernos sentem necessidade de um método capaz de estudar também relações entre objetos, como "A Terra é maior do que a Lua".
No final do século XIX, o alemão Gottlob Frege cria uma lógica baseada em símbolos matemáticos e na análise formal do discurso, lançando as bases da lógica moderna, que formaliza os raciocínios, organizando-os numa espécie de gramática, que pode ser empregada em diversas linguagens, como a proposicional, que estuda a relação dos juízos entre si e a de predicados, que analisa a estrutura interna das sentenças. Como a matemática, ambas se utilizam de símbolos lógicos (de negação, conjunção e implicação, por exemplo) e não lógicos (que representam proposições, funções, relações etc.) para criar cálculos ou sistemas de dedução.
A validade de um argumento depende exclusivamente de sua fórmula lógica e não do conteúdo das afirmações. Então, se no exemplo aristotélico o conceito "mortal" for substituído pelo conceito "verde" ("Todo homem é verde. Sócrates é homem, logo, Sócrates é verde."), o argumento permanece válido, ou correto, embora não existam homens verdes. Válido, porém, não quer dizer verdadeiro.
Para que a conclusão de um argumento válido seja verdadeira, as premissas têm de ser verdadeiras. Ao estudar a estrutura e a natureza do raciocínio humano e reproduzi-las em fórmulas matemáticas, torna-se possível, por exemplo, a criação de uma linguagem binária, que é a base de funcionamento dos softwares para computadores.
Teoria do Caos
A teoria do caos estuda o comportamento aleatório e imprevisível dos sistemas, mostrando uma faceta em que podem ocorrer irregularidades na uniformidade da natureza como um todo.
Isto ocorre a partir de pequenas alterações que num dado momento aparentemente nada têm a ver com o evento estudado, mas que no futuro podem vir a alterar toda a previsão física que se considerava precisa.
Uma das ideias centrais desta teoria, é que os comportamentos casuais (aleatórios) também são governados por leis e que estas podem predizer dois resultados para certo input.
O primeiro é uma resposta ordenada, permitindo que o futuro dos eventos seja inferido, ocorrendo dentro de margens estatísticas e erros previsíveis.
O segundo é uma resposta também ordenada, onde a resultante futura dos eventos é caótica, ou seja, ocorre uma contradição no ponto onde é previsível que os resultados de um determinado sistema serão caóticos.
Em sistemas não-lineares, pequenas mudanças podem ter efeitos dramáticos, pois podem ser amplificadas repetidamente por meio da realimentação de auto reforço, cujos processos constituem a essência das instabilidades e da súbita emergência de novas formas de ordem, típicas da auto-organização.
Sua elaboração foi possível a partir da Teoria dos Sistemas Dinâmicos cujos fundamentos foram estabelecidos por Jules Henri Poincaré, que também retomou o imaginário visual para a matemática.
Poincaré também percebeu que, ao se tentar representar as infinitas interseções estabelecidas por duas curvas, essas interseções formam uma espécie de rede infinitamente apertada:
“...nenhuma das duas curvas pode jamais cruzar consigo mesma, mas deve dobrar de volta sobre si mesma de uma maneira bastante complexa a fim de cruzar infinitas vezes os elos da teia. Fica-se perplexo diante da complexidade dessa figura, que eu nem mesmo tento desenhar”.
Efeito Borboleta
Foi descoberto no início da década de 1960 pelo meteorologista Edward Lorenz que, a partir de estudos de condições meteorológicas, observou que os sistemas caóticos são caracterizados por serem extremamente sensíveis às condições iniciais – mudanças minúsculas no estado inicial do sistema, levando, ao longo do tempo, a consequências em grande escala, ou seja, a partir de dois pontos de partida praticamente idênticos, desenvolver-se-iam duas trajetórias por caminhos completamente diferentes, tornando impossível qualquer previsão a longo prazo, embora isso não queira dizer que a teoria do caos não é capaz de quaisquer previsões.
As previsões precisas realizadas a partir da teoria do caos referem-se às características qualitativas do comportamento do sistema e não aos valores precisos de suas variáveis num determinado instante. Todos esses estudos marcaram o início da teoria do caos.
O efeito da realimentação do erro foi denominado por Lorenz como Efeito Borboleta, ou seja, uma dependência sensível dos resultados finais às condições iniciais. Assim, havendo uma distância, mesmo que ínfima, entre dois pontos iniciais, depois de algum tempo estes estariam completamente separados e irreconhecíveis.
Variações aleatórias muito pequenas podem gerar um efeito dominó que elevava o grau de incerteza em eventos futuros, realimentando os graus de aleatoriedade. A partir de variações mínimas há acelerações nas precipitações de dados em determinadas direções que mudam completamente o resultado de uma determinada experiência.
As previsões de certos fenômenos só podem adquirir determinado grau de precisão utilizando equações matemáticas que levem em conta o alto grau de incerteza dos eventos. Os atratores (pontos ou conjunto de pontos) são aqueles pontos para os quais todos os fenômenos que se localizem suficientemente próximos convergem mais cedo ou mais tarde.
Se o atrator for o estado inicial, ele será o estado atingido para todo tempo passado e futuro. Ao se analisar os estados das equações de Lorenz, assim como suas representações num gráfico tridimensional, observa-se a convergência em direção a um ponto ou conjunto deles chamados atratores estranhos. Os atratores estranhos têm estruturas detalhadas em todas as escalas.
Teoria dos Fractais
Independente da teoria do caos e sendo também um ramo da Teoria dos Sistemas Dinâmicos, a teoria dos fractais utilizou a geometria fractal para descrever em “escala fina” a estrutura dos atratores caóticos.
Foi desenvolvida pelo matemático francês Mandelbrot, na década de 60, a partir da compreensão de que todas as formas geométricas tinham algumas características comuns bastante notáveis e que a geometria fractal poderia descrever e permitir a análise da complexidade das formas irregulares no mundo natural.
Fractais são objetos e estruturas de dimensão espacial fracionária, com propriedades de extensão dos limites infinita, permeabilidade e auto similaridade.
A propriedade mais notável das formas fractais é que seus padrões característicos são repetidamente encontrados em escalas descendentes, de modo que suas partes, em qualquer escala, são, na forma, semelhantes ao todo. Os atratores estranhos são extraordinários exemplos de fractais.
Dentro da ótica da complexidade, embora seja impossível calcular o comprimento ou a área de uma forma fractal, devido à infinitude das dimensões e das escalas, pode-se ainda definir o grau de “denteamento” de uma maneira qualitativa.
A geometria fractal possibilitou a Mandelbrot descobrir uma estrutura matemática altamente complexa, conhecida como Conjunto de Mandelbrot que, para sua compreensão necessita de importantes conceitos matemáticos, incluindo os números complexos.
Todas essas teorias contribuíram para a compreensão da vida como redes aninhadas dentro de redes, sem hierarquização que formam os sistemas vivos – a complexidade da vida não restrita à estrutura, mas incluindo-se a forma e o padrão relacional das partes – um todo de partes integradas.
A qualidade, então, ressurgiu na ciência com uma importância essencial, integrando a quantidade, objetividade e subjetividade, estrutura e padrão e influindo nas diversas dimensões de atuação do ser humano.
O paradigma da complexidade nos proporciona uma nova perspectiva sobre as chamadas hierarquias da natureza, como explica Capra:
“Desde que os sistemas vivos, em todos os níveis, são redes, devemos visualizar a teia da vida como sistemas vivos (redes) interagindo à maneira de rede com outros sistemas. Por exemplo, podemos descrever esquematicamente um ecossistema como uma rede com alguns nós.
Cada nó representa um organismo, o que significa que, quando amplificado, aparece, ele mesmo, como uma rede. Cada nó na nova rede pode representar um órgão, o qual, por sua vez, aparecerá como uma rede quando amplificado, e assim por diante”.
Morin defende uma reforma do pensamento que possibilite a aplicação dessas novas ideias, pois considera o ser humano como reducionista por natureza. Por isso, é necessário um esforço para que possa compreender a complexidade, pois a simplificação não exprime a unidade e a diversidade presentes no todo, condenando-nos à perda da visão geral, mesmo sem condenar a especialização.
Por mais preponderante que ainda seja o pensamento reducionista, do cartesianismo antropocêntrico, a complexidade que ora se descortina resulta da complementaridade das visões de mundo não linear e sistêmico, que só pode ser entendida a partir do pensamento complexo, aberto, abrangente e flexível.
Entropia
É interessante entender o conceito de entropia que pode ser descrita como a medida da quantidade de informação presente em uma entidade ou mesmo em um sistema. A entropia aumenta na medida em que aumenta a complexidade e, portanto, o grau de incerteza ou a imprevisibilidade da informação resultante sobre a entidade analisada.
Teoria dos Sistemas
A abordagem sistêmica foi desenvolvida a partir da necessidade de explicações complexas exigidas pela ciência. Visão sistêmica consiste na habilidade em compreender os sistemas de acordo com a abordagem da Teoria Geral dos Sistemas, ou seja, ter o conhecimento do todo, de modo a permitir a análise ou a interferência no mesmo, independentemente do fato de se adotar uma filosofia reducionista ou holística.
A visão sistêmica é formada a partir do conhecimento do conceito e das características dos sistemas. A visão sistemática é a capacidade de identificar as ligações de fatos particulares do sistema como um todo.
Ao desenvolver a teoria dos Sistemas, Bertalanffy tinha como objeto os organismos e, portanto, o próprio homem. Não buscava solucionar problemas ou tentar soluções práticas, mas sim produzir teorias e formulações conceituais que pudessem criar condições de aplicação na realidade empírica. Seus pressupostos básicos foram:
· Existe uma nítida tendência para a integração nas várias ciências naturais e sociais;
· Essa integração parece orientar-se rumo a uma teoria dos sistemas;
· Essa teoria de sistemas pode ser uma maneira mais abrangente de estudar os campos não físicos do conhecimento científico, especialmente as ciências sociais;
· Essa teoria de sistemas, ao desenvolver princípios unificadores que atravessam verticalmente os universos particulares das diversas ciências, aproxima-nos do objetivo da unidade da ciência;
· Isso pode levar a uma integração muito necessária da educação científica.
A importância da teoria dos sistemas e dos sistemas caóticos explicados sob a ótica da complexidade é muito significativa para os estudos do comportamento humano, em especial a resiliência, tendo em vista a necessidade de se avaliar a organismo como um todo e não somente órgãos e suas funções.
Tão importante quanto isso é a identificação do maior número de variáveis possíveis, externas e internas que, de alguma forma, influenciam em todo os processos existentes no organismo.
Outro fator também de significativa importância é a retroalimentação que faz de todos os processos.
Há uma grande variedade de sistemas e uma ampla gama de tipologias para classificá-los, de acordo com suas características básicas.
Físicos ou concretos: quando tratam de entidades concretas como ambiente, bioma ou o ser humano;
Abstratos ou conceituais: quando compostos por conceitos, planos, hipóteses e ideias produzidas pelo homem.
Na realidade, há uma complementaridade entre sistemas físicos e abstratos: os sistemas físicos precisam de um sistema abstrato para funcionar, e os sistemas abstratos somente se realizam quando aplicados a algum sistema físico.
Natureza dos Sistemas
Fechados: não recebem nenhum recurso externo, não apresentam intercâmbio com o meio ambiente que os circunda, não recebendo nenhuma influência do ambiente e por outro lado não o influenciando. Nada do que produzem é “enviado para fora”.
Abertos: são os sistemas que apresentam relações de intercâmbio com o ambiente, por meio de entradas e saídas. Os sistemas abertos trocam matéria, energia e informação regularmente com o meio ambiente. São eminentemente adaptativos, isto é, para sobreviver devem reajustar-se constantemente as condições do meio.
A visão de Bertalanffy, abre assim as fronteiras das ciências dos sistemas para o estudo, pesquisa e explicação da vida. Os seres humanos como qualquer outro organismo vivo são, por definição, sistemas abertos, pois não podem ser adequadamente compreendidos de forma isolada, mas sim pelo inter-relacionamento entre diversas variáveis internas e externas, que afetam seu comportamento.
Teoria reducionista e teoria sistêmica
Neste texto examina-se uma série de acusações que Quine faz a Hume, quanto às características de seu empirismo. Entre essas acusações merece especial atenção a de que Hume teria adotado o dogma do “reducionismo radical” e, ainda mais, em uma versão “naïve” e “intoleravelmente restritiva”, na qual ele assume a forma de um “impossível empirismo termo-a-termo”.
Sugere-se que o elemento da teoria epistemológica de Hume que mais se aproxima de tal versão talvez seja o seu “primeiro princípio da ciência da natureza humana”, segundo o qual todas as idéias simples derivam, em última instância, de impressões simples semelhantes.
No entanto, defende-se aqui que ainda que se conceda que essa aproximação seja legítima do ponto de vista analítico, a teoria humeana do conhecimento envolve diversos outros aspectos importantes que não parecem de nenhum modo justificar a imputação quineana.
Indica-se também que não apenas Hume não adotou as teses empiristas equivocadas que Quine aponta, mas, ao contrário, parece mesmo ter sido um importante precursor de posições hoje atribuídas a Quine, entre as quais o holismo e o naturalismo epistemológicos, em versões apropriadas ao contexto de sua filosofia.
Segundo a teoria de sistemas, ao invés de se reduzir uma entidade (um animal, por exemplo.) para o estudo individual das propriedades de suas partes ou elementos (órgãos ou células), se deve focalizar no arranjo do todo, ou seja, nas relações entre as partes que se interconectam e interagem orgânica e estatisticamente.
Uma organização realimentada e auto gerenciada, gera assim um sistema cujo funcionamento é independente da substância concreta dos elementos que a formam, pois estes podem ser substituídos sem dano ao todo, isto é, a auto-regulação onde o todo assume as tarefas da parte que falhou.
Portanto, ao fazermos o estudo de sistemas que funcionam desta forma, não conseguiremos detectar o comportamento do todo em função das partes. Exemplos são as partículas de determinado elemento cujo comportamento individual, embora previsto, não poderá nos indicar a posição ou movimentação do todo.
Pensamento sistêmico
A ciência do século passado adotava a mecânica clássica como modelo do pensamento científico. Isso equivale a pensar nas coisas como mecanismos e sistemas fechados. A ciência de nossos dias adota o organismo vivo como modelo, o que equivale a pensar em sistemas abertos.
Sistemas complexos
Um sistema é dito complexo quando suas propriedades não são uma consequência natural de seus elementos constituintes vistos isoladamente. As propriedades emergentes de um sistema complexo decorrem em grande parte da relação não-linear entre as partes. O embasamento teórico-científico para a Teoria do Caos se estrutura no estudo da complexidade.
Um Sistema Complexo é composto por um conjunto de partes conectadas por alguma forma de inter-relação entre elas.
Assim, para caracterizar um sistema é necessário não somente conhecer as partes, mas também os modos com que se relacionam. Isto gera um fluxo de informações complexas e muitas vezes novas características emergem.
As partes, conectadas por uma rede de relações, geram uma unidade coletiva comumente chamada Sistema. Molécula, célula, ecossistema, cidade, colônia de formigas, cérebro, computador, ser humano, cidade podem ser considerados sistemas ou unidades coletivas.
Cada sistema possui suas regras internas, e um novo elemento nele inserido também fica sujeito as leis próprias desse sistema. É desse ponto de vista que as relações entre comportamento e atividade cerebral podem ser mais bem explicadas.
Em um Sistema Complexo cada subsistema possui um processamento interno de informações, de modo que ocorre uma relação funcional entre estes. Quando dois ou mais subsistemas compartilham um mesmo processo, mas reagem de formas diferentes a ele, geram-se as relações complexas.
Pode-se então considerar que um sistema complexo é um conjunto de partes ou subsistemas com processamentos internos singulares, conectadas entre si, de modo que formam uma unidade coletiva com uma dinâmica própria e com propriedades emergentes.
Psicologia
Doutrina dualista que defende que os processos físicos e os psíquicos são independentes desde o ponto de vista causal, mas mantêm processos paralelos.
Assim, o corpo e a consciência constituem dois âmbitos de fenômenos que se manifestam de maneira heterogênea e autônoma, razão pela qual não é possível explicar, por meio de relações causais, a interação paralela entre as séries de fenômenos orgânicos e psíquicos.
Essa doutrina parte então do dualismo cartesiano que afirma existir uma absoluta diferença entre corpo e espírito. Em sendo substâncias distintas não podem haver relações causais entre elas.
A Busca Epistemológica
Quando James critica a Psicologia tradicional e lança os fundamentos da Psicologia moderna com base na concepção dessa disciplina como uma ciência natural, um de seus alvos é o conceito de self da filosofia do substancialismo e das filosofias de Kant e Hume. Talvez o texto de James no qual melhor se possa verificar essa crítica seja o capítulo
A consciência do self, quando aborda a consciência de si ou a consciência que o Eu tem de si, contido nos Princípios de Psicologia. Aqui James critica o conceito de eu, seja como duplicação transcendente do eu da experiência fenomenal, ou como princípio lógico do conhecimento, como condição de possibilidade do conhecimento. No primeiro caso suas referências alcançam um grande número de filósofos, no segundo seu alvo era Kant.
James critica ainda a dissolução do eu, reduzido à combinação de sensações e concebe o sujeito como processo da experiência fenomenal com todas as dimensões do fluxo do pensamento.
Ele apoia sua crítica na primazia da experiência fenomenal, tomando-a como ponto de partida e de chegada do conhecimento filosófico e científico, rejeitando desse modo, a experiência transcendente.
Esses dois aspectos da defesa de James podem ser vistos como expressões de sua filosofia do pragmatismo e do empirismo radical, novamente negligenciando fundamentos teóricos ou metodologias de análise e validação, isenção crítica ou, dito de outra maneira, estruturados sob uma visão realmente científica.
Alguns dão a Descartes a distinção de haver fundado a psicologia fisiológica, porque foi ele que explicou o comportamento de animais inteiramente em base de funções mecânicas do sistema nervoso, negando que tivessem "almas". Ele também propôs uma teoria que explicava a percepção visual de distância, forma e tamanho, em termos de indicações secundárias.
Epistemologia Unitária
Da perspectiva da Epistemologia Unitária, conclui-se que, por não alcançar unidade, a Psicologia não se constitui como ciência e, consequentemente, não se pode fazer, quer epistemologia da ciência psicológica, quer história da ciência psicológica. Sob esse ponto de vista, a história da Psicologia não pertence ao gênero história da ciência.
História da Psicologia é história da cultura. Como história da cultura, é história das culturas psicológicas e filosóficas, bem como história das ideias.
Como história de culturas psicológicas é história de tradições do pensamento psicológico. Tradições são práticas sociais de longa duração, ou culturas, consequentemente, tradições de pensamento psicológico são culturas, ou práticas culturais.
Como práticas culturais ou culturas, tradições de pensamento psicológico se constituem como práticas de pesquisa antropológica, com desfechos favoráveis para alguns e desfavoráveis para outros, mas novamente inserida na Antropologia.
A prática de pesquisa da Primeira Escola de Leipzig, fundamentada nos trabalhos de Wundt e de seus discípulos, não sobreviveu à prática de pesquisa da Segunda Escola de Leipzig, fundamentada nos trabalhos de Felix Krueger e Friedrich Sander.
A Segunda Escola de Leipzig defendeu um retorno às comunidades (Gemeinschaften), como a família, os grupos de jovens, o povo, bem como uma Psicologia da totalidade que pregava a eliminação de qualquer coisa que fosse estranha ao que era caracterizado como totalidade.
Esse postulado absurdo não poderia levar a outra coisa, outro absurdo. Fundamentou e deu legitimação à ideologia nazista (onde o judeu, por exemplo, foi considerado como uma coisa estranha ao todo, a supremacia da “raça” ariana e como era de se esperar, aprimorada na Conferência de Wannsee, “Die Endlösung”, a solução final).
Ao tempo da prática de pesquisa da Primeira Escola de Leipzig, existiram duas outras práticas de pesquisa psicológica: a de Paris, baseada na investigação experimental da hipnose e a da Universidade de Clark, com desenvolvimentos posteriores na Universidade de Columbia.
A prática de pesquisa da universidade de Clark dedicou-se à investigação da distribuição de características psicológicas nas populações e contribuiu, ao lado do desenvolvimento dos testes mentais, para a institucionalização da Psicologia como ciência independente nos Estados Unidos.
Psicologia e Reducionismo
Rappaport comenta que o teste de Binet e outros testes mentais foram aplicados nos Estados Unidos com o objetivo de conter a imigração de pessoas indesejáveis e de limitar as oportunidades educacionais, bem como para "isolar pessoas em instituições e justificar outras políticas similares de 'bem-estar social'. Foram esses desenvolvimentos e a prática de pesquisa de Clark, desenvolvida por G. Stanley Hall, Francis Galton e Edward Lee Thorndike que vingaram nos Estados Unidos.
Hume afirma que o Eu se resume à combinação de sensações. Não existe um ente central que tem sensações. O que existe são sensações e o indivíduo é um feixe dessas sensações. O que existe é o indivíduo corpóreo, e não o indivíduo psíquico, o que existe é a causalidade física, e não a causalidade psíquica.
A Psicologia é reduzível à física, unitária, e não dual. As Psicologias de Titchener e Kulpe são solidárias com o reducionismo. Um retrocesso histórico.
Alguns dão a Descartes a distinção de haver fundado a psicologia fisiológica, porque foi ele que explicou o comportamento de animais inteiramente em bases de funções mecânicas do sistema nervoso, negando que tivessem "almas". Ele também propôs uma teoria que explicava a percepção visual de distancia, forma e tamanho, em termos de indicações secundárias.
Descartes outra vez compreendeu conceitos que muito mais tarde transformaram-se nas teorias do evolucionismo. Tais paradigmas são fundamentais à sustentação epistemológica das neurociências como que pressagiadas por Descartes ao tratar do que hoje se conhece como Teoria da Internalização.
Paralelismo psicofísico
Paralelismo psicofísico é a teoria que afirma que a consciência e os processos nervosos variam simultaneamente independentemente de haver qualquer relação causal entre os dois. Ou seja, modificações na consciência ocorrem com correspondentes modificações nos processos nervosos. Não se pode afirmar, porém que um causa o outro.
O problema, pois, das relações entre o espírito e a matéria é resolvido por Spinoza, fazendo da matéria e do espírito dois atributos da única substância divina. Une os dois na mesma substância segundo um paralelismo psicofísico, uma animação universal, uma forma de pampsiquismo.
Em geral, pode-se dizer que Descartes fornece a Spinoza o elemento arquitetônico, lógico-geométrico, para a construção do seu sistema, cujo conteúdo monista, em parte deriva da tradição neoplatônica, em parte do próprio Descartes.
“Refletindo nisso mais atentamente, acabou por se me tornar claro que só as coisas e todas as coisas nas quais se observa a ordem e a medida, se reportam à matemática, pouco importa que esta medida se deva buscar nos números, figuras, astros, sons, ou em qualquer outro objeto; que, por consequência, deve existir uma ciência geral que explica tudo o que é possível investigar respeitante à ordem e à medida, sem aplicação a qualquer matéria especial; e que esta ciência se designa, não através de um nome de empréstimo, mas de um nome já antigo e aceite pelo uso, a mathesis universalis, dado conter tudo aquilo em virtude do que se diz que as outras ciências partiram da matemática.”
Voltando ao tema Descartes, muitas são as nuances a analisar, muitos são os meandros por onde se caminha e longa é a introspecção que pode levar à compreensão do que ele realmente pensava, fez e deixou como legado para a humanidade.
Impasse Matemático-estatístico
Já que grande parte do trabalho da psicológica está baseado em entrevistas e questionários cujos resultados servem apenas a uma análise correlativa, não permite explicações causais e, assim, carece de alicerces científicos.
Além disso, muitos dos fenômenos estudados pela Psicologia, como personalidade, pensamento e emoção, não podem ser medidos diretamente e devem ser estudados com o auxílio de técnicas muito mais complexas que podem passar desde pela Teoria dos Sistemas Complexos, o Princípio matemático das Incertezas ou mesmo a Teoria do Caos, o que pode ser problemático de um ponto de vista metodológico, quando analisada a formação do profissional de Psicologia.
Erros e abusos no emprego de testes estatísticos têm sido apontados em trabalhos de psicólogos sem um conhecimento aprofundado em Psicologia experimental, em sistemas, complexidade, incerteza e estatística.
Muitos confundem, por exemplo, significância estatística com sua importância prática. Outra vez, a obtenção de significados estatisticamente significantes pode ser irrelevante quando não se considera a importância do correto entendimento da definição de um universo amostral e assim por diante.
Uma Esperança Científica
Foi apenas no século XVII que Willian Harvey, contrariando toda a tradição filosófico-teológica a respeito do funcionamento do corpo, aventurou-se a abrir um corpo humano, descobrindo então o sistema circulatório e, por conseqüência, observando que os componentes do organismo mais pareciam com uma máquina onde as partes se correlacionam, trabalhando em conjunto, do que com algo sagrado movido por uma força mágica.
Darwin sofreu as mesmas críticas por propor a teoria da evolução das espécies, contradizendo assim a idéia de que o ser humano é o apogeu da criação, ao demonstrar que somos apenas mais uma espécie como qualquer outra; propondo então que nossas características são fruto da evolução e não de uma força criadora suprema.
Os estudos de Darwin também contribuíram muito para os estudos com humanos. A partir deles, chegou-se à conclusão de que é possível, por exemplo, fazer testagens de remédios (ou estudar o comportamento) em animais infra-humanos antes de estudar os humanos, bem como utilizar material animal em alguns procedimentos médicos, justamente por terem descoberto que partilhamos de algumas características com os animais.
Todas estas ciências só evoluíram a partir do momento em que adotaram para si um método de estudo calcado na objetividade, abandonando inferências arbitrárias e desenvolvendo métodos de testagem e descrição de relações entre eventos físicos.
Somente a partir do momento em que foi exigido o critério que envolve a adoção de passos claros, bem descritos, estruturados e sistematizados, estas ciências foram capazes de estar em condições de evoluir e contribuir de maneira sólida e crescente com o conhecimento. Não será diferente com a Psicologia.
Não se tem a intenção de acrescentar mais confusão àquela já instaurada no que diz respeito a se situar ou não a Psicologia na ciência. Por outro lado, propor um novo paradigma supõe a mudança e a acomodação a novos princípios, multidisciplinares, com os quais, e somente com eles, pode-se almejar colocar a Psicologia sob parâmetros epistemológicos condizentes, referenciais paradigmáticos sólidos e quem sabe, se encontrar com a ciência onde paradoxalmente teve início.
Por definição, Psicologia é definida como a “ciência” que estuda o comportamento e os processos mentais; o foco da Psicologia está no indivíduo.
Dizer que a Psicologia é uma ciência significa que ela é regida pelas mesmas leis do método científico as quais regem as outras ciências: ela busca um conhecimento objetivo, baseado em fatos empíricos.
Pelo seu objeto de estudo a Psicologia desempenha o papel de elo entre as ciências sociais, como a sociologia e a antropologia, as ciências naturais, como a biologia, e outras áreas como as ciências cognitivas e as ciências da saúde.
Comportamento é a atividade observável dos organismos na sua busca de adaptação ao meio em que vivem.
Dizer que o indivíduo é a unidade básica de estudo da Psicologia significa dizer que, mesmo ao estudar grupos, o indivíduo permanece no centro de atenção, ao contrário, por exemplo, da sociologia, que estuda a sociedade como um conjunto.
Os processos mentais são a maneira como a mente humana funciona - pensar, planejar, tirar conclusões, fantasiar e sonhar. O comportamento humano não pode ser compreendido sem que se compreendam esses processos mentais, já que eles são a sua base. Como toda a ciência, o fim da Psicologia é a descrição, a explicação, a previsão e o controle do desenvolvimento do seu objeto de estudo.
Como os processos mentais só podem ser observados pela aplicação de modelos cuja complexidade é enorme, na maioria das vezes o que se vê é a mera inferência. Torna-se o comportamento o alvo principal dessa descrição, explicação e previsão.
Mesmo as novas técnicas visuais da neurociência que permitem visualizar o funcionamento do cérebro, não permitem a visualização dos processos mentais, mas somente de seus correlatos fisiológicos, ou seja, daquilo que acontece no organismo enquanto os processos mentais se desenrolam.
Descrever o comportamento de um indivíduo significa, em primeiro lugar, o desenvolvimento de métodos de observação e análise que sejam objetivos e, em seguida, a utilização desses métodos para o levantamento de dados confiáveis.
A observação e a análise do comportamento podem ocorrer em diferentes níveis - desde complexos padrões de comportamento, como a personalidade, até a simples reação de uma pessoa a um sinal sonoro ou visual. A partir daquilo que foi observado, e somente isso, a Psicologia procurará então compreender, explicar e analisar o comportamento.
A Psicologia parte do princípio de que o comportamento se origina de uma série de fatores distintos: variáveis orgânicas (disposição genética, metabolismo, etc.), disposicionais (temperamento, inteligência, motivação, etc.) e situacionais (influências do meio ambiente, da cultura, dos grupos de que a pessoa faz parte, etc.).
As previsões em Psicologia procuram expressar, com base nas explicações disponíveis, a probabilidade com que um determinado tipo de comportamento ocorrerá ou não.
Com base na capacidade dessas explicações de prever o comportamento futuro determina também a sua validade o que é bastante questionável. Controlar o comportamento significa aqui a capacidade de influenciá-lo, com base no conhecimento adquirido. Essa é parte mais crítica da Psicologia, que expressa sua fragilidade, que aparece de forma mais enfática na psicoterapia.
Watson queria que a psicologia fosse ciência, rigorosa e objetiva. Assim o psicólogo tinha de assumir um papel de cientista. Tinha de renunciar à introspecção e limitar-se à observação externa. Só se pode estudar diretamente o comportamento observável, que deve ser decomposto em objetos mais simples nos seus elementos e explicado de forma objetiva, recorrendo ao método científico. Aqui aparece seguramente a necessidade de recorrer a Descartes.
O comportamento passa a ser determinado por um conjunto complexo de estímulos e situação. Cada situação corresponde a um dado comportamento, isto é, conjunto de respostas explícitas ou implícitas. Para os comportamentalistas, a resposta considera tudo e qualquer reação do indivíduo, de forma consciente ou não.
Assim, o comportamento passa a ser o conjunto de respostas objetivamente observáveis, determinado por um conjunto complexo de estímulos (situação) provenientes do meio físico ou social.
Conhecendo o estimulo, deve-se ser capaz de prever a resposta e, conhecendo as respostas, identificar os estímulos, ou situações que os provocaram.
Integrada durante séculos à Filosofia, a Psicologia só começa a buscar sua independência científica no final do século XIX, quando Wundt funda o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental, onde começam a ocorrer, de forma sistemática, as pesquisas em Psicologia.
Essa curta história é atravessada por paradigmas (sistemas, correntes teóricas) que apresentam diversas concepções, que se refletem na definição dos objetos de estudo, nos métodos e nas diferentes praticas propostas.
É necessário ainda pontuar a contribuição de Wertheimer e Köhler à tentativa de situar a Psicologia na ciência.
Apesar de também estudar experiências conscientes vai- contradizer a corrente associacionista, que defendia que a vida mental era constituída por elementos que se associavam. Opondo-se a esta concepção atomista e associacionista, postula então que qualquer fenômeno psicológico é uma totalidade organizada, não redutível à soma dos elementos que o compõem; a percepção dos objetos é diferente da percepção do somatório dos elementos que o constituem.
Considera o contexto em que ocorrem os fenômenos psicológicos como fundamental para a compreensão dos mesmos e enfatiza os processos de organização mental.
Wundt, Pavlov, Watson, Köhler e Piaget foram os profissionais que lideraram as principais tendências da Psicologia, desenvolvendo teorias e modelos explicativos, que não só orientavam as atividades dos pesquisadores da época, como marcaram de forma decisiva o viés das correntes filosóficas no desenvolvimento da Psicologia.
A grande variedade e diversidade de teorias são condição e resultado do desenvolvimento de um objeto de estudo absolutamente complexo e que torna impossível sua explicação se não houver uma visão interdisciplinar ampla, métodos sólidos e técnicas de estudo absolutamente claras, testadas e acreditadas.
Neuropsicologia
Em 1963, no primeiro editorial da revista internacional Neuropsychologia, foi apresentada a definição do termo Neuropsicologia, como sendo uma subárea da Neurologia, de interesse comum para neurologistas, psiquiatras, psicólogos e neurofisiologistas.
Postulava que a área de interesse dessa nova ciência estava focada, principalmente mas não exclusivamente, no córtex cerebral e de maneira mais específica nos transtornos da linguagem, da percepção e da ação.
Dizia ainda que, embora alguns desses transtornos só pudessem ser estudados no homem, estavam convencidos de que informações valiosas sobre a patologia humana poderiam ser obtidas de experimentos com animais, abrindo caminho para o conhecimento dos mecanismos básicos da organização cerebral. Quase vinte anos depois, outro editorial da mesma revista comentava: “ainda não há uma melhor definição disponível”.
Tentativas de localizar os processos mentais em partes do organismo já existiam pelo menos desde o século 500 AC, quando Hipócrates definiu o cérebro como o órgão do intelecto e o coração como o órgão dos sentidos.
Empédocles baseou-se no mesmo problema filosófico – a relação mente-corpo – localizando os processos mentais no coração. Ao longo dos dois mil anos que se seguiram aquilo que foi denominado como “A Hipótese Cerebral” e “A hipótese cardíaca” foram constantemente o centro das discussões sobre o tema.
Galen acreditava que a mente se localizava no fluido encontrado nos grandes ventrículos do cérebro, hipótese refutada por Vesalius ao redor do século XVI. Continuando o debate, Descartes adota uma posição dualista explícita, vendo a mente e o corpo como coisas separadas, mas que, ainda assim, são capazes de interagir.
Apenas no século XVIII começam a aparecer algumas das teorias que viriam a se concretizar e a criar os pilares científicos do que viria a ser chamado de neuropsicologia; a principal questão sendo: se e até que ponto, algumas funções mentais podiam estar localizadas em regiões específicas do cérebro.
Essa discussão é usualmente associada à teoria frenológica de Gall e Spurzheim, ambos anatomistas que deram importantes contribuições à Medicina, assegurando-lhes um lugar na História. Infelizmente, no momento em que se lançaram além da Anatomia, na tentativa de localizar funções em diferentes partes do cérebro, entraram na área da especulação e se desviaram de seu trabalho científico, desencontrados em inferências que nada contribuíram para a ciência.
Flourens provou não haver evidências de que, após remover partes específicas do cérebro dos pombos, pudesse se localizar as funções no cérebro. Concluiu que qualquer modificação no funcionamento do cérebro só podia ser creditada à extensão do dano causado.
Em 1825, Bouillaud deu um passo decisivo para a demonstração das funções e suas localizações no cérebro, quando afirmou que a fala se relacionava aos lobos frontais, o que já havia sido sugerido por Gall.
Logo em seguida Dax relata uma série de estudos clínicos que permitiam comprovar que transtornos da fala estavam diretamente relacionados a lesões do hemisfério esquerdo, infelizmente seus trabalhos só se tornaram públicos depois de 1865, trinta anos depois de sua pesquisa.
Nesse momento, Broca já pesquisava a fundo os transtornos da fala e as patologias do lobo frontal esquerdo. Foi ele que acabou recebendo os créditos pela descoberta da síndrome. A essa teoria Wernike acrescentou que existe mais de uma área do cérebro responsável pela fala.
A Afasia tornou-se o tema central das discussões sobre como as estruturas mentais se relacionam com a estrutura do cérebro. Outros cientistas que se opuseram a essa visão localizacionista, seguiram o caminho da explicação holística da Afasia, como foi o caso de Jackson e Goldstein.
Em vista desses avanços na observação das relações entre o comportamento e o cérebro, é difícil entender porque os princípios da neuropsicologia só começam a nascer depois de 1949.
Parte dessa demora pode ser creditada as duas grandes guerras, parte à rejeição aos defensores da frenologia e parte, principalmente, pela crescente importância que vinha sendo dada às teorias da Gestalt na Psicologia.
Weisenberg e McBride descobriram que indivíduos que não entendiam a linguagem falada embora a audição estivesse preservada, podiam entender sons não verbais, como um sino, por exemplo, o que os levou à conclusão de que isso podia indicar lesão em duas regiões diferentes do cérebro.
Lashley também contribuiu para esse tema ao afirmar que as alterações do comportamento causadas por uma lesão dependiam muito mais da quantidade de danos no cérebro do que da localização do dano.
Hans-Lukas Teuber, pioneiro da neuropsicologia, acaba por firmar o uso do termo enquanto ciência, no momento em que o define como duas partes, não concorrentes, mas interdependentes. A primeira, o foco em ajudar o paciente a entender sua doença e, a segunda, estudar cuidadosamente os experimentos de forma a prover fundamentação essencial para as explicações fisiológicas sobre o funcionamento normal de um cérebro.
Assim, e finalmente, esse estudo é interdisciplinar, incluindo a anatomia, a biofísica, a etologia, a farmacologia e a fisiologia entre outras e mantém o foco principal no desenvolvimento de uma ciência do comportamento humano baseada no estudo da função do cérebro.
Teuber demonstrou de maneira muito elegante e convincente, como a aplicação de métodos precisos já usados pela psicologia experimental em pesquisas na psicofísica poderiam ser aplicados à Neuropsicologia.
Como aplicação do conhecimento neuropsicológico adquirido, pode-se hoje avaliar, analisar, gerenciar e buscar reabilitar pessoas que sofram de alguma doença ou transtorno cerebral, que tenha causado problemas neuro cognitivos.
Em particular, aportam o ponto de vista psicológico ao tratamento, buscando entender como a doença afeta e é afetada por fatores psicológicos. São ainda imprescindíveis na definição de quando uma pessoa que demonstra dificuldades, devido a patologias do cérebro ou a fatores emocionais ou outras causas potencialmente reversíveis, ou tudo isso conjuntamente.
Existem, entretanto, muitas razões para se crer que o relacionamento entre as funções mentais e regiões neurológicas não seja tão simples.
O futuro próximo deverá demonstrar que a evolução dessa ciência tenha que passar por novos campos do conhecimento, tornando-a ainda mais multidisciplinar e com um nível de complexidade tão alto que apenas o recurso a métodos matemáticos e informáticos de ponta poderão ajudar a resolver problemas de igual complexidade.
Já se sabe que as explicações sobre o comportamento e as relações com o cérebro, para serem explicadas, precisarão, entretanto, incluir ferramentas relacionadas às teorias dos sistemas, da informação, da complexidade, do caos, dos fractais, dos sistemas complexos, dos sistemas dinâmicos e principalmente pelos princípios teóricos que regem a definição de incerteza.
Finalmente, Luria, um dos fundadores da neuropsicologia diz que a psicologia do homem deve ocupar-se da análise das formas complexas de representação da realidade, que se constituíram ao longo da história da sociedade e são realizadas pelo cérebro humano, incluindo as formas subjetivas da atividade consciente sem substituí-las pelos estudos dos processos fisiológicos que lhes servem de base nem se limitar a sua descrição exterior.
Segundo ele, além de estabelecer as leis da sensação e percepção humana, regulação dos processos de atenção, memorização na análise do pensamento lógico, formação das necessidades complexas e da personalidade, considera esses fenômenos como produto da história social (compartilhando outra vez a proposição de Wundt).
O Pensamento Complexo
Uma de suas principais linhas é a biologia da cognição, desenvolvida por Humberto Maturana, a qual sustenta que a realidade é percebida por um dado indivíduo segundo a estrutura (a configuração biopsicossocial) de seu organismo num dado momento. Essa estrutura muda constantemente, de acordo com a interação do organismo com o meio.
Os pensadores sistêmicos reconheciam a existência de diferentes níveis de complexidade sujeitos, cada um, a diferentes tipos de leis, ou seja, em cada nível de complexidade os fenômenos observados exibem propriedades não existentes no nível inferior, como foi exemplificado por Capra: “o sabor do açúcar não está presente nos átomos de carbono, hidrogênio e de oxigênio que o constituem”. Essas propriedades foram, mais tarde, chamadas de propriedades emergentes.
O surgimento da teoria quântica, no início do século XX, provocou uma revolução no pensamento moderno, pois obrigou a ciência a repensar sua concepção reducionista analítica, ante o seguinte fato:
“...os objetos materiais sólidos da física clássica se dissolvem, no nível subatômico, em padrões de probabilidade semelhantes a ondas. Além disso, esses padrões não representam probabilidades de coisas, mas sim, probabilidades de interconexões”.
A observação dessas interconexões mostra uma complexa teia de relações entre as várias partes de um todo unificado, “como um complicado tecido de eventos, no qual conexões de diferentes tipos se alternam, se sobrepõem ou se combinam e, por meio disso, determinam a textura do todo”.
Freud
Sigismund Schlomo Freud, chamado o pai da psicanálise, foi uma figura controversa que, embora médico, pouco ou nada conhecia de ciência. Sua biografia conta que quando jovem ele foi vítima de abuso sexual, que tinha uma paixão desmedida pela mãe e sérios problemas com o pai a quem odiava.
Como profissional aparenta não ter tido uma linha de estudo bem definida, tendo pulado de um tema a outro, durante grande parte de sua vida. Médico medíocre, não conseguiu se desenvolver profissionalmente, o que o levou a basear sua vida na discussão, em última instância, dele mesmo.
A maior parte de seus trabalhos foi derivada unicamente da pseudo compreensão que ele supunha ter de si mesmo e que, talvez por pura vaidade, extrapolava para o ser humano como verdades absolutas, inquestionáveis e não sujeitas à crítica científica. Em ser assim, o que criou resume-se a princípios e crenças dogmáticas, cuja validade é muito questionável.
Isso não é ciência, é a definição de doutrina, inquestionável, absoluta, dogmática, comparável ao que fazia a igreja católica na Inquisição. Mais que isso, enquadra-se perfeitamente na definição de seita, conceito utilizado para designar, em princípio, simplesmente qualquer doutrina, ideologia ou sistema que divirja da correspondente doutrina ou sistema dominante, bem como também para designar o próprio conjunto de pessoas (o grupo organizado ou movimento aderente a tal doutrina, ideologia ou sistema), os quais, conquanto divergentes da opinião geral, apresentam significância social.
Seita é conceito sempre relativo em termos circunstanciais de espaço-tempo e de grau de abrangência cultural e/ou populacional. Freud não criou ciência, mas sim uma doutrina.
Como médico, suas atribuições eram o estudo da anatomia e da histologia do cérebro humano. Entretanto, Freud perambulou por diversas áreas sem demonstrar qualquer capacidade criativa científica nos empregos que teve.
Preocupava-se mais em encontrar uma forma de ganhar dinheiro, prestígio e ser internacionalmente reconhecido como um gênio, características muito parecidas a outros grandes líderes doutrinários de sua época, que também alcançaram a fama, embora por caminhos diferentes.
Depois de várias desilusões com o estudo dos efeitos terapêuticos da hipnose e, principalmente do uso da cocaína que também consumia regularmente, (ao tratar um colega levou-o à morte por overdose), Freud recebe uma licença e viaja para a França, onde trabalha com Charcot, um respeitável psiquiatra que estudava a histeria, no hospital Saltpêtrière.
Como um pesquisador da área médica, Freud foi um dos primeiros usuários e proponentes da cocaína como um estimulante, bem como analgésico. Ele escreveu vários artigos sobre as qualidades terapêuticas (antidepressivas) da substância.
Freud cria o termo "psicanálise" para designar um método para investigar os processos inconscientes e de outro modo inacessíveis do psiquismo. Seu primeiro caso clínico relatado descreve o tratamento dado a uma mulher que demonstrava vários sintomas clássicos de histeria.
O método de tratamento consistia na chamada "cura pela fala" ou "cura catártica", na qual a paciente discutia sobre as suas associações com cada sintoma e, com isso, os fazia desaparecer. A bibliografia sobre Freud confirma que, para postular o que chamava de Psicanálise, ele tinha “tratado” e analisado apenas cinco pacientes.
Esta técnica tornou-se o centro das buscas de Freud, que também acreditava que as memórias ocultas ou "reprimidas" nas quais se baseavam os sintomas de histeria eram sempre de natureza sexual.
A classe médica em geral acaba por marginalizar as ideias de Freud que então se dedica a anotar e analisar seus próprios sonhos, remetendo-os à própria infância e, no processo, determinando as raízes de suas neuroses.
Durante o curso desta autoanálise, Freud chega à conclusão de que seus problemas eram devidos a uma atração por sua mãe e a uma hostilidade por seu pai.
É o famoso "complexo de Édipo", que se torna o coração da teoria de Freud sobre a origem da neurose em todos os seus pacientes
Em suas teorias, Freud afirma que os pensamentos humanos são desenvolvidos, obtendo acesso à inconsciência, por processos diferenciados, relacionando tal ideia à de que a sistemática do cérebro trabalha essencialmente com o campo da semântica, isto é, a mente desenvolve os pensamentos num sistema intrincado de linguagem baseados em imagens, as quais são meras representações de significados latentes.
Como ele chegou a essa conclusão nunca foi explicado e não existem evidências científicas sobre esse assunto ou o que, em última instância, ele quis dizer com isso.
O fenômeno representacional psíquico está relacionado ao sistema nervoso humano. As representações, segundo Freud, são analógicas e imagéticas. Estas se inter-relacionam através de redes associativas. As redes associativas das representações são provenientes do processo fisiológico cerebral, o qual se baseia em uma rede de neurônios.
Esse processo ocorre através de um mecanismo reflexo: a informação parte por uma rede associativa de neurônios até chegar à região motora e sensorial. Ela provoca então, modificações nas células centrais, causando a formação das representações.
Enquanto elementos, as representações são originadas da percepção sensorial do indivíduo. São unidades mentais tanto de objetos, como de situações, sensações, relações. A representação de objeto é “... um complexo de associações, formado por uma grande variedade de apresentações visuais, acústicas, táteis, sinestésicas e outras".
As emoções, por exemplo, são processos de descarga de energia, que são percebidos como sentimentos. São as chamadas representações imagéticas, que não formam imagens psíquicas, e sim traços mnésicos de sensações.
É preciso destacar que as relações entre as representações não são a demonstração e a manifestação dos sentimentos, dos afetos, das emoções.
As relações entre os tipos de representação formam as ideias, ou seja, as relações associativas contidas nas representações de objeto, captadas pelos processos perceptivos formando a complexidade de sensações associadas e dando origem a uma representação completa. Portanto, um único objeto representado na mente é constituído por seus vários aspectos sensoriais da realidade externa.
Segundo Freud, o processo de pensamento é a ativação ou inibição dos complexos de sensações associadas que torna possível o fenômeno representacional psíquico, o que se dá através da energia que flui no sistema nervoso pelos sistemas de neurônios. Podemos distinguir, neste processamento, um primário e um secundário.
Ligado ao inconsciente, o processamento primário do pensamento é aquele que dirige ações imediatas ou reflexas, sendo associado, assim, ao prazer, ao emocional do indivíduo e ao fenômeno de arco-reflexo. Nele, a energia presente no aparelho mental flui livremente pelas representações, do polo do estímulo ao da resposta.
O processo de pensamento secundário, por outro lado, está associado ao pré-consciente, também chamado de "ação interiorizada" ou, ainda, de "processo racional do pensamento". Nele, o escoamento de energia mental fica retido, só acontecendo após uma série de associações, as quais se refletem no aparelho psíquico.
As ações decorrentes dessa forma de processamento devem ser tomadas com base no mundo externo, no contexto em que a pessoa se encontra e em seus objetivos. Assim, ao contrário da energia do processo primário, que é livre, a energia do secundário é condicional.
Freud não só desenvolve sua teoria sobre o inconsciente da mente humana, como articula o conteúdo do inconsciente ao ato da fala, especialmente aos atos falhos. Para Freud, a consciência humana subdivide-se em três níveis, Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente – o primeiro contém o material perceptível; o segundo o material latente, mas passível de emergir à consciência com certa facilidade e o terceiro contém o material de difícil acesso, isto é, o conteúdo mais profundo da mente do homem, que está ligado aos instintos primitivos.
Os níveis de consciência estão distribuídos entre as três entidades que formam a mente humana, ou seja, o Id, o Ego e o Superego.
Portanto, as representações de ideias inconscientes manifestam-se nos sonhos como símbolos imagéticos, tanto metafóricos quanto metonímicos. Aplicando o conceito à fala, o inconsciente consegue expelir ideias recalcadas através das piadas ou atos falhos.
Freud propõe que as piadas ou as “trocas de palavras por acidente” nem sempre são inócuas. Antes, são mecanismos da fala que articulam ideias aparentes com ideias reprimidas, são meios pelos quais é possível exprimir os instintos primitivos.
A análise da fala seria um caminho psicanalítico para investigar os desejos ocultos do homem e as causas das psicopatologias. “É na palavra e pela palavra que o inconsciente encontra sua articulação essencial. ”
Uma das mais severas críticas sofridas pelo método psicanalítico foi feita pelo filósofo Karl Popper. Segundo ele, a psicanálise é pseudociência, pois uma teoria seria científica apenas se pudesse ser falseável pelos fatos.
Na época da formulação da psicanálise, a sua "amostra" era bastante limitada; parte dela vinha de sua experiência subjetiva (a sua "autoanálise") e da sua prática clínica, feita na maioria das vezes com pacientes burgueses de uma Áustria vitoriana. Ou seja: uma amostra retirada de contextos bem específicos e que não podem fundamentar a universalidade pretendida pelo autor.
Outra crítica robusta foi feita pelo psiquiatra inglês Willian Sargant. O autor relata suas experiências com pacientes com traumas de guerra, nos quais se deparou com situações onde estes se tornavam altamente sugestionáveis.
O método psicanalítico, segundo Sargant atuaria de forma semelhante a estes fenômenos, o que tornava não críveis os relatos dos pacientes que supostamente confirmavam o pensamento freudiano.
Como a relação psicanalista-paciente pode provocar estados de alta sugestionabilidade, estes estariam, na verdade, expressando as crenças do próprio psicanalista. Outra nos depara com os fundamentos dogmáticos de cunho muito mais próximo ao metafísico e ao religioso do que ao científico.
Acredita-se que o inatismo prevaleceu sobre o behaviorismo, tornando-se a corrente dominante no estudo da mente e da linguagem separadamente, o behaviorismo caiu no esquecimento. Sabe-se hoje que a linguagem, de qualquer tipo, não é pré-requisito para o pensamento.
Outra vez, Freud acaba desmistificado por falta de consistência em suas proposições pseudo-médicas ou pseudo psicológicas.
Uma grande explosão de conhecimento sobre a especialização dos hemisférios surgiu a partir da década de 60, fundamentadas em muitos avanços da medicina alcançados 50 anos antes, com pesquisas que levaram o psicólogo americano Roger Sperry a merecer o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia por seus estudos sobre a especialização hemisférica e as comissuras cerebrais.
Não se pode deixar de perguntar: Onde andava Freud quando contemporâneos seus faziam importantes descobertas na Medicina, na Fisiologia, na Anatomia, só para citar algumas.
Porque será que ele “não tinha acesso” aos trabalhos científicos de Broca, Wertheimer, Benton, Wernicke, Korsakoff, Wundt e James, só para citar alguns.
Concluindo sobre Freud pouco resta a acrescentar. Talvez caiba outra comparação que por mais forte que possa parecer mostra o resultado do pensamento de mentes megalomaníacas que nas palavras de Bertrand Russel “diferenciam-se do narcisismo pelo fato de preferirem o poder ao charme, serem temidos a serem amados. A esse grupo pertencem os lunáticos e a maioria dos ‘grandes homens’ da história”.
Neurociência
Se analisarmos os fundamentos científicos da neuropsicologia, veremos que neles estão presentes muitos dos pensamentos cartesianos e de nenhuma maneira colidem com a visão holística dominante.
É surpreendente constatar que muito da teoria do pensamento complexo já estava presente na obra de Descartes. Complexidade essa fundamental à sustentação científica das neurociências.
“Penso, logo existo” – A famosa frase, dita pelo filósofo e matemático francês René Descartes no século XVII, representa a importância de uma parte muito especial do organismo humano.
Devemos cada uma de nossas experiências, opiniões, memórias, sentimentos, sonhos, instintos e tudo que aprendemos ao nosso sistema nervoso e suas conexões. Não nos damos conta disso até que paramos para pensar sobre como a nossa mente funciona.
Neurociência é o estudo científico do sistema nervoso. Tradicionalmente, a neurociência tem sido vista como um ramo da biologia. Entretanto, atualmente ela é uma ciência interdisciplinar que colabora com outros campos como a educação, química, ciência da computação, engenharia, antropologia, linguística, matemática, medicina e disciplinas afins, filosofia, física e psicologia.
O termo neurobiologia é usualmente usado alternadamente com o termo neurociência, embora o primeiro se refira especificamente a biologia do sistema nervoso, enquanto o último se refere à inteira ciência do sistema nervoso.
O escopo da neurociência tem sido ampliado para incluir diferentes abordagens usadas para estudar os aspectos moleculares, celulares, de desenvolvimento, estruturais, funcionais, evolutivos, e médicos do sistema nervoso, ainda sendo ampliado para incluir a cibernética como estudo da comunicação e controle no animal e na máquina com resultados fecundos para ambas áreas do conhecimento.
As técnicas usadas pelos neurocientistas têm sido expandidas enormemente, com contribuições desde estudos moleculares e celulares de neurônios individuais até do "imageamento" de tarefas sensoriais e motoras no cérebro.
Avanços teóricos recentes na neurociência têm sido auxiliados pelo estudo das redes neurais ou com apenas a concepção de circuitos (sistemas) e processamento de informações que se tornam modelos de investigação com tecnologia biomédica e/ou clínica.
Dado o número crescente de cientistas que estudam o sistema nervoso, proeminentes organizações de neurociência têm sido formadas para prover um fórum para todos os neurocientistas e educadores.
Múltiplas inter-relações entre esses diversos métodos e possibilidades de estudos são possíveis, contudo ainda não existe grandes teorias que façam da neurociência uma única teoria ou método científico.
Uma forma distinta de conceber a diversidade de metodologias com que podemos estudar o cérebro é, como proposto por Lent, acompanhar, em princípio os distintos níveis anatômicos – funcionais que a biologia utiliza para o estudo dos seres vivos.
Estabelecendo então: Neurociência molecular; Neurociência celular como níveis de análise equivalentes as bem estabelecidas disciplinas da bioquímica e citologia; A Neurociência sistêmica orientada pelos princípios histológicos, estruturais e funcionais dos aparelhos e sistemas orgânicos.
A Neurociência comportamental em princípio acompanha os níveis de organização básica do indivíduo ou seu comportamento equivalendo aos estudos da Psicobiologia ou Psicofisiologia e finalmente a Neurociência cognitiva ou estudo das capacidades mentais mais complexas, típicas do animal humano como a linguagem, autoconsciência etc. que também pode ser chamada de Neuropsicologia.
Se não considerarmos que o conhecimento de métodos de tratamento invasivo como trepanações das medicinas antigas e pré-colombianas; utilização de plantas psicoativas e outras técnicas de modificação da consciência e anestesia (similares à yoga e acupuntura), fazem parte da neurociência, podemos tomar como data de criação desta interdisciplina a publicação De morbis nervorum em 1735, de autoria do médico holandês Herman Boerhaave (1668 - 1738), considerado o primeiro tratado de neurologia.
Pode-se ainda marcar seu início com a descoberta da função cerebral 19 atribuída ao grego Alcmaeon da escola Pitagórica de Croton em torno de 500 aC, que discorreu sobre as funções sensitivas deste.
Suas observações foram confirmadas por Herófilo, um dos fundadores da escola de medicina de Alexandria (século III aC.), que descreveu asmeninges e a rete mirabile (rede maravilhosa) de nervos (distinguindo este dos vasos) e medula com suas conexões com cérebro, cujo conhecimento foi sistematizado e demonstrado empiricamente, através do corte seletivo de nervos, por Galeno (130-211 aC.).
Para Bear o estudo do encéfalo é tão antigo quanto a ciência e entre as disciplinas que o estudam inclui a matemática, destacando ainda as reflexões de Hipócratessobre esse órgão no clássico da medicina, atribuído a ele, "Acerca das doenças sagradas" (Hipócrates Séc V a.C.). O homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas do encéfalo, vem a alegria, o prazer, o riso, e a diversão, o pesar e o ressentimento, o desânimo e a lamentação...por esse mesmo órgão tornamo-nos loucos e delirantes, e medos e terrores nos assombram...
Nesse sentido sou da opinião de que o encéfalo exerce o maior poder sobre o homem. Ressalta, porém que a palavra neurociência é jovem e que a primeira associação de neurociência foi fundada somente em 1970.
Conclusões
Embora o livro de Damásio já tenha sido escrito há vinte anos, creio que essa crítica ainda é válida visto que até hoje repercutem as afirmações que fez sobre Descartes e, por suposto influenciam como influenciaram nas últimas duas décadas milhares de pessoas que, menos avisadas tomaram como dogmáticas sua visão sobre a obra de Descartes.
Nesse texto minha intenção foi a de rever a obra de Descartes e, principalmente, buscar a sustentação filosófica que viriam a fundamentar o que eu já supunha. Errado estava Damásio ao discursar sobre o “erro” de Descartes.
Não será verdade que os erros de alguns impulsionam os acertos de muitos outros? Não é verdade que ciência se constrói de erros e acertos? Não será para isso importante a existência de uma epistemologia que dite os parâmetros da ciência?
São muitas as perguntas a fazer sobre o porque da obra de Damásio. Talvez por isso pareceu-me interessante rever de forma muito sucinta o avanço do pensamento filosófico que norteou não só as bases epistemológicas das ciências, mas, por outro lado, mostrar de onde veio o pensamento cartesiano e sua influência ao longo dos tempos em diversas áreas da ciência.
Interessante é ver que esse pensamento, depois de comprovadamente importante para tantos avanços da humanidade, vai desembocar exatamente naquela que é a especialidade maior do Dr. Damásio – A Neurociência em sua visão mais moderna, complexa e cada vez mais perto de desvendar os mistérios ainda por conhecer sobre o ser humano.
Ao rever o índice, o leitor perceberá que em todos os assuntos abordados, pode-se encontrar, de forma direta ou indireta, o pensamento cartesiano.
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