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8/11/2015

A Bíblia para o Dependente Químico - Os Evangelhos

Novo Testamento


Os Evangelhos




Evangelho de Mateus

Autor

Este Evangelho é conhecido como o Evangelho de Mateus porque foi escrito pelo apóstolo do mesmo nome. O estilo do livro é exatamente o que seria esperado de um homem que já foi um cobrador de impostos. 

Mateus tem um grande interesse em contabilidade (18:23-24; 25:14-15). O livro é muito ordenado e conciso. Ao invés de escrever em ordem cronológica, Mateus organiza este Evangelho através de seis discursos.

Como cobrador de impostos, Mateus tinha uma habilidade que torna seus escritos ainda mais emocionantes para os cristãos. Esperava-se que os coletores de impostos fossem capazes de escrever em uma forma de taquigrafia, o que essencialmente significa que Mateus podia gravar as palavras de uma pessoa à medida que falavam, palavra por palavra. 

Essa capacidade significa que as palavras de Mateus não são apenas inspiradas pelo Espírito Santo, mas devem representar uma transcrição real de alguns dos sermões de Cristo. Por exemplo, o Sermão da Montanha, como registrado nos capítulos 5-7, é quase certamente uma gravação perfeita daquela grande mensagem.

Quando foi escrito

Como um apóstolo, Mateus escreveu este livro no início do período da igreja, provavelmente por volta de 50 d.C. Essa foi uma época em que a maioria dos cristãos eram judeus convertidos, assim, o foco de Mateus na perspectiva judaica neste evangelho é compreensível.

Propósito

Mateus tem a intenção de provar aos judeus que Jesus Cristo é o Messias prometido. Mais do que qualquer outro evangelho, Mateus cita o Antigo Testamento para mostrar como Jesus cumpriu as palavras dos profetas judeus. 

Mateus descreve em detalhes a linhagem de Jesus desde Davi e usa muitas expressões familiares aos judeus. O amor e preocupação de Mateus por seu povo é visível através de sua abordagem minuciosa de contar a história do evangelho.

Versículos-chave

Mateus 5:17

“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. ”

Mateus 5:43-44

“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. ”

Mateus 6:9-13

“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal {pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém}! ”

Mateus 16:26

“Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma? ”

Mateus 22:37-40

“Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas. ”

Mateus 27:31

“Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto e o vestiram com as suas próprias vestes. Em seguida, o levaram para ser crucificado. ”

Mateus 28:5-6

“Mas o anjo, dirigindo-se às mulheres, disse: Não temais; porque sei que buscais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver onde ele jazia. ”

Mateus 28:19-20

“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século. ”

Resumo

Mateus discute a linhagem, nascimento e início da vida de Cristo nos dois primeiros capítulos. Daí o livro discute o ministério de Jesus. As descrições dos ensinamentos de Cristo estão organizadas na forma de "discursos", como o Sermão da Montanha nos capítulos 5 a 7. 

Capítulo 10 envolve a missão e propósito dos discípulos; capítulo 13 é uma coleção de parábolas, capítulo 18 discute a igreja, capítulo 23, começa um discurso sobre hipocrisia e o futuro. Os capítulos 21 a 27 discutem a prisão, tortura e execução de Jesus. O capítulo final descreve a ressurreição e a Grande Comissão.

Conexões

Como o objetivo de Mateus é apresentar Jesus Cristo como Rei e Messias de Israel, ele cita o Antigo Testamento mais do que os outros três escritores dos evangelhos. Mateus cita mais de 60 vezes passagens proféticas do Antigo Testamento, demonstrando como Jesus as cumpriu. Ele começa seu evangelho com a genealogia de Jesus, traçando sua linhagem até Abraão, o progenitor dos judeus. 

De lá, Mateus cita extensivamente os profetas, muitas vezes utilizando a frase "como foi dito pelo (s) profeta (s)" (Mateus 1:22-23, 2:5-6, 2:15, 4:13-16, 8 :16-17, 13:35, 21:4-5). Estes versículos referem-se às profecias do Antigo Testamento acerca do Seu nascimento virginal (Isaías 7:14) em Belém (Miqueias 5:2), Seu retorno do Egito após a morte de Herodes (Oseias 11:1), Seu ministério aos gentios (Isaías 9:1-2; 60:1-3), Suas curas milagrosas do corpo e alma (Isaías 53:4), Suas lições na forma de parábolas (Salmos 78:2) e Sua entrada triunfal em Jerusalém (Zacarias 9:9).

Aplicação Prática

O Evangelho de Mateus é uma excelente introdução aos ensinamentos fundamentais do Cristianismo. O estilo lógico do esquema facilita a localização das discussões de vários temas. Mateus é especialmente útil para a compreensão de como a vida de Cristo foi o cumprimento das profecias do Antigo Testamento.

Seus compatriotas judeus eram a audiência a quem se dirigia Mateus e muitos deles -- especialmente os fariseus e saduceus -- teimosamente recusaram-se a aceitar Jesus como seu Messias. Apesar de séculos lendo e estudando o Antigo Testamento, seus olhos estavam cegos para a verdade de quem era Jesus. Jesus os repreendeu por seus corações duros e sua recusa em reconhecer Aquele por quem supostamente estavam aguardando (João 5:38-40). 

Eles queriam um Messias em seus próprios termos, uma pessoa que cumprisse os seus próprios desejos e fizesse o que eles quisessem. Quantas vezes buscamos a Deus em nossos próprios termos? Não o rejeitamos quando lhe atribuímos apenas os atributos que consideramos aceitáveis, aqueles que nos fazem sentir bem -- Seu amor, misericórdia, graça -- enquanto rejeitamos aqueles que consideramos ofensivos -- Sua raiva, justiça e ira santa? 

Que não nos atrevamos a cometer o erro dos fariseus, criando Deus em nossa própria imagem e em seguida esperar que Ele viva de acordo com nossos padrões. Tal deus é nada mais do que um ídolo. A Bíblia nos dá informação mais do que suficiente sobre a verdadeira natureza e identidade de Deus e de Jesus Cristo para justificar a nossa adoração e a nossa obediência.

Este Evangelho, transmitido em grego pela Igreja, deve ter sido escrito originariamente em aramaico, a língua falada por Jesus. O texto atual reflete tradições hebraicas, mas ao mesmo tempo testemunha uma relação grega. 

O vocabulário e as tradições fazem pensar em crentes ligados ao ambiente judaico; apesar disso, não se pode afirmar, sem mais, a sua origem palestinense. 

Geralmente pensa-se que foi escrito na Síria, talvez em Antioquia ou na Fenícia, onde viviam muitos judeus, por deixar entrever uma polêmica declarada contra o judaísmo farisaico. Atendendo a elementos internos e externos ao livro, o atual texto pode datar-se dos anos 80-90, ou seja, algum tempo após a destruição de Jerusalém.

Autor

Embora este evangelho não identifique seu autor, a antiga tradição da igreja o atribui a Mateus, o apóstolo e antigo cobrador de impostos. Pouco se sabe sobre ele, além de seu nome e ocupação. A tradição diz que, nos quinze anos após ressurreição de Jesus, ele pregou na Palestina e depois conduziu campanhas missionárias em outras nações.

Data

Evidências externas, como citações na literatura cristã do Séc I, testemunham desde cedo a existência e o uso de Mt. Líderes da igreja do Séc. II e III geralmente concordavam que Mt foi o primeiro Evangelho a ser escrito, e várias declarações em seus escritos indicam uma data entre 65 e 70 d.C.

Conteúdo

O objetivo de Mt é evidente na estrutura deste livro, que agrupa os ensinamentos e atos de Jesus em cinco partes. Este tipo de estrutura, comum ao judaísmo, pode revelar o objetivo de Mt em mostrar Jesus como o cumprimento da lei. Cada divisão termina com uma fórmula como: “Concluindo Jesus estes discursos…” (7.28; 11.1; 13.53; 19.1; 26.1).

No prólogo (1.1-2.23), Mt mostra que Jesus é o Messias ao relacioná-lo às promessas feitas a Abraão e Davi. O nascimento de Jesus salienta o tema do cumprimento, retrata a realeza de Jesus e sublinha a importância dele para os gentios.

A primeira parte (caps. 3-7) contém o Sermão da Montanha, no qual Jesus descreve como as pessoas devem viver no Reino de Deus.

A Segunda parte (8.1-11.1) reproduz as instruções de Jesus a seus discípulos quando ele os enviou para a viagem missionária.

A Terceira parte (11.2-13.52) registra várias controvérsias nas quais Jesus estava envolvido e sete parábolas descrevendo algum aspecto do Reino dos céus, em conexão com a resposta humana necessária.

A Quarta parte (13.53-18.35) o principal discurso aborda a conduta dos crentes dentro da sociedade cristã (cap. 18).

A quinta Parte (19.1-25.46) narra a viagem final de Jesus a Jerusalém e revela seu conflito com o judaísmo. Os caps. 24-25 contêm os ensinamentos de Jesus relacionados à últimas coisas. O restante do Livro (26.1-28.20) detalha acontecimentos e ensinamentos relacionados à crucificação, à ressurreição e à comissão do Senhor à Igreja. 

A não ser no início e no final do Evangelho, a disposição de Mt não é cronológica e não estritamente biográfica, mas foi planejada para mostrar que o Judaísmo encontra o cumprimento de suas esperanças em Jesus.

Composição literária

MATEUS recorre a fontes comuns a Mc e Lc, mas apresenta uma narração muito diferente, quer pela amplitude dos elementos próprios, quer pela liberdade com que trata materiais comuns. 

O conhecimento dos processos e os modos próprios de escrever de MATEUS são de grande importância para a compreensão do livro atual: compilação de palavras e de factos, de “discursos” e de milagres; recurso a certos números (7, 3, 2); paralelismo sinonímico e antitético; estilo hierático e catequético; citações da Escritura, etc.

Teologia

Escrevendo entre judeus e para judeus, MATEUS procura mostrar como na pessoa e na obra de Jesus se cumpriram as Escrituras, que falavam profeticamente da vinda do Messias. 

A partir do exemplo do Senhor, reflete a praxe eclesial de explicar o mistério messiânico mediante o recurso aos textos da Escritura e de interpretar a Escritura à luz de Cristo. 

Esta característica marcante contribui para compreender o significado do cumprimento da Lei e dos Profetas: Cristo realiza as Escrituras, não só cumprindo o que elas anunciam, mas aperfeiçoando o que elas significam (5,17-20). Assim, os textos da Escritura neste Evangelho confirmam a fidelidade aos desígnios divinos e, simultaneamente, a novidade da Aliança em Cristo.

Nele ressaltam cinco blocos de palavras ou “discursos” de Jesus: 5,1-7,28; 8,1-10,42; 11,1-13,52; 13,53-18,35; 19,1-25,46. Ocupam um importante lugar na trama do livro, tendo a encerrá-los as mesmas palavras (7,28), e apresentam sucessivamente: “a justiça do Reino” (5-7), os arautos do Reino (10), os mistérios do Reino (13), os filhos do Reino (18) e a necessária vigilância na expectativa da manifestação última do Reino (24-25).

Desde o séc. II, o Evangelho de MATEUS foi considerado como o “Evangelho da Igreja”, em virtude das tradições que lhe dizem respeito e da riqueza e ordenação do seu conteúdo, que o tornavam privilegiado na catequese e na liturgia. O Reino proclamado por Jesus como juízo iminente é, antes de mais, presença misteriosa de salvação já atuante no mundo. 

Na sua condição de peregrina, a Igreja é “o verdadeiro Israel” onde o discípulo é convidado à conversão e à missão, lugar de tensão ética e penitente, mas também realidade sacramental e presença de salvação. Não identificando a Igreja com o Reino do Céu, MATEUS continua hoje a recordar-lhe o seu verdadeiro rosto: uma instituição necessária e uma comunidade provisória, na perspectiva do Reino de Deus.

Como os outros Evangelhos, o de MATEUS refere a vida e os ensinamentos de Jesus, mas de um modo próprio, explicitando a cristologia primitiva: em Jesus de Nazaré cumprem-se as profecias; Ele é o Salvador esperado, o Emanuel, o “Deus conosco” (1,23) até à consumação da História (28,20); é o Mestre por excelência que ensina com autoridade e interpreta o que a Lei e os Profetas afirmam acerca do Reino do Céu (= Reino de Deus); é o Messias, no qual converge o passado, o presente e o futuro e que, inaugurando o Reino de Deus, investe a comunidade dos discípulos – a Igreja – do seu poder salvífico.

Assim, no coração deste Evangelho o discípulo descobre Cristo ressuscitado, identificado com Jesus de Nazaré, o Filho de David e o Messias esperado, vivo e presente na comunidade eclesial.

Cristo revelado

Este Evangelho apresenta Jesus como o cumprimento de todas as expectativas e esperanças messiânicas.

Mt estrutura cuidadosamente suas narrativas para revelar Jesus como cumpridor de profecias específicas. Portanto, ele impregna seu Evangelho tanto com citações quanto com alusões ao AT, introduzindo muitas delas com a fórmula “para que se cumprisse”.

No Evangelho. Jesus normalmente faz alusão a si mesmo como o Filho do Homem, uma referência velada ao seu caráter messiânico (Dn 7.13,14). O termo não somente permitiu a Jesus evitar mal-entendidos comuns originados de títulos messiânicos populares, como possibilitou-lhe interpretar tanto sua missão de redenção (como em 17.12,22; 20.28; 26.24) quanto seu retorno na glória (como em 13.41; 16.27; 19.28; 24.30,44; 26.64).

O uso do título “Filho de Deus” por Mt sublinha claramente a divindade de Jesus (1.23; 2.15; 3.17; 16.16). Como o Filho, Jesus tem um relacionamento direto e sem mediação com o Pai (11.27).

Mt apresenta Jesus como o Senhor e Mestre da igreja, a nova comunidade, que é chamada a viver nova ética do Reino dos céus. Jesus declara: “a igreja” como seu instrumento selecionado para cumprir os objetivos de Deus na Terra (16.18; 18.15-20). O Evangelho de Mt pode ter servido como manual de ensino para a igreja antiga, incluindo a surpreendente Grande Comissão (28.12-20), que é a garantia da presença viva de Jesus.

O Espírito Santo em ação

A atividade do ES é evidente em cada fase e ministério de Jesus. Foi por meio do poder do Espírito que Jesus foi concebido no ventre de Maria (1.18-20).

Antes de Jesus começar seu ministério público, ele foi tomado pelo Espírito de Deus (3.16) e foi conduzido ao deserto para ser tentado pelo diabo como preparação adicional a seu papel messiânico (4.1). O poder do Espírito habilitou Jesus a curar (12.15-21 e a expulsar demônios (12.28).

Da mesma forma que João imergia seus seguidores na água, Jesus imergirá seus seguidores no ES (3.11). Em 7.21-23, encontramos uma advertência dirigida contra os falsos carismáticos, aqueles que na igreja, profetizam, expulsam demônios e fazem milagres, mas não fazem a vontade do Pai.

Presumivelmente, o mesmo ES que inspira atividades carismáticas também deve permitir que as pessoas da igreja façam a vontade de Deus (7.21)

Jesus declarou que suas obras eram feitas sob o poder do ES, evidenciando que o Reino de Deus havia chegado e que o poder de satanás estava sendo derrotado. Portanto, atribuir o ES ao diabo era cometer um pecado imperdoável (12.28-32).

Em 12.28, o ES está ligado ao exorcismo de Jesus e à presente realidade do Reino de Deus, não apenas pelo fato do exorcismo em si, pois os filhos dos fariseus (discípulos) também praticavam exorcismo (12.27). Mais precisamente, o ES está executando um novo acontecimento com o Messias—”é chegado a vós o Reino de Deus” (v.28).

Finalmente, o ES é encontrado na Grande Comissão (28.16-20). Os discípulos são ordenados a ir e a fazer discípulos de todas as nações, “batizando-os em nome do Pai, do Filho e do ES” (v.19). Isto é, eles deveriam batizá-los “no/com referência ao “ nome— ou autoridade– do Deus Trino. Em sua obediência a esta missão, os discípulos de Jesus têm garantida sua constante presença com eles.

Esboço de Mateus

· Prólogo: Genealogia e narrativa da infância 1.1-2.23
· Genealogia de Jesus 1.1-17
· O nascimento 1.18-25
· A adoração dos magos 2.1-12
· Fuga para o Egito e matança nos inocentes, a volta para Israel 2.13-13
· Parte um: Proclamação do Reino dos Céus 3.1-7.29
· Narrativa: Início do Ministério de Jesus 3.1-7.29
· Discurso: O Sermão da Montanha 5.1-7.29
· Parte Dois: O ministério de Jesus na Galileia 8.1-11.1
· Narrativa: Histórias dos dez milagres 8.1-11.1
· Discurso: Missão e martírio 9.35-11.1
· Parte Três: Histórias e parábolas em meio a controvérsias 11.2-13.52
· Narrativa: Controvérsia que se intensificam 11.2-12.50
· Discurso: Parábolas do Reino 13.1-52
· Parte Quatro: Narrativa, controvérsia e discurso 13.53-17.27
· Narrativa: Vários episódios precedentes à jornada final de Jesus em Jerusalém 13.53-17.27
· Discurso: Ensino sobre a igreja 18.1-35
· Parte Cinco: Jesus na Judeia e em Jerusalém 19.1-25.46
· Narrativa: A jornada final de Jesus e a instauração do conflito 19.1-23.39
· Discurso: Os ensinos escatológicos de Jesus 24.1-25.46
· A narrativa da Paixão 26.1-27.66
· A narrativa da ressurreição 28.1-20


Evangelho de Marcos


Autor

Embora o Evangelho de Marcos não identifique o seu autor, os pais da igreja primitiva concordam por unanimidade que Marcos foi o autor. Ele era um associado do Apóstolo Pedro e evidentemente o seu filho espiritual (1 Pedro 5:13). 

De Pedro ele recebeu informações em primeira mão dos acontecimentos e ensinamentos do Senhor, e preservou essas informações em forma escrita.

É geralmente aceito que Marcos é o João Marcos do Novo Testamento (Atos 12:12). Sua mãe era uma Cristã rica e proeminente na igreja de Jerusalém e a igreja provavelmente se reunia em sua casa. 

Marcos se juntou a Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária, mas não na segunda por causa de um forte desentendimento entre os dois homens (Atos 15:37-38). 

No entanto, perto do final da vida de Paulo ele pediu a Marcos para ficar com ele (2 Timóteo 4:11).

Quando foi escrito

O Evangelho de Marcos foi provavelmente um dos primeiros livros escritos no Novo Testamento, provavelmente em 57-59 d.C.

Propósito

Embora Mateus tenha sido escrito principalmente para seus irmãos judeus, o Evangelho de Marcos parece ser direcionado aos crentes romanos, particularmente os gentios. Marcos escreveu como um pastor para os cristãos que já tinham ouvido e acreditado no Evangelho (Romanos 1:8). 

Ele desejava que eles tivessem uma narrativa biográfica de Jesus Cristo como Servo do Senhor e Salvador do mundo a fim de fortalecer a sua fé diante da perseguição severa e ensinar-lhes o que significava ser Seus discípulos.

Versículos-chave

Marcos 1:11

“Então, foi ouvida uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. ”

Marcos 1:17

“Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. ”

Marcos 10:14-15

“Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. ”

Marcos 10:45

“Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. ”

Marcos 12:33

“...e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios. ”

Marcos 16:6

“Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscai a Jesus, o Nazareno, que foi crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui; vede o lugar onde o tinham posto. ”

Marcos 16:15

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. ”

Resumo

Este evangelho é único porque ele enfatiza as ações de Jesus mais do que Seus ensinamentos. É escrito de forma simples, movendo-se rapidamente de um episódio da vida de Cristo para outro. Ele não começa com uma genealogia como em Mateus porque os gentios não estariam interessados em Sua linhagem. 

Após a apresentação de Jesus no Seu batismo, começou Seu ministério público na Galileia e chamou os primeiros quatro de Seus doze discípulos. O que se segue é o registro da morte, vida e ressurreição de Jesus.

O relato de Marcos não é apenas uma coleção de histórias, mas uma narrativa escrita para revelar que Jesus era o Messias, não só para os judeus, mas para os gentios também. Em uma profissão dinâmica, os discípulos, liderados por Pedro, assumiram a sua fé nEle (Marcos 8:29-30), embora não tenham compreendido plenamente Sua messianidade até depois da Sua ressurreição.

Ao seguirmos Suas viagens pela Galileia, áreas circundantes e então para a Judeia, percebemos quão rápido o ritmo foi estabelecido. Ele tocou a vida de muitas pessoas, mas deixou uma marca indelével em seus discípulos. Na transfiguração (Marcos 9:1-9), Ele deu a três deles uma visualização do Seu retorno futuro em poder e glória, e mais uma vez lhes foi revelado quem Ele era.

No entanto, nos dias que antecederam a Sua última viagem a Jerusalém, vemo-los desnorteados, com medo e duvidando. Quando Jesus foi preso, Ele ficou sozinho depois que todos fugiram. Nas horas seguintes, durante os julgamentos simulados, Jesus proclamou ousadamente que Ele era o Cristo, o Filho do Abençoado e que Ele seria vitorioso em Sua volta (Marcos 14:61-62). 

Os eventos em torno da crucificação, morte, sepultamento e ressurreição não foram testemunhados pela maioria de Seus discípulos. 

Entretanto, várias mulheres fiéis testemunharam a Sua paixão. Depois do sábado, no início da manhã do primeiro dia da semana, elas foram ao sepulcro com especiarias de enterro. 

Quando viram que a pedra tinha sido movida, elas entraram no túmulo. Não foi o corpo de Jesus que viram, mas um anjo vestido de branco. A mensagem de alegria que receberam foi: "Ele ressuscitou!" As mulheres foram as primeiras evangelistas por espalharem a boa nova da Sua ressurreição. Esta mesma mensagem tem sido transmitida para todo o mundo nos séculos seguintes até nós hoje.

Conexões

Como o público-alvo de Marcos era os gentios, ele não cita o Antigo Testamento com a mesma frequência que Mateus, o qual escreveu principalmente para os judeus. Ele não começa com uma genealogia para ligar Jesus aos patriarcas judeus, mas começa ao invés com o Seu batismo, o início de Seu ministério terrestre. 

Mas mesmo aí, Marcos cita uma profecia do Antigo Testamento sobre o mensageiro, João Batista, o qual exortaria o povo para "preparar o caminho para o Senhor" (Marcos 1:3, Isaías 40:3) enquanto aguardavam a vinda do seu Messias.

Jesus faz referência ao Antigo Testamento em várias passagens em Marcos. Em Marcos 7:6, Jesus repreende os fariseus por sua adoração superficial de Deus com os lábios, enquanto seus corações estavam longe dEle, e se refere ao seu próprio profeta, Isaías, para condená-los de sua dureza de coração (Isaías 29:13). 

Jesus se referiu a uma profecia do Antigo Testamento que era para ser cumprida naquela mesma noite, enquanto os discípulos seriam espalhados como ovelhas sem pastor quando Jesus foi preso e condenado à morte (Marcos 14:27; Zacarias 13:7). 

Jesus referiu-se novamente a Isaías quando purificou o Templo dos cambistas (Marcos 11:15-17, Isaías 56:7, Jeremias 7:11) e então aos Salmos quando Ele explicou que era a pedra angular da nossa fé e da Igreja (Marcos 12:10-11; Salmo 118:22-23).

Aplicação Prática

Marcos apresenta Jesus como o Servo sofredor de Deus (Marcos 10:45) e como Aquele que veio para servir e sacrificar-se por nós, em parte para nos inspirar a fazer o mesmo. Devemos servir como Ele serviu, com a mesma grandeza de humildade e dedicação ao serviço dos outros. 

Jesus exortou-nos a lembrar que para ser grande no reino de Deus, devemos ser o servo de todos (Marcos 10:44). O auto sacrifício deve transcender a nossa necessidade de reconhecimento ou recompensa, assim como Jesus estava disposto a ser humilhado ao oferecer a Sua vida pelas ovelhas.

Resumo do Evangelho de São Marcos

O Evangelho de São Marcos, em linhas gerais, convida o leitor a caminhar com Jesus desde a Galileia até Jerusalém.

Este caminho é marcado por vários conflitos com as Autoridades Judaicas, pelas dúvidas e incompreensões dos Discípulos, pelo triunfo e pelo fracasso.

A preparação desta peregrinação começa com o Batismo de Jesus por João Batista. Jesus inaugura o seu Ministério na Galileia onde chama os primeiros discípulos, fazendo deles, pescadores de Homens.

Percorrendo as aldeias e povoados da Galileia, Jesus faz algumas curas mostrando a Sua Autoridade e o Seu poder. As pessoas, ao verem Jesus e tudo o que Ele fazia, O aclamavam como o “Filho de Deus” embora Jesus não quisesse que isso se tornasse público. Uma constante neste caminho é o conflito com as instituições Judaicas pois a Mensagem de Jesus colidia com as Leis e costumes judaicos.

Na Galileia, Jesus continua a fazer variadas curas e milagres, chama os Doze dando-lhes indicações práticas sobre a sua missão.

Mas este caminho não se detém na Galileia, Jesus necessita de chegar ao Seu derradeiro destino, à Sua meta. No caminho com os Discípulos escolhidos por Ele, Jesus ensina-os através dos variados Milagres, e dos diálogos, mas os Discípulos para compreender realmente o que Jesus dizia, necessitavam de viver os acontecimentos que iriam acontecer em Jerusalém.

Jesus, entrando na Cidade Santa de David, é aclamado como o Verdadeiro Messias, como a Única e Verdadeira Esperança para todo o povo.

No entanto, em Jerusalém, a Autoridade da Sua Palavra choca com as Autoridades Judaicas, com o Templo, com o Império Romano. Era a altura da Festa da Páscoa que Jesus celebrou com os Discípulos. E inicia-se toda a Paixão de Jesus. A entrega de Jesus por Judas, os Discípulos que adormecem no Getsémani não compreendendo o que Jesus estaria a passar, Jesus perante o Sinédrio e perante Pilatos.

“O Rei dos Judeus” – esta foi a causa da sua condenação. Um dos momentos centrais de todo o Evangelho é a Morte de Jesus, junto da Sua cruz encontrava-se um Centurião Romano, um Pagão que perante a Morte de Jesus, revela o segredo que Jesus procurou guardar em todo o este caminho ao afirmar que Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus.

Após o sepultamento de Jesus, ao chegar o primeiro dia da semana, vemos o verdadeiro triunfo deste caminho: Jesus ressuscita aparecendo a Maria de Magdala, a dois Discípulos e por fim, ao Onze Discípulos. Jesus foi arrebatado ao céu e os Discípulos anunciaram a Palavra e a Vida de Jesus.


O Evangelho de Lucas

Autor

O evangelho de Lucas não identifica o seu autor. Com base em Lucas 1:1-4 e Atos 1:1-3, é evidente que o mesmo autor escreveu ambos Lucas e Atos, dirigindo os dois ao "excelentíssimo Teófilo", possivelmente um dignitário romano. 

A tradição desde os primeiros dias da igreja foi que Lucas, um médico e companheiro próximo ao Apóstolo Paulo, escreveu tanto Lucas e Atos (Colossenses 4:14; 2 Timóteo 4:11). Isto faria de Lucas o único gentio a escrever um dos livros da Escritura.

Quando foi escrito

O Evangelho de Lucas foi provavelmente escrito entre 58 e 65 d.C.

Propósito

Assim como os outros dois evangelhos sinóticos, Mateus e Marcos, o propósito deste livro é revelar o Senhor Jesus Cristo e tudo o que Ele "começou a fazer e a ensinar até ao dia em que... foi elevado às alturas" (Atos 1:1-2). O Evangelho de Lucas é único por ser uma narração meticulosa -- uma "exposição em ordem" (Lucas 1:3) compatível com a mente médica de Lucas -- muitas vezes dando detalhes que as outras narrativas omitem. 

A história de Lucas da vida do Grande Médico enfatiza o seu ministério - e compaixão –aos gentios, samaritanos, mulheres, crianças, cobradores de impostos, pecadores e outros considerados marginalizados em Israel.

Versículos-chave

Lucas 2:4-7

“José também subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, para a Judeia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. ”

Lucas 3:16

"...disse João a todos: Eu, na verdade, vos batizo com {com; ou em} água, mas vem o que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias; ele vos batizará com {com; ou em} o Espírito Santo e com {com; ou em} fogo."

Lucas 4:18-19, 21

“O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor. Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir."

Lucas 18:31-33

“Tomando consigo os doze, disse-lhes Jesus: Eis que subimos para Jerusalém, e vai cumprir-se ali tudo quanto está escrito por intermédio dos profetas, no tocante ao Filho do Homem; pois será ele entregue aos gentios, escarnecido, ultrajado e cuspido e, depois de o açoitarem, tirar-lhe-ão a vida; mas, ao terceiro dia, ressuscitará."

Lucas 23:33-34

"Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, {Calvário; no original, caveira} ali o crucificaram, bem como aos malfeitores, um à direita, outro à esquerda. Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem."

Lucas 24:1-3

"Mas, no primeiro dia da semana, alta madrugada, foram elas ao túmulo, levando os aromas que haviam preparado. E encontraram a pedra removida do sepulcro; ao entrarem, não acharam o corpo do Senhor Jesus."

Resumo

Chamado o mais belo livro jamais escrito, Lucas começa contando-nos sobre os pais de Jesus, o nascimento de seu primo (João Batista), a viagem de José e Maria a Belém, onde Jesus nasceu numa manjedoura, e a genealogia de Cristo através de Maria. O ministério público de Jesus revela a Sua perfeita compaixão e perdão através das narrativas do filho pródigo, do homem rico e Lázaro e do Bom Samaritano. 

Enquanto muitos acreditam nesse amor sem preconceitos que ultrapassa todos os limites humanos, muitos outros -- especialmente os líderes religiosos -- desafiam e opõem-se às reivindicações de Jesus. 

Os seguidores de Cristo são incentivados a contar o custo do discipulado, enquanto que seus inimigos buscam a Sua morte na cruz. Por fim, Jesus é traído, julgado, condenado e crucificado. Entretanto, a sepultura não pode prendê-lo! Sua ressurreição garante a continuação do seu ministério de buscar e salvar o perdido.

Conexões

Como um gentio, as referências de Lucas ao Antigo Testamento são relativamente poucas em relação ao evangelho de Mateus, e a maioria das referências do Antigo Testamento estão nas palavras ditas por Jesus em vez de na narração de Lucas. 

Jesus usou o Antigo Testamento para se defender contra os ataques de Satanás, respondendo-lhe com "Está escrito" (Lucas 4:1-13); para identificar-se como o Messias prometido (Lucas 4:17-21); para lembrar os fariseus de sua incapacidade de manter a lei e da necessidade de um Salvador (Lucas 10:25-28, 18:18-27); e para confundir o seu conhecimento quando tentaram enganá-lo e prová-lo (Lucas 20).

Aplicação Prática

Lucas nos dá um belo retrato do nosso Salvador compassivo. Jesus não se sentia "incomodado" pelos pobres e necessitados, na verdade, eles eram o foco principal de Seu ministério. Nos tempos de Jesus, Israel era uma sociedade muito consciente de suas classes sociais. 

Os fracos e oprimidos eram literalmente impotentes para melhorar sua sorte na vida e estavam especialmente abertos à mensagem de que "a vós outros está próximo o reino de Deus" (Lucas 10:9). 

Esta é uma mensagem que devemos levar para aqueles ao nosso redor que desesperadamente precisam ouvi-la. Até mesmo em países relativamente ricos -- talvez especialmente por isso -- a necessidade espiritual é tremenda. Os cristãos devem seguir o exemplo de Jesus e levar as boas novas da salvação para os espiritualmente pobres e necessitados. O reino de Deus está próximo e o tempo fica cada vez mais curto a cada dia.

O terceiro Evangelho é atribuído a Lucas, que também é o autor dos Atos dos Apóstolos. Segue os usos dos historiógrafos do seu tempo, mas a história que ele deseja apresentar é uma história iluminada pela fé no mistério da Paixão e Ressurreição do Senhor Jesus. O seu livro é um Evangelho, uma história santa, uma obra que apresenta a Boa-Nova da salvação centrada na pessoa de Jesus Cristo.

Tanto o estilo quanto a linguagem oferecem evidências convincentes de que a mesma pessoa escreveu Lucas e Atos. “O primeiro tratado” At 1.1 é, então provavelmente, uma referência ao terceiro evangelho, como o primeiro de uma série de dois volumes. E o fato de o escrito dedicar ambos os livros a Teófilo também demonstra solidamente uma autoria comum. 

Visto que a tradição de igreja atribui com unanimidade essas duas obras a Lucas, o médico, um companheiro próximo de Paulo (Cl 4.14; Fm 24; 2Tm 4.11), e, como as evidências internas sustentam esse ponto de vista, não há motivos para contestar a autoria de Lucas.

Dedicatória

O livro é dedicado a Teófilo, mas destina-se a leitores cristãos de cultura grega, como se vê pela língua, pelo cuidado em explicar a geografia e usos da Palestina, pela omissão de discussões judaicas, pela consideração que tem pelos gentios.

Segundo uma tradição antiga (Santo Irineu), o autor é Lucas, médico, discípulo de Paulo. Pelas suas características, este Evangelho encontra-se mais próximo da mentalidade do homem moderno: pela sua clareza, pelo cuidado nas explicações, pela sensibilidade e pela arte do seu autor. 

LUCAS mostra o Filho de Deus como Salvador de todos os homens, com particular atenção aos pequeninos, pobres, pecadores e pagãos. Para ele, o Senhor é Mestre de vida, com todas as suas exigências e com o dom da graça, que o discípulo só pode acolher de coração aberto.

Por isso, Lucas é o Evangelho da Salvação universal, anunciada pelo Profeta dos últimos tempos que convida discípulos profetas, aos quais envia o Espírito Santo, para que, por sua vez, sejam os profetas de todos os tempos e lugares (Lc 24,45-49; Act 1,8).

Data

Eruditos que admitem que Lucas usou o Evangelho de Marcos como fonte para escrever seu próprio relato datam Lc por volta do ano 70 d.C. Outros, entretanto, salientam que Lucas o escreveu antes de At, que ele escreveu durante o primeiro encarceramento de Paulo pelos romanos, cerca de 63 d.C. 

Como Lucas estava em Cesaréia de Filipe durante os dois anos em que Paulo ficou preso lá (At 27.1), ele teria uma grande oportunidade durante aquele tempo para conduzir investigações que ele menciona em 1.1-4. Se for este o caso, então o Evangelho de Lc pode ser datado por volta de 59-60 d.C., mas no máximo até 75 d.C.

Conteúdo

Uma característica distinta do Evangelho de Lc é sua ênfase na universalidade da mensagem cristã. Do cântico de Simeão, louvando Jesus como “luz… Para as nações” (2.32) ao comissionamento do Senhor ressuscitado para que se “pregasse em todas as nações” (24.47), Lc realça o fato de que Jesus não é apenas o Libertador dos judeus, mas também o Salvador de todo o mundo.

A fim de sustentar esse tema, Lc omite muito material que é estritamente de caráter judaico. Por exemplo, ele não inclui o pronunciamento de condenação de Jesus aos escribas e fariseus (Mt 23), nem a discussão sobre a tradição judaica (Mt 15.1-20; Mc 7.1-23). Lc também exclui os ensinamentos de Jesus no Sermão da Montanha que tratam diretamente do seu relacionamento com a lei (MT 5.21-48; 6.1-8, 16-18). Lc também omite as instruções de Jesus aos Doze para se absterem de ministrar aos gentios e samaritanos (Mt 10.5).

Por outro lado, Lc inclui muitas características que demonstram universalidade. Ele enquadra o nascimento de Jesus em um contexto romano (2.1-2; 3.1), mostrando que o que ele registra tem significado para todas as pessoas. Ele enfatiza ainda, as raízes judaicas de Jesus. De todos os escritores dos Evangelhos só ele registra a circuncisão e dedicação de Jesus (2.21-24), bem como sua visita ao Templo quando menino (2.41-52). 

Somente ele relata o nascimento e a infância de Jesus no contexto de judeus piedosos como Simeão, Ana, Zacarias e Isabel, que estavam entre os fiéis restantes “esperando a consolação de Israel” (2.25). Por todo o Evangelho, Lc deixa claro que Jesus é o cumprimento das esperanças do AT relacionadas à salvação.

Um versículo chave do evangelho de Lc é o 19.10, que declara que Jesus “veio buscar e salvar o que se havia perdido”. Ao apresentar Jesus como Salvador de todos os tipos de pessoas, Lc inclui material não encontrado nos outros evangelhos, como o relato do fariseu e da pecadora (7.36-50); a parábola do fariseu e o publicano (18.9-14); a história de Zaqueu (19.1-10); e o perdão do ladrão na cruz (23.39-43).

Lc ressalta as advertências de Jesus sobre o perigo dos ricos e a simpatia dele pelos pobres (1.53; 4.18; 6.20-21, 24-25; 12.13-21; 14.13; 16.19-31; 19.1-10).

Este evangelho tem mais referências à oração do que os outros evangelhos. Lc enfatiza especialmente a vida de oração de Jesus registrando sete ocasiões em que Jesus orou que não são encontrados em mais nenhum outro lugar (3.21; 5.16; 6.12; 9.18,29; 11.1; 23.34,46). 

Só Lc tem as lições do Senhor sobre a oração ensinada nas parábolas do amigo importuno (18.9-14). Além disso, o evangelho é abundante em notas de louvor e ação de graças (1.28,46-56,68-79; 2.14,20,29-32; 5.25-26; 7.16; 13.13; 17.15; 18.43)

O tempo de Jesus e o tempo da Igreja

Uma das ideias-chave de LUCAS é distinguir o tempo de Jesus e o tempo da Igreja. Sem esquecer a singularidade única do acontecimento salvífico de Jesus Cristo, põe em relevo as etapas da obra de Deus na História. Mais do que Mateus e Marcos, ao falar de Jesus e dos discípulos, LUCAS pensa já na Igreja, cujos membros se sentem interpelados a acolher a mensagem salvífica na alegria e na conversão do coração. 

É isso que faz deste livro o Evangelho da misericórdia, da alegria, da solidariedade e da oração. No respeito pelo ser humano, a salvação evangélica transforma a vida das pessoas, com reflexos no seu interior, nos seus comportamentos sociais e no uso que fazem dos bens terrenos.

Jesus anuncia a sua vinda no fim dos tempos, o qual, segundo LUCAS, coincidirá com o termo do tempo da Igreja. Mas a insistência deste evangelista na salvação presente, na realeza pascal do Senhor Jesus, na ação do Espírito Santo na Igreja, contribui para atenuar a tensão relativa à iminente Parusia. 

A própria destruição de Jerusalém, vista como um acontecimento histórico, despojando-o da sua projeção escatológica, presente em Mateus e Marcos, é sinal de uma consciência viva do dom da salvação presente no tempo da Igreja.

Cristo Revelado

Além de apresentar Jesus como o Salvador do mundo, Lc dá os seguintes testemunhos sobre ele:

· Jesus é o profeta cujo papel equipara-se ao Servo e Messias (4.24; 7.16,39; 919; 24.19)
· Jesus é o homem ideal, o perfeito salvador da humanidade. O título “Filho do Homem” é encontrado 26 vezes no evangelho.
· Jesus é o Messias. Lc não apenas afirma sua identidade messiânica, mas também tem o cuidado de definir a natureza de seu messianismo. Jesus é, por excelência, o Servo que se dispõe firmemente a ir a Jerusalém cumprir seu papel (9.31.51). Jesus é o filho de Davi (20.41-44), o Filho do Homem (5.24) e o Servo Sofredor (4.17-19, que foi contado com os transgressores (22.37).
· Jesus é o Senhor exaltado. Lc refere-se a Jesus como “Senhor” dezoito vezes em seu evangelho.
· Jesus é o amigo dos proscritos humildes. Ele é constantemente bondoso para com os rejeitados.

O Espírito Santo em Ação

Há dezesseis referências explicitas ao ES, ressaltando sua obra tanto na vida de Jesus quanto no ministério continuo da igreja.

Em primeiro lugar: a ação do ES é vista na vida de várias pessoas fiéis, relacionadas ao nascimento de João Batista e Jesus (1.35,41,67; 2.25-27), bem como no fato de João ter cumprido seu ministério sob a unção do ES (1.15). O mesmo Espírito capacitou Jesus para cumprir seu ministério.

Em segundo lugar: O ES capacita Jesus para cumprir seu ministério—o Messias ungido pelo ES. Nos caps. 3-4, há cinco referências ao Espírito, usadas com força progressiva. 1) O Espírito desce sobre Jesus em forma corpórea, como uma pomba (3.22); 2) 

Ele leva Jesus ao deserto para ser tentado (4.1); 3) Após sua vitória sobre a tentação, Jesus volta para a Galiléia no poder do mesmo (4.14) 4) Na sinagoga de Nazaré, Jesus lê a passagem messiânica: “O Espírito do Senhor está sobre mim…” (4.18; Is 61.1-2), reivindicando o cumprimento nele (4.21). Então, 5) evidência seu ministério carismático está repleto (4.31-44) e continua em todo seu ministério de poder e compaixão.

Em terceiro lugar: O ES, através de oração de petição leva a cabo o ministério messiânico. Em momentos críticos daquele ministério, Jesus ora antes, durante ou depois do acontecimento crucial (3.21; 6.12; 9.18,28; 10.21). O mesmo ES que foi eficaz através de orações de Jesus dará poder as orações dos discípulos (18.1-8) e ligará o ministério messiânico de Jesus ao ministério poderoso deles através da igreja (24.48.49).

Em quarto lugar: O ES espalha alegria tanto a Jesus como à nova comunidade. Cinco palavras gregas denotando alegria ou exultação são usadas duas vezes com mais frequência tanto Lc como Mt ou Mc. 

Quando os discípulos voltam com alegria de sua missão (10.17), “Naquela mesma hora, se alegrou Jesus no ES e disse…” (10.21). Enquanto os discípulos estão esperando pelo Espírito prometido (24.49), “adorando-o eles, tornaram com grande júbilo para Jerusalém. E estavam sempre no templo, louvando e bendizendo a DEUS” (24.52-53)

Esboço de Lucas

· Prólogo 1.1-4
· A narrativa da infância 1.5-2.52
· Anúncio do nascimento de João Batista 1.5-25
· Anúncio do nascimento de Jesus 1.26-38
· Visita das duas mães 1.39-56
· O nascimento de João Batista 1.57-80
· O nascimento de Jesus 2.1-40
· O menino Jesus no templo 2.41-52



· Preparação para o ministério público 3.1-4.13

· O ministério de João Batista 3.1-20
· O batismo de Jesus 3.21-22



· A genealogia de Jesus 3.23-38
· A tentação 4.1-13
· O ministério galileu 4.14-9.50
· Em Nazaré e Cafarnaum 4.14-44
· Do chamamento de Pedro ao chamamento dos doze 5.1-6.16
· O Sermão da Montanha 6.17-49


· Narrativa e diálogo 7.1-9.50
· A narrativa de viagem (no caminho para Jerusalém) 9.51-19.28
· O ministério de Jerusalém 19.29-21.38
· Acontecimentos na entrada de Jesus em Jerusalém 19.29-48
· História de controvérsias 20.1-21.4
· Discurso escatológico 21.5-38
· A paixão e glorificação de Jesus 22.1-24.53
· A refeição de Páscoa 22.1-38
· A paixão, morte e sepultamento de Jesus 22.39-23.56
· A ressurreição e a ascensão 24.1.53




Evangelho de João

Autor

João 21:20-24 descreve o autor como sendo "o discípulo que Jesus amava" e por razões tanto históricas quanto internas, acredita-se que esse seja o apóstolo João, um dos filhos de Zebedeu (Lucas 5:10).

Quando foi escrito

A descoberta de certos fragmentos de papiros em cerca de 135 d.C. requer que o livro tenha sido escrito, copiado e distribuído antes disso. Enquanto alguns acreditem que tenha sido escrito antes da destruição de Jerusalém (70 AD), 85-90 AD é uma data mais aceita para a sua escrita.

Propósito

João 20:31 cita o propósito como sendo o seguinte: "Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome." Ao contrário dos três Evangelhos sinóticos, o propósito de João não é apresentar uma narrativa cronológica da vida de Cristo, mas mostrar a sua divindade. 

João queria não só fortalecer a fé dos crentes de segunda geração e levar outros à fé, mas também corrigir uma falsa doutrina que estava se espalhando. João enfatizou Jesus Cristo como sendo "o Filho de Deus", totalmente Deus e totalmente homem, ao contrário da falsa doutrina do "espírito-Cristo", a qual afirmava que esse espírito tinha vindo sobre o homem Jesus em Seu batismo e deixando-o na crucificação.

Versículos-chave

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai" (João 1:1,14).

"No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (João 1:29).

"Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16).

"Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado" (João 6:29).

"O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (João 10:10).

"Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão" (João 10:28).

"Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto?" (João 11:25-26).

"Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros" (João 13:35).

"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6).

"Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?" (João 14:9).

"Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (João 17:17).

"Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito" (João 19:30).

"Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram" (João 20:29).

Resumo

O Evangelho de João seleciona apenas sete milagres como sinais para demonstrar a divindade de Cristo e para ilustrar Seu ministério. Alguns destes sinais e narrações são encontrados apenas em João. O seu livro é o mais teológico dos quatro Evangelhos e muitas vezes ele registra a razão por trás dos eventos mencionados nos outros Evangelhos. 

Ele compartilha muito sobre o ministério vindouro do Espírito Santo após a ascensão de Jesus. Há certas palavras ou frases que João frequentemente usa e que mostram os temas repetitivos do seu Evangelho: acreditar, testemunha, Consolador, vida - morte, luz - escuridão, eu sou. (como em Jesus é o "Eu Sou") e o amor.

O Evangelho de João apresenta Cristo, não de Seu nascimento, mas do "princípio" como "o Verbo" (Logos), o qual, como Divindade, está envolvido em cada aspecto da criação (1:1-3) e mais tarde torna-se carne (1:14) a fim tirar os nossos pecados como o Cordeiro de Deus imaculado (João 1:29). João seleciona conversas espirituais que mostram que Jesus é o Messias (4:26) e para explicar como alguém pode ser salvo através de Sua morte vicária na cruz (3:14-16). 

Ele repetidamente irrita os líderes judeus ao corrigi-los (2:13-16), curar no sábado e alegar para Si características que pertencem a Deus (5:18; 8:56-59; 9:6,16; 10:33). Jesus prepara Seus discípulos para Sua morte vindoura e para o seu ministério após a Sua ressurreição e ascensão (João 14-17). 

Em seguida, ele voluntariamente se entrega à morte na cruz em nosso lugar (10:15-18), pagando por completo a nossa dívida pelo pecado (19:30) para que quem confia nEle como seu Salvador do pecado seja salvo (João 3:14-16 ). Ele então ressuscita dos mortos, convencendo até mesmo o mais cético de Seus discípulos de que Ele é Deus e Senhor (20:24-29).

Conexões

O retrato que João expõe de Jesus como o Deus do Antigo Testamento é visto mais enfaticamente nas sete "Eu Sou" declarações de Jesus. Ele é o "pão da vida" (João 6:35), providenciado por Deus para alimentar a alma de seu povo, assim como Ele providenciou maná do céu para alimentar os israelitas no deserto (Êxodo 16:11-36). 

Jesus é a "Luz do mundo" (João 8:12), a mesma luz que Deus prometeu ao Seu povo no Antigo Testamento (Isaías 30:26, 60:19-22) e que encontrará o seu auge na Nova Jerusalém quando o Cristo, o Cordeiro, será a sua luz (Apocalipse 21:23). Duas das "Eu Sou" declarações se referem a Jesus como o "Bom Pastor" e "Porta das Ovelhas". 

Elas são referências claras a Jesus como o Deus do Antigo Testamento, o Pastor de Israel (Salmo 23:1, 80:1; Jeremias 31:10, Ezequiel 34:23) e, como a única porta ao curral das ovelhas, o único caminho da salvação.

Os judeus acreditavam na ressurreição e, de fato, utilizaram essa doutrina para tentar levar Jesus a fazer declarações que poderiam ser usadas contra Ele. Entretanto, a sua declaração junto ao túmulo de Lázaro, "Eu sou a ressurreição e a vida" (João 11:25), deve ter deixando-lhes muito surpreendidos. Ele estava afirmando ser a causa da ressurreição e o possuidor do poder sobre a vida e a morte. 

Nenhum outro senão o próprio Deus poderia alegar uma coisa dessas. Da mesma forma, a sua pretensão de ser o "caminho, a verdade e a vida" (João 14:6) inequivocamente ligava Jesus ao Antigo Testamento. Seu é o "Caminho Santo" profetizado em Isaías 35:8; Ele estabeleceu a Cidade Fiel de Zacarias 8:3 quando Ele, que é "verdade" em si, estava em Jerusalém e as verdades do Evangelho foram lá pregadas por Ele e Seus apóstolos; e como "a vida", Ele afirma Sua divindade, o Criador da vida, Deus encarnado (João 1:1-3). 

Finalmente, como a "videira verdadeira" (João 15:1, 5), Jesus identifica-se com a nação de Israel, a qual é chamada de vinha do Senhor em muitas passagens do Velho Testamento. Como a Videira verdadeira da vinha de Israel, Ele se apresenta como o Senhor do "verdadeiro Israel" -- todos aqueles que viriam a Ele em fé, "... porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas" (Romanos 9: 6).

Aplicação Prática

O evangelho de João continua a cumprir o seu objetivo de conter informações muito úteis para a evangelização (João 3:16 é provavelmente o versículo mais conhecido, mesmo se não devidamente compreendido por muitos) e é frequentemente utilizado em estudos bíblicos evangelísticos. Nos registrados encontros entre Jesus e Nicodemos e a mulher no poço (capítulos 3-4), podemos aprender muito do modelo de Jesus para o evangelismo pessoal. 

Suas palavras de consolo aos Seus discípulos antes de Sua morte (14:1-6,16, 16:33) ainda são de grande conforto nas vezes em que a morte clama nossos entes queridos em Cristo, e o mesmo pode ser dito de Sua "oração sacerdotal" pelos crentes no capítulo 17. Os ensinamentos de João sobre a divindade de Cristo (1:1-3,14; 5:22-23; 8:58; 14:8-9; 20:28, etc.) são muito úteis na luta contra os falsos ensinos de algumas seitas que enxergam Jesus como sendo menos do que totalmente Deus.

EVANGELHO DE JOÃO

Jo 1

a) O Verbo Divino.

O princípio é o Verbo de Deus, que está junto de Deus, e é Deus. Tudo foi feito por ele, porque nele há vida, e ele é a luz dos homens. A luz se expande, e as trevas não a reprimem. Ele veio ao mundo, e o mundo não o conheceu. 

Veio para o que era seu, e os seus não o receberam, mas quem o recebe, e crê no seu nome, se torna filho de Deus, não pelo sangue, nem pela vontade do homem, mas pela vontade de Deus.

b) O Cristo.

O Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória. A glória do filho único de Deus, cheio de graça e verdade. E nós recebemos por ele, graça sobre graça. A graça e a verdade de Jesus Cristo, sobre a graça da lei de Moisés. Ninguém vê Deus, mas o Filho único que está no Pai, o revela.

c) João Batista.

Deus enviou João para nos apresentar a luz para que todos creiam. João não era a luz, mas deu testemunho dela. A luz que ilumina todo homem. João atestou dizendo: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu.

João batizava no Jordão, apareceram levitas e sacerdotes, e lhe perguntaram: Quem é você? Elias ou um profeta? João disse: Eu não sou o Cristo, nem Elias. Perguntaram: Quem é? Eu sou, como disse o profeta Isaías, a voz que clama no deserto: 

Endireitem o caminho para o Senhor. Perguntaram: Então por que batiza? João disse: Eu batizo com água, mas aquele que virá (batizará no Espírito Santo), e eu não sou digno de tocar seu calçado.

d) Batismo de Jesus.

Jesus vinha vindo, e João disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Eu batizo com água, vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele. E ele vai batizar com o Espírito Santo, pois este é o Filho de Deus. Dois discípulos de João ouviram-no dizer isto, e foram seguir Jesus.

e) Os primeiros discípulos.

Jesus viu que eles o seguiam, e disse: Que querem? Eles disseram: Rabi (Mestre), onde mora? Jesus disse: Vinde, e vede. Foram, viram, e ficaram com ele. Um deles era André, irmão de Simão, que quando encontrou Simão, disse: Achamos o Messias (Cristo), e o levou a Jesus. Jesus olhou para ele, e disse: Simão, filho de Jonas; será chamado Cefas (Pedro). Indo para a Galiléia, encontrou Filipe, e disse: Segue-me. 

Todos três eram de Betsaida. Filipe viu Natanael (Bartolomeu), e disse que encontrou aquele que Moisés falou na lei: É Jesus de Nazaré, filho de José. Natanael disse: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? 

Filipe disse: Venha, e veja. Jesus viu Natanael, e disse: Eis aí um homem sem falsidade. Ele disse: De onde me conhece? Jesus respondeu: O vi debaixo da figueira. Ele disse: Rabi, tu és o Filho de Deus, o Rei de Israel.

Jo 2

a) As bodas em Caná.

Jesus foi com os discípulos e sua mãe a um casamento em Caná na Galileia. Acabou o vinho na festa, e sua mãe foi lhe dizer, e Jesus disse: Mulher, a minha hora ainda não chegou. E sua mãe disse aos serventes: 

Façam tudo o que ele mandar. Haviam ali seis talhas de pedra, e Jesus disse: Encham essas talhas de água. E eles as encheram. E disse: Tire amostra, e leve ao chefe. E levaram. O chefe provou do vinho (ele não sabia que veio da água), chamou o noivo, e disse: Toda festa serve-se primeiro o vinho melhor, só depois o inferior; mas você guardou o bom vinho para o fim.

Este foi o primeiro sinal manifestando a glória de Jesus, e os discípulos creram nele. Depois foram para Cafarnaum: ele, sua mãe, seus irmãos, seus discípulos.

b) Purificação do templo.

Aproximava-se a festa da Páscoa, e Jesus foi a Jerusalém. No templo encontrou cambistas, e vendedores de bois, ovelhas e pombos. Com um chicote expulsou todos do templo. Eles disseram: Porque faz isto? 

Se for o Filho de Deus nos dê um sinal. Jesus disse: Derrubem este templo, e eu o levantarei em três dias. Eles disseram: Este templo foi construído em quarenta e seis anos, e você o fará em três dias? 

Mas Jesus falava do templo que era o seu corpo. O povo acreditava em Jesus porque via seus milagres, mas Jesus não confiava neles, porque sabia como é o homem (mau).

Jo 3

a) Nicodemos.

Nicodemos era um príncipe dos judeus. Certa noite foi ter com Jesus, e disse: Rabi, sei que é Mestre vindo de Deus, porque ninguém faz milagres se Deus não estiver com ele. Jesus disse: Na verdade te digo: Quem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus. 

Nicodemos disse: Como pode se nascer de novo? Pode-se entrar no ventre da mãe para nascer? Jesus disse: Quem não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus. Pois o que nasce da carne é carne, e o que nasce do Espírito é espírito. O vento sopra, se ouve o ruído, mas não se sabe de onde vem, nem para onde vai. 

Assim é o que nasce do Espírito. Nicodemos disse: Como pode ser isso? Jesus respondeu: Você é mestre de Israel, e não sabe isto? Eu te digo o que sei, e testifico o que vi, mas você não aceita o meu testemunho. Eu te falo de coisas da terra, e você não crê. Como vai crer se eu te falar das do céu?

b) Cristo Salvador.

Ninguém subiu ao céu, senão o que desceu de lá, o Filho do homem. Assim como Moisés levantou a serpente no deserto o Filho do homem será levantado, para que todos tenham a vida eterna. 

Pois Deus ama muito o homem, e deu seu Filho único, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Deus enviou seu Filho ao mundo, não para condená-lo, mas para salvá-lo. A luz veio ao mundo, mas (todos) os homens amam mais as trevas do que a luz, porque são maus.

c) Ensinamentos de João Batista.

Jesus foi com os discípulos para o campo, e ali batizava. Os discípulos de João lhe disseram: 

Aquele que você testemunhou além do Jordão, está batizando, e todos vão para ele. João disse: O homem só recebe o que lhe for dado do céu. Eu não sou o Cristo, mas fui enviado antes dele. Quem tem a esposa é o esposo, mas o amigo do esposo se alegra em ouvir sua voz. 

Assim já tive o meu gozo. Agora é preciso que ele cresça, e eu diminua, porque quem vem de cima está sobre todos, e quem aceita seu testemunho, confirma que Deus é verdadeiro. O Pai ama o Filho, entregou tudo nas suas mãos. Quem crê no Filho tem a vida eterna, e quem não crê não verá a vida, mas a ira de Deus.

Jo 4

a) Conversa com a samaritana.

Jesus ia para a Galiléia, e parou junto à fonte de Jacó na Samaria. Era tarde, e os discípulos foram comprar comida. Veio uma mulher tirar água, e Jesus lhe pediu de beber. Ela disse: Como você me pede de beber? (Porque os judeus não falavam com os samaritanos). Jesus disse: Se você conhecesse o dom de Deus, e quem sou eu, você pediria, e Deus te daria água viva. 

Ela disse: Senhor, o poço é fundo, de onde viria a água viva? Jesus disse: Quem bebe desta água volta a ter sede, mas quem beber da água que eu dou nunca mais terá sede, porque a água que dou faz a pessoa ser uma fonte de água que leva à vida eterna. Ela disse: Senhor, vejo que é profeta, então onde devemos adorar aqui ou em Jerusalém? (Os samaritanos tinham templo próprio). 

Jesus disse: Mulher, Deus é Espírito, e os verdadeiros adoradores o adorarão em espírito e em verdade (na Samaria ou em Jerusalém) porque ele quer que adorem assim. Ela disse: Eu sei que o Messias vem, e quando ele vier nos ensinará tudo. Jesus disse: (o Messias) Sou eu, que falo com você. 

Neste instante chegaram os discípulos, e viram que Jesus falava com uma mulher, porém não quiseram saber do que falava. A mulher foi à cidade, e disse aos homens: Vinde, e vede um homem que me disse tudo da minha vida. Porventura não é este o Cristo? E eles foram até Jesus.

b) Parábola da colheita.

Os discípulos ofereceram comida a Jesus. Ele disse: Tenho uma comida, que vocês não conhecem. A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra. Vocês falam que faltam quatro meses para a colheita, mas eu digo: 

Olhem para o campo, já está branco para a colheita. Quem colhe, junta frutos para a vida eterna, e se regozijará com o que semeia. Muitos creram em Jesus pelo que a mulher disse. Ele ficou no lugar por dois dias. Então diziam à mulher: Já não é pela sua palavra que cremos, mas porque nós mesmos o ouvimos, e sabemos que ele é o Cristo, o Salvador do mundo.

c) A cura do filho do oficial.

Em Cafarnaum, um oficial do rei veio pedir a Jesus que fosse curar seu filho que estava mal. Jesus disse: Vai seu filho está bem. Ele acreditou, e foi; e o menino ficou curado.

Jo 5

a) A cura de um paralítico.

Jesus voltou a Jerusalém. No tanque de Betesda haviam muitos aleijados, que esperavam a cura nas águas. Mas um deles não conseguia se molhar no tempo certo para se curar, então Jesus o viu e perguntou: Quer ser curado? Levanta pegue seu leito, e ande. Ele obedeceu, e foi curado. Isto foi num sábado, e os judeus perguntaram ao homem: 

Quem foi que te curou? Ele não disse porque não sabia o nome de Jesus. Mais tarde, Jesus o encontrou no templo, e lhe falou: Eis que se curou, mas vê se não peca mais para que não lhe aconteça coisa pior. Então o homem foi dizer aos judeus, que foi Jesus que o curou. Os judeus perseguiam Jesus porque além de violar o repouso do sábado, ele dizia ser Filho de Deus, o que lhe fazia igual a Deus.

b) O Pai e o Filho.

Então Jesus explicou aos judeus, dizendo:

1. O Filho por si não pode nada, ele faz o que vê o Pai fazer. O Pai ressuscita os mortos, e o Filho também.
2. O Pai não julga ninguém, porque entregou o julgamento para o Filho, para que todos o honrem como honram o Pai, e quem não honra o Filho, não honra o Pai.
3. Quem ouve a palavra do Filho tem a vida eterna, não será condenado, pois passou da morte para a vida.
4. Virá a hora em que os mortos (espiritual) ouvirão a voz do Filho, e viverão.
5. Virá a hora em que os mortos ressuscitarão. Os bons terão a vida, e os maus serão condenados.
6. Não faço minha vontade, e meu julgamento é justo, porque faço a vontade de quem me enviou.
7. Venho em nome do Pai, e não me recebem. Quem vem em meu próprio nome, vocês recebem.
8. Os homens se gloriam uns aos outros, mas eu não espero a glória vinda dos homens, porque não têm o amor de Deus. Como vão crer se a glória é de Deus se não buscam a glória verdadeira?
9. Não os acuso diante do Pai, pois Moisés os acusa. Se não creem em Moisés, como vão crer em mim?

c) As testemunhas de Jesus.

João dá testemunho de mim, mas as obras que faço dão testemunho maior, porque foi o Pai que me mandou fazer. Meu Pai e as escrituras dão testemunho de mim.

Jo 6

· Multiplicação dos pães (veja Mc 6).
· Jesus anda sobre as águas (veja Mc 6).


· O pão da vida.

Em Cafarnaum Jesus disse ao povo: Vocês me procuram porque ontem se fartaram de pão. Mas procurem a comida que dá a vida eterna.

· Perguntaram: Quais são as obras de Deus?
· Jesus disse: A obra de Deus é que creiam naquele que ele enviou.
· Perguntaram: Moisés deu o pão vindo do céu, e você que milagre faz para que creiamos?
· Jesus disse: Moisés não deu o pão do céu, pois o pão do céu (não é o maná) dá a vida ao mundo.
· Pediram: Dá-nos sempre deste pão!
· Jesus disse: Eu sou o pão da vida, quem vem a mim não terá fome, e quem crê em mim não terá sede.

· O homem.

· Jesus disse: Vocês me veem (fazer milagres), e não creem. Aquele que o Pai me dá, vem a mim, e eu o guardo, pois vim para fazer a vontade do Pai, que é: que todo o que crê no Filho, tenha a vida eterna, e eu o ressuscite no último dia.
· Diziam: Mas você não é o filho de José? Como diz que desceu do céu?
· Jesus disse: Quem crê em mim tem a vida eterna. Aqueles que comeram o maná no deserto morreram, mas eu sou o pão vivo que desceu do céu para que não morram, e quem comer deste pão viverá para sempre. O pão é a minha carne que darei (em sacrifício) para a salvação de todos.
· Diziam: Como ele vai dar para comer sua carne?
· Jesus disse: Se não comer a carne, e não beber o sangue do Filho do homem não terá a vida, pois quem come minha carne, e bebe o meu sangue, permanece em mim, e eu nele.

e) Os discípulos.

Disse Jesus: Isso vos escandaliza? E quando o Filho do homem voltar (de onde veio)? O espírito vivifica, a carne não serve de nada. E minhas palavras são espírito e vida. Por isso que digo: Ninguém vem a mim se meu Pai não permitir.

Muitos discípulos abandonaram Jesus, então ele perguntou aos doze: Querem ir também?

Pedro respondeu: Senhor, a quem iríamos? Só tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos, e sabemos que é o Santo de Deus!

Jesus disse: Eu escolhi todos os doze, mas um vai me trair.

Jo 7

a) Festa dos Tabernáculos.

Jesus evitava ir à Judéia porque queriam matá-lo. Nos dias da festa dos Tabernáculos, seus irmãos lhe disseram: Vai para a festa (na Judéia) para que vejam suas obras? (Porque quem deseja ser conhecido não deve ficar escondido). Seus irmãos falavam isso porque não acreditavam nele.

Jesus disse: Ainda não chegou a hora. O mundo me odeia porque eu testemunho contra ele.

(Jesus disse que não iria à festa, mas foi após seus irmãos, só não queria que soubessem Jo7.10).

b) A aparência e a justiça.

Durante a festa Jesus foi ao templo ensinar. O povo se admirava porque ele não tinha estudado, mas sabia toda a escritura. Jesus dizia: O que ensino vem daquele que me enviou, e só quem faz a vontade do Pai, sabe que não falo por mim mesmo. 

Não julguem pela aparência, mas pela lei. Vocês me condenam, e dizem que desrespeito à lei, porque faço curas no sábado, no entanto querem me matar. Vocês circuncidam no sábado, no entanto me condenam porque eu curo.

c) O Cristo.

Eles diziam: Jesus fala estas coisas em público, e não é advertido. Será que reconheceram que ele é o Cristo (Messias)? Nós sabemos de onde Jesus vem, mas quanto ao Cristo ninguém saberá.

Jesus disse: Dizem que me conhecem, e sabem de onde eu venho, mas não conhecem quem me enviou. Muitos creram por causa dos milagres. As autoridades queriam prendê-lo, e

Jesus disse: Estou aqui por pouco tempo, depois vou para quem me enviou, me buscarão, e não acharão, nem poderão ir onde estou.

d) O Espírito Santo.

No dia principal da festa, Jesus dizia: Se alguém tiver sede venha a mim e beba, e quem crer em mim do seu interior manará rios de água viva. (Porque após sua morte e glorificação, viria o Espírito Santo). 

Uns creram, e outros condenavam. Os chefes mandaram prendê-lo, mas os guardas voltaram sem ele, e disseram aos chefes: Jamais alguém falou como ele! E isto gerou uma discussão entre eles (inclusive Nicodemos).

Jo 8

a) A mulher adúltera.


Jesus ensinava no templo, quando os escribas trouxeram uma mulher, e disseram a Jesus: Esta mulher foi apanhada em adultério, e a lei manda apedrejar. O que você diz?

Jesus escrevia com o dedo na terra. Eles insistiram, então ele disse: Quem estiver sem pecado que atire a primeira pedra. E voltou a riscar no chão. Todos foram embora, só ficou a mulher.

Jesus disse: Mulher, ninguém te condenou?

Ela respondeu: Ninguém Senhor.

Ele disse: Nem eu te condeno. Vai, mas não volte a pecar.

b) O Pai e o Filho.

· Jesus disse: Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda em trevas, mas terá a luz da vida.
· Os fariseus lhe disseram: Seu testemunho não vale nada.
· Jesus disse: Meu testemunho é válido sim, pois sei de onde venho, e para onde vou.
· Vocês julgam pela aparência, e eu pela verdade, pois estou com o Pai que me enviou.
· Perguntaram: Onde está seu pai?
· Jesus disse: Se me conhecessem, conheceriam também meu Pai. Como vocês não conhecem nem o Pai, não me reconhecem. Vocês são daqui de baixo, do mundo, e eu sou lá de cima. Onde eu vou vocês não podem ir, por causa de seus pecados.
· Perguntaram: Quem é você?
· Jesus disse: Sou o que digo ser. Quando levantarem o Filho do homem, aí saberão quem eu sou.

c) A liberdade.

Alguns creram, e Jesus disse a eles: Se permanecerem na minha palavra, serão meus discípulos. Conhecerão a verdade, e ela vos libertará.

a) Disseram: Mas nós não somos escravos.
b) Jesus disse: Todo homem é escravo do seu pecado.
c) Jesus se voltou para os escribas, e disse: Vocês dizem ser filhos de Abraão, mas querem me matar, isto não é obra de Abraão, mas obra de outro pai.
d) Disseram: Nós não somos filhos da fornicação. Deus é nosso pai.
e) Jesus disse: Se Deus fosse seu pai, me reconheceriam, porque vim dele, e ele me enviou. O pai de vocês é o demônio, por isso querem me matar. Quem é de Deus, ouve a voz de Deus, e se vocês não ouvem é porque não são dele.
f) Disseram: Você é um samaritano, e está possesso de um demônio.
g) Jesus disse: Quem guardar minha palavra não morrerá.
h) Disseram: Está mesmo com um demônio. Abraão e os profetas morreram, e você é maior que eles?
i) Jesus disse: Abraão exultou só de pensar em ver o meu dia. Viu e ficou cheio de alegria.
j) Disseram: Mas Abraão já morreu há muito tempo.
k) Jesus disse: Antes que Abraão fosse, eu sou.
l) Quiseram apedrejá-lo, mas Jesus saiu do templo.

Jo 9

a) O cego de nascença.



Num sábado os discípulos viram um cego de nascença, e perguntaram: Mestre, quem pecou para que ele nascesse cego, ele ou seus pais?

Jesus disse: Ninguém pecou, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus.

Então misturou saliva com terra, colocou sobre os olhos do cego, e o mandou lavar. Ele se lavou, e voltou a enxergar. Todos que o conheciam se admiraram dele enxergar, porque era cego de nascença.

Os fariseus quiseram saber. Ele contou o que aconteceu, mas não acreditaram, e perguntaram aos pais dele. Os pais disseram que ele era cego de nascença, mas agora vê. Sobre o milagre, só ele podia contar. Tinham medo, porque ameaçavam expulsar da sinagoga, quem dissesse que Jesus era o Cristo.

Perguntaram-no de novo, e ele disse: Eu já disse tudo, e não vou falar de novo. Por que tanto interesse, querem ser discípulos de Jesus?

Responderam: Somos discípulos de Moisés, e Jesus não sabemos de onde é.

O homem disse: Vocês não sabem de onde ele é, mas ele me abriu os olhos. Deus não ouve os pecadores, mas atende a quem faz sua vontade, e lhe presta culto. Se Jesus não fosse de Deus não me curaria.

Disseram: Você quer nos ensinar? E o mandaram sair.

b) Cristo.

Jesus soube, e quando encontrou o homem, lhe perguntou: Você crê no Filho do homem?

Ele disse: Quem é ele?

Jesus disse: Você o vê. É quem te fala!

Ele disse: Creio Senhor. Se prostrou, e adorou Jesus.

Jesus disse: Vim ao mundo fazer uma distinção. Os que não veem vejam, e os que veem se tornem cegos.

Alguns fariseus disseram: Nós por acaso somos cegos?

Jesus disse: Se fossem cegos não pecariam, mas como pretendem ver, seu pecado subsiste.

Jo 10

a) O bom pastor.

Jesus disse: O pastor entra no curral das ovelhas pela porta, e o ladrão entra por outro lugar. As ovelhas conhecem a voz do pastor, que as chama pelo nome, e as leva para pastar. Ele vai à frente, e elas o seguem. Elas não seguem estranhos, nem conhecem sua voz.

Como não entenderam a parábola, Jesus disse: Eu sou a porta das ovelhas, quem veio antes de mim eram ladrões, mas as ovelhas não os ouviram. Se alguém entrar por mim será salvo.

Disse ainda: Eu sou o bom pastor, e me exponho pelas minhas ovelhas. Quando o lobo vem, o mercenário foge, mas eu dou minha vida por elas. Tenho também ovelhas que não são deste aprisco, e eu as conduzo.

b) A vida.

O Pai me ama, porque dou a minha vida, e a retomo. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou, pois tenho o poder de dá-la, e de reassumi-la. Esta é a ordem que recebi do Pai.

c) O Pai e o Filho.

Na festa da Dedicação, Jesus passeava pelo templo, e os judeus lhe disseram: Diga-nos se é o Cristo.

Jesus disse: Eu já disse, mas vocês não acreditam. Minhas obras dão o testemunho, mas não creem.

Minhas ovelhas ouvem o que digo, e me seguem. Ninguém as roubará de mim, pois foi meu Pai quem me deu. Eu e o Pai somos um.

Então os judeus quiseram apedrejar Jesus, e ele disse: Fiz boas obras por parte de meu Pai. Por qual delas querem me apedrejar?

Responderam: Não é por suas obras, é porque sendo homem se faz Deus.

Jesus disse: Está escrito na lei: ‘Vós sois deuses’. Se a lei chama de deuses aqueles a quem Deus dirigi a palavra, eu não blasfemo quando digo que sou Filho de Deus. Mas se não creem em mim, então creiam em minhas obras, e reconheçam que o Pai está em mim, e eu no Pai. Quiseram prendê-lo, mas ele saiu, e foi para o Jordão.

Jo 11

a) A ressurreição de Lázaro.


Lázaro, irmão de Maria e Marta, ficou doente, e morreu. Elas mandaram avisar Jesus quando ele ainda estava doente, mas Jesus esperou um tempo. Quando falou que ia à Judéia, os discípulos o avisaram que lá queriam matá-lo.

Jesus disse: Quem caminha de dia não tropeça. Lázaro dorme, mas vou acordá-lo.

Disseram: Se ele dorme vai sarar.

Jesus disse: Ele morreu, mas vamos para lá. Chegaram em Betânia quatro dias depois da morte de Lázaro. Jesus disse a Marta: Seu irmão ressurgirá. Eu sou a ressurreição e a vida, e aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.

Marta disse: Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir.

Jesus perguntou: Onde o sepultaram?

Mostraram-lhe o sepulcro. Jesus disse: Tire a pedra. Se creem verão a glória de Deus.

Tiraram a pedra. Jesus olhou para o alto, e disse: Pai, te rendo graças porque me ouve.

Jesus disse: Lázaro saia! E ele saiu. Depois Jesus disse: Tirem as faixas, e deixe-o ir.

b) Conspiração contra Jesus.

Muitos que assistiram à ressurreição de Lázaro creram em Jesus, outros foram avisar aos fariseus o que aconteceu. Sabendo disso as autoridades se reuniram, e resolveram matar Jesus. Caifás disse: É melhor que morra Jesus do que toda a nação. 

Pensava que os romanos destruiriam Jerusalém se o povo seguisse Jesus, mas sem querer profetizava que Jesus deveria morrer por todos.

c) Preparativos para a Páscoa.

Jesus foi a Efraim, pois queriam matá-lo. O povo ia a Jerusalém se purificar, procurava Jesus, e não o via.

Jo 12

a) Jantar na casa de Lázaro, Marta e Maria (veja Mc14).

b) Entrada de Jesus em Jerusalém (veja Mc11).

Jesus chega em Jerusalém, o povo o acompanha, outros veem ao seu encontro com ramos de oliveira e palmas, dizendo: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel! 

Os fariseus diziam: Veja! Repare como todos correm atrás dele!

c) O grão de trigo.

Jesus disse aos discípulos:

· Chegou a hora para o Filho do homem ser glorificado.
· Se o grão de trigo, que cai na terra, não morrer, fica só. Mas se morrer produzirá muitos frutos.
· Quem ama sua vida vai perdê-la, mas quem odeia a vida neste mundo, terá a vida eterna.
· Se alguém quer me servir, siga-me, e onde eu estiver meu servo estará lá. E todo aquele que me serve, meu Pai o honrará.
· Minha alma está perturbada, mas é para isso que vim. Chegou a hora.

d) A luz.

Jesus disse: Pai glorifica o teu nome!

Uma voz disse: Já o glorifiquei, e tornarei a glorificá-lo!

Jesus disse: Agora é o juízo, e será lançado fora o príncipe deste mundo. Quando eu for elevado, atrairei todos os homens a mim. Por pouco tempo a luz estará em seu meio. Ande, enquanto há luz, para não ser surpreendido pelas trevas, pois quem anda nas trevas, não sabe para onde vai. Enquanto tem a luz creia nela, e se tornará um filho da luz.

e) O homem.

Os judeus não creram em Jesus mesmo depois de tantos milagres, como dizia Isaías: Cegou-lhes os olhos, endureceu-lhes o coração, para que não vejam nem entendam, não se convertam nem se curem.

f) A igreja.

Muitos creram, mas não se manifestaram temendo serem expulsos da sinagoga. Assim preferiram a glória dos homens à de Deus.

g) A luz

Jesus disse: Quem crê em mim, crê em quem me enviou. Quem me vê, vê quem me enviou. Eu vim como a luz do mundo, e quem crer em mim não ficará nas trevas. Se alguém ouve minha palavra, mas não segue, não será condenado, porque não vim para condenar, mas para salvar. Quem despreza minha palavra, será julgado por esta palavra no último dia.

Jo 13

a) A ceia e o lava pés.


Durante a ceia da Páscoa, Jesus se levantou da mesa, se enrolou numa toalha, colocou água numa bacia, lavou os pés dos discípulos, e os enxugou. Depois guardou tudo, e se sentou de novo à mesa, e disse: 

Chamam-me de Senhor e Mestre, como tal lavei seus pés. Dei o exemplo, e vocês também devem lavar os pés uns dos outros, pois o servo não é maior que o Senhor, nem o enviado maior do que quem o enviou.

b) Judas.

Jesus disse: Um de vós há de me trair! Os discípulos se olharam.

Ele disse: Será aquele a quem eu der o pão embebido, então molhou o pão, e deu a Judas.

E disse a ele: O que quer fazer, faça-o depressa. Os discípulos não entenderam. Judas se levantou, e saiu.

c) O novo mandamento.

Jesus disse: Agora será glorificado o Filho do homem, e Deus nele. Estarei com vocês pouco tempo, e vos dou um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros, como eu vos tenho amado, assim conhecerão que são meus discípulos.

d) Pedro perguntou: Senhor para onde vai?

Jesus disse: Vou, mas você não pode ir agora, só depois.

Pedro perguntou: Porque não posso ir? Daria minha vida por ti!

Jesus disse: É?! Não cantará o galo até que me negues três vezes!

Jo 14

a) O Verbo e o Cristo.

Jesus disse: Não se preocupe, creia em Deus, e em mim. Na casa do Pai há muitas moradas, e vou preparar um lugar para vocês, depois disso voltarei. Disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim.

Felipe pediu para que Jesus mostrasse o Pai, e ele disse: Há quanto tempo estou com vocês, e ainda não me conhece? Quem me viu, viu o Pai. Eu estou no Pai, e o Pai está em mim. O que digo não é de mim, mas do Pai que está em mim. Vou para junto do Pai, e tudo que pedirem a ele, em meu nome, será feito, para que o Pai seja glorificado no Filho.

b) O Paráclito (advogado de defesa).

Vou pedir ao Pai, e ele vos dará o Paráclito, para ficar eternamente com vocês. É o Espírito da Verdade que o mundo não pode receber. Ele vos ensinará todas as coisas, e vos recordará o que ensinei a vocês. Deixo-vos a paz, vos dou a minha paz, e não a paz do mundo.

Jo 15

a) A videira e os ramos.

Jesus disse: Eu sou a videira, e meu Pai é o agricultor. Ele corta o ramo que não dá frutos, e poda o que dá, para produzir mais. Permanecei em mim, e eu em vocês, pois o ramo só dá fruto se permanecer na videira. Eu sou a videira e vocês os ramos. Os ramos que são cortados secam, e são queimados. Os que dão frutos glorificam o Pai.

b) O amor de Cristo.

Jesus disse: Eu vos amo como meu Pai me ama. Persevere no meu amor, guardando os meus mandamentos, assim como eu guardo os do meu Pai. Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros como eu vos amo. 

Ninguém tem mais amor que aquele que dá a vida pelos amigos. Se vocês fizerem o que eu mando, não serão servos, mas amigos, pois conhecerão tudo o que sei do Pai. Eu vos escolhi, e ensinei para que produzam frutos. Tudo que pedirem ao Pai, em meu nome, ele atenderá.

c) Ódio do mundo.

Jesus disse: Se o mundo vos odeia, saibam que me odiou antes. Se vocês fossem do mundo, ele vos amaria. Como não são ele vos odeia. O servo não é maior que o Senhor, então se me perseguiram vão perseguir vocês, mas muitos vão guardar vossas palavras, como vocês guardaram as minhas. Quando o Paráclito vier, ele dará testemunho de mim, e vocês também, porque estão comigo desde o princípio.

Jo 16

a) A igreja.

Jesus disse: Vão expulsá-los das sinagogas, e tirarão suas vidas julgando prestar culto a Deus, porque não conhecem o Pai nem a mim.

b) Paráclito.

Agora eu volto para quem me enviou! De lá enviarei o Paráclito, e ele ensinará todos, a respeito do pecado, da justiça e do juízo. O pecado de não crer em mim. A justiça porque vou para o Pai. O juízo sobre o príncipe do mundo, julgado e condenado.

c) Ressureição.

Jesus disse: Vocês estão tristes agora, mas essa tristeza vai se transformar em alegria, quando nos vermos novamente, então não me perguntarão mais nada.

d) Oração.

Jesus disse: Tudo que pedirem ao Pai em meu nome, ele vos dará, e vossa alegria será perfeita.

Jo 17

a) Oração de Jesus.

Jesus levantou os olhos para o céu, e disse: Pai, chegou a hora. Glorifica o seu Filho, para que o Senhor seja glorificado, e para que o Filho dê a vida eterna a todos que me entregou.

b) Vida eterna.

A vida eterna consiste em conhecer a ti, um só Deus verdadeiro, e conhecer seu enviado, Jesus Cristo (Não é nada depois da morte).

c) Jesus e o Filho.

Pai, glorifica-me junto de ti, concedendo-me a glória que tive junto de ti, antes que o mundo fosse criado.

d) Oração de Jesus (comunhão com Jesus).

Jesus disse: Rogo por aqueles que me deu, porque são seus. Tudo o que é meu é seu, e tudo o que é seu é meu. Eu não estou no mundo, mas eles estão, por isso guarda-os para serem fiéis ao seu nome, que eles agora conhecem, e para que sejam um conosco. 

Preserve-os do mal. Santifica-os pela verdade. A sua Palavra é a Verdade. Rogo por todos que por sua palavra hão de crer em mim, para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, com perfeição.

Jo 18

Julgamento de Jesus (Veja Mc14s)

Jesus saiu com os discípulos, e foram a um jardim no Vale do Cedron. Ali Judas apareceu com os guardas para prendê-lo. Pedro puxou da espada, e cortou uma orelha de um guarda. 

Os guardas prenderam Jesus, e o levaram a Anás, que o mandou para Caifás. Pedro os seguiu, e negou Jesus três vezes. Caifás mandou Jesus para Pilatos para condená-lo à morte. Pilatos perguntou a Jesus se ele era o Rei dos Judeus, porque o acusaram disso.

Jesus disse: O meu Reino não é deste mundo, se fosse deste mundo os meus súditos lutariam para que eu não fosse preso. Só depois disse: Sim, eu sou rei. Vim ao mundo para dar testemunho da verdade, e quem é da verdade ouve a minha voz.

Pilatos propôs libertar Jesus ou Barrabás, e o povo libertou Barrabás.

Jo 19

a) Pilatos Julga Jesus (Veja Mc15).


Pilatos mandou flagelar Jesus. Vestiram-no de rei, e o coroaram com espinhos.

Pilatos disse: Não acho neste homem nenhum motivo de acusação.

O povo gritava: Crucifica-o!

Pilatos disse: Crucifica-o vocês, porque não vejo nenhuma culpa nele.

O povo disse: Conforme nossa lei ele deve morrer, porque se diz Filho de Deus.

Pilatos queria soltá-lo, mas os judeus não deixaram.

b) Paixão de Jesus (Veja Mc15).

Jesus carregou a cruz até o Monte Calvário fora da cidade, onde o crucificaram. Junto da cruz estavam sua mãe, Maria de Cléofas e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe perto do discípulo que amava (João) disse: Mulher eis aí seu filho. E ao discípulo: Eis aí sua mãe. E o discípulo a levou para sua casa.

c) Jesus morreu.

d) Os judeus não queriam que o corpo ficasse na cruz, pois era a véspera da Páscoa. Pediram para quebrar suas pernas para que morresse logo. Os guardas quebraram as pernas dos dois malfeitores, mas viram que Jesus já estava morto, e não lhe quebraram as pernas, mas furaram o seu lado com uma lança, de onde saiu sangue e água.

e) José de Arimatéia (era discípulo de Jesus) pediu o corpo dele a Pilatos, e o sepultou.

Jo 20

a) Ressurreição de Jesus (Veja Mc16).

Passado a Páscoa Maria Madalena foi ao sepulcro, e o viu vazio. Avisou aos discípulos. Pedro e o outro discípulo foram correndo para lá, e também o viram vazio.

Maria chorava no jardim, e alguém perguntou: Porque chora? E depois lhe disse: Maria! Então ela reconheceu Jesus.

b) Aparições aos discípulos (Veja Mc16).

Os discípulos estavam reunidos. Jesus veio entre eles, e disse: A paz esteja convosco!

Soprou sobre eles, e disse: Recebam o Espírito Santo.

A quem perdoarem os pecados, eles serão perdoados. Tomé não estava com eles, e quando o contaram ele não acreditou. Oito dias depois estavam todos no mesmo lugar, inclusive Tomé, e

Jesus apareceu, e disse: A paz esteja convosco!

Depois disse a Tomé: Toque com seu dedo as minhas chagas e o meu lado, e seja um homem de fé.

Tomé disse: Meu Senhor e meu Deus!

Jesus disse: Acreditou porque me viu. Felizes os que creem sem ter visto!

Jo 21

a) Aparições na Galileia.

Os discípulos passaram a noite pescando no Lago Tiberíades, e não pescaram nada. De manhã Jesus apareceu, e os mandou lançar novamente as redes, e ela veio cheia. Só aí reconheceram Jesus. Comeram pão e peixe.

b) Jesus perguntou a Pedro: Simão você me ama? Ele respondeu: Sim, sabe que te amo. Jesus disse: Apascentas minhas ovelhas. Isto por três vezes.

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