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8/01/2015

BEBÊ DE MÃE ALCOÓLATRA

SÍNDROME DO ALCOOLISMO FETAL

Definição

O bebê de mãe alcoólatra enfrenta vários distúrbios, que podem comprometer a sua vida no futuro. O Alcoolismo é um problema de abuso de álcool, que afeta 1 a 2% das mulheres em idade fértil. O consumo de álcool tanto moderado como alto, durante o início da gravidez pode levar a alterações do crescimento e da morfogênese do feto; quanto maior a ingestão, mais graves os sinais e sintomas no bebê.

Síndrome do Alcoolismo Fetal

A Síndrome do Alcoolismo Fetal (SAF) pertence a um conjunto de síndromes, caracterizadas pela presença de defeitos congênitos ocasionados pelo consumo materno de álcool em grandes quantidades, durante a gravidez. A Síndrome do Alcoolismo Fetal ocorre em crianças, filhas de mulheres alcoólatras crônicas, isto é, mulheres que bebem diariamente, mesmo no período de gravidez e amamentação.

A SAF é caracterizada por retardo do crescimento e alterações dos traços faciais, que se tornam menos evidentes com o passar do tempo. Somam-se a estes, alterações globais do funcionamento intelectual, em especial déficits de aprendizado, memória, atenção, além de dificuldades para a resolução de problemas e socialização. A Síndrome Alcoólica Fetal é considerada a causa mais comum de retardo mental infantil de natureza não-hereditária.

Incidência

A incidência da síndrome oscila entre 4 a 8% dos nascidos de mães dependentes de álcool. A incidência de SAF é estimada em um em cada mil nascimentos. Abuso de álcool durante a gravidez, produz um risco de 30% a 50% de possibilidades de lesões fatais, em relação às mães que não bebem, neste período. A incidência da SAF, está aumentando nos EUA.

Causas

A Síndrome Alcoólica Fetal resulta da combinação do ato de beber bebida alcoólica excessivamente, pela gestante, durante o período da gravidez, concomitantemente, com os fatores de risco. Não existem estudos em que se cogite, marcadores capazes de determinar a ação exata do álcool sobre o feto, assim como a influência da dose sobre o processo de desenvolvimento da síndrome.

Como age o álcool no cérebro da mãe alcoólatra

O álcool age em vários sistemas químicos cerebrais. Sua primeira ação é sobre a química do controle da ansiedade, o sistema GABA. A pessoa fica mais relaxada, tende a filtrar os estímulos e por isso interage melhor com os outros. Dependendo da quantidade ingerida e da química cerebral de cada pessoa em particular, o relaxamento inicial pode dar lugar à sonolência ou a muita agressividade.

A parte do cérebro mais afetada pelo uso excessivo do álcool, costuma ser o córtex pré-frontal. Essa região cerebral é a responsável pelas funções intelectuais superiores como o raciocínio, capacidade de abstração de conceitos e lógica. Outras regiões cerebrais mais profundas também são acometidas pelo álcool, principalmente as áreas cerebrais envolvidas com a memória e o cerebelo que é a parte responsável pela coordenação motora. 

Com o aumento da concentração da droga na corrente sanguínea, a função do cerebelo começa a mostrar sinais de deterioração, provocando desequilíbrio, alteração da capacidade cognitiva, dificuldade crescente para a articulação da palavra, falta de coordenação motora, movimentos vagarosos ou irregulares dos olhos, visão dupla, rubor facial e taquicardia. O pensamento fica desconexo e a percepção da realidade se desorganiza.

Estudos pos-mortem (necropsia) indicam que o cérebro de um alcoólatra é menor, mais leve e encolhido do que o cérebro de pessoas sem história de alcoolismo. Essas constatações também podem ser comprovadas em vida pelos exames de imagens como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética e a tomografia por emissão de fótons. Ocorre ainda comprometimento na vascularização cerebral e nos padrões elétricos.

Quanto mais álcool ingerido e mais prolongado é o vício, maior a extensão do dano cortical, no cérebro do alcoólatra. O dano físico do álcool sobre o cérebro é um fato inquestionável e absoluto.

Como age o álcool no cérebro do feto:

A ação direta e indireta do álcool sobre o sistema nervoso embrionário, apesar de não ser o único fator patogênico responsável pelo aparecimento da SAF, parece estar relacionada aos defeitos encontrados com mais freqüência entre os portadores dessa síndrome. Tal ação acomete algumas regiões centrais com mais intensidade, enquanto outras parecem possuir alguma resistência aos mesmos efeitos. As áreas no feto mais passíveis de lesão secundária à presença do álcool durante a gestação, são as seguintes:

Cérebro.
  • Cerebelo.
  • Córtex.
  • Área septal.
  • Tálamo.
  • Corpo caloso.
  • Hipocampo.
  • Ganglia basal.
  • Hipotálamo.

Álcool e a gravidez

A quantidade mínima de álcool ingerida capaz de afetar o concepto, assim como os mecanismos pelos quais o álcool exerce sua ação embriofetóxica, ainda não estão bem elucidados, Todo o álcool ingerido atravessa a barreira placentária e o feto fica exposto à mesma concentração que a mãe. No entanto, a exposição é maior para o concepto porque o metabolismo e a eliminação são mais lentos; o líquido amniótico fica impregnado de álcool não-modificado e de acetaldeído, pois não possui a quantidade necessária de enzimas para sua biodegradação.

Os danos fetais são diferentes, conforme o período gestacional: 
  • Primeiro trimestre: o risco é de anomalias físicas e dismorfismo.
  • Segundo trimestre: pode ocorrer risco de abortamento.
  • Terceiro trimestre: pode ocorrer diminuição do crescimento fetal, em especial o perímetro cefálico e o cérebro.

Obs: As lesões e intensidade das manifestações, na forma clássica, são conseqüências do abuso da ingestão diária de álcool nos primeiros três meses.

Fatores de risco

Os fatores de risco que podem estar relacionados à ocorrência da Síndrome Alcoólica Fetal, podem ser os seguintes:

Saúde materna:
  • Idade acima de 25 anos ao nascimento da criança.
  • Presença de 3 ou mais gravidezes anteriores.
  • Ocorrência de parto prematuro ou natimorto anterior.
  • Uso concomitante de tabaco e/ou outras drogas.
  • Desnutrição ou subnutrição.
Gestação:

Consumo durante o primeiro trimestre da gravidez de bebida alcoólica excessiva e diariamente.

Sócio-econômicos:

  • Baixo nível sócio-econômico.
  • Desemprego ou subemprego.
  • Padrão de consumo materno:
  • Início precoce do consumo de álcool.
  • Padrão compulsivo de uso (5 drinks ou mais por ocasião).
  • Padrão freqüente de uso (ao menos 2 ocasiões semanais).
  • Ausência de redução do consumo na gravidez.

Fatores psicológicos:

  • Baixo auto-estima.
  • Depressão.
  • Distúrbios sexuais.

Fatores familiares:
  • História de dependência de álcool na família.
  • Dependência de álcool compartilhada pelo parceiro.
  • Relações maritais tênues.

Fatores sócio-culturais:

Ambientes tolerantes ao beber excessivo da gestante. Nesses tipos de ambientes, as pessoas ao redor não se importam se a mulher grávida está bebendo.

Desenvolvimento social na adolescência

Muitas crianças e adolescentes que tiveram diagnóstico positivo para a Síndrome Alcoólica Fetal, podem experimentar dificuldades no âmbito social. Geralmente, muitos adolescentes têm dificuldades tanto sociais como comportamentais. O convívio escolar é prejudicado. São mais violentos, acabando por ter problemas na justiça. Muitos apresentam ainda problemas relacionados com o álcool e/ou drogas. O comportamento sexual também pode ser prejudicado.

Sinais e sintomas

Os critérios diagnósticos da SAF foram estabelecidos e padronizados pela Research Society on Alcoholism Fetal Alcohol Study Group, em 1980, e sofreram algumas modificações no final da mesma década. Três critérios essenciais devem ser encontrados: retardo do crescimento pré ou pós-natal, acometimento do sistema nervoso central e a presença de fácies característica. É importante salientar que a presença das alterações faciais, praticamente fecha o diagnóstico de SAF.

  • Fissuras palpebrais curtas.
  • Facies plana.
  • Nariz curto.
  • Philtrum indistinto.
  • Lábio superior fino.

Apesar de tais alterações acima, serem encontradas isoladamente em outras síndromes, a combinação destas é característica da SAF.

Região craniofacial:
  • Microcefalia (cabeça pequena).
  • Fissuras palpebrais curtas.
  • Ptose palpebral.
  • Pregas epicânticas.
  • Micro ou retrognatia.
  • Hipoplasia do maxilar (maxilar pequeno).
  • Nariz curto com nasio rebaixado.
  • Philtrum indefinido.
  • Lábio superior fino.

Crescimento:
  • Déficit de crescimento pré ou pós-natal.
  • Redução do tecido adiposo.
  • Desenvolvimento:
  • Retardo mental.
  • QI abaixo do normal
  • Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
  • Disfunção motora fina.
  • Déficit de atenção e/ou hiperatividade.
  • Problemas de fala.
  • Hipotonia.
  • Distúrbios cognitivos e comportamentais.
Tecido esquelético:
  • Alterações articulares (ex: luxações).
  • Defeitos de postura dos pés.
  • Anormalidades da espinha cervical.
  • Pectus excavatum.

Aparelho cardíaco:
  • Defeitos do septo ventricular.
  • Defeitos do septo atrial.
  • Tetralogia de Fallot.
Outras alterações ou distúrbios:
  • Estrabismo.
  • Má oclusão dentária.
  • Perdas auditivas.
  • Escavação torácica anormal.
  • Dentes pequenos.
  • Hipospádia.
  • Hidronefrose.
  • Hirsutismo infantil.
  • Hérnias umbilicais ou diafragmáticas.

Este padrão de anomalias, a Síndrome do Alcoolismo Fetal, é detectado em 1 a 2 infantes/1.000 nascimentos vivos. Com freqüência, é necessário experiência clínica para fazer um diagnóstico preciso da Síndrome, pois as anomalias físicas nas crianças afetadas são inespecíficas. Não obstante, o padrão geral das características clínicas presentes é único, mas pode variar de sutil a grave. 

Hoje em dia, acredita-se que o abuso do álcool pela mãe é a causa mais comum de retardamento mental. Até mesmo um consumo moderado de álcool (p.ex., 30 a 60g por dia) pode produzir efeitos da síndrome, crianças com dificuldades comportamentais e de aprendizado, por exemplo, especialmente quando a bebida está associada à desnutrição.

O período suscetível do desenvolvimento cerebral, cobre a maior parte da gestação; por isto, o melhor conselho é abster-se totalmente de tomar álcool durante a gravidez. As mulheres grávidas alcoólatras podem prejudicar de forma irreversível o futuro de seus filhos. Estas crianças podem nascer com a Síndrome Alcoólica Fetal, que significa poderem apresentar:

  • peso e altura inferiores à média;
  • diâmetro reduzido da cabeça (microcefalia);
  • rosto assimétrico e fissuras na pálpebra;
  • anomalias cardíacas;
  • retardo mental;
  • epilepsia;
  • hérnias, entre outras, formando um total de 91 anomalias catalogadas. relacionadas a essa síndrome.

Cerca de um terço dos bebês de mães dependentes do álcool, que fizeram uso durante a gravidez, são afetados pela "Síndrome Alcoólica Fetal.” Os recém-nascidos apresentam sinais de irritação, mamam e dormem pouco, além de apresentarem tremores (sintomas que lembram a síndrome de abstinência). As crianças severamente afetadas e que conseguem sobreviver aos primeiros momentos de vida, podem apresentar problemas físicos e mentais que variam de intensidade de acordo com a gravidade do caso.

Prevenção

O consumo de bebidas alcoólicas durante a gestação, pode trazer conseqüências graves para o recém-nascido, sendo que, quanto maior o consumo, maior a chance de prejudicar o feto. Desta forma, é recomendável que toda gestante evite o consumo de bebidas alcoólicas, não só ao longo da gestação como também durante todo o período de amamentação, pois o álcool pode passar para o bebê através do leite materno.

A mulher alcoólatra que pretende engravidar, deve por prevenção passar por um processo de desintoxicação, para só depois desse período, planejar a gravidez. A Síndrome Alcoólica Fetal é uma patologia que pode ser prevenida, simplesmente excluindo a ingestão diária de álcool, durante toda a gravidez e durante o período da amamentação.

Gestantes que utilizam álcool durante a gestação tendem a omitir tal informação. Perguntar sobre o padrão anterior de consumo de álcool, ao invés do atual, pode deixar a gestante mais à vontade para falar sobre o assunto. Por isso a necessidade do pré-natal, para tentar detectar e interromper o alcoolismo na gestante. Quanto mais precoce o diagnóstico, menor a chance de complicação fetal.

O Brasil é um dos maiores consumidores de bebidas alcoólicas do mundo, por isso, a necessidade do governo de produzir campanhas publicitárias, para evitar que as mulheres durante o transcurso da gravidez, evitem ingerir bebidas alcoólicas, principalmente, a cerveja, já que essa é a bebida alcoólica mais consumida entre as mulheres brasileiras.

Cuidados que podem ser implementados na gestante alcoólatra

Existe a necessidade de um trabalho multidisciplinar, através de uma equipe multidisciplinar, para tentar interromper o consumo crônico de álcool. Informar à gestante os riscos do consumo de álcool tanto para ela, e principalmente, para o bebê, durante o período restante da gravidez e durante o processo de amamentação.

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