NOVO TESTAMENTO
CARTAS DE OUTROS APÓSTOLOS
EPÍSTOLAS DE JOÃO I, II E III
A PRÁTICA DO AMOR E DA SANTIDADE
O apóstolo João escreveu 3 cartas, que são profundamente doutrinárias e abordam aspectos práticos do exercício da fé cristã, através do amor e da obediência.
Na sua primeira carta, 21 vezes Jesus é chamado Filho de Deus, 12 vezes Deus é chamado o Pai, enfatizando assim a divindade de Cristo.
Logo no início da primeira carta, a ênfase na obediência e na pureza doutrinária é expresso em 1 Jo 1.5-10. Hoje, muitos cristãos querem viver isolados, longe das “imperfeições” de uma igreja (congregação), mas se esquecem que a comunhão é uma forma de obediência ao mandamento do amor (1 Jo 1.7).
A definição de pecado está em 1 Jo 5.4.
A ênfase na vida santificada do crente é presente em 1 Jo 2.1-6, 15-17, 3.1-10.
A primeira carta de João, além de doutrinária, enfatiza a prática do amor (1 Jo 2.7-11, 3.11-24, 4.7-21). Se os cristãos de hoje observassem mais a prática do amor, e dessem menos ênfase aos aspectos ritualísticos (forma do culto, batismo, ceia, etc.), que diferença faríamos neste mundo!
Como carta combativa, no capítulo 4 de 1 Jo o apóstolo exorta a “provar os espíritos”. Portanto, o sincretismo religioso (mistura de crenças, ideias, doutrinas e rituais) não encontra qualquer respaldo bíblico. A verdade, sempre será a verdade!
Jesus é Deus e também é homem (1 Jo 4.1-3, 5.20).
Quem tem Jesus como único Senhor e Salvador, não precisa adorar qualquer ídolo (1 Jo 5.21).
A 2a. Carta volta a frisar o amor, como norma de liberdade e prática cristã (2 Jo 1.5-6), sem deixar de considerar a necessidade de pureza doutrinária (2 Jo 1.7-11).
A 3a. Carta foi escrita para um amigo, chamado Gaio. Nela, João confessa sua alegria de ver seus “filhos” andarem na verdade (3 Jo 1.4). Será que nós, como obreiros de Deus, podemos ser elogiados como Gaio o foi? (3 Jo 1.3, 5-8).
Infelizmente, nas igrejas pode haver o “espírito de Diótrefes”, que equivale ao autoritarismo, arrogância e malícia (3 Jo 1.9-10). As exortações práticas das duas cartas anteriores estão presentes também na terceira: 3 Jo 1.11-12.
1ª João (1Jo)
Autor
Apóstolo João
Data
Cerca de 90 d.C.
Autor e Receptores
Embora esta carta seja anônima, seu estilo e vocabulário indicam claramente que foi escrita pelo autor do Evangelho de Jo. Evidências internas também apontam João como o autor, e o antigo testemunho atribui, com unanimidade, a carta a ele.
A falta de especial dedicação e saudação indicam que a carta foi circular, provavelmente enviada às igrejas perto e Éfeso, onde João passou seus últimos dias.
Data
O peso de uma tradição antiga e forte sobre João ter passado seus últimos anos em Éfeso, junto com o fato do tom dos escritos sugerirem que se trata de um produto de um homem madura que passou por experiência espiritual profunda, apontam uma data próxima ao final do séc. I. Além disso, o caráter da heresia combatida na carta aponta para a mesma época, cerca de 90 d.C.
Ocasião e Objetivo
João declara ter escrito para dar garantia da vida eterna àqueles que Creem “no nome do Filho de Deus (5.13). A incerteza de seus leitores sobre sua condição espiritual foi causada por um conflito desordenado com os mestres de uma falsa doutrina. João refere-se ao ensinamento como enganosos (2.26; 3.7) e aos mestres como “falsos profetas” (4.1), mentirosos (2.22) e anticristos (2.18,22; 4.3). Eles um dia tinha estado com a igreja, mas tinha se afastado (2.19) e tinha se “levantado no mundo” (4.1) para propagar sua perigosa heresia.
Heresia era um precursor do gnosticismo do séc. II, que ensinava que a matéria era essencialmente ruim e o espírito era essencialmente bom. O ponto de vista dualista fez com que os falsos mestres negassem a encarnação de Cristo e, portanto, a ressurreição.
O verdadeiro Deus, ensinavam eles, nunca poderia habitar um corpo material de carne e sangue. Portanto, o corpo humano que Jesus supostamente possuiu não era real, mas apenas aparente. João escreveu vigorosamente contra esse erro (2.22-23; 4.3).
Eles também ensinavam que, como o corpo humano era um simples invólucro para o espírito interior, e como nada que o copo fizesse poderia afetar o espírito interno, as distinções éticas pararam de ser relevantes. Portanto, eles não tinham pecado, João responde esse erro com indignação (2.4,6,15-17; 3.3,7,9-10; 5.18).
“Gnosticismo” é uma palavra derivada do grego gnosis, que significa “conhecimento”. Mais tarde, os gnósticos ensinavam a salvação através de esclarecimento mental, que acontecia somente para iniciados da elite espiritual, e não aos cristãos comuns. Em virtude disso, eles substituíram a fé pelas buscas espirituais e exaltaram a especulação mais do que os dogmas básicos do evangelho.
Mais uma vez João reagiu energicamente (2.20,27), declarando que não há revelação particular reservada para alguns poucos intelectuais, e que todo o corpo de crentes possui a doutrina apostólica.
O objetivo de João ao escrever, então, era expor a heresia dos falsos mestres e confirmar a fé dos verdadeiros crentes.
Características
Existem grandes semelhanças entre o Evangelho de Jo e 1Jo. O tom da epístola é amigável e paterno, refletindo a autoridade que a idade e o apostolado trazem. O estilo é informal e pessoal, revelando o relacionamento íntimo do apostolo com Deus e com o povo de Deus.
Conteúdo
Em primeiro lugar, João ressalta os temas do amor, luz, conhecimento e vida em suas advertências contra a heresia. Esses elementos repetem-se por toda a carta, sendo o amor a nota dominante. Possuir amor é evidência clara de que uma pessoa é cristã, e a falta de amor indica que a pessoa está nas trevas (2.9-11; 3.10-23; 4.7-21).
João afirma que Deus é a luz, e a comunhão com ele faz com que as pessoas caminhem em verdadeira comunhão com outros crentes. A comunhão com Deus e os irmãos permite que as pessoas reconheçam através da unção de Deus, a falsa doutrina e o espírito do anticristo.
A comunhão com Deus exige que se caminhe na luz e se obedeça aos mandamentos de Deus (1.6-7; 2.3,5). Aquele que “pratica justiça é justo, assim como ele é justo” (3.7), enquanto “qualquer que não pratica a justiça e não ama a seu irmão não é de Deus” (3.10). O amor ao Pai e o amor ao mundo são totalmente incompatíveis (2.15-17), e nenhuma pessoa nascida de Cristo tem o hábito de praticar o pecado (3.9; 5.18).
Cristo é antítese do pecado, e ele se manifestou para tirar os nossos pecados (3.5).
O cap. 4 continua com o tema da identificação dos espíritos rivais - falsos profetas que saíram para o mundo (v.1). A fim de testar os espíritos, nós devemos encontrar quem eles reconhecem como salvador e senhor. Todos os espíritos que não reconhecem que Jesus é Deus em carne não é de Deus (v.3).
A epístola termina com o testemunho de Jesus, o Filho de Deus. Jesus é aquele que veio. O título técnico do Messias é “aquele que havia de vir” ou “aquele que veio” (Mt 11.3; 1Jo 5.6). João o identifica como aquele que veio pela água e pelo sangue, o Deus que veio e habitou entre nós, a palavra que se tornou carne.
Cristo Revelado
João enfatiza tanto a divindade quanto a humanidade de Jesus, declarando que Deus entrou completamente na vida humana através dele. Um teste do Cristianismo é a crença correta sobre a encarnação (4.2,15; 5.1).
a) Jesus é nosso advogado junto ao Pai (2.1). O pecado não combina com a vida de um cristão; mas, se ele pecar, Jesus defende seu caso.
b) Jesus é a propiciação pelos nossos pecados (2.2; 4.10).
c) Jesus também é o nosso Salvador, enviado por Deus para nos resgatar do pecado (1.7; 3.5; 4.14). Apenas através dele podemos alcançar a vida eterna (5.11,12).
d) João apresenta a segunda vinda de Jesus como um incentivo para que permaneçamos firmes na fé (2.28), e ele oferece a garantia de que nossa completa transformação à semelhança de Cristo acontecerá no momento de sua volta.
O Espírito Santo em Ação
João descreve um ministério triplo do ES nesta carta. Em primeiro lugar, o dom do Espírito que nos assegura que em nosso relacionamento com Cristo, tanto ele é fiel a nós (3.24) como nós somos fiéis a ele (4.13). Em segundo lugar, o ES testemunha a realidade da encarnação (4.2; 5.6-8). Em terceiro, o Espírito guia os verdadeiros crentes a uma completa realização da verdade em relação a Jesus, que eles podem se opor com sucesso aos heréticos que negaram esta verdade (2.20; 4.4).
Esboço de 1º João
I. A encarnação 1.1-10
a) Deus tornou-se carne na forma humana 1.1-4
b) Deus é luz 1.5-10
II. A vida de Justiça 2.1-29
a) Caminhada na luz 2.1-7
b) Advertindo contra o espírito do anticristo 2.18-29
III. A vida dos filhos de Deus 3.1-4.6
a) Justiça 3.1-12
b) Amor 3.13-24
c) Crença 4.1-6
IV. A fonte do amor 4.7-21
V. O triunfo da Justiça 5.1-5
VI. A garantia da vida eterna 5.6-12
VII. Certeza cristãs 5.13-21
2ª João (2Jo)
Autor
Apóstolo João
Data
Cerca de 90 d.C.
Autor e Receptores
João dirige esta segunda epístola para a “senhora eleita e seus filhos”, indicando que a receptora era uma mulher cristã cujos filhos perseveravam na fé (v.4). Ele até inclui saudações de suas sobrinhas e sobrinhos (13). A partir da designação que João lhe dá no verso 1 (gr eklekt Kyria), muitos comentaristas especularam sobre seu nome pessoa, sugerindo títulos como “a Kyria eleita”, “a senhora Elcta” e “Electa Kyria”.
Outros sugerem que a designação não denota uma pessoa em si, mas trata-se da personificação de uma igreja local. “Seus filhos” sãos os membros da igreja, e os “filhos” da “irmã eleita” são membros da igreja do lugar onde João está escrevendo. Uma conclusão definitiva parece inatingível, e a pergunta continua em aberto.
Data
O peso da evidência de João ter escrito as três cartas levando seu nome aponta para cerca de 90 d.C.
Ocasião e Objetivo
2Jo se preocupa com a relação da verdade cristã com a hospitalidade estendida àqueles mestres que viajam de igreja para igreja. Normalmente se abusava de tal hospitalidade. Os falsos mestres, provavelmente do mesmo grupo que é tratado em 1Jo, estavam confundindo a comunhão dos crentes.
Portanto, João deu instruções sobre quais mestres itinerantes acolher e quais recusar. Os verdadeiros Cristãos, que podiam ser reconhecidos pela ortodoxia de sua mensagem (v.10), são dignos de ajuda; mas os mestres heréticos, especialmente aqueles que negavam a encarnação (v.7) devem ser rejeitados.
Conteúdo
João estimula a “senhora eleita” a continuar mostrando hospitalidade, mas também adverte a previne contra o abuso da comunhão cristã. Por toda a epístola, ele ressalta a verdade como a base e prova da comunhão. Em especial, ele insiste em uma crença correta levando em consideração a encarnação de Cristo, e acusa aqueles que rejeitam essa realidade de terem ido além da doutrina de Cristo (v.9). Ele incita os leitores a ficarem perto de Cristo, mantendo-se fiéis na verdade.
Cristo Revelado
João apresenta tanto a divindade de Cristo (v.3) quanto sua humanidade (v.7). Qualquer pessoa que negue a verdade fundamental relacionada à Pessoa divino– humana de Cristo não tem a Deus (v.9).
João encara a comunhão como uma característica distintiva da vida cristã, mas não deixa dúvidas de que a comunhão cristã é impossível onde a doutrina apostólica da Pessoa e obra de Cristo seja negada ou comprometida.
O Espírito Santo em Ação
Embora a epístola não mencione especificamente o ES, seu ministério é evidente, especialmente ao prestar testemunho à verdade relacionada à Pessoa de Cristo. O Espírito permite que o verdadeiro crente saiba distinguir os falsos mestres e “perseverar na doutrina de Cristo. ”
Esboço de 2º João
Introdução 1-3
I. Elogio pela lealdade passada 4
II. Exortações 5-11
a) Para amar o próximo 5-6
b) Para rejeitar o erro 7-11
c) Conclusão 12-13
3ª João (3Jo)
Autor
Apóstolo João
Data
Cerca de 90 d.C.
Autor e Receptores
Tanto em 2Jo quanto em 3Jo, o escritor se autodenomina “o ancião”, sugerindo que era mais velho do que os outros cristãos e que seu conhecimento pessoal da fé foi muito além do deles. A evidência mais forte é que todas as três epístolas de João foram escritas por um mesmo autor.
Não se sabe nada sobre o “amado Gaio” além do caloroso tributo que João presta a ele no início desta carta. Gaio era um nome comum no mundo romano, e o NT menciona um Gaio em Corinto (Rm 16.23; 1Co 1.14), na Macedônia (At 19.29) e em Derbe (At 20.4). Não há nenhuma evidência para associar Gaio de 3Jo com qualquer desses homens. Evidentemente, ele era líder de alguma igreja na Ásia.
Data
João era madura tanto em anos quanto em experiências quando escreveu esta carta junto com 2 Jo perto do fim de sua vida por volta de 90 d.C.
Ocasião e Objetivo
Enquanto em 2 Jo os heréticos itinerantes estavam perturbando a fé dos cristãos, nesta carta os genuínos mestres da verdade estão fazendo um circuito de igrejas.
Na carta anterior, João proibiu a hospitalidade para os falsos mestres; aqui ele estimula a hospitalidade. Entretanto, Diótrefes, uma pessoa dominante em uma das igrejas, se opôs-se à autoridade de João.
Além disso, ele recusou hospitalidade aos missionários viajantes e proibiu os outros de recebê-los, excomungando-os quando eles o faziam. João escreveu para estimular Gaio em sua generosidade para repreender Diótrefes por sua conduta nada caridosa.
Conteúdo
Ao cumprir se objetivo, João descreve três personalidades. A primeira é Gaio, que demonstrou sua fé cristã através de sua generosa hospitalidade, mesmo a estranhos. Segunda é Diótrefes, cujo orgulho egoísta estava rompendo a harmonia da comunhão. Terceira é Demétrio, cuja vida exemplificava a fidelidade cristã e era digna de imitação. Esses três homens possuem testemunhos positivos e negativos para relacionamentos adequados entre os irmãos.
Cristo Revelado
João apresenta Jesus como a verdade na qual devemos caminhar. A devoção a ele motiva verdadeiros mestres em seu serviço itinerante (v.7).
As vidas de Gaio e Demétrio harmonizavam exatamente com a doutrina de Cristo e forneceram forte testemunho ao poder de seu amor. Por outro lado, o comportamento de Diótrefes mostra um acentuado contraste com a verdadeira vida em que Cristo deve ser o primeiro em todas as coisas.
O Espírito Santo em Ação
Esta carta não se refere diretamente ao ES, mas seu ministério é aparente por toda a mensagem, especialmente ao permitir que os crentes “caminhem na verdade” e autorizando os missionários itinerantes em seu ministério. O fruto do Espírito é evidente nas vidas de Gaio e Demétrio.
Esboço de 3º João
Saudação 1
I. Mensagem a Gaio 2-8
a) Oração por sua Saúde 2
b) Recomendação para a adesão à verdade 3-4
c) Recomendação para sua hospitalidade 5-8
II. Condenação à arrogância de Diótrefes 9-11
III. Elogio a Demétrio 12
Conclusão 13-14
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