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7/16/2015

O Livro de Baruque para contar às crianças

Livro de Baruque

INTRODUÇÃO

O livro de Baruc chegou até nós por meio da versão grega da Septuaginta, onde se encontra entre Jeremias e as Lamentações. São Jerônimo absteve-se de traduzi-lo para o latim porque, a seu ver, "os hebreus nem liam, nem possuíam" este livro; por isso, o que foi inserido na Vulgata é a tradução latina da Vetus Latina. Na Vulgata , Baruc se situa geralmente entre as Lamentações e Ezequiel - juntamente com a Carta de Jeremias que, na Vulgata , vem logo em seguida e constitui o seu capítulo sexto.

A primeira leitura, a obra se apresenta como tendo sido redigida por Baruc , "secretário" de Jeremias , durante o exílio na Babilônia , para proveito da comunidade que ficara em Jerusalém . Mas as numerosas discrepâncias entre as informações dos escritos contemporâneos relativos à tomada de Jerusalém e ao Exílio e os dados de Baruc tornam impossível a atribuição desta obra ao "secretário" de Jeremias (cf. notas em Br 1,1.2.8.10.12 e 14). 

O livro inclui-se, portanto, na literatura pseudonímica; a pseudonímia implica um autor diferente, bem como outra situação e outros destinatários que os enunciados no texto. Daí decorre a principal dificuldade para ler Baruc. Ele segue o modelo das narrativas referentes à tomada de Jerusalém por Nabucodonosor em 587 e aos anos de exílio , sem deixar de introduzir certo número de alterações, cuja função é adaptar o modelo à situação histórica do seu tempo. 

Tais diferenças são os sinais característicos do processo de atualização. Para situar Baruc no espaço e no tempo, e para compreender sua função, mister é tentar descobrir, por trás do que diz o texto, o que ele, na realidade, designa.


As quatro partes do livro. Mas a leitura esbarra ainda com outra dificuldade: o caráter compósito da obra. De fato, ela é constituída de quatro partes heterogêneas, que não podem ser nem do mesmo autor, nem da mesma época: uma introdução histórica, uma oração penitencial, uma meditação sobre a Sabedoria, e finalmente uma exortação a Jerusalém .

Esses trechos diferem tanto pela língua original que supõem, como pelo gênero literário e a doutrina: daí provêm os problemas da unidade da coletânea em sua composição atual e o da sua função global.

a) A introdução histórica (1,1-14). Descreve-nos as circunstâncias em que o livro de Baruc teria sido composto, e com que finalidade. Teria esta introdução sido redigida diretamente em grego, por um escritor familiarizado com a Septuaginta, ou remontaria a um original semítico? Ambas as hipóteses foram defendidas, mas a segunda parece mais verossímil.

b) A oração penitencial (1,15-3,8). Duas partes se podem distinguir (1,15 nota): de início, uma confissão (1,15-2,10), a seguir uma súplica (2,11-3,8). O texto grego desta oração , mosaico de citações bíblicas, é, com toda a verossimilhança, tradução de uma prece inicialmente redigida em hebraico. Ela pertence a um gênero literário bem-definido, o da confissão nacional.

O início da oração (1,15-2,19) depende da de Daniel , inserindo-lhe, porém, algumas modificações. Em especial, Baruc omite as passagens de Daniel relativas a Jerusalém e ao santuário desolado (Dn 9,16.17b.18b.19); mas Baruc acrescenta desenvolvimentos sobre a situação do povo no Exílio (Br 2,3-5.13.14b). Essas modificações sugerem que a oração penitencial de Baruc provém de uma comunidade judaica da diáspora , para a qual a situação do Templo já não se apresentava de modo tão dramático quanto a evocada por Daniel . 

Do ponto de vista cronológico, várias hipóteses foram apresentadas para explicar este parentesco estreito entre as confissões nacionais de Daniel e as de Baruc; caso se conclua por um empréstimo tomado diretamente de Daniel por Baruc, a oração conservada no segundo é posterior ao primeiro; mas não é impossível tampouco que essas duas confissões sejam translados de uma oração mais antiga (a respeito de um arcaísmo doutrinal, cf. 2,17, nota) que teriam sido inseridos posteriormente e de forma independente nos dois livros.

Função litúrgica, data e ambiente de origem das duas primeiras partes de Baruc: o jejum e as lamentações, os sacrifícios oferecidos no santuário , a confissão nacional, tudo isso indica que o quadro litúrgico das duas primeiras partes de Baruc é o de uma liturgia penitencial celebrada com vistas a reconciliar o povo com seu Deus , depois de alguma catástrofe nacional. 

Vários períodos particularmente conturbados podem ser levados em consideração: 169 e os anos subsequentes, sob Antíoco Epífanes, a tomada de Jerusalém por Pompeu em 63 a.C.; finalmente a efetuada por Tito em 70 d.C. Mas o saque do Templo por Antíoco IV em 169 e a restauração do culto por Judas em 164, portanto, cinco anos mais tarde (cf. 1,2.8) são o que parece explicar melhor as discrepâncias significativas da tipologia usada neste escrito. 

A intercessão em prol de Nabucodonosor e do seu filho Baltasar (1,11) nos faria remontar a Antíoco IV e a seu filho, o futuro Antíoco Eupátor. Quanto ao ambiente de origem dessas duas primeiras partes, não há dúvida de que seja uma comunidade judaica da diáspora , talvez de Antioquia, profundamente apegada às tradições religiosas da Judeia - ao contrário dos partidários da helenização integral, como o sumo sacerdote Menelau (cf. 2Mc 4,23ss.) -, mas politicamente hostil a uma resistência armada contra os selêucidas (1,11-12; 2,21.24).

c) A meditação sobre a Sabedoria (3,9-4,4). À oração penitencial segue-se uma meditação sobre a Sabedoria (3,9 nota). O texto retoma a interrogação sobre a causa das desgraças do povo no Exílio, mas a resposta é formulada nos termos característicos dos escritos sapienciais.

A meditação sobre a Sabedoria se situa numa virada da história das doutrinas sapienciais judaicas. A ideia de uma Sabedoria dispensada universalmente (Pr 8,17.31), definida como temor de Deus (Pr 1,7; 9,10; 15,33; Sl 111,10; Jo 28,28), é precisada: ora é identificada com a Lei, cujo depositário único é o povo eleito (Sr 24,8-12; Br 4,1); ora é apresentada como participante da obra criadora de Deus (Pr 8,22-31; Sr 24,9; e talvez Br 3,32-35, cf. nota ao v. 32), depois, habitando entre os homens.

Por causa das afinidades doutrinais que esta meditação sobre a Sabedoria apresenta com o Sirácida, é cabível datá-la do século II a.C.; mas é difícil defini-lo com maior precisão. Também aqui as opiniões acerca da língua em que este trecho foi composto se dividem. Todavia, parece mais verossímil um original grego. A questão do seu relacionamento com as demais partes do livro está longe de ter recebido uma resposta satisfatória: houve quem propusesse reconhecer nele uma homilia pronunciada por ocasião de um dia de penitência .

d) Exortação e consolação de Jerusalém (4,5-5,9). A última parte do livro pertence a outro gênero literário (cf. 4,5 nota); trata-se de um poema de estímulo e reconforto, cujo estilo é muito parecido com o do Segundo Isaías . O problema da língua original, semítica ou grega, é tão controvertido para esta parte quanto para a precedente. 

O undécimo salmo de Salomão , redigido pouco depois da tomada de Jerusalém por Pompeu em 63 a.C., é muito parecido com esta seção de Baruc; a comparação dos dois escritos permite concluir pela anterioridade de Br 4-5. Ao contrário da introdução histórica e da oração penitencial que se situam no início do Exílio e preconizam uma política de conciliação com as nações, aqui o texto lhes é francamente hostil e supõe a iminência da volta dos dispersados. 

Pertence, por conseguinte, a uma época e um ambiente sensivelmente diferentes dos das duas primeiras partes. Anterior a 63, pode ser datado da segunda metade do século II, e atribuído a uma comunidade da diáspora que se tinha apartado dos selêucidas, estimulada a isso pelas conquistas políticas e militares dos hasmoneus.

O livro em seu conjunto. Baruc é um escrito da diáspora judaica, que convida os hierosolimitanos a celebrar uma liturgia penitencial. As duas primeiras partes, mais antigas, devem ser contemporâneas ou pouco posteriores aos acontecimentos de 164 e parecem provir de uma comunidade da dispersão, politicamente situada a meia distância entre os partidários de Menelau e os partidários dos macabeus. 

A quarta parte, acrescentada posteriormente, provém, sem dúvida, de um ambiente conquistado à causa da independência judaica. Quanto à elucubração sobre a Sabedoria, é difícil definir sua proveniência: por razões de estilo, atinentes em particular à unidade de locutor, inclinar-nos-íamos de preferência a ligá-la à exortação a Jerusalém . Com toda a verossimilhança, o livro recebeu a forma definitiva no decorrer da segunda metade do século II.

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