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7/30/2015

Dependentes da dependência



Familiares podem alimentar a dependência química de seus membros sem mesmo saber disso, apenas para - emocionalmente - esconder as próprias psicopatologias e conflitos existenciais


José Antonio Mariano


O dependente químico é a lata de lixo da família. Por mais contundente e até irresponsável que pareça essa afirmação, ela confirma uma realidade que é percebida, na esmagadora maioria das vezes, quando a dependência química (DQ) se instala no lar. 

Como tudo conflui para a “cura” do dependente, toda a dinâmica da família se ajusta a esta demanda. Sobressaem, desse modo, as fugas, as revelações de incompletudes, frustrações, autopiedade, sensações de finitude e desvalorização no que pode ser chamado “Self familiar”. 

Há rasgos de “vazios emocionais”, caracterizados pela desrealização, despersonalização dos membros, e toda a agenda das pessoas da casa se modifica. Revolta e medo predominam. Entretanto, nenhum desses aspectos essenciais desta disfuncionalidade familiar é bem observado, porque são camuflados pelo sentimento de que o dependente está sendo acompanhado em sua doença e pela ideia de que a família luta com desespero para tirá-lo dessa condição. É a Co-dependência em ação.

A Co-dependência não está restrita a um membro da família, mas pode acometer um em especial. Sua conceituação é ampla, mas geralmente designa uma pessoa que “perdeu sua alma ou sua verdadeira identidade. É uma maneira de sobreviver a situações dramáticas e crescer em ambientes inseguros e dolorosos”. A Co-dependência “é um transtorno emocional, definido e conceituado por volta das décadas de 1970 e 1980, relacionado aos familiares dos dependentes químicos – de cocaína, álcool, maconha, ecstasy –, marcado por um jogo patológico e por outros problemas de compulsão. “São pessoas que têm baixa autoestima, intenso sentimento de culpa e não conseguem se desvencilhar da pessoa dependente”.

Outras definições de Co-dependência incluem a necessidade imperiosa de controlar coisas, pessoas, circunstâncias, comportamentos e situações na expectativa de dominar suas próprias emoções; uma condição emocional, psicológica e comportamental que se desenvolve como resultado da prática e da exposição prolongada do indivíduo a regras opressivas, que impedem a expressão aberta de sentimentos e a discussão direta de problemas pessoais e interpessoais. 

Comportamentos aprendidos de derrota ou “defeitos” de caráter que resultam em diminuição da capacidade de iniciar relações afetivas ou mantê-las; doença psicológica e comportamental cuja característica principal é a falta absoluta de identidade própria e de auto-estima. Percebe-se, portanto, uma característica presente em todas as definições: a auto-estima rebaixada do pretenso “cuidador”. Ele está, na verdade, tentando se salvar, não tanto salvar o dependente.

No Brasil, 11,2% da população é dependente de álcool


ÁLCOOL NO BRASIL 

Para entender a Co-dependência e suas diversas manifestações, é preciso compreender sua dimensão epidemiológica. E essa dimensão está no abuso e dependência de substâncias psicoativas (SPA) no Brasil e no mundo. Apesar da ênfase de Antonio Maria Costa, diretor executivo do escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crime (Unodoc) – “Os dados mais recentes que colhemos mundialmente mostram que a dependência de drogas tem diminuído” –, o fato é que, anualmente, 4,8% da população mundial entre 15 e 64 anos usa drogas, segundo dados divulgados em 2007. São cerca de 200 milhões de pessoas. 

De acordo com o relatório, mais da metade consome drogas pelo menos uma vez por mês e aproximadamente 25 milhões são dependentes químicos. “As drogas consideradas mais problemáticas no mundo são os opiáceos – principalmente a heroína –, consumidos especialmente na Ásia e na Europa; a segunda é a cocaína”, atesta Costa. Na América do Sul, a cocaína é a droga que mais leva à busca de tratamentos por dependência. “Na África, a maior demanda por tratamento decorre do uso da Cannabis em forma de erva (maconha) ou resina (haxixe)”, afirma.

Por aqui, um estudo epidemiológico de Carlini, Galduróz, Noto e Nappo (2002) estimou em 11,2% da população, cerca de 5 milhões de pessoas, os dependentes de álcool, em 2001, no Brasil. O sexo masculino apresentava uma porcentagem maior quanto à dependência de álcool, para todas as faixas etárias estudadas. 

No Estado de São Paulo, estudo realizado pelo Centro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas– Cebrid (2000) em 24 de suas maiores cidades, identificou que 6,6% da população era dependente de álcool. 

O preocupante é que, dois anos depois, houve aumento da incidência do alcoolismo na mesma população pesquisada, conforme artigo de Galduróz e Caetano (2004), constatando-se aumento significativo para 9,4% de dependentes. Esse mesmo estudo aponta um fato inquietante: no Brasil, 5,2% dos adolescentes (de 12 a 17 anos) já são dependentes, e a tendência é esse número aumentar.

No Brasil, o álcool é a substância mais consumida entre os jovens. A idade de início de uso tem sido cada vez menor, o que aumenta o risco de dependência futura. O uso de álcool na adolescência está associado a uma série de comportamentos de risco, os quais resultam, em números cada vez mais elevados, em acidentes de trânsito, violência sexual, participação em gangues, morte violenta, queda no desempenho escolar, dificuldades de aprendizado, prejuízo no desenvolvimento e estruturação das habilidades cognitivo-comportamentais e emocionais. 

O consumo de álcool causa modificações neuroquímicas, com prejuízos na memória, aprendizado e controle dos impulsos. Os profissionais que lidam com adolescentes devem estar preparados para avaliar adequadamente a possibilidade do uso abusivo ou dependência de álcool nesta faixa etária. 

Além do álcool, o uso de outras SPAs, como cocaína, maconha, crack, ecstasy, merla (junção de folhas de coca a produtos químicos – pode ser fumada sozinha ou misturada no cigarro comum e no de maconha), contribui para a desestruturação da personalidade do dependente – e da família.

Dependentes da dependência

Familiares podem alimentar a dependência química de seus membros sem mesmo saber disso, apenas para - emocionalmente - esconder as próprias psicopatologias e conflitos existenciais.

Os tipos de co-dependentes

Salvador ou consertador – a auto-estima destas pessoas passa a depender da capacidade de ajudar ou “salvar” outras pessoas, especialmente as “vítimas”, aquelas que não querem se responsabilizar pelos próprios problemas.
Agradadores – estão sempre preocupados em agradar, pois não acreditam que as pessoas com as quais convivem possam achá-los interessantes – com base numa auto-estima negativa os agradadores estão sempre se achando inoportunos ou impróprios.
Inadequados ou perdedores – sentem-se como os agradadores – imperfeitos, “defeituosos”, “errados” – mas desistiram de fazer qualquer esforço para agradar. Ao contrário, envolvem-se em situações difíceis ou desastrosas apenas para confirmar o papel de perdedores.
• Perfeccionistas – acreditam que serão amados ou reconhecidos apenas se forem “perfeitos”. Perfeccionistas são extremamente críticos e severos consigo mesmos e com os outros, o que gera relacionamentos conflituosos e estressantes.
Superempreendedores – são escolhidos como “heróis” da família, aqueles que irão encobrir as dificuldades, humilhações e derrotas do passado através de grandes feitos – tornaremse cientistas renomados, empresários de sucesso, artistas conhecidos. Têm compulsão pelo trabalho, e pouco tempo para si e para os outros.
Narcisistas – são extremamente inseguros e apresentam baixa auto-estima, que encobrem com uma fachada de autoconfiança elevada e com a grande capacidade que têm de manipular e iludir os agradadores, “inadequados” e superempreendedores. Não aceitam ser questionados ou criticados, e precisam ser sempre o centro das atenções.

Famílias disfuncionais usam os filhos para preencher as próprias necessidades emocionais.


CO-DEPENDENTES DEPENDENTES

É aqui que a Co-dependência merece nosso foco. Originalmente, o termo “co-alcoólatra” foi designado para caracterizar a mulher do alcoólatra, a qual, na década de 1970, passou a fazer reuniões paralelas à do marido no AA – Alcoólicos Anônimos. Nelas, as mulheres perceberam possuir um denominador comum: toda a sua vida familiar girava em torno do dependente. 



De acordo com Sergio Nicastri, Coordenador do Programa Álcool e Drogas do hospital Albert Einstein, temendo perder o controle do sujeito subordinado, o co-dependente chega até a comprar ou pagar o vício do dependente. “Daí a necessidade de tratar tanto o alcoólatra como a sua família”, explica. São dependências paralelas. Da mesma maneira que um dependente desenvolve uma ligação com a droga que não consegue controlar, o co-dependente estabelece uma relação de sujeição com o outro que não consegue controlar, como explica Jorge Jaber, especialista em dependências químicas.

"O CO-DEPENDENTE MANTÉM UMA RELAÇÃO DE SUJEIÇÃO COM O OUTRO QUE NÃO CONSEGUE CONTROLAR, COMO O VICIADO COM A DROGA"

Ziemer diz que nas famílias disfuncionais, em que os pais usam seus filhos para preencher as próprias necessidades emocionais, as crianças logo aprendem que sentimentos positivos sobre elas mesmas (auto-estima) dependem do estado de humor dos adultos à sua volta. 

“Esse tipo de relacionamento, gradativamente, vai minando a autoconfiança da criança, estabelecendo as bases para um indivíduo dependente, inseguro, ‘escravo’ das necessidades e desejos alheios.” Segundo ele, crianças extremamente obedientes, desejosas de agradar, que facilmente cedem aos desejos alheios, são freqüentemente avaliadas como “crianças exemplares”. 

Ao contrário, aquelas que não se deixam moldar a este padrão são rotuladas de “ruins”, “más” ou “egoístas”, podendo receber todo tipo de ameaças e castigos. “Na verdade, há vários tipos de co-dependentes [veja quadro Os tipos de co-dependentes], e um dos mais comuns, pouco reconhecido, é o ‘salvador’”, acrescenta.




DEPENDENTE SALVADOR 

O “salvador”, como bem diz Ziemer, depende da capacidade de ajudar ou “salvar” outras pessoas, especialmente as “vítimas”, aquelas que não querem se responsabilizar pelos próprios problemas. Esse co-dependente se apresenta como uma pessoa que se dedica a ajudar outros dependentes. 



Dá palestras sobre o tema, exemplifica o seu sofrimento, recebe elogios e consideração dos outros, está sempre atento (e ao telefone) para auxiliar as famílias de dependentes (e aos próprios), possui uma história de significativas perdas laborais, familiares, sociais; está vinculado a centros de tratamento onde é sempre considerado e estimado; tem sempre uma história triste para contar a respeito de si mesmo e de seu familiar “viciado”; está, invariavelmente, atrás do seu dependente, frequentando clínicas de recuperação e mostrando sempre seu lado bom e sofredor. Ele é sempre muito bem-visto por sua “capacidade” de estar resignadamente ao lado do seu ente querido.

A figura do cuidador é sempre muito bem-vista por sua capacidade de estar resignadamente ao lado do seu ente querido


É preciso, entretanto, olhar além disso. O co-dependente neste caso, que não se julga codependente, possui, como já relatado, a autoestima no pé. Ao legar sua agenda de vida ao dependente, passa a estar sujeito a ele. Ballone reforça a afirmação: 

“Os profissionais com prática no exercício da clínica psiquiátrica sabem das dificuldades existenciais dessas pessoas co-dependentes; parece que os co-dependentes ficaram órfãos, de uma hora para outra, perdidos e sem propósito de vida; não é raro que passem elas, as pessoas co-dependentes, a apresentar problemas semelhantes àqueles dos antigos dependentes de que cuidavam; uma expressão que representa bem a maneira como o co-dependente adere à pessoa problemática é atadura emocional; diz-se que existe atadura emocional quando uma pessoa se encontra atrelada emocionalmente a coisas negativas ou patológicas de alguém que o rodeia”.

"AS CRIANÇAS LOGO APRENDEM QUE OS SENTIMENTOS POSITIVOS SOBRE ELAS MESMAS (AUTOESTIMA) DEPENDEM DO ESTADO DE HUMOR DOS ADULTOS À SUA VOLTA"

O salvador talvez seja o mais “patológico” dos co-dependentes. Isso porque projeta todas as suas frustrações e incompletudes no dependente. Para todos, parece que o co-dependente é um cuidador extremoso, dedicado e empenhado. Emocionalmente, entretanto, é um predador que usa a patologia do ente querido para se desvencilhar das próprias dificuldades, não enxerga suas limitações e ganha o reconhecimento das pessoas, o que mostra a distorção de sua auto-imagem e de sua autoconfiança. Ele se vale da doença do dependente para sobreviver. 

Seu papel, totalmente disfuncional, que “se pretende prender” unicamente à tarefa de se dedicar à recuperação do dependente, é, na verdade, fazer do dependente seu modo de viver e de conviver, não com o dependente, mas consigo mesmo. Emocionalmente ele acredita que está empenhado em cuidar do dependente, mas o que sobrevém mesmo é sua necessidade de ser reconhecido e ser aceito por esse “desprendimento”.

Familiares podem alimentar a dependência química de seus membros sem mesmo saber disso, apenas para - emocionalmente - esconder as próprias psicopatologias e conflitos existenciais


O uso de substâncias psicoativas contribui para a desestruturação da personalidade do dependente e da família

FUGA PARA DENTRO DE SI MESMO

Trata-se de uma pessoa com a qual todas se condoem. Vive melancólica, acabrunhada, sempre contando a última que seu dependente aprontou. Não consegue disfarçar uma ponta de orgulho de tudo o que vem sofrendo, o que, não percebido pelos ouvintes, soa como fortitude. 

Orgulha-se de estar sempre à disposição de outros dependentes, numa atitude típica de fuga para dentro de si mesma já que não consegue auxiliar o próprio ente querido. Apresenta-se como uma vítima da situação, reforçando o caráter dependente e algumas vezes marginal do usuário de drogas, já que o pensamento vigente comum é “como alguém (o usuário) pode maltratar tanto uma pessoa tão boa como essa?”. 

O que fica claro nesse tipo de comportamento é que há interação e troca na relação entre o dependente e seu co-dependente. Há, provavelmente, na história dos dois, permissividade, violência, arrogância, falta de limites...

Tome-se como exemplo o pai permissivo e ausente. O filho, sem limites, sem proteção, sem aceitação no seio da família, procurará um grupo que o aceite. Mais tarde, lá na frente, esse pai tentará recuperar o que deixou para trás tornando-se resignado e com uma presença “opressiva-ausente”. Sua ausência “opressiva-ausente” se caracteriza pela constante necessidade de tentar controlar o uso de drogas pelo filho, com o exercício de uma “suave opressão”, que parece até um cândido cuidado, mas na verdade é uma tentativa de recuperação da ausência de tempos atrás. 

Talvez mesmo uma tentativa de recuperação de uma “potência paterna” não exercida. Existem pais que, autoritários na infância do filho, e por causa de sua incompetência – fruto de sua imaturidade, auto-imagem, autoconfiança e auto-estima rebaixadas, originadas também de traumas de sua infância –, tentam minimizar os efeitos deletérios exercidos sobre o filho na infância, agindo, no mínimo, com leniência.

O que ocorre de mais perverso nessa situação, que obviamente é profundamente emocional, é a não reconstrução do dependente. O co-dependente, “dependendo da dependência do dependente”, agindo como age, não permite – emocionalmente – que este se trate e tampouco ache o equilíbrio. Há, por parte do codependente, o medo terrível de que, com a parada do uso de drogas do dependente, ele, o co-dependente, cesse seu papel. 

Se o usuário conseguir efetivamente cessar o uso, o pretenso cuidador não terá mais como usá-lo como vitrine de seu narcisismo enrustido, de seu egoísmo. Dessa forma, o cuidador boicota todos os esforços do dependente em parar o uso, seja pagando suas dívidas, seja acobertando seus deslizes, seja levando-o para clínicas reconhecidamente sem condições de tratá-lo, seja passando a mão em sua cabeça para contar aos outros como sua vida é sofrida apesar de todos os seus esforços.

Para Jung, o princípio do mal prevalecente no mundo conduz as necessidades espirituais


BUSCA ESPIRITUAL

A família, por si só, pode ser um fator exponencialmente perigoso para o dependente. Dizer “o doente é ele” é comum nas famílias, que constituem um empecilho poderoso para recuperação do dependente. 

A exemplo dos casos apresentados, a família disfuncional não admite sua desestruturação e deposita no dependente todos os seus traumas. As doenças presentes na família – alcoolismo do pai, depressão da mãe, drogadicção dos filhos – não são reconhecidas. 

Quando um sintoma ou outro aparece, o que se depreende é que a causa seja o usuário. E não é. 

Os “defeitos” por assim dizer, já existiam e só esperavam uma válvula – o dependente que expressou sua dependência – para explodirem. Assim, é fácil entender por que 50% dos pacientes dependentes químicos que saem de centros de tratamento voltam a usar drogas três meses depois e 70%, seis meses depois. O que ocorre é que a família, com todas as suas disfunções, alimenta emocionalmente a dependência do usuário para ele continuar disfuncional e não mudar nada.

O que se pergunta é o que busca o dependente, com seu abuso crônico de drogas, e o co-dependente, com sua dependência do dependente. Uma das explicações mais instigantes e intrigantes está com Jung. O controvertido e sempre estimulante psicólogo suíço trocou cartas com Bill Wilson, o fundador do AA–Alcoólicos Anônimos. 

Em resposta a uma missiva de Wilson, Jung diz (em 30 de janeiro de 1961): “Estou firmemente convencido de que o princípio do mal prevalecente no mundo conduz as necessidades espirituais, quando negadas à perdição, se ele não for contrabalançado por uma experiência religiosa ou pelas barreiras protetoras da comunidade humana. 

O homem comum desligado dos planos superiores, isolado de sua comunidade, não pode resistir aos poderes do mal, muito propriamente chamados de demônio. Mas o uso de tais palavras nos leva a tais enganos que temos de nos manter afastados delas, tanto quanto possível. (...). Veja você, “alcohol” em latim significa “espírito”, e você, no entanto, usa a mesma palavra tanto para designar a mais alta experiência religiosa como para designar o mais depravador dos venenos. A receita então é “spiritus” contra “spiritum”.

"SE O DEPENDENTE DEIXAR DE USAR DROGAS, TANTO ELE COMO A FAMÍLIA TERÃO DE LIDAR COM AS PRÓPRIAS DIFICULDADES. E PARA ISSO ELES NÃO ESTÃO DISPOSTOS"

Co-dependência, expressão que originalmente designava a relação entre cônjuges alcoólatras, hoje expressa uma situação mais ampla e institucionalizada na qual, em linhas gerais, alguns favorecem sistematicamente a manutenção da dependência de outros, que tendem a permanecer imaturos. É com este enfoque que trabalha Maria Aparecida Zampieri. 

Ela apresenta a fundamentação científica de sua visão de co-dependência como um transtorno de personalidade, e sua proposta é que ele seja oficialmente reconhecido e classificado como tal. No livro, a autora mostra critérios para diagnóstico e sugere formas de intervenção em rede, com exemplos de aplicações e de resultados. 

Ela aborda os mais variados casos, como dependência conjugal, familiar, grupal, social, institucional e sexual. Em sua argumentação, lança mão de conceitos da neurofisiologia, do Psicodrama – de Moreno aos autores contemporâneos –, da teoria sistêmica e da física, matérias que ela domina graças a sua ampla formação. 

Profissionais das mais diversas categorias das áreas de saúde e relações humanas se beneficiarão deste livro preciso e original. “Enfim, ler para crer. Com o aval seguro e incontestável de Maria Aparecida Junqueira Zampieri, nossa querida Tina, luz de Rio Preto a iluminar com o novo vãos ainda obscuros e inexplorados do Psicodrama”.

Familiares podem alimentar a dependência química de seus membros sem mesmo saber disso, apenas para - emocionalmente - esconder as próprias psicopatologias e conflitos existenciais



No filme Quando um homem ama uma mulher, uma mãe revive um trauma do passado e passa a beber, colocando seu casamento em risco.


É quase isto que o codependente busca: ele usa o dependente como um canal de comunicação, ou como um “anexo”, ao seu recontato com algo superior. É por isso que ele faz do usuário seu deus particular, para o qual faz confluir todas as suas energias e todo o seu sentido de realização. 

E é por isso que quando fracassa – porque ele, não o dependente, fracassa – tem tanta predisposição em recomeçar. Sem contar, obviamente, que isso o recompensa na medida em que é reconhecido por todos e por tudo graças à sua resistência, persistência e fortaleza. Puro teatro. 

Esse deus que ele, o co-dependente, elegeu, não o irá resgatar. O abusador de SPA's continuará a ser o centro do seu mundo, o que leva à conclusão de que, sem ser o centro do seu ser, o co-dependente pede emprestada a centralidade do outro. E mais uma vez, por causa disso, fica evidente por que o co-dependente não “pode” deixar o dependente parar de usar drogas. Se isso acontecer, tanto ele como a família terão de lidar com as próprias dificuldades. E a isso eles não estão dispostos.

CUIDADO ESPECIAL

Tratar o co-dependente, para vários especialistas, é muito mais difícil que tratar o próprio dependente. É por isso que quando o usuário vai a tratamento, é fundamental que também a família vá. Segundo Campos e Ferreira (2007), “o primeiro passo a ser tomado pelo codependente é ele aceitar que não é tão forte como pretende ser, ou como os outros gostariam que fosse. 

Deve deixar que a realidade atue e lhe mostre caminhos, e, a partir daí, ele não precisará mais fugir daquilo que está ali, na sua frente, para ser visto e vivido. Um segundo passo é filiar-se a algum grupo de apoio, no qual interagirá com pessoas que sofrem dos mesmos males que ele mas estão conseguindo mudar o rumo da própria vida, graças ao apoio que recebem. 

Um terceiro passo é procurar terapia com profissionais do ramo que tenham experiência de cuidar de pessoas co-dependentes. E um quarto passo a ser tomado por co-dependentes que necessitem tratamento contra depressão, ansiedade, síndrome do pânico é procurar um bom psiquiatra e se medicar, tentando voltar a ter a mesma capacidade anterior aos fatos que geraram sua co-dependência”.

Sintomas da Co-dependência

• Dificuldade de estabelecer e manter relações íntimas sadias e normais, sem depender muito do outro.
• Congelamento emocional. Mesmo diante dos absurdos cometidos pela pessoa problemática o co-dependente mantém-se com a serenidade própria dos mártires.
• Baixa auto -estima.
• Perfeccionismo. Da boca para fora o co-dependente professa um perfeccionismo que, na realidade, gostaria que a pessoa problemática tivesse.
• Necessidade obsessiva de controlar a conduta de outros. Palpites, recomendações, preocupações, gentilezas quase exageradas fazem com que o codependente esteja sempre super solícito com quase todos (Esta é uma forma de ele mostrar que sua solicitude não se restringe à pessoa problemática).
• Condutas pseudo compulsivas. Se o co-dependente paga as dívidas da pessoa problemática diz “nunca sei bem por que faço isso”, que não consegue se controlar.
• Sentir-se responsável pelas condutas de outros. Na realidade ele se sente responsável pela conduta da pessoa problemática, mas para que isso não motive críticas, ele aparenta ser responsável também por todos.
• Sensação de incapacidade. Nunca tudo aquilo que fez ou está fazendo pela pessoa problemática parece ser satisfatório.
• Constante sentimento de vergonha, como se a conduta extremamente inadequada da pessoa problemática fosse, de fato, sua.
• Dependência da aprovação externa, até pela própria auto-estima.
• Dores crônicas de cabeça e das costas como somatização da ansiedade.
• Gastrite e diarreia crônicas, como envolvimento psicossomático da angústia e do conflito.
• Como resultado final, tem-se a depressão.






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