"Como você professa sua fé?", pergunta o médico Paulo de
Tarso Lima a seus pacientes na primeira consulta. Conversar sobre isso virou rotina
no setor de oncologia em um dos mais conceituados hospitais do Brasil, o Albert
Einstein, em São Paulo, onde Lima é coordenador do Serviço de Medicina
Integrativa. Se o doente vai à missa, ele anota na receita: aumentar a
frequência aos cultos. Se deseja a visita de um padre, rabino ou pastor, o
hospital manda chamar. Se quiser meditar, professores de ioga são convocados.
No hospital, a fé é uma arma no tratamento de doenças graves.
A Santa Casa de Porto Alegre também trabalha nesse sentido. O hospital
está realizando uma pesquisa inédita, em parceria com a Universidade Duke, nos
Estados Unidos, para mensurar os benefícios biológicos da fé. O objetivo é
descobrir se os pacientes espiritualizados submetidos à cirurgia de ponte de
safena têm menos inflamações no pós-operatório - hipótese já levantada por
outros estudos. "Existe um marcador de inflamação que parece apresentar
menores níveis em religiosos", explica o cardiologista Mauro Pontes,
coordenador do Centro de Pesquisa do Hospital São Francisco, um dos sete
hospitais do complexo Santa Casa da capital gaúcha.
Hoje, as principais faculdades de medicina americanas dedicam uma
disciplina exclusiva ao assunto. E, na última década, uma série de estudos
mostrou que os benefícios da fé à saúde têm embasamento científico. Devotos
vivem mais e são mais felizes que a média da população. Após o diagnóstico de
uma doença, apresentam níveis menores de estresse e menos inflamações.
"O paciente com fé tem mais recursos internos para lidar com a
doença", diz Paulo Lima. Fé tem uma participação especial no que médicos e
terapeutas chamam de coping: a capacidade humana de superar adversidades.
"Não posso prescrever bem-estar, mas posso estimular que o paciente vá em
busca de serenidade para encarar um momento difícil", explica o médico. É
por isso que mais profissionais têm defendido essa relação. "Atender às
necessidades espirituais tem de ser, sim, tarefa do médico", defende o
cirurgião cardíaco Fernando Lucchese, que está escrevendo o livro A Revolução
Espiritual com o psiquiatra americano Harold Koenig, autoridade no assunto.
Há um século, o canadense William Osler, ícone da medicina moderna, já
defendia isso. Em 1910, ele escreveu um artigo cheio de floreios elogiosos às
crenças das pessoas: "a fé despeja uma inesgotável torrente de
energia".
Vantagens no dia a dia
Uma das maiores pesquisas feitas até hoje, divulgada em 2009, revisou
42 estudos sobre o papel da espiritualidade na saúde, que envolveram mais de
126 mil pessoas. O resultado mostrou que quem frequenta cultos religiosos pelo
menos uma vez por semana tem 29% mais chances de aumentar seus anos de vida em
relação àqueles que não frequentam. Não é intervenção divina. Não é feitiçaria.
É comportamento.
Os entrevistados que são religiosos apresentaram um comprometimento
maior com a própria saúde. Iam mais ao dentista, tomavam direitinho remédios
prescritos, bebiam e fumavam menos. A pesquisa confirmou ainda os dados de um
estudo populacional feito em 2001 pelo Centro Nacional de Adição e Abuso de
Drogas dos EUA: adultos que não consideram religião importante em suas vidas
consomem muito mais álcool e drogas do que os que acham os credos relevantes.
Andar na linha é mais comum entre os crentes, e a razão está no poder
de autocontrole, dizem os cientistas. É o que defende o psicólogo Michael
McCullough. Professor da Universidade de Miami e parceiro de Harold Koenig em
pesquisas sobre espiritualidade, ele diz que a fé facilita a árdua tarefa de
adiar recompensas, algo fundamental para muita coisa, de fazer dieta a estudar
para concursos.
A fé também tem uma relação íntima com a felicidade. Um estudo feito na
Europa mostrou que pessoas espiritualizadas se dizem mais satisfeitas do que
aquelas que não se consideram como tal. Parte disso se explica na natureza de
ateus e céticos em geral. Quem não acredita em nada pode ter mais propensão ao
pessimismo porque faz uma leitura objetiva da vida, sem crer em algo divino que
mude as coisas. Por outro lado, a certeza da existência de uma recompensa
divina muda a vida das pessoas. E não é questão somente de otimismo. Tem algo
pragmático aí.
Religiões estimulam algo essencial para o ser humano: o espírito de
comunidade. Devotos normalmente não estão sozinhos, o que ajuda nos problemas
da vida. Para Andrew Clark, um dos autores desse estudo europeu e professor da
Escola de Economia de Paris, as religiões ajudam as pessoas a superar choques
ou a pelo menos não se desesperar tanto com os tropeços da vida.
Outra pesquisa, feita pela Universidade de Michigan, EUA, comparou duas
formas de amparo recebidas por idosos: o oferecido pelas igrejas e o
proporcionado por serviços sociais estatais. A discrepância a favor do suporte
religioso foi tão significativa que o autor do estudo, o gerontologista Neal
Krause, acredita haver algo de único nesse tipo de apoio.
Até mesmo os ateus são beneficiados pelo espírito solidário oferecido
pelas instituições religiosas. Um estudo feito por Clark investigou o efeito da
religiosidade dos outros sobre o bem-estar de uma comunidade. A descoberta foi
intrigante. As pessoas sem religião de regiões de maioria ateia são menos
felizes do que aquelas sem religião de áreas onde a maior parte da população
professa uma fé.
"Isso não é nada bom para os ateus: eles parecem menos felizes e
também fazem os outros menos felizes", concluiu Clark. A explicação para
isso pode estar na compaixão incentivada pelas religiões. A escritora e ex-freira
inglesa Karen Armstrong, autora de mais de 20 livros sobre o tema, acredita que
o princípio da compaixão está no centro de todas as tradições religiosas. É ela
que nos leva a pensar no próximo e a fazer de tudo para aliviar o sofrimento e
as angústias dele.
Antônio Gilberto Lehnen, 78 anos de catolicismo ativo, sentiu os
efeitos dessa rede de apoio após enfrentar duas cirurgias que quase lhe
custaram a vida. Aos 67 anos, ele teve de passar por um transplante cardíaco.
Na lista de espera por um novo coração, sem saber ao certo se aguentaria, sua
atitude era de gratidão.
"Lembro de ele me dizer, com toda a tranquilidade: 'Planeja tudo
aqui que o papai do céu está cuidando de mim'. Era uma atitude confiante",
lembra o cirurgião Fernando Lucchese, que fez a operação. Antônio é grato até
hoje. "Não sei quem foi o doador, mas não deixo nem um dia de rezar por
ele e pela felicidade da sua família", diz.
O que é a fé
Na Antiguidade, as religiões eram essenciais para unir uma comunidade.
"Nas sociedades primitivas, a religião sempre exigiu tanto esforço (de
união) que não pode ser encarada só como um acidente evolutivo", diz
Nicholas Wade, autor de The Faith Instinct ("O instinto da fé", sem
edição no Brasil). Essa união foi questão de sobrevivência por milênios. É o
que afirma Karen Armstrong em Os 12 Passos para uma Vida de Compaixão.
Organizado em pequenos grupos, o homem primitivo precisava partilhar os
parcos recursos a mão. Muito antes do surgimento das grandes religiões,
altruísmo e generosidade já eram características primordiais a um bom líder
tribal.
A genética também ajuda a explicar a origem da fé. O geneticista
americano Dean Hamer causou rebuliço no meio científico em 2004 ao anunciar a
descoberta dos genes da fé - ou, como ele preferiu chamar, o gene de Deus.
Batizado de VMAT2, trata-se de um conjunto de genes que ativam substâncias
químicas que dão significado às nossas experiências. Eles atuam no cérebro
regulando a ação dos neurotransmissores dopamina, ligada ao humor, e serotonina,
relacionada ao prazer.
Durante a meditação, por exemplo, esses neurotransmissores alteram o
estado de consciência. "Somos programados geneticamente para ter
experiências místicas. Elas levam as pessoas para algo novo, ouvem Deus falar
com elas", explica Hamer. O pesquisador aplicou um questionário para medir
o grau de espiritualidade em um grupo de 1.001 voluntários.
Desenvolvido pelo psiquiatra Robert Cloninger, da Universidade de
Washington, o levantamento trazia perguntas ligadas a crenças e rituais. Hamer
avaliou os genes dos voluntários e percebeu que as diferenças nas respostas
estavam relacionadas com as variações no gene de Deus.
Essas variações explicariam por que algumas pessoas são mais
espiritualizadas que outras.
Dá para visualizar isso, literalmente. Exames de neuroimagem mostram a
atividade de crenças espirituais no cérebro. O time de cientistas liderado por
Andrew Newberg, professor da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, e autor do
livro How God Changes Your Brain ("como Deus muda o seu cérebro", sem
edição no Brasil), demonstrou que Deus é parte da nossa consciência: quanto
mais pensamos nele, mais nossos circuitos neurais são alterados.
No primeiro de seus estudos a respeito, Newberg avaliou o impacto da fé
ao analisar imagens cerebrais de freiras rezando e budistas meditando. Ele
detectou aumento de atividade em áreas relacionadas às emoções e ao
comportamento e redução na zona que dá senso de quem somos.
A diminuição de trabalho nessa região específica, segundo Newberg,
representa a possibilidade de atingir com a meditação um estado em que se perde
a noção de individualidade, espaço e tempo. "Você se torna um único ser
com Deus ou com o Universo", escreveu. É o mesmo efeito descrito por
Hamer. A ciência não pode provar que Deus existe, mas consegue medir os efeitos
da crença no divino nas pessoas.
Seria possível, então, transformar esses efeitos da fé em um botão no
cérebro, que poderíamos ativar quando quiséssemos? O canadense Michael
Persinger quis provar que sim ao criar o "capacete de Deus". Trata-se
de um aparelho que estimula uma área específica do cérebro, onde nascem
pensamentos místicos e espirituais. Persinger queria saber se dava para simular
a sensação de uma prece intensa ou da meditação apenas estimulando essa região
cerebral.
Ele recrutou voluntários religiosos e não religiosos para o teste.
Depois de ficarem uma hora com o capacete, quatro de cada cinco pacientes
relataram sentir um estado de transe, com uma sensação de deslocamento para
fora do corpo. A maioria dessas pessoas tinha uma predisposição à fé, mas,
mesmo assim, o aparelho conseguiu simular experiências religiosas em
laboratório.
Como trabalhar sua fé
Que fique claro, fé e religião são coisas diferentes. A religião é uma
maneira institucionalizada para se praticar a fé, por meio de regras
específicas e dogmas. Já a fé é algo pessoal, ligado à espiritualidade, à busca
para compreender as respostas a grandes questões sobre a vida, o Universo e
tudo mais.
Isso pode ou não levar a rituais religiosos. Você pode buscar essas
respostas pulando sete ondinhas, acendendo velas, consultando o horóscopo da
Susan Miller, pregando faixas de Santo Expedito ou investigando quilos de
livros de física quântica. Cada um tem seu jeito próprio.
Cientistas garantem que basta ter uma forte crença em algo - e nem
precisa ser uma divindade ou força superior. Pode ser qualquer coisa realmente
importante para a pessoa. "Se para os crentes é Deus, para os ateus pode
ser família ou amigos", diz Michael Shermer, diretor da Sociedade Cética e
autor do livro The Believing Brain ("o cérebro crente", sem edição no
Brasil). "Teoricamente, um ateu pode ter uma poderosa experiência
mística", endossa Andrew Newberg.
O pai do gene de Deus, Dean Hamer, segue a mesma linha. "Algumas
das pessoas mais espiritualizadas que conheço não acreditam em divindade
nenhuma", escreveu no trabalho em que relatou a descoberta genética. Outra
grande autoridade no assunto, o psicólogo Kenneth Pargament, do Instituto de
Espiritualidade e Saúde do Centro Médico do Texas, sugere cultivar a
espiritualidade exercitando o que ele chama de santificação ateísta.
Significa dar a algo importante da vida um status sagrado, mesmo sem
acreditar em Deus. A foto do seu filho quando bebê pode ser muito mais sagrada
para você que a imagem de Santo Antônio, por exemplo.
Não se trata de banalizar a sacralização, mas o contrário: exercitar a
fé dessa forma é uma postura antibanalização da vida, qualquer aspecto pode
assumir um caráter divino. E esse hábito de sacralizar aspectos do cotidiano é
capaz até de alterar nosso comportamento, segundo uma pesquisa que acompanhou
recém-casados. Os casais que consideravam o casamento e o sexo sagrados estavam
mais felizes - e transavam mais!
No trabalho é a mesma história. Outro estudo, realizado no ano passado,
avaliou 200 mães de família que haviam acabado de concluir uma pós-graduação.
Apesar da dupla jornada, aquelas que encaravam a carreira como parte de algo
maior (e não só a fonte de renda para pagar as contas do mês) se disseram muito
mais felizes profissionalmente - e menos cansadas.
Em tese, portanto, é possível usufruir de benefícios semelhantes aos
proporcionados pelas crenças divinas apenas focando as energias naquilo que faz
bem a você. O psicólogo Elisha Goldstein, autor do best-seller The Now Effect
("o efeito 'agora'", sem edição no Brasil), desenvolveu um método que
consiste em cultivar momentos sagrados.
Primeiro, você escolhe objetos que trazem boas lembranças. Valem fotos
de infância, o relógio do avô, uma carta de amor, o primeiro gibi. Todos os
dias, preste atenção a esse amuleto por no mínimo cinco minutos. Deixe que os
pensamentos invadam sua mente. Relaxe. Após três semanas, avalie suas emoções.
Segundo Goldstein, os voluntários que participaram do experimento
relataram sentimentos de gratidão, humildade e empatia. Isso porque eles se
reconectaram àquilo que realmente importa. Consequentemente, se sentiram menos
ansiosos e pessimistas e mais dispostos a ajudar quem precisa. Isso sem ter de
orar ou meditar seguindo preceitos religiosos.
Esses benefícios dependem da intensidade da crença. Newberg resolveu
passar isso a limpo e pediu a um grupo de ateus que pensassem em Deus. Nenhuma
mudança significativa ocorreu. Para eles, não fazia o menor sentido. Então, o
melhor é se engajar em atividades em que você realmente acredita.
Se seu negócio não é integrar uma igreja, o psicólogo Michael
McCullough lembra que algumas ONGs têm regras de conduta e convivência
semelhantes, reproduzindo os mesmos mecanismos das religiões que incentivam
compaixão, autocontrole, senso de comunidade e comportamento ético.
Da mesma forma que é possível ter os benefícios da fé mesmo sem
religião, há ocasiões em que ela faz mal - e nem precisamos entrar no mérito
das guerras religiosas.
Atribuir a Deus poderes milagrosos pode levar pacientes a abandonar
tratamentos. Há também um outro componente preocupante. Em algumas pessoas,
ocorre o que os especialistas chamam de conflito religioso, sentimento que leva
a acreditar que a doença ou os sofrimentos são punição divina. Nesses casos, a
religião tem um efeito desastroso. Um estudo publicado na revista científica
americana Archives of Internal Medicine mostrou que esse conflito está
associado a depressão, ansiedade e maior índice de mortalidade. Se fosse bom,
fé cega não teria esse nome. Isso é fanatismo religioso!
A Fé que Faz Bem à Saúde
A capacidade inata de procurar a explicação de um fenômeno é uma das
diferenças entre o ser humano e outros animais. O homem primitivo não tinha
como entender eventos mais complexos, como a erupção de um vulcão, um eclipse
ou um raio. A busca de explicações sobrenaturais pode ser considerada natural.
Mas por que ela desembocou na fé e no surgimento das religiões?
Com sua intuição genial, Charles Darwin, criador da teoria da evolução
há 150 anos, já havia registrado ideia semelhante no livro A descendência do homem, em 1871: “Uma
crença em agentes espirituais onipresentes parece ser universal”. “Somos
predispostos biologicamente a ter crenças, entre elas a religiosa", diz
Jordan Grafman, chefe do departamento de neurociência cognitiva do Instituto
Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame. Grafman é o autor de uma das
pesquisas mais recentes sobre o tema, publicada na revista científica Proceedings of the
National Academy of Sciences.
Em seu estudo, Grafman analisou o cérebro de 40 pessoas — religiosas e
não religiosas — enquanto liam frases que confirmavam ou confrontavam a crença
em Deus. Usando imagens de ressonância magnética funcional — que mede a
oxigenação do cérebro —, o neurocientista descobriu que as partes ativadas
durante a leitura de frases relacionadas à fé eram quase as mesmas usadas para
entender as emoções e as intenções de outras pessoas.
Isso quer dizer, segundo Grafman, que a capacidade de crer em um ser ou
ordem superior possivelmente surgiu ao mesmo tempo que a habilidade de prever o
comportamento de outra pessoa — fundamental para a sobrevivência da espécie e a
formação da sociedade. E para estabelecer relações de causa e efeito. A
interferência de um ser muito poderoso seria uma explicação eficiente para
aplacar a necessidade de entender o que não se consegue explicar com o
conhecimento comum.
Em uma das experiências, pesquisadores mostraram uma caixa de biscoitos
às crianças e perguntaram a elas o que havia dentro. Como não são bobas, as crianças
responderam: “Biscoitos”. Ao abrir a caixa, o que encontravam eram pedras.
Então, os cientistas perguntaram às mesmas crianças o que suas mães achariam
que havia dentro da lata e o que Deus diria se visse a lata. As crianças de 3
anos disseram que as mães, assim como Deus, diriam que havia pedras. A partir
dos 5 anos, elas responderam que a mãe diria “biscoitos”, mas que Deus
responderia “pedras”.
A maioria dos estudos científicos recentes — sejam eles baseados em
imagens do cérebro ou no comportamento humano — afasta a hipótese de que a
experiência religiosa seja o mero efeito de estímulos eletromagnéticos em uma
parte específica do cérebro.
Newberg, que estuda as manifestações cerebrais da fé há pelo menos 15
anos, descobriu que as práticas religiosas acionam, entre outras regiões do
cérebro, os lobos frontais, responsáveis pela capacidade de
concentração, e os parietais, que nos dão a consciência de nós
mesmos e do mundo.
Em seu novo livro, How God changes the brain (“Como Deus muda seu cérebro”), Newberg
explora os efeitos da fé sobre o cérebro e a vida das pessoas. Segundo o
neurocientista, os estudos anteriores olhavam para os efeitos de curto prazo de
práticas como a meditação e a oração. Agora, ele e seu grupo encararam a
difícil tarefa de responder à questão: o que acontecerá se você adotar, com
frequência, uma prática como a meditação ou a prece?
O grupo de Newberg analisou o cérebro de pessoas que meditam e oram
rotineiramente e notou os resultados dessas práticas para o cérebro e para as
pessoas. No livro, ele lista nove técnicas de meditação que podem ser
adotadas por crentes ou ateus. Numa delas, a pessoa se concentra em um tipo de
diálogo interno. “Descobrimos que essa prática ajuda as pessoas a criar
intimidade, a interagir com as outras e a se comunicar com quem elas conhecem
ou não", diz Newberg.
Ainda estão sendo feitos estudos para compreender melhor a meditação e
a prece, mas a pesquisa de Newberg mostra que, durante essas atividades, o lobo
frontal fica mais ativo, e o lobo parietal menos. Como essa parte do cérebro é
responsável pela noção de tempo e espaço, “desligá-la” geraria a sensação de
imersão no mundo e a de ausência de passado e futuro muitas vezes relatadas por
religiosos.
A maior atividade do lobo frontal, além de melhorar a
memória, segundo vários estudos também estaria ligada à diminuição
da ansiedade. “Quando a pessoa volta sua atenção para o momento presente, não
há riscos porque não há futuro’ diz Paulo de Tarso Lima, médico especializado
em medicina integrativa e complementar e responsável pela implantação da
especialidade dentro do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O simples fato
de acreditar em um ser superior — seja ele qual for — reduziria a ansiedade.
Dois estudos canadenses publicados neste mês mostram que quem crê em
Deus tende a lidar melhor com os erros, O grupo de pesquisa, liderado pelo
professor de psicologia, Michael Inzlicht, da Universidade de Toronto, pediu a
pessoas de várias orientações religiosas e também àquelas que não creem em Deus
que elas dissessem os nomes das cores que apareciam a sua frente. Quando elas
cometiam um erro, uma área do cérebro chamada “córtex cingulado anterior” era
ativada.
“Quanto mais forte a religiosidade e a crença em Deus dos
participantes, menor era a resposta dessa região ao erro", diz Inzlicht.
Isso seria uma evidência de que as pessoas religiosas ficam mais calmas diante
de um erro. “Suspeitamos que a crença religiosa protege contra a ansiedade
porque dá um sentido para as pessoas. Ajuda-as a saber como agir e, com isso,
reduz a incerteza e o estresse’ afirma Inzlicht.
A influência da crença em Deus na redução do
estresse já é quase um consenso entre os médicos. “As doenças
relacionadas ao estresse, especialmente as cardiovasculares, como a
hipertensão, o infarto do miocárdio e o derrame, parecem ser as que mais se
beneficiam dos efeitos de uma espiritualidade bem desenvolvida", afirma
Marcelo Saad, outro médico do Albert Einstein.
Para ser benéfica, a fé em Deus teria de ser associada à prática
religiosa? Várias pesquisas mostram que participar de um grupo religioso estruturado
— seja ele católico, budista, judeu, evangélico, traz benefícios por aumentar o
suporte social à pessoa. “Esse apoio social é algo extremamente valioso para a
saúde física, inclusive para a sobrevivência e a longevidade', diz o psicólogo
americano Michael McCullough, professor da Universidade de Miami que estuda a
maneira como a religião molda a personalidade e influencia hábitos saudáveis e
relacionamentos sociais.
Robert Hummer, sociólogo e professor da Universidade do Texas,
acompanha um grupo de pessoas desde 1992 para tentar esclarecer, entre outras
questões, a relação entre a religião e a saúde. Segundo sua pesquisa, quem
nunca praticou uma religião tem um risco duas vezes maior de morrer nos
próximos oito anos do que alguém que a pratica uma vez por semana.
“Não tem sentido negar a influência da religião na vida das pessoas,
especialmente no Brasil, onde 99% da população acredita em Deus”, afirma o
médico Paulo de Tarso Lima, que classifica como um desserviço não acolher esse
elemento nos consultórios e nos hospitais. Isso significa que todos devem
adotar a fé em nome da saúde, assim como se pratica esporte ou se faz dieta?
Para quem crê, talvez a resposta seja sim.
Como o cérebro reage à
meditação e à oração
O neurocientista Andrew Newberg usou uma técnica especial de tomografia
em pessoas orando e meditando para avaliar a atividade cerebral.
Oração - durante a
prece, o lobo frontal do cérebro, área relacionada à atenção, fica mais ativo.
O lobo parietal fica menos ativo, diminuindo a noção de tempo e espaço. Efeitos
semelhantes foram observados durante a meditação.
Meditação - meditar
também exige focar o pensamento, o que, por tornar mais ativo o lobo frontal,
acaba melhorando a memória. Assim como a prece, a meditação pode trazer uma
sensação de estar alheio ao mundo externo, o que diminui a ansiedade.
Para isso pesquisas com neuroimagem procuram desvendar quais áreas do
cérebro ficam mais ativadas quando pessoas idosas relembram momentos de muita
religiosidade que vivenciaram durante a vida, quando vivenciaram sensações
místicas e também quando estão orando ou meditando. Para isso uma nova
disciplina a “neuroteologia” surge com objetivo de aprofundar esse assunto.
Sabemos que essas experiências ou sensações místicas, estados de
espiritualidade e meditação profunda sempre foram relatadas desde os primórdios
da humanidade em todas as sociedades e culturas, mas estudar a base neural da
experiência religiosa é algo novo. Assim, cientistas questionam se o sentimento
religioso pode ser processado em alguma região específica do cérebro.
Segundo o pesquisador Persinger da Universidade Laurentian – Ontário no Canadá, a noção
popular de que tais vivências são boas é uma consequência natural do
condicionamento psicológico, uma vez que alguns rituais religiosos são ligados
a experiências agradáveis. Por exemplo, rezar antes de realizar uma tarefa
importante (uma competição uma prova) pode trazer tranquilidade e diminuir a
ansiedade em relação ao desempenho.
Mas nem todas as pesquisas sobre este assunto possuem o mesmo
procedimento metodológico e as mesmas perguntas. Algumas surgem do fato de se
seguir uma tradição religiosa específica, como investigar a calma que os
católicos sentem quando rezam. Outros estudos procuram investigar a percepção
que o sujeito tem do contato com o divino e outras pesquisas se referem aos
estados místicos. Dessa forma, é possível que apareçam resultados diferenciados
sobre os sentimentos religiosos, isto é que eles possam surgir em áreas
distintas do cérebro e também devido às diferenças individuais.
Os pesquisadores apontaram para o envolvimento de outras áreas
cerebrais fora a do lobo temporal, a área especializada da linguagem.
Descreveram uma grande queda da atividade da parte anterior e superior do lobo
parietal durante o transe meditativo dos budistas que já praticavam a meditação
há alguns anos. Também encontraram um aumento da atividade no córtex
pré-frontal direito.
O córtex pré-frontal é responsável pela atenção e planejamento de
tarefas cognitivas e seu recrutamento no pico da meditação pode refletir o fato
de que tal contemplação exige que a pessoa se concentre intensamente num pensamento
ou objeto. Outros pesquisadores também encontraram os mesmos resultados com
pesquisas com budistas.
O córtex pré-frontal esquerdo foi o mais ativado, refletindo a
capacidade de experientes praticantes de meditação se concentrarem. Os
voluntários mais experientes apresentaram níveis mais baixos de ativação.
Estudos realizados na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos,
confirmam que a oração muda a estrutura do cérebro.
1.
Influência o estado da mente e contribui para
reduzir os efeitos que o stress tem em vários órgãos do corpo humano. Reduz o
stress mental, físico e emocional.
2.
Reduz a chance de sofrer com depressão
e ansiedade. Se orarmos na igreja aumenta a probabilidade de sermos
positivos e menos depressivos. (Estudo publicado na Inglaterra - British
Journal of Health Psychology).
3.
Influência extremamente positiva para saber
lidar com ataques de nervosismo; dá tempo para a pessoa ter algum tempo para
ela mesma e focalizar-se em si mesma, reduzindo assim o stress mental.
4.
Afasta desordens relacionadas com o stress:
doenças crónicas do coração, diabetes, hipertensão, úlceras e dores de
cabeça constantes e até mesmo alguns tipos de cancro.
5.
Torna a pessoa mais feliz (ao aumentar o nível
de dopamina). (Universidade da Pensilvânia)
6.
Afeta a área do cérebro associada com a emoção
reduzindo o ego da pessoa e consequentemente torna a pessoa mais humilde,
menos gananciosa pelas coisas materiais, tornando-a uma melhor pessoa.
7.
Reduz o tempo de recuperação após uma
intervenção cirúrgica. Ajuda na rapidez da cura de cicatrizes cirúrgicas.
Isto porque se o corpo estiver fora de balanço e stress, focaliza-se em
encontrar o equilíbrio e assim tem menos recursos para a cura.
8.
Coloca as doenças à distância ao aumenta a
imunidade.
9.
Está confirmado que a oração tem
muitos benefícios para o funcionamento do coração. É reconhecido que
aumenta a rapidez na recuperação depois dum ataque cardíaco ou cirurgia.
Para além disso ajuda a regular as batidas do coração, fazendo-o mais
forte e menos estressado.
10.
Ajuda a viver uma vida mais longa. Pois
como resultado de todos os benefícios que já vimos leva-nos a viver melhor
e mais.
Oremos pois mais e melhor. Para além de todas estas constatações
cientificas temos o poder da fé.
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