Embora
em seu sentido mais vulgar determinismo se refira a uma causalidade reducionista (redução
de todos os fenômenos do universo, por exemplo, à mecânica ou à química),
causalidade não necessariamente é sinônimo de reducionismo. Há vários tipos de
determinismo, cada um definido pelo modo como determinação e causalidade são
conceitualizados.
A totalidade dos fenômenos constitutivos da realidade
se encontra submetida a determinadas leis, estas sendo compreendidas como
possuindo caráter natural. Tais leis, ainda, são consideradas como sendo
regidas por uma relação de causalidade. Desse modo, a realidade se estrutura a
partir de leis que regem e estão presentes em todos os acontecimentos.
O determinismo foi utilizado, como sistema explicativo
do universo, a partir da Idade Moderna, em especial para a determinação das
leis que governam os fenômenos naturais. Esta doutrina se baseia na concepção
mecanicista do mundo físico, que aborda todo movimento como submetido a leis de
tipo mecânico, isto é, que se repetem com absoluta regularidade, dada a
igualdade das situações observadas.
O mecanicismo procura formular os princípios ou leis
gerais que regulam as propriedades existentes nos corpos naturais. Algumas
características do determinismo: universalismo, uma vez que sua adoção
deve, necessariamente, referir-se a todos os fenômenos do universo; sua impossibilidade
de prova, característica que decorre, como consequência, de seu
universalismo; negação do tempo, enquanto força promovedora de uma
sucessão irreversível de acontecimentos.
O determinismo foi encarado de maneira
diferente por vários pensadores da Era Moderna. Para alguns, ele constitui um
sistema estritamente científico; para outros, ele consiste em um modo
metafísico de explicação da realidade. É possível operar uma distinção, entre uma
posição determinista parcial ou radical.
O primeiro afirma o determinismo como aplicável
somente a uma parcela da realidade. O segundo afirmam que a realidade como um
todo está sujeita a leis determinadas, não somente o mundo natural mas, ainda,
as ações, pensamentos e desejos humanos. Esta radicalização foi criticada por diversos autores,
especialmente, em nosso século, pelos filósofos existencialistas. Estes
pensadores afirmam que, levado às suas últimas consequências, o determinismo,
ao ser aplicado a todas as esferas da vida humana, leva à negação da
possibilidade da liberdade.
Em epistemologia designa a
teoria segundo a qual tudo está determinado, isto é, submetido a condições
necessárias e suficientes, elas próprias também determinadas. Uma relação é
determinada quando existe uma ligação necessária entre uma causa e o seu
efeito; neste sentido, o determinismo é uma generalização do princípio da causalidade, que liga cada acontecimento a outro (é esta causalidade que
o cientista pretende conhecer estabelecendo leis).
Aplica-se aos acontecimentos da natureza e, enquanto necessidade cognoscível
opõe-se ao destino: este é uma lei cega que escapa ao homem, enquanto que
"um fenômeno pode ser integralmente determinado permanecendo mesmo assim
perfeitamente imprevisível (...). O tempo que teremos dentro de seis meses não
está escrito em lado nenhum: não está ainda determinado; mas sê-lo-á dentro de seis meses.
Assim, o
determinismo não é um fatalismo: não exclui nem o acaso nem a eficácia da
ação. Ao contrário, permite pensá-los: daí a meteorologia e o
guarda-chuva" (André Comte-Sponville - Dictionnaire philosophique).
Tipos
básicos de determinismo
Pré-determinismo: Se, como Laplace,
o deísmo e
o behaviorismo, supuséssemos que todo efeito já está completamente presente na causa,
temos um determinismo mecanicista onde a determinação é colocada no passado,
numa cadeia causal totalmente explicada pelas condições iniciais do universo.
Pós-determinismo: Se, como na teologia, supuséssemos que toda causalidade do
universo é determinada por alguma finalidade, temos um determinismo mecanicista
onde a determinação é posta no futuro pela imaginação de alguma entidade
exterior ao universo causal (Deus).
Co-determinismo: Se, como na teoria do caos, na teoria da emergência ou
no conceito de rizoma, supuséssemos que nem todo efeito está totalmente
contido na causa, isto é, que o próprio efeito pode simultaneamente interagir
(causalmente) com outros efeitos, podendo inclusive acarretar um nível de
realidade diferente do nível das causas anteriores (por exemplo, a interação no
nível molecular formando um outro nível de realidade, a vida, ou a interação
entre indivíduos formando um outro nível de realidade, a sociedade), temos um
determinismo onde a determinação é colocada no presente ou na simultaneidade
dos processos.
Determinismo
e liberdade
Os
críticos do determinismo reivindicam a não-causalidade para justificar o livre-arbítrio e
a livre escolha, geralmente atribuindo aos deterministas um mecanicismo ou fatalismo tal
como no pré-determinismo e no pós-determinismo citados acima. O que diferencia
os deterministas, quaisquer que sejam, de seus críticos é a afirmação destes
últimos de que a alma, a vontade, o desejo e a escolha existem num universo à
parte, separados do universo causal.
Para
os críticos do determinismo, só essa posição dominante e exterior da alma pode
explicar a liberdade. No entanto, há quem considere que essa crítica não leva
em conta o terceiro exemplo de determinismo (co-determinismo), que reconhece
modos de causalidade que engendram vários níveis de realidade (por exemplo,
molecular, biológico, psíquico, social, planetário...), cada qual com uma
consistência que lhe dá autonomia, jamais cessando, porém, de interagir com os
outros níveis.
Filósofos
tais como Nicolai Hartmann, Deleuze, Espinoza e Nietzsche não
veem contradição alguma entre determinismo radical e liberdade. Para Deleuze,
liberdade não é livre escolha nem livre-arbítrio, mas sim criação.
Somos livres porque somos imanentes ao mundo determinista, mundo onde não
existe nada que seja singularmente determinado que não seja ao
mesmo tempo singularmente determinante.
Se supuséssemos que somos
exteriores ao mundo determinista, cai-se num determinismo inerte passadista
(pré-determinismo), onde, segundo ele, só nos resta a liberdade empobrecida
chamada livre-arbítrio e livre escolha, que é pré-determinismo porque toda
escolha e arbítrio se dá entre duas ou mais entidades dadas, isto é, já
determinadas, já criadas.