Introdução
Na tentativa de estabelecer o que é na verdade a Psicologia
foi preciso voltar a definições muito mais básicas como epistemologia, dogma, paradigma,
filosofia e antropologia, só para citar alguns temas estudados. Percebe-se que até
o momento, os profissionais dessa área se debatem com argumentações filosóficas
sem fim, confundem ou misturam paradigmas, dogmas, princípios, teoremas e leis,
mal usam a matemática e a estatística, terminando num túnel obscuro onde, parece,
estão longe de encontrar a saída, se é que saída existe. Numa rápida consulta às
diversas áreas em que a Psicologia pretende se inserir, ou melhor, nas que ela considera
como de sua competência, surpreende a quantidade e diversidade de nomes, aplicações
e as mais diversas orientações que, infelizmente, parecem carecer de conteúdo ou
apenas se autonomeiam, buscando atingir nichos de mercado específico.
Apenas como exemplo, enquanto esse artigo estava sendo preparado
pode-se verificar, no Brasil, nada menos que 97 sub-especialidades se assim as podemos
chamar.
Aconselhamento Psicológico, Análise Transacional, Avaliação
Psicológica, Engenharia
Psicológica, Entrevista Motivacional, Ergonomia, Fisiopsicologia, Gestaltterapia, Psicologia da Hipnose psicológica, Logoterapia, Neuropsicologia, Parapsicologia,
Parapsicoterapia, Psicopedagogia Terapêutica, Psicanálise, Psicodiagnóstico, Psicodrama, Psicofarmacologia, Psicofisiologia, Psicologia Aplicada, Psicologia Básica, Psicologia Clínica, Psicologia Cognitiva, Psicologia Comparada, Psicologia
Comunitária, Psicologia da Arte, Psicologia da Educação, Psicologia
da Evolução, Psicologia
da Família, Psicologia
da Justiça, Psicologia da Mulher, Psicologia da Personalidade, Psicologia da Reabilitação, Psicologia
da Religião, Psicologia da Saúde, Psicologia das Organizações, Psicologia
de Gestão, Psicologia de Recursos Humanos, Psicologia do Consumidor, Psicologia do Desenvolvimento,
Psicologia do Desenvolvimento Humano, Psicologia do Esporte, Psicologia
do Sono, Psicologia do Trabalho, Psicologia do Trânsito, Psicologia dos Desastres,
Psicologia dos Exercícios, Psicologia dos Sonhos, Psicologia Educacional, Psicologia Escolar, Psicologia Experimental, Psicologia Fisiológica, Psicologia
Forense, Psicologia Geral, Psicologia Hospitalar, Psicologia Industrial,
Psicologia
Infantil, Psicologia Institucional, Psicologia Internacional, Psicologia Jurídica,
Psicologia Médica, Psicologia Militar, Psicologia Política, Psicologia Social, Psicologia Tradicional, Psicologia Transpessoal, Psicologia Vocacional, Psicopatologia,
Psicossomática,
Psicoterapia Intrapessoal,
Psicoterapia,
Psicoterapia Analítica,
Psicoterapia Analítico-comportamental, Psicoterapia Centrada no Cliente, Psicoterapia Cognitivo-comportamental, Psicoterapia
Comportamental Dialética, Psicoterapia Corporal, Psicoterapia Curta, Psicoterapia de Casal,
Psicoterapia de Grupo, Psicoterapia de Grupos de Auto-ajuda, Psicoterapia de Mediação,
Psicoterapia de Superação, Psicoterapia Diretiva, Psicoterapia Existencial-humanista, Psicoterapia Familiar, Psicoterapia Individual, Psicoterapia
Interpessoal, Psicoterapia Longa, Psicoterapia Motivacional, Psicoterapia Ocupacional,
Psicoterapia Orientada em Comunicação, Psicoterapia
Positiva, Psicoterapia Psicodélica, Psicoterapia Psicodinâmica, Psicoterapia Sistêmica.
Busca-se melhor compreender a Psicologia de forma
a sugerir uma visão mais consistente de suas competências, dos métodos e técnicas
que podem servir-lhe de sustentação e, se possível, libertá-la de visões dogmáticas
que em nada colaboram para sua estruturação e obscurecem a real utilidade que seguramente
pode ter. Seja como uma visão mais antropológica, como apoio às ciências médicas
ou como uma alternativa à compreensão do ser humano, não só sócio-culturalmente,
mas também como uma ferramenta de apoio na busca de seu bem estar, mental, físico
e espiritual, a psicologia tem todas as possibilidades de se encontrar.
Epistemologia
A epistemologia é um ramo da filosofia que estuda
os problemas relacionados com a crença e o conhecimento. Estuda a origem, a estrutura,
os métodos e a validade do conhecimento, motivo pelo qual também é conhecida como
Teoria do Conhecimento. Relaciona-se com a metafísica, a lógica e a filosofia da
ciência, pois, avalia a consistência lógica das teorias e seus alicerces científicos.
Em última instância é o juiz universal daquilo que se propõe como ciência, pura
ou aplicada, mas norteada sobre seus preceitos.
Paradigma
Paradigma é o pressuposto de um padrão a ser seguido.
É um conceito filosófico que origina o estudo de um campo científico; uma realização
científica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência
inicial para estudos e pesquisas. São paradigmáticas as realizações científicas
que geram modelos que, por períodos mais ou menos longos e de modo mais ou menos
explícito, orientam o desenvolvimento posterior das pesquisas na busca da solução
para os problemas por elas suscitados.
Observa-se que pressupostos e crenças, escalas
de valores, técnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada
comunidade científica, num determinado momento histórico, são simultaneamente conjuntos
de procedimentos consagrados, capazes de validar ou condenar as práticas ditas científicas.
Erroneamente, muitas vezes é compreendido como
um conjunto de "vícios" de pensamento e bloqueios lógico-metafísicos,
que obrigam os cientistas de uma determinada época, a permanecer confinados ao âmbito
do que definiram como seu universo de estudo e apenas àquelas conclusões admitidas
como plausíveis.
Reducionismo
É a teoria que afirma que os significados de fenômenos
complexos podem ser sempre reduzidos às suas partes constituintes mais simples a
fim de explicá-los. Assim, a ênfase nas partes seria a maneira mais correta de definir
uma teoria, ou verificar se ela é falsa ou verdadeira. O reducionismo metodológico
está relacionado diretamente à ciência, afirmando que se deve sempre buscar as explicações
por meio de respostas continuamente reduzidas, relacionadas às entidades mais simples
que constituem o fenômeno estudado, com o objetivo final de entender o todo. É o
caso da ciência cartesiana, focada no pensamento analítico, que acredita que em
qualquer sistema complexo o comportamento do todo pode ser analisado em termos das
propriedades de suas partes. 
Já o reducionismo ontológico está diretamente
relacionado ao ser humano, à sua compreensão e à natureza da existência comum que
é inerente a todos e a cada um dos seres, sob a ótica de que tudo que existe é feito
de um pequeno número de elementos básicos que se comportam de forma regular.
Kant mostra que tempo e espaço são fundamentais
na percepção e que o cérebro dispões de ferramentas que só podem ser usadas no momento
em que se dá a experiência. Ao tentar imaginar algo que exista fora do tempo e não
tenha pelo menos uma dimensão no espaço, o cérebro humano não consegue produzir
esta percepção e, se esta não existe, não se dá a cognição - o entendimento, que
é uma das faculdades da razão. 
O entendimento nos fornece as categorias com as
quais podemos operar as sínteses sobre o caos inerente às experiências vivenciadas.
Fornece as evidências de causa e efeito que permitem emitir juízos sobre o mundo,
próprias do conhecimento e da experiência. Há, por isso, o conhecimento a priori
de algumas coisas, uma vez que a mente tem que ter estas categorias, de forma a
poder compreender a experiência pura, não-interpretada, que se apresenta à consciência.
A filosofia crítica de Kant pergunta quais as
condições para que o nosso conhecimento do mundo possa se concretizar. Conclui que
todo raciocínio, toda descoberta é redutível a uma combinação ordenada de elementos
tais como números, palavras, sons ou cores. Kant distinguia a visão determinística
causal que a mente impõe sobre o universo e a fenomenológica onde o universo existe
por si só.
Kant foi muito influenciado pela obra de Leibniz,
seja pelo quanto concordava com ela, seja pelo que paradoxalmente os afastava. Embora
quase cem anos separassem os dois, Leibniz já enunciava alguns dos princípios que
nortearam a obra de Kant. Dizia ele que a contingência opõe-se à noção de necessidade,
não à de determinação. A ação é sempre contingente, porque seu oposto é sempre possível.
A ação é espontânea, quando o princípio de determinação
está no agente, não no exterior deste. Toda ação é espontânea e tudo o que o indivíduo
faz depende, em última instância, dele próprio. Qualquer animal pode agir de forma
contingente e espontânea. O que diferencia o animal humano dos demais é a capacidade
de reflexão que, quando operada, caracteriza uma ação livre. Os homens têm a capacidade
de pensar a ação e saber por que agem.
A Navalha de
Ockham
É um princípio lógico que afirma que a explicação
para qualquer fenômeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias
à explicação do mesmo e eliminar aquelas que não causam qualquer diferença nas predições
da hipótese ou teoria. O princípio é designado por ‘Lex Parsimoniae’(Lei da Parcimônia).
"Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem"
“Pluralitas non est ponenda sine neccesitate”
William de Ockham(?)
(As entidades não devem ser multiplicadas
além da necessidade;
Pluralidades não devem ser postas
sem necessidade).
"A perfeição não é alcançada quando já não há mais nada
para adicionar, mas quando já não há mais nada que se possa retirar"
Antoine de Saint-Exupéry
“Sempre que possível deve-se substituir as construções feitas
a partir de entidades conhecidas pelas inferências causadas por entidades desconhecidas”
Bertrand Russell
Esta formulação é muitas vezes parafraseada como:
"Se em tudo o mais forem idênticas
as várias explicações de um fenômeno, a mais simples é a melhor".
A Navalha de Ockham entende a intuição como ponto
de partida para o conhecimento do universo. Defende o princípio de que a natureza
é por si mesma econômica, optando invariavelmente pelo caminho mais simples. Todo
conhecimento racional tem por base a lógica, de acordo com os dados proporcionados
pelos sentidos. Uma vez que só conhecemos entidades palpáveis e concretas, nossos
conceitos não passam de meios lingüísticos para expressar uma idéia; portanto, precisam
de comprovação através da realidade física. 
Holismo 
Em primeira análise é a antítese do reducionismo.
É a corrente filosófica que afirma que as propriedades de um sistema, que trate
de seres humanos ou outros elementos, não podem ser explicadas apenas pela soma
dos seus componentes. A compreensão do sistema transcende o entendimento das entidades
que o compõem. O sistema visto como um todo é o determinante do comportamento conjunto
das partes. O princípio geral do holismo pode ser resumido por Aristóteles, na sua
Metafísica, quando afirma: 
“O todo é maior
do que a simples soma das suas partes.”
O termo holismo foi primeiramente usado por Smuts
em 1926 em seu livro, Holism and Evolution,
que o definiu assim: "A tendência da
Natureza, através de evolução criativa, é a de formar "todos" maiores
do que a soma de suas partes". Foi também chamado erroneamente de não-reducionismo,
por ser contrapor ao pensamento cartesiano. 
O princípio do holismo foi discutido por diversos
pensadores ao longo da História, principalmente pelo filósofo que lhe deu cunho
científico, o francês Auguste Comte. Em sua obra ele sobrepõe a importância do estudo
do conjunto ou da síntese, a dos detalhes (ou análise), para uma compreensão adequada
da ciência em si e de seu valor para a existência humana. Comte é sem dúvida um
dos maiores nomes, senão o maior, da visão holística da ciência.
Jorgensen, embora mais ligado à ecologia, consegue
agregar grande parte da argumentação teórica e prática para a abordagem holística
nas ciências. Ele argumenta que alguns sistemas são tão complexos que jamais será
possível descrever todos os seus detalhes. Fazendo uma analogia com a teoria da
incerteza de Heisemberg, discute que características importantes de certos fenômenos
não podem ser reproduzidas em laboratório e, portanto, não podem ser medidas ou
observadas isentas da influência das mudanças inseridas no ambiente em que o sistema
existe. 
Aponta também para a importância da interconexão
entre elementos de um sistema, ressaltando que certas questões não podem ser respondidas
e, portanto, devem ser submetidas ao uso de modelos que não se prestam a explicar
o todo em termos de níveis hierárquicos com menos detalhes de organização; ao contrário,
moldam o sistema em sua escala real, lançando mão de níveis de detalhe maiores e
menores simultaneamente, em relação aos elementos que estão sendo estudados.
Holismo
ou Reducionismo
Do ponto de vista reducionista, o
social nada mais é do que o psiquismo coletivo, enquanto o psíquico é um produto
da fisiologia do sistema nervoso. Por sua vez, esta esfera biológica resulta da
química celular e a química se reduz à física da camada de valência dos átomos.
Assim a física, como ciência fundamental da natureza é, em última instância, o alicerce
de tudo que diz respeito ao ser humano.
A concepção holística, por outro lado,
considera que existem características de cada nível da realidade que lhe são inerentes
e não podem ser explicadas em termos dos níveis inferiores que a suportam. Assim
há algo próprio a fenômenos psicológicos que não pode ser reduzido a ocorrências
fisiológicas.
Ao se considerar a expressão da redução
de um nível de explicação aos níveis precedentes (e não apenas às somas) o leque
de possibilidades se amplia de tal modo que torna possível levar em conta as peculiaridades
próprias do nível em questão. Assim, o holismo pode ser entendido como uma forma
de reducionismo não linear.
Não existe psiquismo sem um organismo
que lhe dê suporte. Assim, estas ligações, não importa como se dêem, revelam uma
dependência essencial do sociológico ao psicológico e deste ao biológico. Por sua
vez, os fatos biológicos se dão mesmo na ausência de psiquismo. A existência de
uma vida psíquica privada de interações sociais é uma questão que deve ser muito
discutida, pois nada realmente concreto se apresenta nessa área.
A situação é semelhante à da relação
da linguagem com o raciocínio, isto é, qual deles precede o outro. Do mesmo modo
que o raciocínio precede a linguagem, também se pode considerar que o psiquismo
preceda o social, sendo possível aquele existir sem este. A redução da biologia
à química não é uma questão reducionista simples. Ao contrário, sua complexidade
e incertezas passam pelo advogar a existência de um “princípio vital”, não existente
na matéria inanimada, responsável pelo fenômeno da vida. Entretanto, parece que
as evidências do conhecimento acumulado levam a concluir que a vida decorre de uma
complexidade extrema de sistemas biológicos, mas, fundamentalmente, é uma ocorrência
simplesmente física. Da mesma forma ocorre o passar da biologia para a Psicologia,
isto é, pode-se supor a inexistência de qualquer interveniência sobrenatural nos
fenômenos psíquicos, advogando o monismo fisicalista.
A Coexistência
de Paradigmas
Em muitos casos, o conhecimento aprofundado das
partes de um sistema pode levar ao conhecimento do sistema como um todo com a mesma
eficiência com que se alcançaria esse conhecimento de um ponto de vista holístico.
Noutros casos, a complexidade dos componentes do sistema é tal que se torna impossível
conhecer todas as suas partes, as características individuais de cada entidade e,
portanto avaliar e predizer, a partir do conhecimento do funcionamento das partes,
como é o comportamento do sistema como um todo.
Toda essa controvérsia filosófica deve tender
a um meio-termo, à medida que a ciência avance e se desenvolva, pois nenhuma das
duas correntes se sustenta sozinha ou faz frente à complexidade dos sistemas hoje
estudados, às características de aleatoriedade que os envolvem, e a forma caótica
com que se comportam. Modelos muitas vezes podem adotar um comportamento reducionista
e em conjunto formar outro modelo que só pode ser explicado de forma holística.
Quando os termos são usados num contexto científico,
ambas as visões filosóficas referem-se primariamente aos tipos de modelos ou teorias
que possam oferecer explicações válidas sobre o mundo natural. O método científico
de propor hipóteses nulas, checar dados empíricos contra dados teóricos, não sofre
nada com a dicotomia entre as duas vertentes do pensamento filosófico. Apenas a
forma de abordagem se baseia em um ou em outro. O conflito de idéias não é universal
pois, na maioria das vezes, se restringe à decisão de quando uma abordagem holística
é melhor ou menos indicada que uma abordagem reducionista, visando o estudo de um
determinado fenômeno.
Psicologia e Ciência
Da perspectiva da epistemologia unitária, a Psicologia
não se constitui como ciência. Se algum dia a Psicologia adquirir unidade, toda
a história da Psicologia, será então vista como sendo história superada. Dessa perspectiva,
a pré-história da Psicologia pode começar em qualquer época e lugar, com os pré-socráticos,
por exemplo, ou com a Psicologia chinesa. Qualquer epistemologia da Psicologia atual
consistirá na verdade na epistemologia da pré-história dessa disciplina.
É como fato histórico que a Psicologia surge e se desenvolve
com acepções diferentes de ciência até os dias de hoje. Esse fato deve ser ressaltado
porque a Psicologia não abandonou o projeto de se constituir como ciência; antes
de ser diagnosticada como sendo não científica, ainda pode perguntar se tal diversidade
não pode ser elucidada com base noutra perspectiva, a da epistemologia pluralizada. O que se pode
dizer, sob essa ótica, é que a elucidação do projeto científico da Psicologia se
faz à luz de sua constituição histórica. O projeto científico da Psicologia é constituído
por tensões no âmbito da epistemologia da ciência, da metafísica, da visão de mundo,
da ideologia, dos interesses intelectuais e dos contextos acadêmicos.
O fato de que o projeto de James tenha firmado as bases
do funcionalismo psicológico e preparado o caminho para o desenvolvimento posterior
do behaviorismo não foi, contudo, suficiente para conferir unidade à Psicologia.
O século XX assistiu a uma proliferação de tradições dos pensamentos psicológicos
em todas as regiões do planeta, como, por exemplo, a Psicologia da Gestalt, o Construtivismo,
a Psicologia Sócio-histórica, as diversas abordagens de Psicologia Social, a Psicologia
Cognitiva, a Psicologia Narrativa, a Psicologia Pós-moderna e a Psicologia chinesa
entre muitas outras.
O fato de que o projeto de Wundt tenha sido derrotado
nos termos em que foi apresentado, não deve ser visto como derrota definitiva. Ao
contrário, existem vários estudos recentes mostrando a relevância contemporânea
de seu projeto em áreas que abrangem, por exemplo, a Psicologia Cognitiva, a Psicolinguística
e a Psicologia Cultural.
Como história da cultura, a história da Psicologia revela,
desde seu alvorecer, um universo psicológico pluralístico em expansão. Com essa
imagem, a história da Psicologia adquire uma perspectiva antropológica. A epistemologia
e história da Psicologia são epistemologia e história de culturas psicológicas e,
nesse sentido, a investigação do projeto científico da Psicologia adquire uma perspectiva
antropológica. 
Em outras palavras, a Psicologia se situa melhor sob
a égide da ciência antropológica. Parece difícil que em algum momento consiga impor-se
sozinha como ciência, seja alicerçada numa visão reducionista, obediente à epistemologia
pluralizada e ao pensamento reducionista não linear ou como visão holística no tema
em que se foca.
A “Cegueira”
Para muitos psicólogos falar a respeito do uso de métodos
científicos procedimentos controlados e sistematizados além de análises bem estruturadas
e respaldadas em fundamentos da matemática, da estatística, da neurologia e da psiquiatria
entre outras, chega a ser ofensivo. Assim comportando-se, ignoram princípios epistemológicos
básicos, reduzindo o conhecimento do psíquico a teorias que simplesmente não consideram
os preceitos do que é ciência e como ela deve ser feita, testada e comprovada.
É preocupante porque isso impede o desenvolvimento de técnicas
de trabalho bem controladas, possíveis de modelar o fenômeno estudado e analisá-lo
de maneira a identificar alterações sistêmicas prováveis de se reproduzirem em qualquer
pessoa, independentemente das manifestações inerentes ao indivíduo, onde se sabe
o que está sendo feito, porque está sendo feito, e porque se chega a um determinado
resultado.
Ao inferir a existência de estruturas metafísicas, dão ao
comportamento humano características assim explicadas, incorrendo nos mesmos erros
produzidos por pensadores que eram regidos pelos dogmas da igreja e, portanto, cerceados
no avanço de suas pesquisas. O mesmo erro que os filósofos antigos cometiam ao atribuir
a vis viva, ou à existência da alma como condicionante à explicação
do porque o corpo ter vida. 
Caem também no mesmo erro que caiam os filósofos e religiosos
ao dizer que a terra era o centro do universo, já que todos os fenômenos importantes
observados “nela acontecem”. Caem também, no mesmo erro que caíam os filósofos ao
atribuir aos seres vivos a uma substância existente dentro deles. 
Todas essas conclusões, assim como a vigente de que o comportamento
é determinado por uma estrutura metafísica existente dentro dele, advêm da inferência:
método onde o observador, a partir de sua própria experiência pessoal, subjetiva,
atribui explicação a um fenômeno, emitindo uma opinião pessoal sobre o que imagina
que acontece.
Ao dizer que um dado comportamento acontece porque há uma
estrutura etérea dentro de nosso cérebro que o controla, chegam a outro problema:
além de ter que explicar o comportamento observado, tem que explicar o funcionamento
desta estrutura, segundo acepções puramente subjetivas e como se dá a relação dela
com o organismo para que ele exista. 
Se esta estrutura não é física, não é observável, não é acessível,
como estudá-la? Que vantagem investigativa lhes dá uma inferência, sabendo que se
trata apenas da opinião de quem a faz, estando sujeita a refletir mais da história
de vida e aprendizagem de quem analisa do que da realidade intrínseca àquele que
é analisado. 
Que valor pode ter uma opinião pessoal, sem a menor possibilidade
de verificação ou generalização, quando se fala em compreender algo tão complexo
e diverso como o comportamento humano? Diante de inferências que, por serem feitas
por outra pessoa, com história de vida diferente, vivências diferentes, certamente
será também diferente. Como saber se ela é um avanço ou apenas um ponto de vista
diferente com relação aos estudos sobre o inobservável, indescritível e misteriosamente
apenas percebido.
Como é possível avançar tecnologicamente em um campo onde
tudo o que se tem são opiniões pessoais que, queiram ou não, são construídas culturalmente?
Como é possível falar sobre algo que não se conhece, não se observa, não se estuda?
Depende única e exclusivamente da fé acreditar que a mente tem as características
descritas pelo autor X ou pelo autor Y. 
Como já dito, quando um autor fala a respeito desta entidade,
por se tratar apenas de uma opinião dele, ele nos conta mais a seu próprio respeito
do que sobre a entidade a que se refere. As características que ele atribui a elas,
por não poder observá-las, são características que ele imagina que elas possuam,
mas não que necessariamente as possuam.
Uma disciplina que se proponha a estudar algo tão complexo
como o comportamento humano não deve depender de opiniões pessoais. Para falar a
respeito das leis que governam o comportamento, não se pode subestimar, esquecer
que cada pessoa possui um modo particular de se comportar, aprendido a partir do
nascimento e ao longo da vida, por meio da interação de sua carga genética com o
ambiente onde está inserido e a sociedade e a cultura que o influenciam; modo este
que não pode ser reduzido a especulações ou simples inferências.
A Teoria do Caos, o conceito de Entropia e o conceito
da Incerteza de Heisenberg, a Complexidade, a Teoria dos Sistemas, todos sem exceção,
apontam para o fato de que tanto a percepção quanto a cognição do universo em geral
e do ser humano em específico, tornam-se cada vez mais complexas, de forma diretamente
proporcional ao aumento dos níveis de consciência. Tal afirmativa só reforça o fato
de que se a Psicologia não buscar um reformulação radical de seus paradigmas e apoio
em última instância na epistemologia e em algum pensamento filosófico aceito pela
comunidade científica e que lhe de respaldo, continuará sempre a ser vista como
a mera busca do entendimento empírico do comportamento e que, em sendo assim, estaria
muito melhor localizada e protegida como uma subárea da Antropologia.
Caminho Tortuoso
A Psicologia foi proposta como ciência no final do século
XIX por Wilhelm Wundt e William James. Na verdade, a idéia de Psicologia como “ciência”
já germinava na obra de autores que viveram e trabalharam mais ou menos na mesma
época de Wundt e James, mas foram estes que elaboraram de modo sistemático o projeto
da Psicologia “científica” e deram início à Psicologia moderna.
Do ponto de vista epistemológico a Psicologia só pode
ser discutida sob a visão filosófica da Epistemologia
Unitária ou Teoria Unitária do Conhecimento, o que significa dizer que a
Psicologia é conhecimento unitário. Assim, a história da Psicologia é história da Ciência Psicológica, um tipo
de pesquisa que pertence ao gênero da História
da Ciência.
Logo no ponto de partida, o projeto científico da Psicologia
se bifurca, pois Wundt e James apresentam concepções diferentes da ciência psicológica
e, na seqüência, proliferaram acepções de Psicologia científica. Assim, a reflexão
epistemológica sobre a Psicologia pertence ao gênero da Epistemologia Pluralizada, ou Teoria Pluralizada do Conhecimento,
o que significa dizer que a Psicologia é conhecimento plural. Decorre dessa reflexão
que a história da Psicologia é história
do conhecimento psicológico, um tipo de investigação que pertence ao gênero
da História da Cultura.
Embora Wundt e James tenham concepções distintas de
ciência psicológica, concordam que, como ciência, a Psicologia deve ser afastada
das doutrinas e temas metafísicos. Wundt é contundente quando crítica o envolvimento
da Psicologia com a Metafísica. Ele procura afastar a Psicologia moderna do dualismo
mente-corpo e da Metafísica materialista-espiritualista, que derivam de pressuposições
de processos hipotéticos que estariam ocorrendo em um substrato metafísico ou, senão,
processos e atributos da matéria.
James também critica o envolvimento da Psicologia com
a Metafísica; ele diz: "necessitamos do abandono, de modo explícito e direto,
de questões sobre a alma, o ego transcendental, a fusão de idéias ou de partículas
de estofo mental, pelo homem prático". Em outras palavras, o homem prático
não está interessado nesses temas, que são da alçada do filósofo, que também deve
contribuir para mantê-los fora do campo da Psicologia como ciência. Homens práticos
estão interessados "em melhorar as idéias, disposições e conduta própria ou
de indivíduos sob sua responsabilidade".
Para Wundt, Psicologia como ciência é Psicologia empírica.
Outra vez um equívoco crucial. Como tal, interpreta a experiência psíquica a partir
da própria experiência psíquica; deduz os processos psíquicos de outros processos
psíquicos; faz uma interpretação causal de processos psíquicos com base em outros
processos psíquicos; não recorre a substratos diferentes desses processos, tais
como uma mente-substância ou processos e atributos do cérebro, para explicá-los.
A Psicologia empírica é focada na causalidade psíquica
e isso significa analisar a experiência a partir da própria experiência, fechando
as portas às explicações metafísicas espiritualistas ou materialistas. Como ciência,
ela deveria investigar os fatos da consciência, suas combinações e suas relações,
de tal modo que fosse capaz de explicar as leis que governam tais relações e combinações".
Como ciência natural, a Psicologia estuda os fatos mentais,
descrevendo-os e examinando-os em relação ao ambiente físico e à atividade do cérebro,
bem como as atividades corporais que deles decorrem onde os diversos modos de sentir
e pensar resultam de sua utilidade em modelar nossas reações no mundo.
James argumenta que, como todas as ciências naturais,
o objetivo da Psicologia consiste na previsão e controle práticos. Isso significa
dizer que a Psicologia deve ajudar homens práticos a solucionar seus problemas,
fornecendo-lhes regras para a ação e ensinando-lhes como agir.
Já a Psicologia empírica de Wundt se baseia no princípio
dos resultantes criativos: "em todas as combinações psíquicas o produto não
é a mera soma dos elementos que compõem tais combinações, mas representa uma nova
criação". De acordo com o princípio dos resultantes criativos, não é possível
predizer, tomando-se por base o conhecimento dos processos psíquicos componentes
ou as qualidades dos processos psíquicos resultantes. 
Os resultantes futuros nunca podem ser determinados
antecipadamente, mas a operação inversa é factível: "é possível, começando
com resultantes, alcançar, sob condições favoráveis, uma dedução exata em direção
aos componentes". Wundt conclui com esta imagem: "o psicólogo, como o
historiador psicológico, é um profeta com os olhos voltados em direção ao passado".
O princípio dos resultantes criativos aplica-se aos casos mais simples, o que torna
a previsão in totum impossível.
A Psicologia empírica de Wundt é Psicologia fisiológica,
o que a aproxima das ciências da natureza; mas o princípio das resultantes criativas
a aproxima das ciências da cultura (Geisteswissenchaften).
Esse princípio é solidário com a causalidade psíquica e é incompatível com a causalidade
física, pois a causalidade psíquica é o tipo de explicação das ciências da cultura
e não conduz à previsão e a causalidade física. É o tipo de explicação das ciências
da natureza que conduz à tentativa de previsão. Devido à causalidade psíquica e
ao princípio dos resultantes criativos, assim, a Psicologia de Wundt não é ciência
natural: é uma ciência intermediária, situando-se entre as ciências da natureza
e as ciências da cultura. 
Desde que se constituiu como projeto científico, a Psicologia
procurou trilhar o caminho da ciência. As Psicologias científicas do século XX afastaram-se
definitivamente de Psicologias racionalistas e das Psicologias empíricas de cunho
filosófico. Mas o desenvolvimento de Psicologias científicas no século passado não
foi capaz de conferir unidade à Psicologia. Ao contrário, o que se viu no século
XX foi uma notável proliferação de Psicologias científicas, nenhuma delas inseridas
nos conceitos epistemológicos que regem a Ciência.
A Busca Epistemológica
Quando James critica a Psicologia tradicional e lança
os fundamentos da Psicologia moderna com base na concepção dessa disciplina como
uma ciência natural, um de seus alvos é o conceito de self da filosofia do substancialismo e das filosofias de Kant e Hume.
Talvez o texto de James no qual melhor se possa verificar essa crítica seja o capítulo
A consciência do self, quando
aborda a consciência de si ou a consciência que o eu tem de si, contido nos Princípios de Psicologia. Aqui James critica
o conceito de eu, seja como duplicação transcendente do eu da experiência fenomenal,
ou como princípio lógico do conhecimento, como condição de possibilidade do conhecimento.
No primeiro caso suas referências alcançam um grande número de filósofos, no segundo
seu alvo era Kant. 
James critica ainda a dissolução do eu, reduzido à combinação
de sensações e concebe o sujeito como processo da experiência fenomenal com todas
as dimensões do fluxo do pensamento. Ele apóia sua crítica na primazia da experiência
fenomenal, tomando-a como ponto de partida e de chegada do conhecimento filosófico
e científico, rejeitando desse modo, a experiência transcendente. Esses dois aspectos
da defesa de James podem ser vistos como expressões de sua filosofia do pragmatismo
e do empirismo radical, novamente negligenciando fundamentos teóricos ou metodologias
de análise e validação, isenção crítica ou, dito de outra maneira, estruturados
sob uma visão realmente científica.
Psicologia e Epistemologia
Unitária
Da perspectiva da Epistemologia Unitária, conclui-se que, por não alcançar unidade,
a Psicologia não se constitui como ciência e, conseqüentemente, não se pode fazer,
quer epistemologia da ciência psicológica, quer história da ciência psicológica. Sob esse ponto de vista, a história
da Psicologia não pertence ao gênero história
da ciência. 
História da Psicologia é história da cultura. Como história
da cultura, é história das culturas psicológicas e filosóficas, bem como história
das idéias. Como história de culturas psicológicas é história de tradições do pensamento
psicológico. Tradições são práticas sociais de longa duração, ou culturas, conseqüentemente,
tradições de pensamento psicológico são culturas, ou práticas culturais. Como práticas
culturais ou culturas, tradições de pensamento psicológico se constituem como práticas
de pesquisa antropológica, com desfechos favoráveis para alguns e desfavoráveis
para outros, mas novamente inserida na Antropologia.
A prática de pesquisa da Primeira Escola de Leipzig,
fundamentada nos trabalhos de Wundt e de seus discípulos, não sobreviveu à prática
de pesquisa da Segunda Escola de Leipzig, fundamentada nos trabalhos de Felix Krueger
e Friedrich Sander. A Segunda Escola de Leipzig defendeu um retorno às comunidades
(Gemeinschaften), como a família, os grupos de jovens, o povo, bem como uma Psicologia
da totalidade que pregava a eliminação de qualquer coisa que fosse estranha ao que
era caracterizado como totalidade. Esse postulado absurdo não poderia levar a outra
coisa, outro absurdo. Fundamentou e deu legitimação à ideologia nazista (onde o
judeu, por exemplo, foi considerado como uma coisa estranha ao todo, a supremacia
da “raça” ariana e como era de se esperar, aprimorada na Conferência
de Wannsee, “Die Endlösung”,
a solução final).
Ao tempo da prática de pesquisa da Primeira Escola de
Leipzig, existiram duas outras práticas de pesquisa psicológica: a de Paris, baseada
na investigação experimental da hipnose, e a da Universidade de Clark, com desenvolvimentos
posteriores na Universidade de Columbia. A prática de pesquisa da universidade
de Clark dedicou-se à investigação da distribuição de características psicológicas
nas populações e contribuiu, ao lado do desenvolvimento dos testes mentais, para
a institucionalização da Psicologia como ciência independente nos Estados Unidos.
Um sinal animador?
Psicologia e Reducionismo
Rappaport comenta que o teste de Binet e outros testes
mentais foram aplicados nos Estados Unidos com o objetivo de conter a imigração
de pessoas indesejáveis e de limitar as oportunidades educacionais, bem como para
"isolar pessoas em instituições e justificar outras políticas similares de
'bem-estar social'. Foram esses desenvolvimentos e a prática de pesquisa de Clark,
desenvolvida por G. Stanley Hall, Francis Galton e Edward Lee Thorndike que vingaram
nos Estados Unidos.
Hume afirma que o eu resume-se à combinação de sensações.
Não existe um ente central que tem sensações. O que existe são sensações e o indivíduo
é um feixe dessas sensações. O que existe é o indivíduo corpóreo, e não o indivíduo
psíquico, o que existe é a causalidade física, e não a causalidade psíquica. A Psicologia
é reduzível à física, unitária, e não dual. As Psicologias de Titchener e Kulpe
são solidárias com o reducionismo. Um retrocesso histórico.
O Evolucionismo
Wundt afirmou que o sujeito é processo volitivo, afetivo
e cognitivo; não é nem espírito nem matéria, é fluxo, processo. Uma posição similar
encontra-se em James que afirma que o sujeito é processo, fluxo do pensamento, e
descreve as propriedades desse fluxo, dizendo que o pensamento é subjetivo, contínuo,
dinâmico, cognitivo, interessado e volitivo.
O evolucionismo foi determinante na interpretação da
consciência como uma perfeição adicionada pela evolução, com a função de adaptar
as pessoas aos ambientes e de ajudá-las a sobreviver. A consciência é especialmente
importante quando as pessoas se defrontam com situações complexas e com muitas alternativas
de escolha. É nessa hora que ela seleciona o curso de ação. Mas isso a Psicologia
não discute.
Se a evolução não tivesse chegado à consciência, o homem
não existiria. A consciência não é somente teórica. Não está destinada somente a
conhecer os objetos do mundo e a si própria. Ela também é prática. Os processos
mentais, como pensar, sentir, lembrar, são atividades, são ações, são instrumentos
com a finalidade de garantir a sobrevivência (pode-se vislumbrar aí o germe da idéia
behaviorista de que os processos mentais são processos comportamentais).
Internalização
Considera de forma relevante o intercâmbio que
o indivíduo realiza com seu ambiente onde se produz um movimento de aprendizagem,
mediante a internalização adaptativa do mundo que o circunda. Neste processo, e
não unicamente pelo fator social determinante, o cérebro desenvolve suas potencialidades
e, adquire as capacidades que estavam, desde o princípio, inertes em sua estrutura.
Essa é uma visão sistêmica fascinante, regida pelos pressupostos caóticos e apoiada
nos fundamentos da Gestalt. 
A rápida evolução da neuropsicologia como disciplina
independente, teve como contrapartida o crescente interesse por parte dos psicólogos
que vêem nesses estudos um valioso aporte aos problemas práticos de diagnóstico,
avaliação e reabilitação de pacientes com dano ou funcionamento cerebral anômalo,
constituindo-se assim em um instrumento muito importante para a psiquiatria e possivelmente
sua tábua de salvação.
Freud
Sigismund
Schlomo Freud, chamado o pai da psicanálise, foi uma figura controversa que, embora médico,
pouco ou nada conhecia de ciência. Sua biografia conta que quando jovem ele foi
vítima de abuso sexual, que tinha uma paixão desmedida pela mãe e sérios problemas
com o pai a quem odiava. Como profissional aparenta não ter tido uma linha de estudo
bem definida, tendo pulado de um tema a outro, durante grande parte de sua vida.
Médico medíocre, não conseguiu se desenvolver profissionalmente, o que o levou a
basear sua vida na discussão, em última instância, dele mesmo. A maior parte de
seus trabalhos foi derivada unicamente da pseudo compreensão que ele supunha ter
de si mesmo e que, talvez por pura vaidade, extrapolava para o ser humano como verdades
absolutas, inquestionáveis e não sujeitas à crítica científica. Em ser assim, o
que criou resume-se a princípios
e crenças dogmáticas, cuja validade é muito questionável. 
Isso não é ciência, é a definição de doutrina, inquestionável,
absoluta, dogmática, comparável ao que fazia a igreja católica na Inquisição. Mais
que isso, enquadra-se perfeitamente na definição de seita, conceito utilizado para designar, em princípio, simplesmente
qualquer doutrina, ideologia ou sistema que divirja da correspondente doutrina ou
sistema dominante, bem como também para designar o próprio conjunto de pessoas (o
grupo organizado ou movimento aderente a tal doutrina, ideologia ou sistema), os
quais, conquanto divergentes da opinião geral, apresentam significância social.
Seita é conceito sempre relativo em termos circunstanciais
de espaço-tempo e de grau de abrangência cultural e/ou populacional. Freud não criou ciência, mas sim uma doutrina. 
Como médico, suas atribuições eram o estudo da anatomia e da histologia do
cérebro humano. Entretanto, Freud perambulou por diversas áreas sem demonstrar qualquer
capacidade criativa científica nos empregos que teve. Preocupava-se mais em encontrar
uma forma de ganhar dinheiro, prestígio e ser internacionalmente reconhecido como
um gênio, características muito parecidas a outros grandes líderes doutrinários
de sua época, que também alcançaram a fama, embora por caminhos diferentes.
Depois de várias desilusões com o estudo dos efeitos terapêuticos da hipnose
e, principalmente do uso da cocaína que também consumia regularmente, (ao tratar
um colega levou-o à morte por overdose), Freud recebe uma licença e viaja para a
França, onde trabalha com Charcot, um respeitável psiquiatra que estudava a histeria,
no hospital Saltpêtrière. Como um pesquisador da área médica, Freud foi um dos primeiros
usuários e proponentes da cocaína como um estimulante, bem como analgésico. Ele
escreveu vários artigos sobre as qualidades terapêuticas (antidepressivas) da substância.
Freud cria o termo "psicanálise" para designar um método para investigar
os processos inconscientes e de outro modo inacessíveis do psiquismo. Seu primeiro
caso clínico relatado descreve o tratamento dado a uma mulher que demonstrava vários
sintomas clássicos de histeria. O método de tratamento consistia na chamada "cura
pela fala" ou "cura catártica", na qual a paciente discutia sobre
as suas associações com cada sintoma e, com isso, os fazia desaparecer. A bibliografia
sobre Freud confirma que, para postular o que chamava de Psicanálise, ele tinha
“tratado” e analisado apenas cinco pacientes.
Esta técnica tornou-se o centro das buscas de Freud, que também acreditava
que as memórias ocultas ou "reprimidas" nas quais baseavam-se os sintomas
de histeria eram sempre de natureza sexual. A classe médica em geral acaba por marginalizar
as idéias de Freud que então se dedica a anotar e analisar seus próprios sonhos,
remetendo-os à própria infância e, no processo, determinando as raízes de suas neuroses.
Durante o curso desta auto-análise, Freud chega à conclusão de que seus problemas
eram devidos a uma atração por sua mãe e a uma hostilidade por seu pai. É o famoso
"complexo de Édipo", que se torna o coração da teoria de Freud sobre a
origem da neurose em todos os seus pacientes.
Em suas teorias, Freud afirma que os pensamentos humanos são desenvolvidos,
obtendo acesso à inconsciência, por processos diferenciados, relacionando tal idéia
à de que a sistemática do cérebro trabalha essencialmente com o campo da semântica,
isto é, a mente desenvolve os pensamentos num sistema intrincado de linguagem baseados
em imagens, as quais são meras representações de significados latentes. Como ele
chegou a essa conclusão nunca foi explicado e não existem evidências científicas
sobre esse assunto ou o que, em última instância, ele quis dizer com isso.
O fenômeno representacional psíquico está relacionado ao sistema nervoso
humano. As representações, segundo Freud, são analógicas e imagéticas. Estas se
inter-relacionam através de redes associativas. As redes associativas das representações
são provenientes do processo fisiológico cerebral, o qual se baseia em uma rede
de neurônios. Esse processo ocorre através de um mecanismo reflexo: a informação
parte por uma rede associativa de neurônios até chegar à região motora e sensorial.
Ela provoca então, modificações nas células centrais, causando a formação das representações.
Enquanto elementos, as representações são originadas da percepção sensorial
do indivíduo. São unidades mentais tanto de objetos, como de situações, sensações,
relações. A representação de objeto é “... um complexo de associações, formado por
uma grande variedade de apresentações visuais, acústicas, táteis, sinestésicas e
outras".
As emoções, por exemplo, são processos de descarga de energia, que são percebidos
como sentimentos. São as chamadas representações imagéticas, que não formam imagens
psíquicas, e sim traços mnésicos de sensações. É preciso destacar que as relações
entre as representações não são a demonstração e a manifestação dos sentimentos,
dos afetos, das emoções. 
A relação entre os tipos de representação formam as idéias, ou seja, as relações
associativas contidas nas representações de objeto, captadas pelos processos perceptivos
formando a complexidade de sensações associadas e dando origem a uma representação
completa. Portanto, um único objeto representado na mente é constituído por seus
vários aspectos sensoriais da realidade externa.
Segundo Freud, o processo de pensamento é a ativação ou inibição dos complexos
de sensações associadas que torna possível o fenômeno representacional psíquico,
o que se dá através da energia que flui no sistema nervoso pelos sistemas de neurônios.
Podemos distinguir, neste processamento, um primário e um secundário.
Ligado ao inconsciente, o processamento primário do pensamento é aquele que
dirige ações imediatas ou reflexas, sendo associado, assim, ao prazer, ao emocional
do indivíduo e ao fenômeno de arco-reflexo. Nele, a energia presente no aparelho
mental flui livremente pelas representações, do pólo do estímulo ao da resposta.
O processo de pensamento secundário, por outro lado, está associado ao pré-consciente,
também chamado de "ação interiorizada" ou, ainda, de "processo racional
do pensamento". Nele, o escoamento de energia mental fica retido, só acontecendo
após uma série de associações, as quais se refletem no aparelho psíquico. As ações
decorrentes dessa forma de processamento devem ser tomadas com base no mundo externo,
no contexto em que a pessoa se encontra e em seus objetivos. Assim, ao contrário
da energia do processo primário, que é livre, a energia do secundário é condicional.
Freud não só desenvolve sua teoria sobre o inconsciente da mente humana,
como articula o conteúdo do inconsciente ao ato da fala, especialmente aos atos
falhos. Para Freud, a consciência humana subdivide-se em três níveis, Consciente,
Pré-Consciente e Inconsciente – o primeiro contém o material perceptível; o segundo
o material latente, mas passível de emergir à consciência com certa facilidade e
o terceiro contém o material de difícil acesso, isto é, o conteúdo mais profundo
da mente do homem, que está ligado aos instintos primitivos. Os níveis de consciência
estão distribuídos entre as três entidades que formam a mente humana, ou seja, o
Id, o Ego e o Superego.
Portanto, as representações de idéias inconscientes manifestam-se nos sonhos
como símbolos imagéticos, tanto metafóricos quanto metonímicos. Aplicando o conceito
à fala, o inconsciente consegue expelir idéias recalcadas através das piadas ou
atos falhos. Freud propõe que as piadas ou as “trocas de palavras por acidente”
nem sempre são inócuas. Antes, são mecanismos da fala que articulam idéias aparentes
com idéias reprimidas, são meios pelos quais é possível exprimir os instintos primitivos.
A análise da fala seria um caminho psicanalítico para investigar os desejos ocultos
do homem e as causas das psicopatologias. “É na palavra e pela palavra que o inconsciente
encontra sua articulação essencial.”
Uma das mais severas críticas sofridas pelo método psicanalítico foi feita
pelo filósofo Karl Popper. Segundo ele, a psicanálise é pseudociência, pois uma
teoria seria científica apenas se pudesse ser falseável pelos fatos.
Na época da formulação da psicanálise, a sua "amostra" era bastante
limitada; parte dela vinha de sua experiência subjetiva (a sua "auto-análise")
e da sua prática clínica, feita na maioria das vezes com pacientes burgueses de
uma Áustria vitoriana. Ou seja: uma amostra retirada de contextos bem específicos
e que não podem fundamentar a universalidade pretendida pelo autor.
Outra crítica robusta foi feita pelo psiquiatra inglês Willian Sargant. O
autor relata suas experiências com pacientes com traumas de guerra, nos quais se
deparou com situações onde estes se tornavam altamente sugestionáveis. O método
psicanalítico, segundo Sargant atuaria de forma semelhante a estes fenômenos, o
que tornava não críveis os relatos dos pacientes que supostamente confirmavam o
pensamento freudiano. Como a relação psicanalista-paciente pode provocar estados
de alta sugestionabilidade, estes estariam, na verdade, expressando as crenças do
próprio psicanalista. Outra nos depara com os fundamentos dogmáticos de cunho muito
mais próximo ao metafísico e ao religioso do que ao científico.
Acredita-se que o inatismo prevaleceu sobre o behaviorismo, tornando-se a
corrente dominante no estudo da mente e da linguagem separadamente, o behaviorismo
caiu no esquecimento. Sabe-se hoje que a linguagem, de qualquer tipo, não é pré-requisito
para o pensamento. Outra vez, Freud acaba desmistificado por falta de consistência
em suas proposições pseudo-médicas ou pseudo-psicológicas.
Uma grande explosão de conhecimento sobre
a especialização dos hemisférios surgiu a partir da década de 60, fundamentadas
em muitos avanços da medicina alcançados 50 anos antes, com pesquisas que levaram
o psicólogo americano Roger Sperry a merecer o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia por seus estudos sobre a especialização
hemisférica e as comissuras cerebrais. Não se pode deixar de perguntar: Onde andava
Freud quando contemporâneos seus faziam importantes descobertas na Medicina, na
Fisiologia, na Anatomia, só para citar algumas. Porque será que ele “não tinha acesso”
aos trabalhos científicos de Broca, Wertheimer, Benton, Wernicke, Korsakoff, Wundt e James, só para citar alguns.
Concluindo sobre Freud pouco resta a acrescentar. Talvez caiba outra comparação
que por mais forte que possa parecer mostra o resultado do pensamento de mentes
megalomaníacas que nas palavras de Bertrand Russel “diferenciam-se do narcisismo
pelo fato de preferirem o poder ao charme, serem temidos a serem amados. A esse
grupo pertencem os lunáticos e a maioria dos ‘grandes homens’ da história”. 
O Impasse Matemático-estatístico
Já que grande parte do trabalho da psicológica está baseado em entrevistas
e questionários cujos resultados servem apenas a uma análise correlativa, não permite
explicações causais e, assim, carece de alicerces científicos. Além disso, muitos
dos fenômenos estudados pela Psicologia, como personalidade, pensamento e emoção,
não podem ser medidos diretamente e devem ser estudados com o auxílio de técnicas
muito mais complexas que podem passar desde pela Teoria dos Sistemas Complexos,
o Princípio matemático das Incertezas ou mesmo a Teoria do Caos, o que pode ser
problemático de um ponto de vista metodológico, quando analisada a formação do profissional
de Psicologia.
Erros e abusos no emprego de testes estatísticos têm sido apontados em trabalhos
de psicólogos sem um conhecimento aprofundado em Psicologia experimental, em sistemas,
complexidade, incerteza e estatística. Muitos confundem, por exemplo, significância
estatística com sua importância prática. Outra vez, a obtenção de significados estatisticamente
significantes pode ser irrelevante quando não se considera a importância do correto
entendimento da definição de um universo amostral e assim por diante.
Uma Esperança Científica
Foi apenas no século XVII que Willian Harvey, contrariando
toda a tradição filosófico-teológica a respeito do funcionamento do corpo, aventurou-se
a abrir um corpo humano, descobrindo então o sistema circulatório e, por conseqüência,
observando que os componentes do organismo mais pareciam com uma máquina onde as
partes se correlacionam, trabalhando em conjunto, do que com algo sagrado movido
por uma força mágica.
Darwin sofreu as mesmas críticas por propor a teoria da evolução
das espécies, contradizendo assim a idéia de que o ser humano é o apogeu da criação,
ao demonstrar que somos apenas mais uma espécie como qualquer outra; propondo então
que nossas características são fruto da evolução e não de uma força criadora suprema.
Os estudos de Darwin também contribuíram muito para os estudos
com humanos. A partir deles, chegou-se à conclusão de que é possível, por exemplo,
fazer testagens de remédios (ou estudar o comportamento) em animais infra-humanos
antes de estudar os humanos, bem como utilizar material animal em alguns procedimentos
médicos, justamente por terem descoberto que partilhamos de algumas características
com os animais.
Todas estas ciências só evoluíram a partir do momento em que
adotaram para si um método de estudo calcado na objetividade, abandonando inferências
arbitrárias e desenvolvendo métodos de testagem e descrição de relações entre eventos
físicos. Somente a partir do momento em que foi exigido o critério que envolve a
adoção de passos claros, bem descritos, estruturados e sistematizados, estas ciências
foram capazes de estar em condições de evoluir e contribuir de maneira sólida e
crescente com o conhecimento. Não será diferente com a Psicologia.
Não se tem a intenção de acrescentar mais confusão
àquela já instaurada no que diz respeito a se situar ou não a Psicologia na ciência.
Por outro lado, propor um novo paradigma supõe a mudança e a acomodação a novos
princípios, multidisciplinares, com os quais, e somente com eles, pode-se almejar
colocar a Psicologia sob parâmetros epistemológicos condizentes, referenciais paradigmáticos
sólidos e quem sabe, se encontrar com a ciência onde paradoxalmente teve início.
Por definição, Psicologia é definida como a
“ciência” que estuda o comportamento e os processos mentais; o foco da Psicologia
está no indivíduo.
Dizer que a Psicologia é uma ciência significa que ela é regida pelas mesmas
leis do método científico as quais regem as outras ciências: ela busca um conhecimento
objetivo, baseado em fatos empíricos. Pelo seu objeto de estudo a Psicologia desempenha
o papel de elo entre as ciências sociais, como a sociologia e a antropologia, as
ciências naturais, como a biologia, e outras áreas como as ciências cognitivas e
as ciências da saúde.
Comportamento é a atividade observável dos organismos na sua busca de adaptação
ao meio em que vivem. Dizer que o indivíduo é a unidade básica de estudo da Psicologia
significa dizer que, mesmo ao estudar grupos, o indivíduo permanece no centro de
atenção, ao contrário, por exemplo, da sociologia, que estuda a sociedade como um
conjunto.
Os processos mentais são a maneira como a mente humana funciona - pensar,
planejar, tirar conclusões, fantasiar e sonhar. O comportamento humano não pode
ser compreendido sem que se compreendam esses processos mentais, já que eles são
a sua base. Como toda a ciência, o fim da Psicologia é a descrição, a explicação,
a previsão e o controle do desenvolvimento do seu objeto de estudo. 
Como os processos mentais só podem ser observados pela aplicação de modelos
cuja complexidade é enorme, na maioria das vezes o que se vê é a mera inferência.
Torna-se o comportamento o alvo principal dessa descrição, explicação e previsão.
Mesmo as novas técnicas visuais da neurociência que permitem visualizar o funcionamento
do cérebro, não permitem a visualização dos processos mentais, mas somente de seus
correlatos fisiológicos, ou seja, daquilo que acontece no organismo enquanto os
processos mentais se desenrolam. 
Descrever o comportamento de um indivíduo significa, em primeiro lugar, o
desenvolvimento de métodos de observação e análise que sejam objetivos e, em seguida,
a utilização desses métodos para o levantamento de dados confiáveis. A observação
e a análise do comportamento podem ocorrer em diferentes níveis - desde complexos
padrões de comportamento, como a personalidade, até a simples reação de uma pessoa
a um sinal sonoro ou visual. A partir daquilo que foi observado, e somente isso,
a Psicologia procurará então compreender, explicar e analisar o comportamento. 
A Psicologia parte do princípio de que o comportamento se origina de uma
série de fatores distintos: variáveis orgânicas (disposição genética, metabolismo,
etc.), disposicionais (temperamento, inteligência, motivação, etc.) e situacionais
(influências do meio ambiente, da cultura, dos grupos de que a pessoa faz parte,
etc.). As previsões em Psicologia procuram expressar, com base nas explicações disponíveis,
a probabilidade com que um determinado tipo de comportamento ocorrerá ou não. Com
base na capacidade dessas explicações de prever o comportamento futuro determina
também a sua validade o que é bastante questionável. Controlar o comportamento significa
aqui a capacidade de influenciá-lo, com base no conhecimento adquirido. Essa é parte
mais crítica da Psicologia, que expressa sua fragilidade, que aparece de forma mais
enfática na psicoterapia.
Watson queria
que a psicologia fosse ciência, rigorosa e objetiva. Assim o psicólogo tinha de
assumir um papel de cientista. Tinha de renunciar à introspecção e limitar-se à
observação externa. Só se pode estudar diretamente o comportamento observável, que
deve ser decomposto em objetos mais simples nos seus elementos e explicado de forma
objetiva, recorrendo ao método científico. O estudo do comportamento consiste agora
em estabelecer as relações entre Estímulos e Respostas.
O comportamento
passa a ser determinado por um conjunto complexo de estímulos e situação. Cada situação
corresponde a um dado comportamento, isto é, conjunto de respostas explícitas ou
implícitas. Para os comportamentalistas, a resposta considera tudo e qualquer reação
do indivíduo, de forma consciente ou não. Assim, o comportamento passa a ser o conjunto
de respostas objetivamente observáveis, determinado por um conjunto complexo de
estímulos (situação) provenientes do meio físico ou social. Conhecendo o estimulo,
deve-se ser capaz de prever a resposta e, conhecendo as respostas, identificar os
estímulos, ou situações que os provocaram.
Integrada
durante séculos à Filosofia, a Psicologia só começa a buscar sua independência científica
no final do século XIX, quando Wundt funda o primeiro Laboratório de Psicologia
Experimental, onde começam a ocorrer, de forma sistemática, as pesquisas em Psicologia.
Essa curta história é atravessada por paradigmas (sistemas, correntes teóricas)
que apresentam diversas concepções, que se refletem na definição dos objetos de
estudo, nos métodos e nas diferentes praticas propostas.
É necessário
ainda pontuar a contribuição de Wertheimer e Köhler à tentativa de situar a Psicologia
na ciência. Apesar de também estudar experiências
conscientes vai- contradizer a corrente associacionista, que defendia que a vida
mental era constituída por elementos que se associavam. Opondo-se a esta concepção
atomista e associacionista, postula então que qualquer fenômeno psicológico é uma
totalidade organizada, não redutível à soma dos elementos que o compõem; a percepção
dos objetos é diferente da percepção do somatório dos elementos que o constituem.
Considera o contexto em que ocorrem os fenômenos psicológicos como fundamental para
a compreensão dos mesmos e enfatiza os processos de organização mental.
Wundt, Pavlov,
Watson, Köhler e Piaget foram os profissionais que lideraram as principais tendências
da Psicologia, desenvolvendo teorias e modelos explicativos, que não só orientavam
as atividades dos pesquisadores da época, como marcaram de forma decisiva o viés
das correntes filosóficas no desenvolvimento da Psicologia. A grande variedade e
diversidade de teorias são condição e resultado do desenvolvimento de um objeto
de estudo absolutamente complexo e que torna impossível sua explicação se não houver
uma visão interdisciplinar ampla, métodos sólidos e técnicas de estudo absolutamente
claras, testadas e acreditadas.
Neuropsicologia
Em
1963, no primeiro editorial da revista internacional Neuropsychologia, foi apresentada a definição do termo Neuropsicologia, como sendo uma subárea da Neurologia, de interesse comum
para neurologistas, psiquiatras, psicólogos e neurofisiologistas. Postulava que
a área de interesse dessa nova ciência estava focada, principalmente mas não
exclusivamente, no córtex cerebral e de maneira mais específica nos transtornos
da linguagem, da percepção e da ação. Dizia ainda que, embora alguns desses
transtornos só pudessem ser estudados no homem, estavam convencidos de que
informações valiosas sobre a patologia humana poderiam ser obtidas de
experimentos com animais, abrindo caminho para o conhecimento dos mecanismos
básicos da organização cerebral. Quase vinte anos depois, outro editorial da mesma
revista comentava: “ainda não há uma melhor definição disponível”. 
As questões que culminaram no surgimento dessa nova ciência
têm, como já foi visto, uma história turbulenta e terão, ainda por um longo
tempo, uma situação de perenidade na forma de lidar com a ciência, de
interpretá-la e de explicá-la.
Tentativas de localizar os processos mentais em partes do
organismo já existiam pelo menos desde o século 500 AC, quando Hipócrates
definiu o cérebro como o órgão do intelecto e o coração como o órgão dos
sentidos. 
Empédocles
baseou-se no mesmo problema filosófico – a relação mente-corpo – localizando os
processos mentais no coração. Ao longo dos dois mil anos que se seguiram aquilo
que foi denominado como “A Hipótese Cerebral” e “A hipótese cardíaca” foram
constantemente o centro das discussões sobre o tema.
Galen
acreditava que a mente se localizava no fluido encontrado nos grandes
ventrículos do cérebro, hipótese refutada por Vesalius ao redor do século XVI.
Continuando o debate, Descartes adota uma posição dualista explícita, vendo a
mente e o corpo como coisas separadas, mas que, ainda assim, são capazes de
interagir.
Apenas
no século XVIII começam a aparecer algumas das teorias que viriam a se
concretizar e a criar os pilares científicos do que viria a ser chamado de
neuropsicologia; a principal questão sendo: se e até que ponto, algumas funções
mentais podiam estar localizadas em regiões específicas do cérebro. Essa
discussão é usualmente associada à teoria frenológica de Gall e Spurzheim,
ambos anatomistas que deram importantes contribuições à Medicina, assegurando-lhes
um lugar na História. Infelizmente, no momento em que se lançaram além da
Anatomia, na tentativa de localizar funções em diferentes partes do cérebro,
entraram na área da especulação e se desviaram de seu trabalho científico,
desencontrados em inferências que nada contribuíram para a ciência. 
Das
observações que fizeram sobre a estrutura externa do crânio, tentaram
desenvolver a idéia de que aos elementos nele percebidos podia-se correlacionar
aspectos importantes do comportamento. Essa visão quase ingênua, desprovida de
evidências e de qualquer rigor científico foram literalmente demolidas pelo
trabalho subseqüente do anatomista francês Flourens que provou não haver
evidências de que, após remover partes específicas do cérebros dos pombos,
pudesse se localizar as funções no cérebro. Concluiu que qualquer modificação
no funcionamento do cérebro só podia ser creditada à extensão do dano causado.
Em
1825, Bouillaud deu um passo decisivo para a demonstração das funções e suas
localizações no cérebro, quando afirmou que a fala se relacionava aos lobos
frontais, o que já havia sido sugerido por Gall. Logo em seguida Dax relata uma
série de estudos clínicos que permitiam comprovar que transtornos da fala
estavam diretamente relacionados a lesões do hemisfério esquerdo, infelizmente
seus trabalhos só se tornaram públicos depois de 1865, trinta anos depois de
sua pesquisa. 
Nesse momento, Broca já pesquisava a fundo os transtornos da fala
e as patologias do lobo frontal esquerdo. Foi ele que acabou recebendo os
créditos pela descoberta da síndrome. A essa teoria Wernike acrescentou que
existe mais de uma área do cérebro responsável pela fala. A Afasia tornou-se o
tema central das discussões sobre como as estruturas mentais se relacionam com
a estrutura do cérebro. Outros cientistas que se opuseram a essa visão
localizacionista, seguiram o caminho da explicação holística da Afasia, como
foi o caso de Jackson e Goldstein.
Em
vista desses avanços na observação das relações entre o comportamento e o
cérebro, é difícil entender porque os princípios da neuropsicologia só começam
a nascer depois de 1949. Parte dessa demora pode ser creditada as duas grandes
guerras, parte à rejeição aos defensores da frenologia e parte, principalmente,
pela crescente importância que vinha sendo dada às teorias da Gestalt na
Psicologia.
Weisenberg
e McBride descobriram que indivíduos que não entendiam a linguagem falada
embora a audição estivesse preservada, podiam entender sons não verbais, como
um sino, por exemplo, o que os levou à conclusão de que isso podia indicar
lesão em duas regiões diferentes do cérebro. Lashley também contribuiu para esse tema ao afirmar
que as alterações do comportamento causadas por uma lesão dependiam muito mais
da quantidade de danos no cérebro do que da localização do dano.
A
partir dos anos 50, a combinação da visão de neurologistas clássicos, combinada
com novas técnicas de análise comportamental, desenvolvidas pelos psicólogos
experimentalistas, deram origem, de forma definitiva ao desenvolvimento do que
hoje se entende por neuropsicologia.
Hans-Lukas
Teuber, pioneiro da neuropsicologia, acaba por firmar
o uso do termo enquanto ciência, no momento em que o define como duas partes,
não concorrentes, mas interdependentes. A primeira, o foco em ajudar o paciente
a entender sua doença e, a segunda, estudar cuidadosamente os experimentos de
forma a prover fundamentação essencial para as explicações fisiológicas sobre o
funcionamento normal de um cérebro.
Assim,
e finalmente, esse estudo é interdisciplinar, incluindo a anatomia, a
biofísica, a etologia, a farmacologia e a fisiologia entre outras e mantém o
foco principal no desenvolvimento de uma ciência do comportamento humano
baseada no estudo da função do cérebro. Teuber demonstrou de maneira muito
elegante e convincente, como a aplicação de métodos precisos já usados pela
psicologia experimental em pesquisas na psicofísica poderiam ser aplicados à
Neuropsicologia. Um de seus trabalhos mais famosos, escrito em parceria com Battersby
e Bender - Visual Field Defects after Penetrating Missile Wounds of the
Brain – ilustra e confirma o
sucesso de tais métodos.
Consegue
assim estabelecer de forma clara o objeto de estudo – “Estudo dos efeitos de
lesões em áreas específicas do cérebro, pela observação criteriosa de
modificações no comportamento. Resta um ponto; no estudo de humanos, por
questões éticas óbvias, deve-se aceitar o que é possível de ser estudado e que
os limites dos danos cerebrais não podem ainda ser conhecidos com precisão. Em
contraste, no caso de animais o local e a extensão das lesões podem ser
definidos com precisão e os comportamentos pré e pós-operatórios estudados em
detalhes. No estudo com humanos os psicólogos experimentalistas tem contribuído
de forma significante, criando técnicas engenhosas usadas em condições
controladas e propondo conceitos teóricos importantes para o entendimento dos déficits
comportamentais observados em pacientes com danos cerebrais. 
Como
aplicação do conhecimento neuropsicológico adquirido, pode hoje avaliar,
analisar, gerenciar e buscar reabilitar pessoas que sofram de alguma doença ou
transtorno cerebral, que tenha causado problemas neurocognitivos. Em
particular, aportam o ponto de vista psicológico ao tratamento, buscando
entender como a doença afeta e é afetada por fatores psicológicos. São ainda
imprescindíveis na definição de quando uma pessoa que demonstra dificuldades,
devido a patologias do cérebro ou a fatores emocionais ou outras causas
potencialmente reversíveis, ou tudo isso conjuntamente.
Existem, entretanto, muitas razões para se crer que o
relacionamento entre as funções mentais e regiões neurológicas não seja tão
simples. O futuro próximo deverá demonstrar que a evolução dessa ciência tenha
que passar por novos campos do conhecimento, tornando-a ainda mais
multidisciplinar e com um nível de complexidade tão alto que apenas o recurso a
métodos matemáticos e informáticos de ponta poderão ajudar a resolver problemas
de igual complexidade.
Estudos mais recentes apontam para a aplicação, por exemplo,
do processamento paralelo na criação de modelos capazes de melhor explicar
certas disfunções. Já se sabe que as explicações sobre o comportamento e as
relações com o cérebro, para serem explicadas, precisarão incluir ferramentas
relacionadas às teorias dos sistemas, da informação, da complexidade, do caos,
dos fractais, dos sistemas complexos, dos sistemas dinâmicos e principalmente
pelos princípios teóricos que regem a definição de incerteza, quem sabe o
aspecto mais importante a ser considerado nos estudos futuros.
A modelagem dos processos cognitivos por meio de redes
neurais artificiais considerados mais simples mas, ainda assim plausíveis de
modelar o funcionamento do cérebro, já é uma realidade. A neuroimagem funcional
vem abrir de forma imprevisível uma enorme porta para o desenvolvimento
científico próximo. Técnicas já bem dominadas de tratamento digital de imagens,
de classificação supervisionada ou não e outras tantas, aplicadas na análise
gráfica ao nível do pixel, dão sustentação a estes avanços.
O crescimento de metodologias que empregam testes cognitivos
simultaneamente ao imageamento funcional por ressonância magnética (fMRI), ou a
tomografia por emissão de pósitrons (PET), permitem estudar, em tempo real, as
atividades do cérebro enquanto ocorrem os processos cognitivos.
Finalmente, Luria, um
dos fundadores da neuropsicologia diz que a psicologia do homem deve ocupar-se
da análise das formas complexas de representação da realidade, que se constituíram
ao longo da história da sociedade e são realizadas pelo cérebro humano, incluindo
as formas subjetivas da atividade consciente sem substituí-las pelos estudos dos
processos fisiológicos que lhes servem de base nem limitar-se a sua descrição exterior.
Segundo ele, além de estabelecer as leis da sensação e percepção
humana, regulação dos processos de atenção, memorização na análise do pensamento
lógico, formação das necessidades complexas e da personalidade, considera esses
fenômenos como produto da história social (compartilhando outra vez a proposição
de Wundt). Incluam-se as proposições dos estudos simultâneos dos processos neurofisiológicos
e das determinações histórico-culturais, realizadas, de modo independente, por seu
contemporâneo, Vigotsky.
O Pensamento Complexo
O pensamento complexo, ou paradigma da complexidade,
tem sua essência em obras de vários autores, cujos trabalhos vêm tendo cada vez
mais aplicações na biologia, sociologia, antropologia social e nas propostas de
desenvolvimento sustentado.
Uma de suas principais linhas é a
biologia da cognição, desenvolvida por Humberto Maturana, a qual sustenta que a realidade é percebida
por um dado indivíduo segundo a estrutura (a configuração biopsicossocial) de seu
organismo num dado momento. Essa estrutura muda constantemente, de acordo com a
interação do organismo com o meio.
Os pensadores sistêmicos reconheciam a existência
de diferentes níveis de complexidade sujeitos, cada um, a diferentes tipos de leis,
ou seja, em cada nível de complexidade os fenômenos observados exibem propriedades
não existentes no nível inferior, como foi exemplificado por Capra: “o sabor do açúcar não está presente nos átomos
de carbono, hidrogênio e de oxigênio que o constituem”. Essas propriedades
foram, mais tarde, chamadas de propriedades emergentes.
O surgimento da teoria quântica, no início do
século XX, provocou uma revolução no pensamento moderno, pois obrigou a ciência
a repensar sua concepção reducionista analítica, ante o seguinte fato:
“...os objetos materiais
sólidos da física clássica se dissolvem, no nível subatômico, em padrões de probabilidade
semelhantes a ondas. Além disso, esses padrões não representam probabilidades de
coisas, mas sim, probabilidades de interconexões”.
A observação dessas interconexões mostra uma complexa teia de relações entre as várias
partes de um todo unificado, “como um complicado tecido de eventos, no qual
conexões de diferentes tipos se alternam, se sobrepõem ou se combinam e, por meio
disso, determinam a textura do todo”.
Técnicas matemáticas não-lineares capazes de descrever
a emergência dos padrões de organização característicos da vida e de lidar com a
complexidade dos sistemas vivos tornam-se possíveis com o desenvolvimento das ciências
da computação.
Auto-organização
O pensamento sistêmico não é suficiente para lidar
com a complexidade dos sistemas naturais, especialmente com os seres humanos. Sua
eficácia e potencialidades são substancialmente diminuídas quando separado da idéia
de complexidade. O pensamento sistêmico é apenas um dos operadores cognitivos do
pensamento complexo.
Capra assim expressa as características da auto-organização sistêmica: “...é a emergência espontânea de novas estruturas
e de novas formas de comportamento em sistemas abertos, afastados do equilíbrio,
caracterizados por laços de realimentação internos e descritos matematicamente por
meio de equações não-lineares”. É claro que Capra, assume aqui a Teoria do Caos
como a forma de se explicar a complexidade dos sistemas biofisiopsicológicos.
No pensamento desse importante estudioso da complexidade,
a auto-organização emergiu como a concepção central da visão sistêmica da vida e
está estreitamente ligada a redes, assim como as concepções de realimentação. As
idéias-chave do modelo de auto-organização
foram desenvolvidas em muitos sistemas diferentes nas décadas de 70 e 80 do séc.
XX, chegando ao entendimento de que “os
modelos de sistemas auto-organizadores compartilham certas características chaves,
que são os principais ingredientes da emergente teoria unificada dos sistemas vivos”
Autopoiese
A idéia de autopoiese surgiu a partir da expansão da idéia de homeostase seguindo em duas direções importantes: primeiro, que a autopoiese transforma todas as referências
da homeostase em internas ao sistema; e, segundo, que ela afirma ou produz a identidade
do sistema, ou seja, o sistema produz a si próprio, dessa forma, produz a sua identidade
distinguindo-se a si mesmo do seu ambiente. O conceito de autopoiese foi desenvolvido por Humberto
Maturana e Francisco Varela, a partir
de estudos sobre os sistemas vivos como sistemas cognitivos válidos para todos os
organismos, com ou sem sistema nervoso, a partir de pesquisas sobre a autonomia
nos processos vitais.
Estes cientistas concluíram que, os seres vivos
caracterizam-se pela capacidade de “produzir a si mesmos” continuamente, de refazer-se,
resultando que a vida como um processo é
um processo de cognição. Em 1974, juntamente com Ricardo Uribe, os mesmos
desenvolveram um modelo matemático correspondente para a célula viva – sistema autopoiético
mais simples. A autopoiese revela
uma autonomia biológica na qual as
células parecem “saber” como se comportar no tempo e no espaço, de modo a gerar
os diversos órgãos e desenvolver as funções vitais, permitindo organizarem-se, sendo
então, uma das características essenciais da vida.
Este conceito refere-se essencialmente a rede
de processos de produção, nos quais a função de cada componente consiste em participar
da produção ou da transformação de outros componentes da mesma, resultando em que
toda ela “produz a si mesma” continuamente.
É um padrão geral de organização comum a
todos os sistemas vivos, qualquer que seja a natureza dos seus componentes.
Os estudos de Maturana também levaram à concepção
de que a realidade é criada por um dado indivíduo, segundo a estrutura (a configuração
biopsicossocial) de seu organismo num dado momento. Essa estrutura muda constantemente,
de acordo com a interação do organismo com o meio.
Teoria dos
Sistemas
A abordagem sistêmica foi desenvolvida a partir
da necessidade de explicações complexas exigidas pela ciência. Visão sistêmica consiste
na habilidade em compreender os sistemas de acordo com a abordagem da Teoria Geral
dos Sistemas, ou seja, ter o conhecimento do todo, de modo a permitir a análise
ou a interferência no mesmo, independentemente do fato de se adotar uma filosofia
reducionista ou holística. A visão sistêmica é formada a partir do conhecimento
do conceito e das características dos sistemas. A visão sistemática é a capacidade
de identificar as ligações de fatos particulares do sistema como um todo. 
Teoria da complexidade
Como princípio matemático, a navalha de Ockham
foi aplicada pelo matemático soviético Andrei Nikolaevich Kolmogorov para definir
o conceito de seqüência aleatória, criando a área que ficou conhecida como teoria
da complexidade de Kolmogorov.
Ao se basear na Navalha de Ockham, demonstra sua
visão reducionista, tratando da aleatoriedade da ocorrência dos fenômenos e da quantidade
de informação de entidades individuais (entropia), medida através do tamanho de
sua menor descrição (algorítmica), formalmente definida. 
Há algumas décadas, este novo ramo das ciências
tem sido muito discutido e muito pouco entendido ou aceito, devido talvez à característica
intrínseca de sua natureza, refletida no próprio nome. A Teoria da Complexidade.
Trata-se de uma visão interdisciplinar que procura explicar os sistemas complexos,
sua adaptabilidade, sua capacidade de auto-organização e o comportamento dos seus
conceitos emergentes, tendo vários relacionamentos com a Teoria do Caos, dos
fractais e da incerteza.
Sistemas complexos
Um sistema é dito complexo quando suas propriedades
não são uma conseqüência natural de seus elementos constituintes vistos isoladamente.
As propriedades emergentes de um sistema complexo decorrem em grande parte da relação
não-linear entre as partes. O embasamento teórico-científico para a Teoria do Caos
se estrutura no estudo da complexidade.
Um Sistema Complexo é composto por um conjunto
de partes conectadas por alguma forma de inter-relação entre elas. Assim, para caracterizar
um sistema é necessário não somente conhecer as partes, mas também os modos com
que se relacionam. Isto gera um fluxo de informações complexas e muitas vezes novas
características emergem. 
As partes, conectadas por uma rede de relações,
geram uma unidade coletiva comumente chamada Sistema. Molécula, célula, ecossistema,
cidade, colônia de formigas, cérebro, computador, ser humano, cidade podem ser considerados
sistemas ou unidades coletivas. Cada sistema possui suas regras internas, e um novo
elemento nele inserido também fica sujeito as leis próprias desse sistema. É
desse ponto de vista que as relações entre comportamento e atividade cerebral
podem ser mais bem explicadas.
Em um Sistema Complexo cada subsistema possui
um processamento interno de informações, de modo que ocorre uma relação funcional
entre estes. Quando dois ou mais subsistemas compartilham um mesmo processo, mas
reagem de formas diferentes a ele, geram-se as relações complexas. Pode-se então
considerar que um sistema complexo é um conjunto de partes ou subsistemas com processamentos
internos singulares, conectadas entre si, de modo que formam uma unidade coletiva
com uma dinâmica própria e com propriedades emergentes.
Sistemas Dinâmicos
não lineares
Entre os sistemas consideram-se duas categorias:
os lineares e os não-lineares, que divergem entre si na sua relação de causa e efeito.
Na primeira, a resposta a um distúrbio é diretamente proporcional à intensidade
deste. Já na segunda, a resposta não é necessariamente proporcional à intensidade
do distúrbio, sendo esta a categoria de sistemas que servem de objeto à teoria do
caos, mais conhecidos como sistemas dinâmicos não-lineares.
Esse tipo de sistema utiliza a matemática de relações
e de padrões, sendo mais qualitativo que quantitativo, envolvendo mais padrão que
substância, relações que objetos. A matemática da complexidade tornou possível compreender
os sistemas caóticos muitos parecidos àquele que expressa ou contém as relações
comportamentais com as respectivas regiões do cérebro envolvidas no processo.
Características
Emergentes
As interações entre as partes de um sistema complexo
criam um padrão coletivo chamado propriedade emergente. Estas propriedades consistem
em uma exteriorização do sistema complexo. Em outras palavras, a dinâmica das partes
em uma escala de relação produz uma propriedade emergente em um nível mais alto
de escala. Assim, no estudo dos sistemas complexos ocorrem sistemas interagindo
com outros sistemas, de modo a formar sistemas mais amplos em escala e com propriedades
emergentes. Tal processo ocorre em escalas progressivamente maiores ou mais restritas.
Cada escala possui as suas próprias leis e são correlacionadas, de modo que se alterando
uma, modificam-se as outras de maneira não-linear. Essa é a tendência que
melhor pode explicar as diversas relações de causa e efeito que concorrem para
a compreensão do comportamento humano.
Princípio da Incerteza
A incerteza é
definida como o parâmetro associado ao resultado da determinação
de uma quantidade, que caracteriza a dispersão de valores que poderiam razoavelmente
ser atribuídos a essa determinada quantidade, expressos em percentagem e que descrevem um intervalo de confiança próximo do valor médio compreendendo determinada porcentagem
dos valores inferidos. Tal princípio é fundamental no estudo e na análise de
dados neuropsicológicos já que, com relação às reações do cérebro a quaisquer
estímulos e dessa forma a cognição e sua conseqüente resposta comportamental,
não se podem estabelecer verdades absolutas, mas verdades válidas para um
determinado momento, sob um contexto físico, social e cultural únicos para cada
situação, permeadas de incerteza, enquanto conceito matemático.
Entropia
É interessante entender o conceito de entropia
que pode ser descrita como a medida da quantidade de informação presente em uma
entidade ou mesmo em um sistema. A entropia aumenta na medida em que aumenta a
complexidade e, portanto, o grau de incerteza ou a imprevisibilidade da informação
resultante sobre a entidade analisada.
Teoria do Caos
A teoria do caos estuda o comportamento aleatório
e imprevisível dos sistemas, mostrando uma faceta em que podem ocorrer irregularidades
na uniformidade da natureza como um todo. Isto ocorre a partir de pequenas alterações
que num dado momento aparentemente nada têm a ver com o evento estudado, mas que
no futuro podem vir a alterar toda a previsão física que se considerava precisa.
Uma das idéias centrais desta teoria, é que os
comportamentos casuais (aleatórios) também são governados por leis e que estas podem
predizer dois resultados para certo input. O primeiro é uma resposta ordenada, permitindo
que o futuro dos eventos seja inferido, ocorrendo dentro de margens estatísticas
e erros previsíveis. O segundo é uma resposta também ordenada, onde a resultante
futura dos eventos é caótica, ou seja, ocorre uma contradição no ponto onde é previsível
que os resultados de um determinado sistema serão caóticos.
Em sistemas não-lineares, pequenas mudanças podem
ter efeitos dramáticos, pois podem ser amplificadas repetidamente por meio da realimentação
de auto-reforço, cujos processos constituem a essência das instabilidades e da súbita
emergência de novas formas de ordem, típicas da auto-organização. Sua elaboração
foi possível a partir da Teoria dos Sistemas Dinâmicos cujos fundamentos foram estabelecidos
por Jules Henri Poincaré, que também retomou o imaginário
visual para a matemática. Poincaré também percebeu que, ao se tentar representar
as infinitas interseções estabelecidas por duas curvas, essas interseções formam
uma espécie de rede infinitamente apertada:
“...nenhuma das duas curvas pode jamais cruzar consigo mesma, mas deve dobrar
de volta sobre si mesma de uma maneira bastante complexa a fim de cruzar infinitas
vezes os elos da teia. Fica-se perplexo diante da complexidade dessa figura, que
eu nem mesmo tento desenhar”.
Efeito Borboleta
Foi descoberto no início da década de 1960 pelo
meteorologista Edward Lorenz que, a partir de estudos de condições meteorológicas,
observou que os sistemas caóticos são caracterizados por serem extremamente sensíveis
às condições iniciais – mudanças minúsculas no estado inicial do sistema, levando,
ao longo do tempo, a conseqüências em grande escala, ou seja, a partir de dois pontos
de partida praticamente idênticos, desenvolver-se-iam duas trajetórias por caminhos
completamente diferentes, tornando impossível qualquer previsão a longo prazo, embora
isso não queira dizer que a teoria do caos não é capaz de quaisquer previsões. As
previsões precisas realizadas a partir da teoria do caos referem-se às características
qualitativas do comportamento do sistema e não aos valores precisos de suas variáveis
num determinado instante. Todos esses estudos marcaram o início da teoria do caos.
O efeito da realimentação do erro foi denominado
por Lorenz como Efeito Borboleta, ou seja, uma dependência sensível dos resultados
finais às condições iniciais. Assim, havendo uma distância, mesmo que ínfima, entre
dois pontos iniciais, depois de algum tempo estes estariam completamente separados
e irreconhecíveis. Variações aleatórias muito pequenas podem gerar um efeito dominó
que elevava o grau de incerteza em eventos futuros, realimentando os graus de aleatoriedade.
A partir de variações mínimas há acelerações nas precipitações de dados em determinadas
direções que mudam completamente o resultado de uma determinada experiência.
As previsões de certos fenômenos só podem adquirir
determinado grau de precisão utilizando equações matemáticas que levem em conta
o alto grau de incerteza dos eventos. Os atratores (pontos ou conjunto de pontos)
são aqueles pontos para os quais todos os fenômenos que se localizem suficientemente
próximos convergem mais cedo ou mais tarde. Se o atrator for o estado inicial, ele
será o estado atingido para todo tempo passado e futuro. Ao se analisar os estados
das equações de Lorenz, assim como suas representações num gráfico tridimensional,
observa-se a convergência em direção a um ponto ou conjunto deles chamados atratores
estranhos. Os atratores estranhos têm estruturas detalhadas em todas as escalas.
Teoria dos Fractais
Independente da teoria do caos e sendo também
um ramo da Teoria dos Sistemas Dinâmicos, a teoria dos fractais utilizou a geometria
fractal para descrever em “escala fina” a estrutura dos atratores caóticos. Foi
desenvolvida pelo matemático francês Mandelbrot, na década de 60, a partir da compreensão
de que todas as formas geométricas tinham algumas características comuns bastante
notáveis e que a geometria fractal poderia descrever e permitir a análise da complexidade
das formas irregulares no mundo natural.
Fractais são objetos e estruturas de dimensão
espacial fracionária, com propriedades de extensão dos limites infinita, permeabilidade
e auto-similaridade. A propriedade mais notável das formas fractais é que seus padrões
característicos são repetidamente encontrados em escalas descendentes, de modo que
suas partes, em qualquer escala, são, na forma, semelhantes ao todo. Os atratores
estranhos são extraordinários exemplos de fractais. 
Dentro da ótica da complexidade, embora seja impossível
calcular o comprimento ou a área de uma forma fractal, devido à infinitude das dimensões
e das escalas, pode-se ainda definir o grau de “denteamento” de uma maneira qualitativa.
A geometria fractal possibilitou a Mandelbrot descobrir uma estrutura matemática
altamente complexa, conhecida como Conjunto de Mandelbrot que, para sua compreensão
necessita de importantes conceitos matemáticos, incluindo os números complexos.
Todas essas teorias contribuíram para a compreensão
da vida como redes aninhadas dentro de redes,
sem hierarquização que formam os sistemas vivos – a complexidade da vida
não restrita à estrutura, mas incluindo-se a forma e o padrão relacional das partes
– um todo de partes integradas. A qualidade,
então, ressurgiu na ciência com uma importância essencial, integrando a quantidade,
objetividade e subjetividade, estrutura e padrão e influindo nas diversas dimensões
de atuação do ser humano.
O paradigma da complexidade nos proporciona uma
nova perspectiva sobre as chamadas hierarquias da natureza, como explica Capra:
“Desde que os sistemas vivos, em todos os níveis, são redes, devemos visualizar
a teia da vida como sistemas vivos (redes) interagindo à maneira de rede com outros
sistemas. Por exemplo, podemos descrever esquematicamente um ecossistema como uma
rede com alguns nós. Cada nó representa um organismo, o que significa que, quando
amplificado, aparece, ele mesmo, como uma rede. Cada nó na nova rede pode representar
um órgão, o qual, por sua vez, aparecerá como uma rede quando amplificado, e assim
por diante”.
Morin defende uma reforma do pensamento que possibilite
a aplicação dessas novas idéias, pois considera o ser humano como reducionista por
natureza. Por isso, é necessário um esforço para que possa compreender a complexidade,
pois a simplificação não exprime a unidade e a diversidade presentes no todo, condenando-nos
à perda da visão geral, mesmo sem condenar a especialização.
Por mais preponderante que ainda seja o pensamento
reducionista, do cartesianismo antropocêntrico, a complexidade que ora se descortina
resulta da complementaridade das visões de mundo não-linear e sistêmico, que só
pode ser entendida a partir do pensamento
complexo, aberto, abrangente e flexível.
Recursividade
Recursividade é um termo usado de maneira mais
geral para descrever o processo de repetição de um fenômeno, de forma similar às
anteriores, sendo uma propriedade dos sistemas caóticos. A recursão define (ou constrói)
uma classe de elementos por meio do conhecimento de alguns poucos casos base ou
métodos muito simples (freqüentemente apenas um), a partir dos quais se estabelecem
as regras para formular ou explicar os casos mais complexos em função daqueles mais
simples. Deve-se entender que uma definição recursiva define elementos de uma classe
em termos de outros “previamente definidos” dessa mesma classe.
Semiótica
A Semiótica é a ciência que estuda de forma geral
a simbologia e os signos. O pai da Semiótica Peirce, acreditava que tudo o que se
apresenta ante o consciente do ser humano estimulando a percepção e em seguida a
cognição se faz num fluxo de três elementos formais de toda e qualquer experiência.
A primeira é a qualidade da consciência imediata, é o presente, o inicial, original,
espontâneo e livre, precedendo toda síntese e toda diferenciação. Agrupa todas as
qualidades puras que, naturalmente, não estabelecem entre si qualquer tipo de relação. 
A sua vez, estas podem ser traduzidas como um conjunto de possibilidades do vir
a acontecer. Está muito relacionado aos conceitos lógicos de indução e dedução.
A secundidade relaciona-se ao momento em que aquilo que é percebido passa a ser
compreendido, onde o conteúdo toma profundidade. A palavra chave deste conceito
é a ocorrência, a atualização das qualidades da primeiridade. A Terceiridade corresponde
à camada de "inteligibilidade", ou pensamento em símbolos, através da
qual se representa e interpreta o mundo, vai além do espectro de estrutura do fato.
O indivíduo conecta o percebido à sua experiência de vida, fornece um contexto pessoal
e o relaciona à capacidade de previsão de futuras ocorrências, já que não só já
conhece o acontecimento como já o viu em ação, e como tal, já lhe é intrínseco.
 








