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11/29/2011

Neuropsicologia Cognitiva


Mapeando o cérebro
A Ciência tem uma característica única que a difere e afasta de quaisquer outras ideologias, crenças ou formas alternativas de explicar os sistemas. Ela está sempre em busca de mudanças. A maioria dos sistemas de idéias é criada para preservar uma forma particular de entendimento e aceitação das coisas. Já a Ciência não pode se devotar a um ponto de vista único, embora os cientistas possam. A Ciência como instituição visa à precisão e não os dogmas. Se novas pesquisas forçam a revisão de velhos conceitos, isso é considerado como um ponto positivo e não negativo. Nesse sentido, a Ciência pode ser vista como um sistema que se autocorrige. Dispõe de inúmeras formas de testar suas idéias e pressupostos, modificando-os quando necessário.
Uma das mais novas áreas da Neurociência é o conjunto de técnicas empregado em mapeamento do cérebro. Os neurocientistas usam diferentes formas de mapeamento, de maneira a estudar suas estruturas e sua atividade. Lidam com os processos mentais e de consciência além de explicar a natureza das respostas emocionais do ser humano aos mais variados estímulos. Na verdade, qualquer processo psicológico que o cérebro utilize ao resolver determinado problema, traduzir uma palavra, reconhecer uma fisionomia, escutar música, rezar ou imaginar uma paisagem pode ser relacionado com a atividade de diferentes partes do cérebro.
 Cada tipo de mapa é construído a partir de um conjunto de normas (cartográficas), do objetivo a que se propõe e da natureza da informação que se deseja representar. Assim, se se deseja informação sobre o relevo de uma área, utiliza-se um mapa topográfico. Se se busca informação sobre como viajar de uma cidade a outra por terra, um mapa rodoviário talvez seja a melhor opção. Se ainda o objetivo for a previsão meteorológica, um mapa climático deverá ser utilizado. Apesar de representarem uma mesma porção do espaço, eles são diferentes de acordo com a natureza da informação que objetivam representar.
 De forma semelhante, a Psicologia apresenta muitas teorias científicas diferentes. Nenhuma é capaz de cobrir sozinha todas as possibilidades para a explicação ou representação de um determinado fenômeno. Como os mapas, dependendo do fim a que se destinam, algumas teorias podem ser superiores a outras. Podem estudar um fenômeno em maior detalhe (escala) ou utilizar diferentes formas (simbologia) para retratar a informação a ser apresentada.
 Quando essas técnicas são utilizadas em conjunto com as ferramentas da Psicologia Cognitiva, abre-se um leque de possibilidades infinitas no estudo, análise e busca de respostas sobre o significado dos processos mentais. A abordagem cognitiva disseca o processamento da informação. Estuda a representação mental dos pensamentos, imagens, conhecimento e emoções. Por representação entende-se o armazenamento no cérebro, das memórias, das imagens, das percepções e de quaisquer outras informações produzidas pelos processos mentais.
As teorias científicas sobre cognição são como mapas. Preservam informação sobre partes específicas do mundo real, mas como os mapas, elas são esquemáticas (incompletas) embora muito úteis para a maioria das situações. Como mapas, as teorias nunca alcançam a complexidade do sistema analisado ou representado. Como mapas, nenhuma teoria é completa em si mesma. Como mapas, são uma generalização da realidade, mais ou menos detalhada, em função da escala de estudo adotada. Assim como os mapas, nem a melhor delas é completa. Nenhum modelo contém mais informação do que o sistema modelado. Assim, podemos esperar que determinada teoria seja muito precisa, mas nunca que ela seja completa em si mesma.
 Resumindo, é improvável que se consiga viajar por um país usando um mapa climático como orientação. Pode haver diversas teorias sobre um mesmo tema, cada uma com sua utilidade em circunstâncias específicas; entretanto, uma delas tem que ser superior (ou a mais indicada) para se alcançar um resultado específico.
Assim como os mapas devem apresentar consistência entre si, independentemente da finalidade para a qual foram criados, assim como num mapeamento um mapa não pode apresentar informação conflitante com aquela abordada em outro mapa, acontece o mesmo com as teorias científicas. Cada uma deve descrever diferentes aspectos de uma mesma realidade. Assim como a informação de diferentes mapas deve ser complementar e mutuamente consistente ao abordar diferentes tipos de dados, as teorias científicas devem coexistir sem se contradizer.
 Supondo-se que dois mapas sobre a mesma região do espaço se contradigam, um deles tem que estar errado. O erro não ocorre apenas por causas acidentais, mas muitas vezes, pela inserção deliberada de informação inconsistente, de forma a criar interpretações equivocadas ou tendenciosas do fenômeno estudado. De qualquer forma, descobrir e corrigir os erros depende apenas de ser possível obter mais informação sobre o tema estudado. O mesmo se aplica às teorias científicas. Se duas teorias conflitam ou se contradizem, a diferença só pode ser resolvida pela aquisição de mais evidências.
 Mesmo o melhor dos mapas tem que ser continuamente corrigido e atualizado. Da mesma forma, as teorias científicas nunca se sustentam sozinhas por muito tempo. São necessárias outras hipóteses que as validem ou refutem, abrindo caminho para a evolução do conhecimento sobre o sujeito estudado. Teóricos acreditam que o tempo de vida médio de uma teoria moderna relacionada às ciências da vida (Biologia, Genética, Neurociências, etc.) não é superior a três anos. Depois disso, ocorrem novas descobertas, detalhes são acrescidos ou mesmo mudanças mais significativas são introduzidas.
Isto pode soar desencorajador quando se leva dez ou mais anos estudando um determinado assunto, mas na verdade são os sinais de uma ciência ativa e em desenvolvimento. De forma análoga, viajar com sucesso por uma cidade utilizando um mapa de dez anos atrás só pode significar que não ocorreram mudanças e, portanto, a cidade não cresceu nem se desenvolveu. Na ciência, isto indica seguramente uma área estagnada do conhecimento. Se as teorias mudam, significa que novas descobertas estão sendo feitas, valores estão sendo revistos e teses estão sendo postas à prova. Até as melhores teorias se tornam obsoletas. A busca por novas respostas e por informação mais precisa é o sinal da evolução.

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