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8/11/2011

Complicações Neuropsiquiátricas da Dependência Alcoólica


COMPROMISSO DAS FUNÇÕES INTELECTUAIS SUPERIORES E SÍNDROMES CEREBRAIS ORGÂNICAS
As síndromes cerebrais orgânicas, pela exclusão social que provocam, representam uma das complicações mais graves do alcoolismo. Nos sujeitos dependentes alcoólicos, a sua freqüência pode atingir os 10%. Os principais tipos de compromissos cerebrais provocados pelo alcoolismo são:
- as encefalopatias do tipo Gayet-Wernicke; 

- a síndrome de Korsakoff;
- a demência alcoólica;
- a hipovascularização frontal.
- Encefalopatia de Gayet-Wernicke
É provocada por uma carência de vitamina B¹, freqüente nos alcoólicos, nomeadamente durante a abstinência. Na sua forma aguda ou subaguda, configura uma tríade sintomática: perturbações da consciência (obnubilação ou coma), perturbações do equilíbrio (cerebelosas e vestibulares) e sinais oculares (nistagmo e/ou paralisia dos movimentos oculares laterais).
Podem ocorrer também hipotensão ortostática, hipotermia ou coma. A evolução é reversível com vitaminoterapia mas, na ausência de tratamento, sobrevém muito freqüentemente a síndrome de Korsakoff (cerca de 75% dos casos).
- Síndrome de Korsakoff
Perturbações mnésicas com compromisso anterógrado predominante; Desorientação possível; Falsos reconhecimentos.
- Demência alcoólica
Perturbações práxicas ; Perturbações fásicas ; Perturbações gnósicas; Perturbações mnésicas.
- Síndrome de Korsakoff
Trata-se de uma perturbação cognitiva com lesão mnésica predominante. Constitui a seqüela de um episódio agudo de encefalopatia de Gayet-Wernicke não tratado. A sua descrição inicial deve-se a Korsakoff (1887): no início da conversa, refere Korsakoff, o paciente dá a impressão de estar na plena posse das suas faculdades.
Raciocina perfeitamente sobre todos os assuntos, tira conclusões corretas, faz observações sensatas, joga xadrez ou às cartas. Em resumo, comporta-se como uma pessoa sã de espírito. Contudo, faz constantemente as mesmas perguntas e repete as mesmas histórias. Lê a mesma página de um livro durante horas e é incapaz de se lembrar das pessoas com as quais tenha privado desde que está doente, por exemplo, o médico ou a enfermeira.
É sobretudo a memória dos fatos recentes que está alterada. Tudo o que se tenha passado durante a doença ou pouco tempo antes é esquecido. Nalguns casos, não é só a memória dos fatos recentes que está alterada, mas também o passado mais distante.
Korsakoff realça a extrema variabilidade da gravidade da lesão mnésica. Nos casos menos severos, as recordações recentes são imperfeitas, sem estarem completamente esquecidas. Algumas recordações estão sempre presentes, mas a data em que ocorreram está esquecida.
Nos casos mais severos, a amnésia é muito mais profunda e a memória dos factos está completamente perdida. Sublinha ainda o mesmo autor, a tendência dos pacientes para inventarem ficções ou repeti-las constantemente. Os pacientes descrevem, por exemplo, conversas que nunca tiveram. O delírio desenvolve-se então, alimentado por falsos reconhecimentos. Ao falar do seu passado, o paciente fica subitamente confuso e introduz fatos de um outro período da sua vida. Ao falar de uma viagem à Finlândia, mistura recordações da Criméia e explica que os Finlandeses são tártaros e comem carneiro.
O início da doença pode ser agudo ou progressivo. Nas formas com início abrupto, os primeiros sintomas podem ser, para além da amnésia anterógrada e a alteração da cronologia das recordações, perturbações visuais típicas de visão desfocada ou de diplopia, oftalmoplegia até, perturbações da fluência verbal e confabulações.
As formas com início abrupto podem ser confundidas com perturbações psiquiátricas de tipo psicótico. A evolução da síndrome de Korsakoff é muitas vezes crônica (80% dos casos), mesmo nos pacientes tratados pela abstinência e por vitaminoterapia B¹ prolongada.
- Demência Alcoólica
O alcoolismo é, depois da doença de Alzheimer e das demências vasculares, a terceira causa da síndrome cerebral orgânica de tipo demencial. Após a abstinência, cerca de 10% dos alcoólicos correspondem aos critérios seguintes de demência associada ao alcoolismo:
1. Demência sobrevindo após consumo abundante e prolongado de álcool e persistindo pelo menos 3 semanas depois da interrupção esse consumo.
2. Com base na história da doença, no exame clínico e nos exames complementares, eliminação de todas as causas de demência que não sejam o consumo prolongado de álcool.
A demência alcoólica está na origem de perturbações mais globais do funcionamento intelectual do que a síndrome de Korsakoff. Associam-se às perturbações mnésicas alterações das práxis, das gnosias e da linguagem. Habitualmente, a TAC cerebral revela atrofia cortical que pode regredir após um período prolongado de abstinência e de vitaminoterapia. Em certos casos, o compromisso frontal é predominante. Enquanto as formas mais graves de demência alcoólica são muitas vezes irreversíveis, as formas iniciais podem regredir com uma abstinência de álcool prolongada e definitiva.
- Hipovascularização Frontal
Os pacientes dependentes alcoólicos apresentam freqüentemente hipovascularização frontal. Nicolas e col., (1993) analisaram 40 alcoólicos sem sinais neurológicos nem sintomas de deterioração intelectual e compararam-nos com 20 sujeitos de referência. As avaliações consistiam num exame realizado com uma câmara de positrões, uma TAC cerebral e uma avaliação neuropsicológica. Em 30 dos 40 alcoólicos, a câmara de positrões revelou hipoperfusão cerebral global. A vascularização dos lobos frontais estava particularmente alterada (65% menos do que nos sujeitos de referência). A TAC revelou também atrofia do lobo frontal em 11 alcoólicos. Na maior parte destes 11 alcoólicos, detectou-se também alteração da vascularização frontal.
Esta hipovascularização frontal regredia em 80% dos casos ao fim de dois meses de abstinência de álcool.

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