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9/01/2018

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Tabaco
História do tabaco
O tabaco é uma planta cujas folhas, depois de secas, são usadas como fumo. Ele é o principal ingrediente dos cigarros e dos charutos, além de ser fumado puro em cachimbos. Os fumantes inalam a fumaça da queima do tabaco, que também pode ser mascado ou cheirado em pó.
O cultivo do tabaco foi iniciado pelos índios americanos, que utilizavam a planta em rituais e como remédio. No final do século XV e no começo do XVI, os exploradores europeus conheceram o tabaco na América, com os índios.
A maioria dos historiadores considera o tabaco como sendo de origem americana, onde foi cultivado pelos indígenas, tanto da América do Sul como do Norte. Uma das hipóteses mais prováveis é a de que a planta teria surgido nos vales orientais dos Andes Bolivianos, difundindo-se pelo território brasileiro através das migrações indígenas, sobretudo Tupi-Guarani.
Mais tarde, os colonizadores estabeleceram grandes fazendas de tabaco no continente americano. Além disso, eles levaram a planta para seus países de origem. Há algum tempo o cultivo e o consumo de tabaco estão presentes em todo o mundo, mas recentemente a sociedade começou a impor restrições cada vez maiores ao fumo, por causa dos males que seu uso constante causa à saúde.
Em novembro de 1492, os companheiros de Cristóvão Colombo viram pela primeira vez os índios fumarem. Segundo os historiadores, em 1530, plantas de tabaco teriam sido levadas para a Europa e cultivadas pela família real portuguesa por seu aspecto ornamental e por sua função medicinal.
Em 1560, o então Embaixador da França em Portugal, Jean Nicot, ao saber que a planta curava enxaquecas, a enviou para sua rainha, em Paris, Catherina de Medicis, a qual padecia deste mal.
A rainha teria iniciado o hábito de pitar, sendo imitada pelos nobres da sua corte, difundindo-se pelos demais países da Europa, o que teria originado o mercado de tabaco em pó, chamado rapé.
Assim, em apenas um século o tabaco passou a ser conhecido e usado no mundo inteiro, expandindo-se de duas maneiras: a primeira, por meio dos marinheiros e soldados, pois o tabaco era um bom passatempo durante os longos períodos das viagens; a segunda, durante as expedições portuguesas que levaram a planta para Portugal e França, difundindo-a para outros países europeus, da África e do oriente.
No Brasil, no início do século XVI, os primeiros portugueses a desembarcarem no País já encontraram o cultivo de tabaco em quase todas as tribos indígenas. Para os índios brasileiros, a planta possuía caráter sagrado e origem mítica. Seu uso era, geralmente, limitado a ritos mágico-religiosos, como no evocar dos deuses e nas predições, bem como para fins medicinais, para cura de ferimentos, enxaquecas e dores de estômago, sendo seu uso reservado exclusivamente aos pajés (feiticeiros).
Entre os indígenas, o tabaco era consumido de diferentes maneiras (comido, bebido, mascado, aspirado e fumado), mas o hábito de fumar predominava e esta forma de consumo acabou se difundindo pelo mundo ao longo dos anos.
Das crenças e rituais dos indígenas, o tabaco se tornou a mais importante cultura agrícola não alimentícia do planeta. A disseminação do consumo de produtos derivados do tabaco, em todas as suas formas (rapé, cigarros de palha, charutos, cigarrilhas, fumo de rolo, etc.), remonta a tempos bem anteriores à existência das atuais empresas fabricantes de cigarros.
Planta originária dos Andes, o tabaco acompanhou as migrações dos índios por toda a América Central, até chegar ao território brasileiro. As primeiras lavouras de tabaco formadas pelos colonos surgiram da necessidade de garantir o consumo próprio.
Logo, porém, muita gente apareceu disposta a comprar o excedente, afinal, na Europa a procura crescia e vários negociantes começavam a vislumbrar as grandes possibilidades de lucros que surgiriam a partir da criação de uma via regular de abastecimento.
Inicialmente a produção de tabaco no Brasil ocupou áreas reduzidas e concentradas entre Salvador e Recife, no Recôncavo Baiano. Na primeira metade do século XVII, durante a ocupação holandesa em Pernambuco, o tabaco produzido naquela Capitania ocupou papel importante na carteira comercial de produtos oferecidos pela Companhia das Índias Ocidentais.
Com a expulsão dos holandeses, começaram a aparecer as primeiras legislações reguladoras da atividade produtiva. Em 1674, o monopólio da metrópole foi garantido, através da criação da Junta de Administração do Tabaco, cujas determinações estabeleceram as regras para todas as colônias portuguesas.
Já no final do século XVII, uma legislação tentou regular o comércio a partir do controle das cargas transportadas devido às vastas extensões do território e à diversidade de áreas produtivas, fazendo surgir regulamentos e órgãos especiais como a Mesa de Inspeção do Tabaco. A partir desta data, a legislação enfim se estabilizou e vigorou até depois da Independência.
O final da liberdade vigiada que Portugal impôs ao Brasil durante o período colonial deu grande impulso às lavouras de fumo. Tornou-se possível cultivar qualquer espécie, em qualquer lugar. Além disso, a possibilidade de comércio direto com países estrangeiros representou um grande incentivo. Esta importância está marcada até os dias atuais no brasão das Armas da República, onde o tabaco e o ramo de café constituem o coroamento deste símbolo da nacionalidade brasileira.
Nesta arrancada, que começa efetivamente a partir de 1850, as províncias que se destacavam eram Minas Gerais, Bahia e, decorrente da vinda dos imigrantes alemães, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Em 1917 é instalada, na cidade de Santa Cruz do Sul – RS, a empresa Brazilian Tobacco Corporation. O empreendimento partiu da empresa britânica British American Tobacco, e foi o passo inicial para a transformação da cidade em um polo nacional da indústria do fumo. Em 1920, a empresa passa a se chamar Companhia Brasileira de Fumo em Folha e em 1955 é adquirida pela Souza Cruz.
Tabagismo e saúde
O tabaco contém uma droga viciante chamada nicotina. É por causa dela que muitos fumantes não conseguem parar de fumar, por mais que queiram. Isso é grave, porque o tabaco causa problemas sérios de saúde, como câncer de pulmão, distúrbios respiratórios e doenças cardiovasculares.
Os efeitos à saúde causados pelo fumo de tabaco referem-se tanto ao tabagismo direto quanto à inalação de fumaça ambiente (tabagismo passivo). A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 16% da população brasileira seja fumante.
Ainda de acordo com a OMS, nos países desenvolvidos, 26% das mortes masculinas e 9% das mortes femininas podem ser atribuídas direta ou indiretamente ao tabagismo. Desta forma, o tabagismo se classifica como uma importante causa de morte prematura em todo o mundo.
O que vai no Cigarro
Até setecentos aditivos químicos talvez entrem nos ingredientes utilizados na fabricação de cigarros, mas a lei permite que os fabricantes guardem a lista em segredo. No entanto, constam entre os ingredientes matais pesados, pesticidas e inseticidas.
Alguns são tão tóxicos que é ilegal despejá-los em aterros. Aquela atraente espiral de fumaça está repleta de umas 4.000 substâncias, entre as quais acetona, arsênico, butano, monóxido de carbono e cianido. Os pulmões dos fumantes e de quem está perto ficam expostos a pelo menos 43 substâncias comprovadamente cancerígenas.
A fumaça do cigarro é uma mistura de aproximadamente 4.700 substâncias tóxicas diferentes; que se constitui de duas fases fundamentais: a fase particulada e a fase gasosa. A fase gasosa é composta, entre outros por monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína. A fase particulada contém nicotina e alcatrão.
O alcatrão é um composto de mais de 40 substâncias comprovadamente cancerígenas, formado a partir da combustão dos derivados do tabaco. Entre elas, o arsênio, níquel, benzopireno, cádmio, resíduos de agrotóxicos, substâncias radioativas, como o Polônio 210, acetona, naftalina e até fósforo P4/P6, substâncias usadas para veneno de rato.
O monóxido de carbono (CO) tem afinidade com a hemoglobina (Hb) presente nos glóbulos vermelhos do sangue, que transportam oxigênio para todos os órgãos do corpo. A ligação do CO com a hemoglobina forma o composto chamado carboxihemoglobina, que dificulta a oxigenação do sangue, privando alguns órgãos do oxigênio e causando doenças como a aterosclerose.
A nicotina é considerada pela Organização Mundial da Saúde/OMS uma droga psicoativa que causa dependência. A nicotina age no sistema nervoso central como a cocaína, com uma diferença: chega em torno de 9 segundos ao cérebro.
Por isso, o tabagismo é classificado como doença estando inserido no Código Internacional de Doenças (CID-10) no grupo de transtornos mentais e de comportamento devido ao uso de substância psicoativa.
Além disso, a nicotina aumenta a liberação de catecolaminas, causando vasoconstricção, acelerando a frequência cardíaca, causando hipertensão arterial e provocando uma maior adesividade plaquetária. A nicotina juntamente com o monóxido de carbono, provoca diversas doenças cardiovasculares.
Além disso, estimula no aparelho gastrointestinal a produção de ácido clorídrico, o que pode causar úlcera gástrica. Também desencadeia a liberação de substâncias quimiotáxicas no pulmão, que estimulará um processo que irá destruir a elastina, provocando o enfisema pulmonar.
Riscos para a saúde
Os principais malefícios à saúde relacionados ao tabagismo referem-se às doenças do sistema cardiovascular, sendo um fator de risco importante para infarto do miocárdio, doenças do trato respiratório como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), enfisema e câncer, particularmente câncer de pulmão e câncer de laringe e boca.
Antes da Primeira Guerra Mundial, o câncer de pulmão era considerado uma doença rara, a qual a maioria dos médicos poderia jamais ver durante sua carreira profissional. Com o crescimento da popularidade do tabagismo após a guerra, houve um aumento epidêmico de câncer de pulmão.
A incidência de impotência sexual é aproximadamente 85% maior em fumantes masculinos do que em não fumantes e é uma causa importante de disfunção erétil. O tabagismo leva à impotência por causar o estreitamento das artérias (do pênis e do corpo).
As doenças relacionadas ao tabagismo matam 440 mil americanos por ano e cerca de 1200 por dia, fazendo com que o tabagismo seja a maior causa de morte nos Estados Unidos.
O risco aumentado de a pessoa contrair doenças é diretamente proporcional ao tempo que fuma e à quantidade de cigarros consumidos. Entretanto, ao parar de fumar, as chances diminuem gradualmente já que os danos ao corpo são reparados. Fumar diminui a expectativa de vida em até 10 anos.
No mundo todo, três milhões de pessoas por ano -seis por minuto- morem por causa do fumo.
Doenças associadas ao tabagismo
  • Câncer de pulmão;
  • Câncer dos rins;
  • Câncer da laringe;
  • Câncer da boca
  • Câncer na cabeça; Câncer no pescoço;
  • Câncer de mama;
  • Câncer de bexiga;
  • Câncer de esôfago;
  • Câncer de pâncreas;
  • Câncer de estômago;
  • Há evidências de risco aumentado de leucemia;
  • Câncer de pele;
  • Câncer de fígado;
  • Câncer do colo uterino;
  • Câncer dos intestinos;
  • Câncer da vesícula biliar;
  • Câncer adrenal;
  • Doenças cardiovasculares; Acidentes vasculares cerebrais;
  • Doença vascular periférica;
  • Distúrbios respiratórios, como bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica e enfisema;
  • Tromboangeite obliterante;
  • Impotência sexual;
  • Catarata;
  • Redução da memória e dificuldade de aprendizado em tabagistas adolescentes.
  • O tabaco provoca o amarelecimento dos dentes;
  • Aborto espontâneo. Os bebês de mulheres fumantes têm maiores dificuldades em processar sons;
  • Os diabéticos que fumam ou que mascam tabaco correm maior risco de ter graves complicações renais e apresentam retinopatia (distúrbios da retina) de evoluções mais rápidas;
  • A fumaça pode piorar a asma em crianças;
  • As filhas de mulheres que fumavam durante a gravidez têm quatro vezes mais probabilidade de fumar também;
  • Doses altas de nicotina podem reduzir a destreza mental em tarefas complexas;
  • O tabagismo passivo está relacionado à Síndrome da Morte Súbita Infantil;
O Pulmão e o Coração
O pulmão humano é composto de pequenos glóbulos chamados alvéolos. O fluxo de sangue e a irrigação sanguínea entre o coração e o pulmão são intensos. A fumaça do cigarro prejudica diretamente o funcionamento do sistema coração-pulmão.
Com o passar do tempo os alvéolos pulmonares vão sendo cimentados pelos componentes da fumaça do cigarro, deixando de fazer sua função. O organismo então passa a ter menor oxigenação dos tecidos, resultando em maior facilidade de cansaço para o fumante. O cigarro também causa inúmeros danos ao coração, tal como infarto.
Estatísticas
Mais de 300 pessoas morrem por dia no Brasil em consequência ao hábito de fumar. A Organização Mundial de Saúde prevê que, se nada for feito, em 2020 o vício do cigarro levará mais de 10 milhões de pessoas à morte, por ano.
Por que as pessoas fumam
Vários são os fatores que levam as pessoas a experimentar o cigarro ou outros derivados do tabaco. A maioria delas é influenciada principalmente pela publicidade maciça do cigarro nos meios de comunicação de massa que, apesar da lei de restrição à propaganda de produtos derivados do tabaco sancionada em dezembro de 2000, ainda tem forte influência no comportamento tanto dos jovens como dos adultos. Além disso, pais, professores, ídolos e amigos também exercem uma grande influência.
Pesquisas entre adolescentes no Brasil mostram que os principais fatores que favorecem o tabagismo entre os jovens são a curiosidade pelo produto, a imitação do comportamento do adulto, a necessidade de autoafirmação e o encorajamento proporcionado pela propaganda.
Noventa por cento dos fumantes iniciaram seu consumo antes dos 19 anos de idade, faixa em que o indivíduo ainda se encontra na fase de construção de sua personalidade.
A publicidade veiculada pelas indústrias soube aliar as demandas sociais e as fantasias dos diferentes grupos (adolescentes, mulheres, faixas economicamente mais pobres etc.) ao uso do cigarro.
A manipulação psicológica embutida na publicidade de cigarros procura criar a impressão, principalmente entre os jovens, de que o tabagismo é muito mais comum e socialmente aceito do que é na realidade.
Para isso, utiliza a imagem de ídolos e modelos de comportamento de determinado público-alvo, portando cigarros ou fumando-os, ou seja, uma forma indireta de publicidade. A publicidade direta era feita por anúncios atraentes e bem produzidos, mas foi proibida no Brasil. Com a Lei 10.167, que restringe a propaganda de cigarro e de produtos derivados do tabaco.
Jovens e mulheres na mira da indústria do tabaco
A promoção e o marketing de produtos derivados do tabaco junto ao público jovem são essenciais para que a indústria do fumo consiga manter e expandir suas vendas. O tabaco é a segunda droga mais consumida entre os jovens, no mundo e no Brasil e isso se deve às facilidades e estímulos para obtenção do produto.
A isto se somam a promoção e publicidade, que associam o tabaco às imagens de beleza, sucesso, liberdade, poder, inteligência e outros atributos desejados especialmente pelos jovens. A divulgação dessas ideias ao longo dos anos, e o desconhecimento dos graves prejuízos causados à saúde pelo tabaco, tornou o hábito de fumar um comportamento socialmente aceitável.
A prova disso é que 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 19 anos de idade. Seduzir os jovens faz parte de uma estratégia adotada por todas as companhias de tabaco visando substituir os que deixam de fumar ou morrem, por outros consumidores que serão aqueles regulares de amanhã.
Atingir o jovem pode ser mais eficiente mesmo que o custo para os atingir seja maior, porque eles estão desejando experimentar, eles têm mais influência sobre os outros da sua idade do que eles terão mais tarde, e porque eles são muito mais leais à sua primeira marca.
Epidemiologia do tabagismo
De acordo com a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL- 2010), que traça perfil de hábitos que influenciam a saúde do brasileiro, no conjunto da população adulta das 27 cidades estudadas, a frequência de fumantes foi de 15,1%, sendo 17,9% no sexo masculino e 12,7% no sexo feminino.
O estudo mostrou que na mulher a frequência de fumantes tendeu a aumentar com a idade até os 54 anos (de 12,4% na faixa etária 18-24 anos para 16,4% na faixa etária 45 a 54 anos). Há, no entanto, um declínio nas faixas etárias subsequentes, chegando a 6,5% entre aquelas com 65 ou mais anos de idade.
O número de ex-fumantes no país é maior entre os homens (26,0%) do que entre as mulheres (18,6%). Entre mulheres a frequência das que declararam haver deixado de fumar aumenta intensamente com a idade: 11,2% de ex- fumantes na faixa etária 18-24 anos e quase 30% nas faixas etárias a partir dos 45 anos de idade.
Suscetibilidade às drogas
A nicotina vem sendo considerada a porta de entrada para o uso de drogas ilícitas, pois, frequentemente, os usuários de drogas como álcool e maconha revelam ter iniciado suas experiências consumindo cigarros.
Esta afirmação faz parte do relatório anual do Ministério da Saúde dos EUA, publicado em 1992. Segundo o relatório, o hábito de fumar e a consequente dependência à nicotina geralmente se estabelecem na adolescência, ou mesmo antes, e são responsáveis por aproximar os jovens de outras drogas que causam danos à saúde.
Está comprovado que nas pessoas com faixa etária entre 12 e 18 anos a dependência à nicotina se instala mais fácil e fortemente, já que é nesta fase que ocorre a formação da personalidade e da consciência crítica e a construção da autoestima.
Os jovens formam suas crenças e incorporam hábitos e comportamentos da vida adulta, tornando-se, por isso mesmo, mais suscetíveis às mensagens veiculadas ao seu redor.
Tabagismo passivo
Define-se tabagismo passivo como a inalação da fumaça de derivados do tabaco (cigarro, charuto, cigarrilhas, cachimbo e outros produtores de fumaça) por indivíduos não fumantes, que convivem com fumantes em ambientes fechados.
A fumaça dos derivados do tabaco em ambientes fechados é denominada poluição tabagística ambiental (PTA) e, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), torna-se ainda mais grave em ambientes fechados. O tabagismo passivo é a 3ª maior causa de morte evitável no mundo, subsequente ao tabagismo ativo e ao consumo excessivo de álcool.
O ar poluído contém, em média, três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono, e até cinquenta vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que entra pela boca do fumante depois de passar pelo filtro do cigarro.
Fumantes passivos também sofrem os efeitos imediatos da poluição tabagística ambiental, tais como, irritação nos olhos, manifestações nasais, tosse, cefaleia, aumento de problemas alérgicos, principalmente das vias respiratórias e aumento dos problemas cardíacos, principalmente elevação da pressão arterial e angina (dor no peito).
Outros efeitos a médio e longo prazo são a redução da capacidade funcional respiratória (o quanto o pulmão é capaz de exercer a sua função), aumento do risco de ter aterosclerose e aumento do número de infecções respiratórias em crianças.
Tabaco Aditivado.
O “Segredo de Marlboro”, a adição de amônia para aumentar a dependência da nicotina e melhorar o gosto do cigarro, acaba de ser confirmado. Dois especialistas que testemunharam em favor do Estado de Minnesota, em processo contra as indústrias do tabaco, confirmaram que as companhias de cigarro usaram vários compostos de amônia para alterar a composição química, para dar aos fumantes uma dose maior de nicotina. Os cigarros atuais têm metade do tabaco vegetal do que aqueles que se fabricavam há 40 anos, sendo-lhes adicionados centenas produtos químicos para torná-los mais apelativos para os jovens e aumentar o poder viciante da nicotina.
Esta é a conclusão do Comité Nacional para a Prevenção do Tabagismo (CNPT) espanhol num relatório hoje divulgado pela agência EFE.
A CNPT exemplifica: os açúcares adicionados aos cigarros para lhes dar sabor convertem-se, após a combustão, em acetaldeído, um produto químico que 'é viciante por si mesmo e que aumenta o poder da nicotina'.
Outra substância também utilizada pelos fabricantes é o cacau cujo fumo, depois de inalado, tem um efeito dilatador nos brônquios, o que 'facilita o trânsito dos vapores da nicotina nos pulmões', que assim chega com mais facilidade ao sangue, ainda segundo a CNPT citada pela EFE.
Maconha
Introdução
Cannabis sativa é uma planta herbácea da família das Cannabináceas (Cannabaceae), amplamente cultivada em muitas partes do mundo. As folhas são finamente recortadas em segmentos lineares; as flores unissexuais e inconspícuas, têm pelos granulosos que, nas femininas, segregam uma resina que tem propriedades psicoativas.
História
Os primeiros registros históricos do uso da Cannabis sativa para fabricação de papel, datam de 8000 anos a.C, na China. Depois os chineses descobriram e desenvolveram outras formas de uso da planta, principalmente para produção de artigos têxteis e medicina.
Mais tarde, outras sociedades, como os gregos, romanos, africanos, indianos e árabes também aproveitaram as qualidades da planta, fosse ela consumida como alimento, medicina, combustível, fibras ou fumo. Ela era utilizada quer para fins medicinais quer para "produzir risos".
Entre os anos de 1000 a.C. até meados do século XIX, a maconha e o cânhamo produziam a maior parte dos papéis, combustíveis, artigos têxteis sendo, dependendo da cultura que a utilizava, a primeira, segunda ou terceira medicina mais usada.
Da China, ela se espalhou para a Índia, o Oriente Médio, o Norte da África. De lá desceu rumo à África Subsaariana e subiu até a Europa via Turquia.
O frio europeu parece ser uma das razões pelas quais a erva não era fumada no continente. Os princípios ativos da planta, THC e canabidiol, se desenvolvem em quantidade maior em ambientes quentes e ensolarados durante a maior parte do ano.
Talvez a primeira menção da maconha na nossa língua tenha sido um escrito de 1.548 onde está dito no português daquela época: "e já ouvi a muitas mulheres que, quando iam ver algum homem, para estar choquareiras e graciosas a tomavam".
Na década de 90 iniciou-se na Europa o cultivo artificial da maconha, quando foi introduzida uma nova técnica, utilizando luzes artificiais como as de vapores de sódio e as multi-vapores (mercúrio e outros gases componentes). Durante este período (década de 90), os estudos e investimentos na cannabis cresceram tanto que hoje existem milhares de indivíduos no mundo que se dedicam dia a dia no melhoramento genético da planta.
Até o início do século passado, a maconha era considerada em vários países, inclusive no Brasil, como um medicamento útil para vários males. Mas também já era utilizada para fins não médicos por pessoas desejosas de sentir "coisas diferentes". Consequência deste abuso, e seus efeitos maléficos, a planta foi proibida em praticamente todo mundo ocidental.
Todas as variedades de maconha afetam a mente, ou seja, alteram a função normal do cérebro porque contém o princípio ativo chamado THC (tetrahidrocanabinol). Além do THC, a planta da maconha contém outras quatrocentas substâncias químicas, a maioria tóxicas.
Assim, dependendo da quantidade de THC presente (o que pode variar de acordo com o solo, clima, estação do ano, época de colheita, tempo decorrido entre a colheita e o uso) a maconha pode ter potência diferente, isto é, produzir mais ou menos efeitos. Esta variação nos efeitos depende também da própria pessoa que a fuma.
Bebidas alcoólicas e cigarros estão associados com as taxas mais elevadas de abuso de cannabis. A ordem da associação temporal entre álcool e cannabis pode ser mais forte do que entre tabaco e cannabis. O uso da cannabis é um passo chave em direção a outras drogas ilícitas e a progressão para drogas mais pesadas.
O abuso de cannabis geralmente começa na escola de primeiro grau. Dificuldades ou aborrecimentos podem contribuir para o uso de maconha com amigos como uma alternativa social.
O uso de drogas pelo grupo de companheiros, pelos pais, e a baixa monitorização parental são fatores de risco para o abuso.
A delinquência é um fator de risco para o abuso de cannabis e outras substâncias; entretanto, a identificação do fumante de cannabis é geralmente mais com outros usuários da droga do que com delinquentes.
Os adolescentes que abusam da cannabis frequentemente têm uma perda de comunicação com a família, com alterações de humor imprevisíveis, deterioração nos valores morais, apatia, mudança de amizades, vadiagem, desempenho acadêmico deficiente, negação do uso mesmo quando encontrado com a droga e sinais óbvios de intoxicação.
Pesquisas entre estudantes do nível médio que usam drogas "pesadas" indicam que a maioria deles iniciou o uso de drogas pela maconha, antes de passar para outras substâncias (cocaína, anfetaminas, heroína).
A maconha põe crianças e jovens em contato com pessoas que usam e vendem outras drogas. Existe maior risco de que os jovens usuários de maconha estejam mais expostos e tenham maior tentação de provar outras drogas.
Recentemente, os adolescentes dirigem-se cada vez mais para a cocaína sem o uso intensivo de cannabis. A experimentação da cannabis pode não ter produzido os efeitos desejados induzindo os adolescentes a se sentirem menos temerosos e diminuindo a inibição para o uso de drogas mais fortes.
Indícios de uso de maconha
  • Mudanças bruscas no comportamento;
  • Alterações súbitas de humor;
  • Intensa euforia, alternada com choro ou depressão e sonolência;
  • Inquietação, Irritabilidade, ansiedade, cacoetes;
  • Tagarelice, excitabilidade, risadas;
  • Voz pastosa;
  • A voz sai mole, grossa e vagarosa. Assemelha-se à embriaguez alcoólica, contudo, em intensidade menor. Para disfarçar, fala o menos possível.
  • Boca seca;
  • A saliva fica bastante densa, branca e em pouca quantidade. Começa a mascar chiclete para produzir saliva, beber mais líquido ou até refrigerante por ser adocicado.
  • Pode ter ilusões;
  • Os objetos ao seu redor parecem distorcidos; dançam, mudam de forma e cor. De perto, vê como se estivesse longe, ou vice-versa.
  • Alucinações, distúrbios na percepção do tempo e do espaço;
  • Alucinações, fala sem nexo, crises de pânico, perda de sentidos ou desmaios podem, em alguns casos, ser sintomas mais severos do consumo e merecem especial atenção.
  • Coordenação motora alterada;
  • Aumento dos batimentos cardíacos;
  • O coração dispara, e sua velocidade quase dobra.
  • Agride os pais, chora, se tranca no quarto;
  • Síndrome amotivacional;
  • Queda do rendimento escolar ou abandono dos estudos;
  • Queda na qualidade do trabalho, inquietação, irritabilidade, insônia;
  • Perda de interesse pelas atividades rotineiras;
  • Fica mais descuidado com a higiene pessoal;
  • Fica muito tempo fora de casa
  • Troca o dia pela noite;
  • Passa noites fora de casa;
  • Atitudes furtivas ou impulsivas;
  • Atitudes dissimuladas, resistência à convivência e ao diálogo ou respostas;
  • Tem atitudes de culpa e reparação;
  • Escuta música em alto volume;
  • Aumento do apetite,
  • Olheiras;
  • Pálpebras semicerradas;
  • Os olhos parecem pequenos porque as pálpebras não sobem completamente. 
    O usuário aperta o globo ocular, massageia as pálpebras (o que as torna mais "espertas") e recupera em parte a abertura dos olhos.
  • Midríase;
  • As pupilas ficam dilatadas de uma a três horas e ao contato com a luz forte se contraem.
  • Olhos vermelhos congestos;
  • Pode durar de minutos a uma ou duas horas. Bastam algumas gotas de colírio (antisséptico e descongestionante ocular) para voltar ao normal em menos de um minuto.
  • Com o uso do colírio os olhos ficam brancos demais, o que pode chamar atenção dos pais. Assim, o usuário esfrega os olhos para que fiquem pelo menos um pouco vermelhos.
  • Uso de óculos escuros mesmo sem excesso de luz;
  • Odor;
  • A maconha deixa resíduos de odor nas mãos, no suor e, eventualmente, no ambiente. O cheiro característico do cigarro impregna-se nas roupas, nos cabelos, no hálito, nas mãos e também no ar e nos objetos do local onde foi consumido. Se os dedos polegar, indicador e médio forem juntados e cheirados percebe-se o odor da maconha. Os usuários passam sabonete, perfume ou outro produto de cheiro forte. Outra forma de disfarce é ficar triturando plantinhas cheirosas com os dedos. O odor da maconha permanece por até cinco horas após o uso.
  • "amarelo" dos dedos;
  • A resina do THC se acumula na ponta dos dedos e para disfarçar o usuário lixa o dedo nas paredes ou até mesmo no asfalto.
  • Hálito característico;
  • O hálito fica com o cheiro da maconha e o usuário chupa balas com gosto muito forte. Essências contra mau hálito também servem de disfarce. Outras vezes fumam um cigarro para trocar o cheiro pelo do tabaco.
  • Presença de vegetal cinza-esverdeado triturado com pequenas sementes lisas;
  • Restos de cigarros feitos à mão
  • Gasta muito mais dinheiro do que o comum, sem revelar exatamente em quê;
  • Desaparecimento de objetos de valor ou dinheiro;
  • Desaparecimento de pertences de valor de dentro de casa ou de amigos e parentes;
  • Começa a se relacionar com amigos diferentes;
  • Não apresenta os novos amigos;
  • Muda o vocabulário, usando termos mais pesados;
Maconha não é medicamento
A maconha não é usada como medicamento. Tanto nos Estados Unidos como no Brasil existem leis que proíbem seu uso como remédio. Fumar maconha, portanto, nunca é tratamento. Porém, alguns países utilizam o THC, princípio ativo da maconha, como medicamentos.
O THC é usado em comprimidos ou líquidos, como tratamento de náuseas e vômitos associados com o tratamento de certos tipos de câncer. Na sua forma de medicamento oral, o THC também pode ser usado no tratamento de pacientes com AIDS, como estimulante do apetite, auxiliando na manutenção do peso.
A maconha desenvolve dependência. Isto ocorre quando o usuário passa a sentir que é necessário usar a substância para se sentir normal o que na verdade é causado pelo desenvolvimento de tolerância a droga, ou seja: para obter o mesmo efeito, mais droga é necessária.
Consequências do uso da maconha
O THC afeta as células do cérebro onde são formadas as memórias. Isto dificulta que o indivíduo se lembre, por exemplo, de eventos recentes, de guardar coisas que estão sendo ensinadas, tornando difícil o aprendizado. Os estudos indicam que as pessoas que consomem muita maconha durante anos, sofrem várias consequências em suas funções mentais.
O pico da intoxicação da cannabis quando fumada, ocorre geralmente após 10 a 30 minutos, quando os níveis de delta-9-THC são máximos. Altamente lipossolúvel, o delta-9-THC e os metabólitos tendem a acumular-se nas células adiposas e têm uma meia-vida de aproximadamente 50 horas.
A maioria dos cigarros de cannabis, "baseados", contêm de 5 a 20 mg de delta-9-THC.
A intoxicação dura geralmente de 2 a 4 horas, dependendo da dose; entretanto, o prejuízo comportamental e psicomotor pode continuar por várias horas. A ingestão oral de cannabis produz um início de intoxicação mais lento (45 a 60 minutos) e efeitos psicoativos mais poderosos.
Inúmeros estudos têm descrito alterações e déficits neuropsicológicos na intoxicação por cannabis, embora os efeitos possam ser amplamente variáveis.
Têm sido encontradas diminuições no tempo de reação complexa e nas tarefas de memória de códigos, formação de conceito, memória, discriminação de forma tátil, função motora, estimativa de tempo e na capacidade de rastrear informações com o passar do tempo.
Doenças causadas pelo uso de maconha Esquizofrenia
O abuso de maconha entre adolescentes vem aumentando significativamente nas últimas décadas. Uma das possíveis explicações para esse fato é a crença de que a maconha é uma "droga leve", sem muitas consequências para a saúde do indivíduo, em contraste com outras drogas ilícitas.
Estudos realizados na Europa e na Nova Zelândia, demonstraram uma associação positiva, numa curva de dose-efeito, entre o uso de maconha durante a adolescência e um risco aumentado do diagnóstico de esquizofrenia no futuro. Isso alerta para o fato de que o uso "inocente" de drogas durante a adolescência pode estar associado a importantes efeitos adversos em longo prazo.
Pacientes esquizofrênicos tendem a fazer uso abusivo de drogas, o que tem sido relacionado à automedicação. O que se observa em relação à maconha, contudo, é que muitas vezes o início do uso precede o aparecimento de sintomas esquizofrênicos.
Isso levou alguns investigadores a pensar que possivelmente o abuso de maconha funcionaria como um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas esquizofrênicos em indivíduos vulneráveis.
O primeiro desses estudos, descrevendo uma associação temporal entre o uso de maconha e a manifestação de sintomas esquizofrênicos, foi realizado na Suíça com 50 mil jovens. Depois de um seguimento de 15 anos, o uso de maconha durante a adolescência foi associado a um risco aumentado de esquizofrenia numa curva de dose-efeito.
Numa segunda análise, publicada recentemente sobre a base de dados suíça, após 26 anos de seguimento, todos esses problemas iniciais foram levados em conta. Os resultados confirmam os resultados iniciais de que o uso de maconha está associado com diagnóstico de esquizofrenia no futuro.
Mais ainda: esse segundo estudo demonstrou uma associação positiva, numa curva de dose-efeito, e que a associação com o aparecimento de sintomas esquizofrênicos era menos consistente com o uso de outras drogas ao invés de maconha.
Esses resultados foram replicados em outros dois estudos realizados na Holanda e na Nova Zelândia. O primeiro estudo, também longitudinal, foi realizado numa população de 4.045 adolescentes e demonstrou um aumento de quase três vezes no risco de sintomas psicóticos em adolescentes que relataram uso frequente de maconha.
No segundo estudo, com desenho de corte com mais de mil adolescentes seguidos desde o nascimento, os jovens que relataram uso de maconha apresentaram uma chance quatro vezes maior de serem diagnosticados como portadores de transtorno esquizofreniforme aos 26 anos de idade.
Apesar de apenas esses quatro estudos longitudinais terem sido realizados até o presente, os resultados são consistentes e corroboram o argumento de que o uso de maconha apresentaria interação com outros fatores de risco, culminando na manifestação dos sintomas de esquizofrenia em indivíduos vulneráveis; além disso, os resultados desencorajam a hipótese de que a associação entre maconha e transtornos esquizofrênicos se deveria somente a automedicação.
É importante salientar o fato que não há nenhuma evidência na literatura de que o uso ocasional de maconha poderia provocar efeitos danosos.
Entretanto, os resultados dos presentes estudos são bastante relevantes, tanto sobre o ponto de vista clínico como sobre o ponto de vista de saúde pública. O uso regular de maconha apresenta um risco potencial para o desenvolvimento de transtornos esquizofrênicos.
Mais ainda, esse risco parece estar diretamente relacionado à frequência do uso de maconha, ou seja, jovens que iniciam o uso precocemente poderiam estar ainda mais vulneráveis aos efeitos danosos da droga.
Iniciativas com o objetivo de evitar o uso de maconha entre os jovens podem, portanto, ter um impacto positivo na prevenção de futuros casos de esquizofrenia.
Campanhas que possam esclarecer esses resultados para jovens, particularmente quando desenvolvidas de uma maneira criativa e envolvendo outros jovens, são necessárias e relevantes.
Psicose
Três transtornos orgânicos estão relacionados à cannabis:
  • Intoxicação por cannabis,
  • Delirium por cannabis, e
  • Transtorno delirante por cannabis. As definições de abuso e dependência de cannabis seguem as definições de outras substâncias psicoativas.
Psicose, desrealização e agressividade;
A psicose pode apresentar-se subitamente com sintomas scheneiderianos de primeira linha, agitação e amnésia para eventos da intoxicação. Quando comparada com a esquizofrenia paranoide, a psicose por cannabis é caracterizada por agitação, violência, fuga de ideias e menor distúrbio de pensamento.
Episódios psicóticos prolongados podem anunciar a presença de psicopatologia residual. A cannabis pode precipitar flashbacks ou experiências psicóticas de experiências passadas com psicodélicos ou cannabis.
Relatos de casos de sintomas de abstinência em usuários crônicos de altas doses têm incluído ansiedade, disforia, insônia, anorexia, tremores e sudorese, mas não se desenvolve qualquer tipo de síndrome estereotipada. Fatores específicos associados com o abuso de cannabis tem sido uso diário, uso de grandes quantidades e comportamento problemático.
Países como a Holanda, Inglaterra, Suíça e Portugal, bem como alguns estados da Austrália e do Canadá, adotaram passos na política de diminuir as penalidades para a posse de maconha.
Esses movimentos estão sendo interpretados por muitas pessoas, especialmente os jovens, como dando luz verde ao uso da maconha. Alguns veem essa tendência como uma aceitação do inevitável.
Estudos nos últimos 15 anos reiteraram que a maconha se constitui como parte do horizonte de lazer para os jovens, não possuindo mais a mística da proibição. Tanto é assim que muitos veem a maconha como uma droga benigna, se é que a consideram uma droga.
Mas ninguém sensato afirma que a maconha é uma substância inócua, ainda que seja difícil de estimar se os níveis de uso irão aumentar a população em risco ou se permanecerão os mesmos à luz das mudanças jurídicas, existindo, no entanto, um número de questões de saúde pública relacionadas ao uso de maconha que exigem a atenção urgente.
A mais importante delas é a relação entre maconha e psicose. Estão os jovens vulneráveis se colocando em risco de desenvolverem psicoses por meio do uso de maconha e quais deverão ser os conselhos daqueles que lidam com os jovens com problemas de saúde mental?
As bases de evidências já mostraram que a maconha pode causar reações psicóticas, especialmente em usuários iniciantes e pode exacerbar os sintomas daqueles diagnosticados com esquizofrenia.
No entanto, o discernimento do papel causal da maconha em precipitar a esquizofrenia mostrou-se mais difícil.
A mensagem de saúde pública é clara. Alguns casos de transtornos psicóticos podem ser evitados pelo desestímulo do uso de maconha, particularmente entre jovens psicologicamente vulneráveis, sendo os usuários mais jovens de maconha os em maior risco.
As mensagens de saúde devem ser fornecidas com equilíbrio e cuidado, porque é muito fácil aumentar a credulidade dos jovens com propagandas alarmistas e condenações vazias que não reflitam suas próprias experiências.
Câncer
É difícil ter certeza sobre a associação do uso da maconha e o câncer. Sabemos que a fumaça dos cigarros causa câncer e que a maconha contém algumas dessas substâncias químicas, e outras, que também causam esta doença.
Os estudos mostram que uma pessoa que fuma cinco cigarros de maconha na semana provavelmente está consumindo a mesma quantidade de produtos tóxicos, que causam câncer em uma pessoa que fuma um maço de cigarros por dia.
Pulmões e vias respiratórias
A fumaça de maconha contém alto teor de alcatrão (maior que no tabaco) e uma substância chamada benzopireno, conhecido agente cancerígeno; ainda não está provado cientificamente que a pessoa que fuma maconha cronicamente está sujeita a contrair câncer dos pulmões com maior facilidade, mas os indícios em animais de laboratório de que assim pode ser são cada vez mais fortes.
As pessoas que fumam maconha frequentemente desenvolvem os mesmos problemas respiratórios que aquelas que fumam cigarros. Apresentam uma tosse persistente, um chiado respiratório e tendem a resfriar-se com mais frequência do que aquelas que não fumam. Doença pulmonar obstrutiva crônica ou neoplasia pulmonar também podem ocorrer.
Outras doenças e efeitos adversos
  • Aumento da frequência cardíaca;
  • Aumento da pressão arterial;
  • Efeito imunossupressor;
  • Transtorno de personalidade antissocial
  • Problemas na síntese de proteínas e ácidos nucleicos;
  • Rompimento do metabolismo celular e a formação de DNA e RNA;
  • Divisão celular anormal;
  • Diminui em até 50-60 % a quantidade de testosterona;
  • A depressão em usuários pode ser um fator de risco para a progressão para outras drogas;
  • Síndrome de pânico e sintomatologia paranoide;
  • Crianças de mães que fumam maconha podem ter problemas no sistema nervoso;
  • Alguns estudos científicos indicam que os bebês de mães que fumam maconha nascem pesando e medindo menos, e as dimensões de suas cabeças são menores do que as dos bebês de mães que não usam drogas.
  • Sistema Imunológico
  • Os estudos científicos com animais têm demonstrado que o THC pode danificar as células e os tecidos que ajudam a proteger o organismo das pessoas contra as doenças.
  • Sistema Reprodutivo
  • O uso frequente da maconha pode afetar os hormônios dos homens e das mulheres. Devido ao THC, os jovens podem ter uma puberdade tardia e as jovens podem sofrer mudanças no seu ciclo menstrual.
  • Diminuição na contagem de esperma;
  • Diminuição nos hormônios sexuais e reprodutivos femininos;
  • Efeitos sobre a fertilidade masculina ou feminina;
Tratamento
Como ajudar quem quer deixar de usar maconha
Até alguns anos atrás, era muito difícil encontrar programas especificamente desenvolvidos para pessoas dependentes da maconha. Agora, os pesquisadores estão estudando diferentes maneiras de ajudar essas pessoas a parar de fumar. Até o momento, não existem medicamentos para tratar a dependência da maconha.
Desta forma os programas de tratamento se concentram em aconselhamento, orientação e sistema de grupos de apoio. Também existem programas desenhados especificamente para ajudar os adolescentes que abusam das drogas.
Tratamento de casos agudos
Geralmente os efeitos adversos da intoxicação por cannabis precisam de atenção profissional. Apoio, reafirmação e tratamento por familiares e profissionais especializados geralmente é eficaz. Sintomas físicos como taquicardia podem contribuir para uma "síndrome de luta ou fuga".
Enfatizar que a cannabis pode causar esses sintomas e assegurar que eles passarão geralmente ajuda esses indivíduos. Agentes ansiolíticos são ocasionalmente necessários e neurolépticos podem ser utilizados em casos de psicose prolongada. O aconselhamento parental pode ser muito eficaz na resolução de distúrbios nas interações familiares.
Em adolescentes muito jovens, o envolvimento, a preocupação e o controle dos pais têm uma forte influência no comportamento. Alguns anos mais tarde, a influência parental pode diminuir e a identificação com o grupo de companheiros iguais pode aumentar.
Tratamento ambulatorial
O tratamento ambulatorial consiste de grupos de autoajuda (como dos 12 passos) terapia individual ou de grupo, terapia familiar e testes periódicos de urina para monitorizar a abstinência.
Os programas para adolescentes podem concentrar-se em promover o comportamento relacionado à idade e aumentar a comunicação através de várias modalidades verbais e não verbais.
As famílias precisam tomar consciência de como podem ajudar ou prejudicar o processo de tratamento. Geralmente, uma abordagem não crítica, honesta, estável e firme é necessária com adolescentes.
Os canabinoides podem ser detectados na urina até 21 dias após a abstinência em fumantes crônicos devido à redistribuição no tecido adiposo; entretanto, de um a cinco dias é o período normal do teste de urina resultar positivo. Portanto, o monitoramento inicial do uso da droga precisa ser interpretado de acordo com isso.
Tratamento de casos crônicos
O tratamento do abuso de cannabis segue os princípios gerais para o abuso de outras substâncias, com atenção especial a problemas do desenvolvimento afetando a adolescência.
A cannabis pode ser uma das muitas drogas de abuso. O objetivo é a abstinência total de todas as substâncias psicoativas.
As intervenções precisam ser feitas precocemente nas experiências de drogas do adolescente, uma vez que ocorrem rupturas severas nos marcos do desenvolvimento.
A avaliação psiquiátrica completa inclui uma avaliação escolar e familiar. A negação de riscos psicológicos e de saúde frequentemente necessita de confrontação, especialmente em pacientes forçados ao tratamento.
Em geral, apenas quando o paciente para de usar a droga e percebe a melhora cognitiva é que ocorre a automotivação. Mudanças no estilo de vida tais como evitar pessoas, lugares e coisas relacionadas ao uso deve ser encorajado.
Baixa autoestima, depressão, problemas familiares severos e transtornos de aprendizagem podem surgir e precisam ser reconhecidos.
Tratamento hospitalar
O abuso crônico da cannabis e problemas comportamentais decorrentes do seu uso podem levar à necessidade de internação hospitalar para desintoxicação e reabilitação física e psicológica.
Skunk
Skunk (também conhecida como supermaconha) é uma droga mais potente que a maconha, também retirada da espécie Cannabis e, por esse motivo, possui em sua composição o mesmo princípio ativo - THC (Tetrahidrocanabinol).
O nome "Skunk" (Gambá - em inglês -) foi dado por causa do forte odor que a planta emite, sendo este, muito mais forte que o cheiro da Cannabis comum.
Na fabricação do Skunk são utilizadas duas espécies da Cannabis para alterar o teor de THC (tetrahidrocanabinol) que é a substância psicoativa que traz as "brisas" como são conhecidas.
Como a maioria dos vegetais, pode ser cultivada através de sistema hidropônico, podendo alcançar alto teor de THC. A concentração da maconha comum é da ordem de cerca de 2,5%, no Skunk a concentração sobe para cerca de 5% podendo chegar até a 25%.
Para conseguir índices mais altos de THC e de produtividade é tratada e cultivada com fertilizantes e proteínas especificas de acordo com a necessidade da planta.
Em geral, a planta é fumada e metabolizada pelo fígado até que o THC seja absorvido pelo cérebro e aparelho reprodutor. Pesquisas recentes apontam ainda que o alto teor de THC usa uma substância produzida pelos neurônios (a anandamida) para se fixar no organismo.
Por serem espécimes ímpares as boas sementes são de difícil acesso, quando se há possibilidade de plantio, os cultivadores usam métodos para manter a linhagem da planta sem que ela morra após a colheita.
Produz os efeitos da maconha, porém de potência maior. O skunk assim como a maconha, reduz a concentração (ou a aumenta, dependendo do indivíduo) alterando o funcionamento dos neurônios. Neurotransmissores como a serotonina e dopamina são afetados, proporcionando alterações motoras e de memória.
Ações no organismo
A droga começa a ser absorvida pelo fígado até que o composto THC alcance o cérebro. Seu uso leva a alterações da serotonina e da dopamina no organismo, e faz o indivíduo ter dificuldades de concentração por provocar danos aos neurônios.
Produz os efeitos da maconha, porém de potência maior e mais incapacitante. O skunk assim como a maconha, reduz a concentração alterando o funcionamento dos neurônios. Neurotransmissores como a serotonina e dopamina são afetados, proporcionando alterações motoras e de memória.
Por que é tão caro
Os cuidados com a produção fazem com que a droga tenha um alto preço no mercado. Não há levantamentos de cultivo no Brasil. A droga consumida vem da Europa, principalmente da Holanda. O skunk foi desenvolvido em laboratórios holandeses, mas a disseminação das sementes pelo mundo, inclusive vendidas pela internet, é preocupante.
Cocaína
História
A cocaína é extraída das folhas do arbusto da coca (Erythroxylum coca), mas só tem valor comercial quando refinada. A Erythroxylum coca possui gineceu constituído de três carpelos, cálice de cinco sépalas e corola de cinco pétalas. Suas folhas são alternadas, elípticas e pecioladas.
Cocaína, benzoilmetilecgonina ou éster do ácido benzoico é um alcaloide usado como droga, derivado do referido arbusto, com efeitos anestésicos e cujo uso continuado, pode causar outros efeitos indesejados como dependência, hipertensão arterial e distúrbios psiquiátricos. A produção da droga é realizada através de extração, utilizando como solventes álcalis, ácido sulfúrico, querosene e outros.
A folha de coca (cujo consumo mesmo se em grandes quantidades, leva apenas à absorção de uma dose minúscula de cocaína) é usada comprovadamente há mais de 1200 anos pelos povos nativos da América do Sul.
Eles a mastigam para ajudar a suportar a fome, a sede e o cansaço, sendo, ainda hoje, consumida legalmente em alguns países (Peru, Bolívia) também sob a forma de chá (a absorção do princípio ativo, por esta via, é muito baixa).
Os Incas e outros povos dos Andes usaram-na certamente, permitindo-lhes trabalhar a altas altitudes, onde a rarefação do ar e o frio tornam o trabalho árduo especialmente difícil. A sua ação anorexígena (supressora da fome) lhes permitia dispor de apenas um mínimo de comida durante alguns dias.
Inicialmente os espanhóis, constatando o uso quase religioso da planta, nas suas tentativas de converter os índios ao cristianismo, declararam a planta produto do demônio. O seu uso entre os espanhóis do novo mundo espalhou-se, sendo as folhas usadas para tratar feridas, ossos quebrados, e curar resfriados. A coca foi levada para a Europa em 1580.
Contudo a tentativa de cultivar a planta na Europa, naquela época, destruía a substância ativa contida nas folhas, perdendo todos os seus efeitos estimulantes. Esta razão foi responsável pelo esquecimento da substância nas publicações europeias dos séculos seguintes, até que na metade do século XIX foi conseguida a extração da substância pura, a cocaína, em forma de pó.
O alcaloide (cocaína) foi isolado das folhas de coca por Niemann em 1859 ou 1860, o que lhe deu o nome. No entanto, há boas razões para supor que foi antes Friedrich Gaedcke que a isolou pela primeira vez em 1855 ou 1856.
A apresentação aspirada produzia um efeito muito maior do que o observado na mascagem das folhas, tornando-se coqueluche no final do século XIX no Velho Continente – a primeira epidemia de consumo da coca.
Ao mesmo tempo a medicina inventava um novo método para administração de remédios, a injeção. Assim, as principais formas de consumo na virada do século eram intranasal e intravenosa.
O seu uso espalhou-se gradualmente. Após visitas à América do Sul, cientistas italianos levaram amostras da planta para o seu país, onde o químico Angelo Mariani desenvolveu, em 1863, o vinho Mariani, uma infusão alcoólica de folhas de coca (mais poderosa devido ao poder do etanol que as infusões de água ou chás usados antes). O vinho Mariani era muito apreciado pelo Papa Leão XIII, que inclusive premiou Mariani com uma medalha honorífica.
A Coca-Cola seria inventada em parte como tentativa de competição dos comerciantes americanos com o vinho Mariani importado da Itália.
Continuaria desde a sua invenção até 1903 a incluir cocaína nos seus ingredientes e os seus efeitos foram, sem dúvida, determinantes no poder atrativo inicial da bebida.
A cocaína tornou-se popular entre as classes altas no fim do século XIX. Entre consumidores famosos do vinho Mariani contavam-se Ulysses Grant, o Papa Leão XIII, que até apareceu na publicidade do produto e Frédéric Bartholdi (francês, criador da Estátua da Liberdade), que comentou que se o vinho tivesse sido inventado mais cedo teria feito a estátua mais alta.
A cocaína foi popularizada como tratamento para a dependência de morfina. Em Viena, Sigmund Freud, o médico criador da psicanálise experimentou-a em si e em seus pacientes, fascinado pelos seus efeitos psicotrópicos. Publicou inclusive um livro - Über Coca - sobre as suas experiências.
Contudo acabou por se desiludir com a dependência a que foram reduzidos vários dos seus amigos. Foi ele que a forneceu ao oftalmologista Carl Köller, que em 1884 a usou pela primeira vez como anestésico local, aplicando gotas com cocaína nos olhos de pacientes, antes de serem operados.
A popularidade da cocaína ganha terreno: Em 1885 a companhia americana Park Davis vendia livremente cocaína em cigarros, pó ou liquido injetável sob o lema de "substituir a comida; tornar os covardes corajosos, os silenciosos eloquentes e os sofredores insensíveis à dor".
O personagem fictício Sherlock Holmes (de Arthur Conan Doyle) numa das histórias, chega mesmo a injetar cocaína na veia. Em 1909 Ernest Shackleton leva cocaína para a sua viagem à Antártica, assim como o Capitão Robert Scott.
Apesar do entusiasmo, os efeitos negativos da cocaína acabaram por ser descobertos. Com o uso pelas classes baixas, inclusive nos Estados Unidos, o seu potencial de dependência e graves problemas para a saúde começaram a aparecer.
Os alertas racistas no sul dos Estados Unidos sobre os "ataques a mulheres brancas que eram o resultado direto do cérebro do negro enlouquecido por cocaína" acabaram por resultar na regulação e posterior proibição da substância.
Apesar dos motivos iniciais é consensual entre a comunidade médica que os elevados efeitos autodestruidores do consumo de cocaína são plenamente justificativos da proibição atual.
Em seguida, a sociedade foi obrigada a se confrontar com um imenso rol de complicações e consequências desastrosas do consumo de cocaína e em 1914 passou a ser proibida tanto nas Américas como na Europa. A sociedade moderna tomava consciência, pela primeira vez, do potencial destrutivo desta droga.
De uma forma extremamente interessante, a proibição surtiu efeitos importantes, e o uso da cocaína praticamente desapareceu por pouco mais de meio século. A cocaína ressurge no início da década de 1970, e surpreendentemente, ganha a reputação de droga segura e "light", a "vitamina dos anos ‘90".
O resultado disto foi a explosão do consumo na América do Norte, atingindo seu pico em 1985 nos Estados Unidos da América e cinco anos mais tarde em nosso país. O Brasil passa a ser reconhecido como uma das principais vias de exportação da droga principalmente para a Europa.
Produção
Deve-se diferenciar a produção da cocaína em dois processos claramente distintos. Na produção industrial de refrigerantes a base de extrato de coca é um subproduto sob controle governamental, oriundo da "decocainização" do extrato, que finalmente apresenta dois fins: ou a destruição ou a comercialização controlada para fins de pesquisas biológicas, médicas e de síntese orgânica.
A produção por este processo é uma extração com soluções e solventes adequados, visando retirar o máximo possível da cocaína presente nas folhas de coca, de forma a se chegar a uma concentração que seja permitida pela legislação dos diversos países onde os xaropes básicos dos refrigerantes a base de coca são consumidos.
A produção do alcaloide, historicamente, é a mesma hoje, em ambiente rústico, sendo usada pelos grandes produtores/traficantes de cocaína. Em recipientes (ou até mesmo buracos no chão, impermeabilizados) é colocada uma grande quantidade de folhas secas de coca, que a seguir, são maceradas com querosene.
Após a maceração, as folhas são removidas e transferidas para outro recipiente e mergulhadas em solução de ácido sulfúrico visando acidificar o alcaloide e formar sulfato de cocaína, higrina e outros compostos, solúveis em água. O líquido é então decantado e tratado com alguma substância alcalina, como o carbonato de amônio, o que resulta na pasta base, que é solúvel em solventes orgânicos e insolúvel em água.
A seguir, a pasta base é dissolvida em acetona ou éter etílico e com acréscimo de água, precipita a cocaína, que por filtração atinge elevado grau de pureza. Pela volatilidade, os solventes são completamente eliminados do pó obtido, não chegando a deixar aroma, critério fundamental para sua venda como cocaína pura.
Agora pura, será diluída com diversas substâncias, entre elas, destacadamente, as dificilmente detectáveis, como lidocaína. Acrescenta-se também ácido acetilsalicílico, cimento branco, talco e até pó de vidro. Estima- se que a produção de 1 kg de pasta-base requer entre 600 a 750 kg de folha de coca, gasolina, ácido sulfúrico e cimento, dentre outros produtos.
Pó de cocaína.
A cocaína é um pó branco e cristalino (é um sal, hidrocloreto de cocaína). Pode ser consumida de várias formas, mas o modo mais comum é pela aspiração. Alguns consumidores chegam a injetar a droga diretamente na corrente sanguínea, o que eleva consideravelmente o risco de uma parada cardíaca irreversível, causada por uma overdose. A via intravenosa também é mais perigosa devido às infecções.
Mecanismo de ação
A cocaína, como grande parte das drogas, é metabolizada no fígado. Conjuga- se com etanol, presente nas bebidas alcoólicas, formando cocaetileno, ainda mais tóxico. É um inibidor da enzima MAO (monoamina oxidase), da recaptação e estimulante da liberação de noradrenalina e dopamina, existentes nos neurônios.
A dopamina e a noradrenalina são neurotransmissores cerebrais que são secretados para a sinapse, de onde são recolhidos outra vez para dentro dos neurônios por esses transportadores inibidos pela cocaína. Logo o seu consumo aumenta a concentração e duração desses neurotransmissores. Os efeitos são similares aos das anfetaminas, mas mais intensos e menos prolongados.
A noradrenalina e a adrenalina são neurotransmissora e hormônio respectivamente do sistema simpático (sistema nervoso autônomo). Elas são normalmente ativadas em situações de stress agudo ("lutar ou fugir") em que o indivíduo necessita de todas as suas forças, e agem junto aos órgãos de modo a obtê-la: aumentam a contração e frequência cardíaca, aumentam a velocidade e clareza do pensamento, destreza dos músculos, inibem a dor e aumentam a tensão arterial.
O indivíduo sente-se invulgarmente consciente e desperto, eufórico, excitado, com mente clara e sensação de paragem do tempo. A cocaína é um forte potencializador do sistema nervoso simpático, tanto no cérebro, como na periferia.
A dopamina é o neurotransmissor principal das vias mesolímbicas e mesoestriadas. Essas vias têm funções de produzir prazer em resposta a acontecimentos positivos na vida do indivíduo, recompensando a aquisição de novos conhecimentos ou aprendizagem, progresso nas relações sociais, relações emocionais e outros eventos.
O aumento artificial da dopamina pela cocaína nas sinapses vai ativar anormalmente essas vias. O consumidor sente-se extremamente autoconfiante, poderoso, irresistível e capaz de vencer qualquer desafio, de uma forma que não corresponde à sua real situação ou habilidade.
Com a regularização do consumo, as vias dopaminérgicas são modificadas e pervertidas ("highjacked") e a cocaína passa de facilitadora do sentimento de sucesso e confiança face às situações externas, para simples recompensa derivada diretamente de um distúrbio bioquímico cerebral criado pela própria droga.
O bem-estar desliga-se de condicionantes externas, passando a ser apenas uma medida do tempo passado desde a última dose. A motivação do indivíduo torna-se "irreal", desligando-se dos interesses sociais, familiares, emocionais, ambição profissional ou aprendizagem de formas de lidar com novos desafios, para se concentrar apenas na droga, que dá um sentimento de auto realização artificial, de intensidade impossível de atingir de outra forma.
Anestésico local
A cocaína também é um eficaz anestésico local simpatomimético, tendo sido o primeiro do grupo a ser usado, e ainda em uso hoje em algumas cirurgias respiratórias. O mecanismo desta ação é totalmente diferente da ação psicotrópica. Ela é um bloqueador dos canais de sódio nos neurônios dos nervos periféricos.
O influxo de sódio desencadeia o potencial de ação e sem esse influxo são incapazes de enviar os seus impulsos. Os nervos sensitivos são geralmente os primeiros a serem bloqueados.
A cocaína tem vindo a ser substituída por outros fármacos não psicotrópicos e sem outros efeitos adversos, mas com a mesma função.
Ela apresenta efeitos secundários devido à quantidade que extravasa para o sangue, provocando estimulação simpática (hipertensão, taquicardia) e mesmo convulsões.
Efeitos tóxicos
  • 1ª fase – Euforia cocaínica: excitação, hipersexualidade, inapetência, hipervigilância, instabilidade emocional, insônia.
  • 2ª fase – Disforia cocaínica: angústia atroz, inapetência, insônia, indiferença sexual, apatia, tristeza, melancolia, agressividade.
  • 3ª fase – Alucinose cocaínica: alucinações (visuais, auditivas, táteis, olfativas), excitação psicomotora, indiferença sexual.
  • 4ª fase – Psicose cocaínica: ilusões paranoides, mania de perseguição, insônia, depressão, tentativas de suicídio e homicídio, alucinações (auditivas e olfativas), hipervigilância.
Os sintomas da 4ª fase são comuns entre usuários de grandes doses de cocaína, e mais ainda naqueles que fazem uso da associação álcool-cocaína. O dependente faz associação com outras drogas, como o álcool e tranquilizantes, para contrapor efeitos excessivamente estimulantes da cocaína.
A cocaína é talvez a droga mais sujeita a sofrer adulteração. Para aumentar a quantidade se adicionam lactose, talco, bórax, laxantes ou quaisquer outros produtos que se pareçam com a cocaína e não apresentem efeitos colaterais perceptíveis.
Para compensar a perda de potência se adicionam anfetaminas em pó, novocaína, benzocaína e outras. Também cafeína, ácidos e analgésicos têm sido encontrados. Em geral chega ao consumidor final com apenas cerca de vinte por cento de cocaína.
A tendência do usuário é aumentar a dose de uso na tentativa de sentir efeitos mais intensos. Porém essas quantidades maiores acabam por levar o usuário a um comportamento violento, irritabilidade, tremores e atitudes bizarras devido ao aparecimento de paranoia. Eventualmente podem ter alucinações e delírios. A esse conjunto de sintomas dá-se o nome de "psicose cocaínica". Além desses sintomas, perdem o interesse sexual.
Os efeitos são os mesmos provocados pela cocaína utilizada por outras vias. Assim, podem produzir uma dilatação das pupilas (midríase), afetando a visão que fica prejudicada, a chamada "visão borrada". Ainda pode provocar dor no peito, contrações musculares, convulsões e até coma.
Mas é sobre o sistema cardiovascular que os efeitos são mais intensos. A pressão arterial pode elevar-se e o coração passa a bater muito mais rapidamente (taquicardia).
Em casos extremos chega a produzir uma parada cardíaca por fibrilação ventricular. A morte também pode ocorrer devido à diminuição de atividade de centros cerebrais que controlam a respiração. O uso crônico da cocaína pode levar a uma degeneração irreversível dos músculos esqueléticos, chamada rabdomiólise.
O consumo intranasal de cocaína produz seus efeitos entre 1 e 2 minutos após o uso, tendo duração de 30 minutos, em média. Tanto o uso endovenoso como o fumado produzem efeitos quase imediatos, porém estes se dissipam mais rapidamente (até 10 minutos), muitas vezes obrigando o indivíduo a voltar a utilizar a droga após 5 minutos.
Os metabólitos (produtos ou "restos" do uso da substância ativa) podem ser detectados alguns minutos após poucas aspirações (ou injeção), permanecendo por até três dias.
O efeito imediato esperado pelo consumidor é a euforia produzida pela cocaína. Conjuntamente com a estimulação produzida, dá a falsa sensação ao indivíduo de aumento de suas capacidades físicas, intelectuais e energia. Diminui o apetite e a necessidade de sono, o indivíduo fica mais ansioso e às vezes passa a suspeitar que esteja sendo observado ou perseguido.
Usuários contam que a sensação do tato se torna mais intensa, bem como a disposição para manter relações sexuais. A cocaína pode promover até ejaculação espontânea, dependendo da dose e da via utilizada.
Este efeito repetido, porém, tem como consequência, em muitos usuários, a perda da capacidade de obter prazer sexual convencional, que se mantém por meses ou anos após a interrupção do consumo da droga. Diminuição do desejo sexual é observado em usuários crônicos de ambos os sexos.
A euforia se transforma rapidamente em depressão e irritabilidade, aumentando a necessidade de voltar a "esticar" mais uma carreira. O sujeito passa a ter uma autoconfiança irreal, podendo ainda apresentar alucinações (auditivas e visuais) e delírios de perseguição, indistinguíveis da patologia psiquiátrica (p. ex. Esquizofrenia).
Outros sintomas físicos do consumo são observados: constrição dos vasos sanguíneos (desaparecimento de veias), aumento da temperatura corpórea, liberação de açúcar no sangue, e aumento da força da contração do músculo cardíaco. Quando os efeitos da droga se dissipam, o usuário apresenta sintomas contrários (depressão, angústia, etc.), levando-o ao desespero por uma nova dose ("fissura" – característica mais proeminente de todas as formas de consumo da cocaína).
Identificando um usuário de cocaína
Podemos dizer que identificar um usuário é tarefa muito simples: quem toma um cafezinho, bebe uma cervejinha, fuma um cigarrinho e toma um remedinho (por conta própria ou por indicação médica), é usuário de droga! Esta afirmativa pode parecer um tanto quanto estranha, pois costumamos fazer as seguintes associações:
  • Droga = substâncias ilícitas (maconha, cocaína etc.);
  • Usuário = dependente (popularmente chamado de viciado, drogado etc.).
Alguns podem argumentar que as substâncias ilícitas são mais perigosas e prejudiciais do que as lícitas (álcool, cigarro etc.). Mas com base em quê? Por exemplo, o que é pior: uma pessoa usar maconha ou álcool? Se analisarmos as situações a partir da substância, já saberemos a resposta. Se tomarmos como referência o tipo de relação que o usuário mantém com a droga, a análise já será diferente.
Se imaginarmos um uso constante, em quantidades relativamente altas, enfocando prejuízos orgânicos causados pelo uso crônico, síndrome de abstinência, incapacitação social e riscos de overdose, comparados entre as duas substâncias, a posição relativa das drogas, mudará drasticamente.
No livro "Drogas: subsídios para uma discussão" fazem uma comparação dos prejuízos causados a curto e em longo prazo, por cinco substâncias sobre as quais existe mais discussão: cigarro, álcool, maconha, cocaína e heroína.
Ao invés de nos preocuparmos em identificar um usuário, seria muito mais adequado procurarmos olhar para o ser humano, ou seja, entender como ele pensa, o que sente, o que deseja, o que o preocupa, quais as suas necessidades.
Sem pré-julgamentos, sem preconceitos, sem medo. Mas como disse Andrade: "O difícil é olhar de perto. Afinal a exclusão esconde o insuportável". E o insuportável é aquilo que, mais intimamente, dentro de nós, evitamos ter contato.
Quando suspeitamos que alguém usa droga ilícita, procuramos alternativas para lidar com a situação da melhor maneira possível. Podemos conversar com a pessoa ou solicitar a orientação de um profissional. Às vezes buscamos soluções mágicas como, por exemplo, uma lista de sinais de uso de drogas. Mas o que fazer com as informações contidas nessa lista?
Mesmo que nos auxiliem a identificar um usuário, o que fazer com essa descoberta? E então perguntamos: essa lista serve para quê? Muitas vezes acaba sendo utilizada como pretexto para que nos tornemos detetives ou espiões capazes de invadir a privacidade do outro. Serve, portanto, como um paliativo para diminuir a angústia que se tem pelo desconhecido.
E o desconhecido não se refere apenas às drogas ilícitas - embora essas despertem certa curiosidade, acompanhada por uma sensação de mistério decorrente do mito que se criou em torno delas - nem muito menos às lícitas, já que são aceitas socialmente e seu uso é estimulado. O desconhecido é o ser humano, com sua enorme complexidade. Somos nós mesmos. É o outro diferente de mim.
Várias podem ser as causas dos sinais listados para reforçar nossa capacidade de rotular, estigmatizar e discriminar aquele que é diferente, ou seja, que foge daquilo que chamamos de normalidade. Não nos interessa, portanto, saber quais os sinais para identificar quem é usuário. Devemos nos interessar em saber o que o uso de drogas (lícita e/ou ilícita) está sinalizando.
Pode, por exemplo, ser uma das respostas (às vezes a única) para problemas individuais, familiares e/ou sociais ou, ainda, uma experiência que faça parte das descobertas e do crescimento do ser humano.
Assim, um uso constante de qualquer substância não deve ser ignorado nem banalizado, tal como habitualmente fazemos quando se trata das drogas lícitas. De outro lado, uma experiência com droga ilícita não deve ser tratada com pânico nem desespero.
Investir no diálogo, em relações de respeito e confiança não evitará que as pessoas usem drogas (lícitas e/ou ilícitas). Porém, teremos a garantia mínima de um espaço aberto para a comunicação, o qual será útil para o encaminhamento mais adequado da questão.
Afinal, quem usa drogas são os seres humanos. Portanto, como tais, devem ser respeitados em sua subjetividade e individualidade.
A mulher e a cocaína
Até pouco tempo atrás, pensava-se que todos os dependentes eram iguais e assim formariam um grupo homogêneo. Somente nos últimos 25 anos os serviços de tratamento perceberam a necessidade de identificar subgrupos de dependentes, com a finalidade de ajustar as propostas terapêuticas para cada subgrupo.
Com o aumento da procura de tratamento por pacientes do sexo feminino foram verificadas características diferenciais, próprias desta população.
O consumo de álcool e drogas em mulheres carrega um estigma social e moral mais intenso; as mulheres costumam procurar tratamentos médicos clínicos ao invés de serviços especializados em tratamento de dependência química. Suas razões para início e manutenção do consumo são diferentes (p.ex. os homens costumam consumir com amigos e a mulher, sozinha), bem como o impacto das drogas sobre sua saúde.
Também é mais frequente encontrarmos comorbidade psiquiátrica (associação de transtornos psiquiátricos, principalmente depressão, com abuso e síndrome de dependência) em mulheres do que na população dependente masculina, demandando tratamento associado de ambos os quadros clínicos.
O organismo da mulher, mais frágil ao impacto da cocaína, sofre com maiores alterações hormonais, que acarretam desde produção de leite até ausência dos ciclos menstruais.
As complicações clínicas costumam ser precoces. A associação de gravidez com o consumo de cocaína é terrível. A cocaína atravessa rapidamente a placenta, exercendo todos os seus efeitos sobre o feto (hipertensão, constrição de vasos sanguíneos, etc.), levando à falta de oxigenação e suprimento de sangue adequado.
Recém-nascidos de gestantes consumidoras apresentam diversas complicações que incluem baixo peso ao nascimento, morte logo após o parto, malformações (genitais, urinárias, redução do tamanho do cérebro, entre outras), hemorragia cerebral, alterações de padrão de sono, diminuição de alimentação, aumento de reflexos e disfunções musculares. Estas últimas podem durar até três meses após o parto.
Uma parcela das mulheres dependentes de cocaína se engaja em prostituição como forma de obtenção de droga. O inverso também parece ser verdadeiro, havendo uma alta prevalência de prostitutas que consomem cocaína, álcool e outras drogas. Problemas relacionados à impulsividade, dificuldades interpessoais e dificuldade no julgamento foram associados às dependentes de cocaína.
O que fazer
  • Prover possibilidade de cuidados para os filhos, no mínimo durante os momentos que a paciente se encontra em contato com o serviço de tratamento.
  • Identificar rapidamente padrões de consumo compulsivo (ou abuso/dependência) de medicações prescritas, que dificultam o engajamento da paciente no processo de recuperação e mudança do estilo de vida (por exemplo, "calmantes").
  • Estímulo intensivo da autoestima, geralmente mais abalada do que na população dependente do sexo masculino.
  • Modelagem dos papéis sociais da mulher (por exemplo, familiar e ocupacional).
Cocaína e adolescência
O período que abrange o final da adolescência até o início da idade adulta é a fase da vida em que existe maior risco para o início do uso de cocaína. A adolescência é considerada uma fase crítica da vida do indivíduo, onde ocorrem diversas modificações internas (características da personalidade) e externas, como por exemplo, o surgimento de caracteres sexuais secundários.
O indivíduo se afasta dos pais e aproxima-se de colegas e amigos, fazendo uso da "liberdade" conquistada (de forma gradativa ou abrupta). Esta fase também é reconhecida como tendo um grande componente de ansiedade e estresse.
O adolescente apresenta também uma tendência natural para o envolvimento em situações de risco. A dificuldade na previsão de consequências no futuro faz com que o indivíduo jovem viva exclusivamente o "aqui e agora". Estes fatores parecem contribuir para a experiência de álcool e drogas, particularmente a cocaína em nosso meio.
O indivíduo busca, então, ser admitido em um grupo social de "iguais", o que inclui a aquisição dos comportamentos deste grupo, e a experiência de álcool e drogas é um dos principais comportamentos. A cocaína ocupa a 8ª posição entre as drogas de abuso no Brasil, tendo seu consumo quadruplicado nesta população.
Um levantamento aponta o crescimento do consumo ao longo da vida, bem como o aumento de usuários "pesados" nesta população. O crescimento do uso durante algum momento na vida do estudante de primeiro e segundo grau foi da ordem de 80%, indicando a importância do problema do consumo dessa droga entre adolescentes.
Entre os adolescentes em tratamento no Hospital das Clínicas em São Paulo, a cocaína é a segunda droga mais consumida, perdendo apenas para a maconha. A adolescência é considerada como um período crítico para o surgimento de complicações pelo consumo de substâncias psicoativas.
Adolescentes tem progressão mais rápida do consumo e de seus resultados danosos. Os prejuízos que o consumo acarreta levam a consequências de difícil reversão: interrupção do desenvolvimento da personalidade, resultando em deficiências futuras do funcionamento do indivíduo.
O consumo afeta o desenvolvimento das funções sociais, bem como o estabelecimento de relações interpessoais (p.ex. afetivas). Este quadro torna o consumo de álcool e drogas nesta população um problema ainda mais catastrófico do que o observado em indivíduos na fase adulta. O tratamento, portanto, deve ter início o quanto antes.
Outro problema para os adolescentes é representado pelo modelo assistencial, que vem sendo desenvolvido neste século voltado à população adulta. Isto resulta em dificuldades intrínsecas para a obtenção de sucesso terapêutico.
Adolescentes dependentes têm, por exemplo, poucas (ou nenhuma) atividades alternativas ao consumo de álcool e drogas, e inúmeras vezes só tem relacionamentos com outros usuários, traficantes e dependentes.
Os objetivos terapêuticos do tratamento da população de jovens devem incluir propostas de mudança global do funcionamento do indivíduo e de seu estilo de vida, desenvolvimento de valores "saudáveis", atitudes e comportamentos que propiciem a interação social positiva e esforço para a reabilitação ocupacional (escola, preparação vocacional, etc.), de forma ainda mais intensiva que para a população adulta.
O tratamento deve ter a orientação para a abstinência total e de todas as drogas (álcool também), da mesma forma que deve ocorrer na população adulta. Porém esta tarefa é muito mais difícil para o adolescente, pelo fato de não dispor, ainda, de um sistema de suporte social (trabalho, relações afetivas, etc.). A família constitui a única exceção.
Muitos usuários começam a utilizar cocaína durante o período acadêmico, e uma parcela deste grupo passa a consumir a droga também em outras situações, mantendo e agravando o consumo, propiciando as condições ideais para o desenvolvimento da dependência.
Universitários, que se encontram na fase de vida imediatamente posterior à adolescência irão, em futuro breve, constituir a massa crítica da nação. Em nosso país a situação também merece cuidados especiais; estudo realizado na Universidade de São Paulo detectou taxas de até 8% de consumo de cocaína na população estudante.
A melhor abordagem do problema, apresentando também a melhor relação custo-benefício possível é a prevenção ao abuso de drogas.
Prevenir significa desenvolver programas junto às comunidades, pesquisando as características próprias de cada uma delas e, de acordo com suas particularidades, elaborando estratégias para evitar tanto o início do consumo como o caminho rumo aos transtornos decorrentes das substâncias psicoativas (abuso e dependência).
Estes programas há muito já se fazem necessários para a efetiva abordagem do problema do consumo de drogas entre adolescentes. Entretanto, ainda estão longe de atender de forma abrangente todos que deles necessitam.
Cocaína e a família
Familiares compartilham genes que podem contribuir para o abuso de drogas. Isto é verificado na dependência do álcool, quando se observa que gêmeos separados ao nascimento têm grande concordância no diagnóstico de dependência de álcool quando atingem a adolescência ou a idade adulta.
Por outro lado, familiares também compartilham o mesmo meio ambiente, cultura e eventos vitais, havendo a possibilidade da aprendizagem de comportamentos, inclusive de consumo de álcool e drogas. Com a cocaína acontece o mesmo.
A dependência de substâncias psicoativas é definida como um transtorno individual. Muitos especialistas aceitam, porém, o conceito da dependência como doença familiar, por atingir diretamente não só o usuário, mas aqueles que o cercam. As reações familiares à dependência abrangem um enorme leque que vai desde a expulsão de casa até a aceitação do consumo dentro do ambiente familiar.
Costumamos denominar este último de "facilitação" (favorecimento de comportamentos e atitudes relativos ao consumo de drogas), que sempre acarreta consequências desastrosas.
Embora compreensível que o familiar utilize qualquer tipo de drogas dentro de casa (geralmente para evitar as complicações legais), estimula os múltiplos comportamentos relacionados à intensificação do consumo, aceleração do desenvolvimento da dependência, dificuldade de trazer o indivíduo para o tratamento e ocorrência de complicações precoces (físicas, psicológicas e sociais).
Entre os principais exemplos de facilitação encontram-se a liberdade excessiva, a preocupação em ocultar as falhas que o usuário apresenta (desculpas para a escola, trabalho, etc.), falta de limites (dinheiro, horários, aceitação de agressividade) ou mesmo "fechar os olhos" para as demais consequências que passa a criar quando se torna abusador ou dependente.
A família necessita participar ativamente do tratamento e do processo de recuperação do dependente, como núcleo de suporte fundamental do indivíduo. Esta tarefa, porém, não é nada fácil, dados os prejuízos sofridos pelos familiares durante o curso da dependência do álcool e/ou drogas (agressões, furtos domésticos, doenças do paciente, etc.). Para tanto, paralelamente ao tratamento individual, uma intervenção terapêutica familiar é sempre aconselhável.
Complicações do consumo de cocaína
  • Decorrentes dos efeitos próprios da droga: complicações físicas e psiquiátricas;
  • Decorrentes das substâncias adicionadas à cocaína (adulterantes);
  • Decorrentes da via de consumo utilizada;
  • Decorrentes do estilo de vida do usuário de cocaína.
As consequências do consumo vão desde sangramento nasal após um uso isolado, até comprometimentos irrecuperáveis e morte.
Alguns dos mais dramáticos comprometimentos da cocaína ocorrem sobre o sistema cardiorrespiratório. Angina de peito, infarto agudo do miocárdio e aumento do volume cardíaco são os efeitos mais proeminentes observados sobre o coração.
Usuários crônicos apresentam capacidade respiratória reduzida e maior dificuldade de transporte de oxigênio.
Um quadro agudo decorrente do fuma-la é dor intensa no peito, falta de ar e tosse sanguinolenta. Frequentemente o indivíduo se queixa de impotência sexual, incapacidade de ejaculação ou de obter o orgasmo.
Tentativas de suicídio são comuns entre usuários de grandes doses. As oscilações entre a euforia produzida pelos efeitos da droga e a depressão posterior estão relacionadas às tentativas, bem como o próprio estilo de vida do indivíduo.
Outros problemas comuns são infecções de pele (injeções contaminadas), infecção na válvula cardíaca, AIDS e hepatite. A pele infectada se apresenta inchada, dolorida, avermelhada e quente; febre e calafrios podem ser indicativos de que a infecção atingiu o sangue e/ou outros órgãos (Sepsis).
Esta é uma consequência letal se o indivíduo não for submetido a tratamento imediato. O uso por via intravenosa transmite essas complicações de um usuário para outro.
As lesões no fígado também decorrem do uso da cocaína e podem ainda causas tóxicas agravadas pelas substâncias adicionadas, somando-se aos efeitos do álcool que é consumido conjuntamente.
Endocardite bacteriana é a denominação médica para a infecção sobre as válvulas cardíacas. Bactérias encontradas na própria pele do usuário ou na água utilizada para diluir a droga, são injetadas conjuntamente com a coca e encontram dentro do coração um local seguro para se instalar e reproduzir.
As válvulas cardíacas passam a ter o funcionamento prejudicado, com dificuldades para deixar passar o fluxo de sangue ou ainda não conseguindo evitar que o sangue bombeado pelo coração reflua.
Dependência de cocaína
A cocaína não tem síndrome física bem definida (como por exemplo o da heroína), no entanto os efeitos da sua privação não são subjetivos. Após consumo durante apenas alguns dias, há universalmente: depressão (muitas vezes profunda), disforia (ansiedade e mal-estar), deterioração das funções motoras, elevada perda da capacidade de aprendizagem, perda de comportamentos aprendidos.
A síndrome psicológica da cocaína é extremamente poderosa. Ha comprovações obtidas através de estudos epidemiológicos de que a cocaína é muito mais viciante que a maconha (cannabis), o álcool ou o tabaco.
O estilo de vida do usuário crônico predispõe a complicações de outra ordem. É mais comum que também utilize álcool e outras drogas, podendo desenvolver dependência a estas. Dependência de mais de uma substância representa potencialização dos efeitos danosos de cada uma e eventualmente, comorbidades.
O usuário crônico se engaja em atividades ilícitas para obtenção da droga e manutenção do consumo. O envolvimento criminal, por sua vez, resulta muitas vezes em acidentes e homicídios, que podem ser considerados também como complicações do consumo da droga, além de suicídio, citado anteriormente.
Nenhum dependente de cocaína, ao iniciar o consumo, tem a intenção de se tornar dependente da substância. No entanto, não existe um limite nítido entre o início do consumo, o uso continuado e o desenvolvimento dos transtornos decorrentes do uso da droga (principalmente Síndrome de Dependência).
A experiência da cocaína se desenvolve sempre em um meio (contexto) social definido, promovendo efeitos estimulantes e euforia pronunciada.
Nenhuma das consequências negativas do consumo está presente (nos primeiros meses de consumo ocasional), parecendo ao usuário iniciante que os avisos e informações que tinha sobre a droga antes da primeira experiência foram exagerados ou simples "propaganda enganosa".
Em busca dos efeitos iniciais, o consumo da cocaína continua; o sujeito passa a visitar outros usuários com mais frequência, dando a desculpa que "estes são verdadeiros amigos" por compartilharem sensações e prazeres semelhantes, diferentes dos amigos "caretas" de antigamente.
Pela primeira vez acontece a compra da cocaína de um destes amigos, e o consumo se intensifica. Até este momento poucos efeitos negativos são evidentes. A família nota alguma mudança, mas como o indivíduo mantém (quase) todas as suas atividades anteriores (trabalho, estudo, pernoitar em casa, etc.), a desconfiança muitas vezes não é revelada ao usuário; este se sente ainda mais confiante, também pelas próprias características da droga.
Mais um período de consumo e entra em contato com fornecedores de quantidades maiores, traficantes (outros usuários que mantém seu consumo por meio de comércio de pequenas quantidades da droga). Descobre, então que quando adquire maior quantidade ocorre um barateamento de seu consumo; compra grande quantidade "para usar ao longo do mês"; infalivelmente consumindo em período muito menor.
Algumas consequências negativas já são evidentes, mas sua importância é muito menor do que o prazer obtido pelo consumo da substância. "Perco de um lado, mas ganho de outro", pensa o usuário, já atrelado ao caminho determinado pela droga.
Podem começar a ocorrer episódios de consumo de grandes quantidades durante várias horas ou alguns dias, as orgias de consumo ("binges"). Neste ponto suas atividades e atribuições anteriores ao consumo já sofrem de negligência importante, contribuindo ainda mais para o retorno ao consumo.
A situação tem a gravidade intensificada, e o usuário muito se assemelha ao camundongo de laboratório que fornece aos pesquisadores inúmeras informações sobre as drogas de abuso, passando a consumir compulsivamente a despeito das evidências claras de prejuízos sobre sua vida e daqueles que o cercam. Neste ponto qualquer pessoa identifica o dependente de cocaína.
O fator mais relevante deste pequeno exemplo, de um dos padrões de consumo que evolui para a Síndrome de Dependência, é que o indivíduo não necessita chegar a este estado terminal para ser considerado dependente. Qualquer pessoa concorda que muito antes disto o indivíduo perdeu a sua capacidade de controlar o consumo de cocaína.
A perda deste controle parece ser o fato central do estabelecimento do estado de dependência; a cocaína passa a controlar o indivíduo, e não o contrário, que ocorreu no momento da experiência inicial.
Quanto mais cedo se detecta a dependência maior o sucesso que intervenções terapêuticas podem obter. Com este último conceito como foco tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS), como a Associação Psiquiátrica Norte-americana (APA), estabelece critérios que direcionam o diagnóstico da Síndrome da Dependência, com o intuito de diagnosticar precocemente este transtorno de enorme custo social.
Critérios diagnósticos da Síndrome de Dependência
A dependência é uma síndrome, cujos sintomas se manifestam em áreas de funcionamento social, psicológico e biológico do indivíduo. A tabela abaixo apresenta as diretrizes diagnósticas adotadas pela OMS:
Um diagnóstico definitivo de dependência deve usualmente ser feito somente se três ou mais dos seguintes requisitos tiverem sido experienciados ou exibidos em algum momento durante o ano anterior:
  • Forte desejo ou compulsão para consumir a substância;
  • Dificuldade para controlar o comportamento de consumir a substância, em termos de seu início, término ou níveis de consumo;
  • Estado de abstinência fisiológico quando o consumo da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por:
  • Sintomas característicos para a abstinência da substância;
  • Retorno ao uso da substância (ou similar) para alívio ou evitação destes sintomas;
  • Evidência de Tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas;
  • Se o indivíduo mantém a dose estável, outra forma de verificar a presença deste critério é a redução dos efeitos da substância;
  • Abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso da substância, aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou usar a substância ou ainda para se recuperar de seus efeitos;
  • Persistência no uso da substância, a despeito de evidências claras de consequências manifestamente nocivas.
O abuso da cocaína é um transtorno com diagnóstico de exclusão, ou seja, só pode ser diagnosticado quando a dependência não se encontra presente.
Este diagnóstico, descrito pela APA, focaliza fundamentalmente o consumo problemático e recorrente da cocaína, ou seja, o indivíduo que passa a ter comprometimentos sociais, físicos, psicológicos ou legais e mesmo assim mantém seu uso por período mínimo de um ano, mesmo ainda não sendo dependente (por não apresentar os sintomas descritos para a dependência da cocaína).
Esta pessoa geralmente tem um menor impacto da droga sobre sua vida (representado por consequências geralmente mais brandas do que na dependência), porém caso não seja submetido ao mesmo tratamento que o dependente terá (quase que) infalivelmente o destino da Síndrome de Dependência.
Por ter, teoricamente, menores consequências negativas, pode-se considerar o abuso de cocaína como um transtorno que, quando tratado, tem a possibilidade de obtenção de melhores resultados terapêuticos do que a Dependência.
Como identificar um dependente
Os testes usados para apontar o uso de cocaína, basicamente são os mesmos usados para descobrir o consumo de outras drogas. Os principais tipos de testes utilizados podem analisar o sangue, a urina, o suor ou o cabelo e pelos.
Os exames de sangue possuem uma janela de detecção de até dois dias, possuem baixa eficiência do resultado e podem apontar falsos positivos, enquanto os exames de urina, além de submeter o paciente a certo constrangimento durante a coleta do material, também pode acusar falsos positivos, embora em menor escala.
A janela de detecção vai até três dias após o uso de determinadas substâncias, porém o grau de eficiência do resultado é baixo. Já os exames que se baseiam em amostras de pelos ou cabelos, possuem larga janela de detecção (90 dias), eficiência nos resultados e não há possibilidade de falsos positivos.
Alguns pontos podem auxiliar o familiar a identificar um dependente e ajudá- lo a recuperar-se. Cabe notar, que os aqui abordados muitas vezes também estão ligados a outros distúrbios de comportamento, portanto deve-se agir com muita atenção e cautela para ter certeza do problema.
  • Frequentar lugares onde drogas são usadas;
  • Muito tempo fora de casa;
  • O dependente vive para se drogar e se droga para viver, portanto, quase todo tempo fora de casa poderá estar usando drogas;
  • Quando está em casa permanece trancado no quarto, muitas vezes se drogando.
  • Novo grupo de amigos;
  • Você não sabe nada sobre eles e nem é possível chegar a eles;
  • Chamadas telefônicas desconhecidas;
  • São aquelas que não se dão a conhecer mesmo quando são interrogadas;
  • Muitas vezes a ligação é desligada quando quem atende não é a pessoa certa;
  • Companhia de pessoas que usam drogas;
  • É comum o ser humano formar grupos em torno daqueles com que tem afinidade;
  • Amizade com usuários de drogas, relacionada ao convívio diário;
  • Se a pessoa não usa drogas, não deve andar com quem usa. Diga-me com quem andas que te direi quem és;
  • Um namorado (a) usuário de drogas;
  • Mudanças de personalidade, mau humor, briga com familiares, hostilidade com todos;
  • Ao entrar nas drogas, a pessoa tem muitas mudanças em sua vida. A crise de abstinência gera ansiedade, depressão, falta de humor. São frequentes as brigas com familiares;
  • Enquanto a maconha gera falta de vontade, a cocaína gera agitação e hostilidade;
  • Um sinal importante de vício em cocaína é uma perda de interesse em atividades sociais. Os consumidores de cocaína podem afastar-se drasticamente de familiares e amigos;
  • Geralmente procuram estar sozinhos;
  • Necessidade de mais e mais dinheiro sem causa aparente;
  • Dinheiro sumindo em casa;
  • Objetos de valor sumindo de casa;
  • Olhos arregalados, brilhantes e com pupilas dilatadas (midríase);
  • Não olhar nos olhos dos familiares temendo ser descoberto;
  • Queda no rendimento escolar ou abandono na escola;
  • O desinteresse de outras atividades também é geral;
  • Alterações do apetite;
  • A cocaína tira o apetite e a fome (perda de peso);
  • Falar ou rir em excesso, mentir;
  • Sob o uso de drogas o usuário pode ter a atitude de rir ou falar em excesso, o que contrasta em muito com o resto do comportamento;
  • Mentir é a forma de ocultar os locais que frequenta, as pessoas com quem anda ou o que estava fazendo;
  • Se o usuário trabalha e o seu dinheiro nunca é suficiente;
  • Se não trabalha e tem dinheiro, o dinheiro pode indicar algo ilícito.
Doenças causadas pela cocaína
Superar um vício de cocaína é um dos desafios mais difíceis que alguém pode enfrentar. E ficar limpo pode ser um longo e difícil caminho. A cocaína é altamente viciante e um vício pode desenvolver muito rapidamente devido à maneira como afeta o sistema nervoso central. Os perigos da droga estão ocultos por trás de sentimentos de prazer e êxtase, que aciona.
Para entender o processo, vale lembrar que, no cérebro, há cem bilhões de neurônios, células características do sistema nervoso que possuem um corpo central e inúmeros prolongamentos ramificados, os dendritos. É através deles que o estímulo é conduzido de um para outro neurônio. Os dendritos não se ligam, porém, como os fios elétricos. Entre eles existe um pequeno espaço livre chamado sinapse onde várias substâncias químicas são liberadas e absorvidas. Uma das mais importantes é a dopamina.
Quando surge o estímulo que dá prazer, por exemplo, a dopamina cai no interior da sinapse e, como a chave que entra numa fechadura, penetra nos receptores do neurônio seguinte e transmite a sensação de prazer.
A dopamina que sobra na sinapse é reabsorvida pelos receptores da membrana do neurônio que emitiu o sinal e a sensação de prazer desaparece.
A droga entope os receptores que reabsorvem a dopamina, deixando-a por mais tempo na sinapse e perpetuando a sensação de prazer. O padrão de uso dessa droga é quase na forma de tudo ou nada: ou a pessoa fica dependente ou não se interessa por ela.
Embora existam, é pequeno o número de usuários esporádicos, exatamente porque o efeito poderoso e reforçador logo gera a dependência.
Em nosso cérebro existe um sistema de recompensa que é o núcleo do prazer. Quando a pessoa come, dorme, tem relações sexuais, ativa esse sistema biológico.
Ao longo de milhares e milhares de anos de evolução, ele foi desenvolvido como forma de preservar a espécie e o indivíduo. Por isso, a tendência é repetir os comportamentos que trazem prazer.
Na verdade, o cérebro acha que tudo o que dá prazer é bom para o organismo. De certa forma, é bom mesmo, pois resulta de um mecanismo protetor. Graças a ele, os homens aprenderam a comer, a ter relações sexuais, a abrigar-se do frio.
O problema é que as drogas, especificamente a cocaína, utilizam esse mecanismo biológico e deturpam a fonte natural do prazer, fazendo com que a pessoa repita seu uso não se importando com o que lhe possa acontecer.
A tendência do usuário de cocaína, mais do que o das outras drogas, é negligenciar todas as outras fontes de prazer. Às vezes, ele para de comer, de ter relações sexuais, de trabalhar. Hoje se considera a dependência de maneira geral, e particularmente a de cocaína, uma doença cerebral, uma vez que o dependente usa a droga de forma deletéria para o cérebro.
A cocaína age sobre três pontos: o tronco cerebral, o núcleo acubens e sobre a região do córtex cerebral pré-frontal, a mais importante de todas.
A sensação de prazer tem conexão com o pensamento. Não é só uma sensação visceral, de prazer físico. É também um prazer cerebral. Por isso, o usuário de cocaína pensa que tem controle sobre a busca do prazer – “Não uso cocaína porque sou dependente; uso porque quero essa fonte de prazer”.
Ele deturpa seu pensamento em função de uma necessidade mais primitiva, ou seja, a busca do prazer rápido e imediato que a cocaína proporciona. Envolvido por esse processo incessante, desenvolve uma doença chamada dependência química.
Muitos de seus comportamentos vão ser explicados pelo mecanismo biológico que perpetua o uso da droga, embora haja fatores sociais e de facilidade de oferta que também interferem.
Se os efeitos agudos da cocaína já são perigosos, os efeitos e consequências do uso continuado são letais. Suas consequências são quase sempre desastrosas sobre a vida do usuário, promovendo prejuízos em suas mais diversas áreas de funcionamento.
Depressão intensa com risco de suicídio, desmotivação, sonolência, irritabilidade crônica, episódios paroxísticos de ansiedade (ataques de pânico) e finalmente psicose paranoide (O indivíduo tem certeza que está sendo perseguido, mesmo confrontado com a inexistência de indícios reais) são os efeitos psíquicos mais observados na utilização crônica da droga.
Se antes do uso o indivíduo já apresentar sintomas depressivos, estes se tornam mais severos ainda, resultando ocasionalmente em tentativas de suicídio. Separação conjugal, abandono de atividades ocupacionais (p.ex. perda de emprego), incapacidade de cumprimento de obrigações sociais, dependência financeira ou engajamento em atividades criminais são descritos por muitos usuários "crônicos".
Aos efeitos crônicos associam-se os efeitos potencialmente letais da droga. O uso de cocaína é a principal causa de infarto agudo de miocárdio em jovens (até 40 anos). A cocaína altera o ritmo elétrico cardíaco, produzindo arritmias que podem ser visualizadas no eletrocardiograma.
O aumento da pressão arterial contribui para a ocorrência de hemorragias (sangramentos) em diversas partes do corpo, inclusive no cérebro, possibilitando a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais.
O aumento de temperatura corpórea pode atingir mais de 42º, provocando a morte por hipertermia. Doses maiores estão relacionadas com parada respiratória.
Uma das consequências mais graves do consumo da cocaína é o surgimento de convulsões. A cocaína é um potente facilitador da ocorrência de convulsões de todos os tipos, principalmente tônico-clônicas (indistinguíveis daquelas da epilepsia).
Em animais de laboratório (geralmente ratos e macacos) "tratados" com cocaína, observamos mortes por convulsões (acompanhadas de inanição e exaustão) após 17 dias de consumo da droga. Acredita-se que caso o ser humano tivesse acesso irrestrito à droga, o resultado seria muito semelhante.
O uso de cocaína resulta em aumento da demanda de oxigênio pelo coração. Apesar disso, ao mesmo tempo, a cocaína provoca intensa constrição dos vasos sanguíneos (inclusive coronarianos), diminuindo a oferta de oxigênio para os tecidos. Isso pode conduzir à angina, arritmias cardíacas e infarto.
Outros sintomas como paranoia, alucinações, confusão mental, tremores, vômitos, insônia, pupilas dilatadas (midríase), e aumento da frequência respiratória também são vislumbrados comumente.
Vale a pena lembrar também que a cocaína atravessa a placenta e atinge o feto. Vários estudos em humanos e em animais relatam que o uso da cocaína diminui a circunferência craniana do bebê ao nascimento e tem efeito negativo sobre o seu desenvolvimento da linguagem.
Defeitos orobucais têm sido observados em bebês de mães usuárias da droga (lábio leporino, fenda palatal).
Mais da metade daqueles que inalam cocaína apresentam sangramento nasal, rinite e sintomas crônicos de sinusite. Perfuração do septo nasal é observada em cerca de 5% dos usuários.
Na verdade, o efeito vasoconstritor da cocaína induz isquemia local que, por sua vez, pode induzir necrose do septo nasal e tecidos adjacentes.
Os adulterantes que existem na cocaína, tais como talco, quinino, anfetaminas, lidocaína, procaína etc., complicam ainda mais as lesões.
Da mesma forma, o palato (céu da boca) pode ser intensamente atingido pela cocaína, incluindo o surgimento de perfurações e fístulas, o que prejudica a articulação da linguagem e o regime alimentar.
Usuários de cocaína frequentemente sofrem de bruxismo (ranger de dentes noturno durante o sono), comumente produzindo dor na articulação temporomandibular e músculos mastigatórios. Desgaste dos dentes caninos e incisivos tem sido observado entre usuários crônicos da droga.
Também, dissolvida na saliva, a cocaína diminui o pH da boca, aumentando o risco de dissolução de minerais dos dentes (hidroxiapatita).
Retração gengival e boca seca têm também sido observadas entre usuários da droga.
Além dos efeitos diretos da cocaína sobre a mucosa e a pele, devem-se ressaltar os efeitos indiretos, relacionados, por exemplo, à má nutrição comumente vista entre dependentes. Realmente, além dos efeitos euforizantes da cocaína, essa substância propicia a constrição das veias e artérias do corpo, provoca danos nas paredes dos vasos sanguíneos e intensifica a coagulação.
Complicações dermatológicas mais raras, mas graves, podem ocorrer com o usuário de cocaína, como necrose epidérmica segmentar, associada com manchas azuladas distribuídas pelo corpo, desencadeadas pelo vaso espasmo prolongado.
A inalação da cocaína pode resultar em edema da mucosa nasal e diminuição da capacidade para sentir odores. O consumo crônico tem sido associado a vários outros quadros dermatológicos, como vasculites, verrugas intranasais, púrpura palpável (pequenos pontos elevados vermelhos ou de cor púrpura, resultado do extravasamento de sangue dos capilares sanguíneos) e esclerodermia (espessamento da pele, resultado do acúmulo excessivo de proteínas – colágeno).
É comum o encontro de escoriações generalizadas na pele devido à coceira induzida pela cocaína. Alguns indivíduos, após o uso, têm a sensação de que existem bichos andando pelo seu corpo; isso, também, faz com que eles se cocem com grande intensidade.
O dependente de cocaína, frequentemente, alimenta-se de maneira inadequada e insuficiente. O déficit constante e progressivo de vários nutrientes induz a inúmeras complicações em vários órgãos.
Também com relação ao sistema respiratório, várias complicações decorrentes do consumo de cocaína têm sido recorrentemente descritas. Broncoespasmo, hemorragia alveolar, inflamação dos alvéolos (alveolites), hipertensão pulmonar, edema pulmonar e fibrose do espaço entre os alvéolos.
As repercussões respiratórias do uso da droga não dependem apenas da via de administração, mas também da presença de adulterantes, micro-organismos, tempo de uso, susceptibilidade individual, uso compartilhado de seringas.
Também, é importante ressaltar que pequenas doses de cocaína podem aumentar a taxa respiratória, enquanto altas doses podem provocar depressão respiratória. No entanto, em alguns usuários, a cocaína pode ter um efeito paradoxal, induzindo inicialmente um aumento da taxa respiratória seguida por redução clinicamente significativa.
O usuário pode queixar-se de dor ao respirar, falta de ar, tosse, hemoptise (expectoração sanguinolenta através da tosse), febre, sintomas de asma ou bronquite.
Cocaína e AIDS
Em 1981 o Centro de controle de doenças norte-americano (CDC) apresentava ao mundo a definição de uma nova patologia: a síndrome da imunodeficiência adquirida, a AIDS. Casos de morte que esperavam esclarecimento desde 1978 foram diagnosticados. Pesquisas se multiplicaram e a atenção da opinião pública do mundo ocidental focalizou rapidamente o problema.
Em poucos anos, o vírus responsável foi identificado e denominado HIV. Inicial e infelizmente, porém, a síndrome foi associada quase exclusivamente a homossexuais, impedindo a aplicação de métodos preventivos em relação a outras formas de transmissão, entre elas a via sanguínea.
Esta é a responsável pela transmissão tanto de mãe para filho como pelo consumo de drogas por via intravenosa. Em 1991, aproximadamente 28% dos casos de AIDS diagnosticados nos Estados Unidos tinham a via intravenosa como a forma de transmissão do vírus.
Os usuários intravenosos de cocaína costumam consumir a droga em grupos, compartilhando a mesma seringa ou agulha. O surgimento do HIV obrigou adaptações extremamente custosas tanto dos serviços de assistência a dependentes (não acostumados a enfrentar esta doença infecciosa) como de clínicos, inaptos para lidar com o rol de complicações da dependência de substâncias psicoativas.
Desta forma, micro-organismos presentes no corpo de um usuário são diretamente injetados no próximo. Este uso ritual possibilita a chegada direta do HIV ao sangue do usuário, sem a mínima proteção que é representada, por exemplo, pelas mucosas ano-genitais durante uma relação sexual insegura (sem o uso de preservativo).
O consumo de qualquer droga (inclusive o álcool) reduz a capacidade de o indivíduo evitar a continuidade do consumo (de qualquer substância) e, ao mesmo tempo, reduz a capacidade de evitar relações sexuais sem a prevenção adequada (uso de camisinha).
Cérebro e cocaína
Atualmente, existem recursos que permitem avaliar o funcionamento cerebral e deixam claro o enorme contraste existente entre o cérebro normal, rico e vivo que consome bastante glicose, por exemplo, e o do usuário de cocaína, que se mostra alterado substancial e principalmente nas regiões frontais, ou seja, nas regiões do pensamento, do controle dos estímulos e da impulsividade.
Isso explica em parte o comportamento impetuoso dessas pessoas. Conhecer esse fato é importante para as famílias e para os clínicos, pois ajuda a entender por que elas não pensam muito, gastam dinheiro demais e muitas vezes se tornam violentas (parte da violência urbana está relacionada com o uso de cocaína).
Imagens cerebrais revelam que a diminuição do oxigênio, especialmente nas regiões frontais provocada pelo uso crônico da cocaína, produz alterações que não se recuperam mesmo depois de vários anos de abstinência. Existe um limite de uso a partir do qual o usuário não recupera mais a função cerebral perdida.
Memória, concentração, capacidade de elaborar pensamentos complexos, de ponderar são funções seriamente prejudicadas. Uma forma de testar o cérebro de um usuário de cocaína é a simulação de um jogo, o gambling test.
Paranoias
Elas têm muito a ver com o sistema dopaminérgico. Doses maiores de dopamina provocam sintomas paranoides à semelhança do que ocorre com as anfetaminas, muito consumidas nos anos de 1950 para manter as pessoas acordadas. Pilotos de avião, por exemplo, que às vezes usavam essa droga para não dormir, tinham surtos psicóticos em pleno voo.
De forma marcante, a cocaína produz sensações persecutórias provocadas pelo fluxo muito rápido de dopamina no cérebro. O usuário se tranca no banheiro, imaginado que a polícia vai invadir o local e prendê-lo.
É quase um quadro semelhante ao da esquizofrenia paranoide. Dura algumas horas, eventualmente poucos dias e depois tende a desaparecer, mas é sinal indiscutível de que houve uma mudança importante da química cerebral.
Na realidade, essa talvez seja a essência da dependência. Mesmo diante de consequências negativas, a pessoa não tem forças para mudar de comportamento, porque o lado prazeroso e reforçador é muito mais importante e forte.
É uma sensação imediata, às vezes fugaz, mas existe uma alteração no sistema de recompensa cerebral. Se não existisse, não seria possível explicar tal comportamento.
A consequência negativa de uma substância não impede que ela continue sendo usada, apesar de o efeito paranoide ocorrer quase imediatamente após o uso. Ou seja, a pessoa valoriza essa etapa de efeito rápido, apesar de saber que irá enfrentar reações complicadas.
Síndrome de abstinência
Ex-fumantes se queixam de que a vontade de fumar nunca passa. Usuários de cocaína que param de usar a droga não se referem a essa premência. Dizem que ficam bem sem ela, desde que não a vejam porque, se isso acontecer, “enlouquecem”.
Cocaína não provoca uma crise de abstinência igual às outras drogas.
Os sintomas de abstinência são peculiares a cada droga. O impacto do reflexo biológico da cocaína é diferente do da nicotina. O sintoma agudo da cocaína é o efeito que dá prazer imediato e a sensação de poder. Quando ele passa, o sintoma remoto da abstinência se caracteriza por diminuição desse prazer, depressão e alienação.
Estudos indicam que, quando o usuário vê a cocaína, ou se encontra numa situação em que pode consegui-la, ou assiste a filmes que abordam o tema, várias regiões de seu cérebro quase que se iluminam, pois, o impacto biológico é muito grande e aumenta a vontade de consumir a droga.
Em longo prazo (alguns meses) ocorrem invariavelmente múltiplas hemorragias cerebrais com morte extensa de neurônios e perda progressiva das funções intelectuais superiores. São comuns síndromes psiquiátricas como esquizofrenia e depressão profunda unipolar.
  • Perda de memória
  • Perda da capacidade de concentração mental
  • Perda da capacidade analítica.
  • Falta de ar permanente, trauma pulmonar, dores torácicas
  • Destruição total do septo nasal (se inalada).
  • Perda de peso até níveis de desnutrição
  • Cefaleias (dores de cabeça)
  • Síncopes (desmaios)
  • Distúrbios dos nervos periféricos ("sensação do corpo ser percorrido por insetos")
  • Silicose, pois é comum o traficante adicionar talco industrial para aumentar seus lucros, fato verificado em necropsia, exame de hemogramas.
  • Arritmias cardíacas: complicação possivelmente fatal.
  • Trombose coronária com enfarto do miocárdio (provoca 25% dos enfartes totais em jovens de 18-45 anos)
  • Trombose cerebral com AVC.
  • Outras hemorragias cerebrais devidas à vasoconstrição simpática.
  • Necrose (morte celular) cerebral
  • Insuficiência renal
  • Insuficiência cardíaca
  • Hipertermia com coagulação disseminada potencialmente fatal.
Tratamento
A dependência de cocaína é um transtorno passível de tratamento, ao contrário do que muitas pessoas pensam. Porém é certo que nenhum modelo de tratamento pode ser considerado eficaz para todos os pacientes. Indivíduos que desenvolvem dependência de cocaína possuem diferentes características e necessidades.
Estudos apontam uma boa relação custo-benefício do tratamento. Infelizmente, o resultado mais comum dos diversos tratamentos é a redução do consumo por algum tempo, bem como a diminuição das atividades ilegais e do comportamento criminal do dependente.
O tratamento, porém, necessita ser entendido como um processo contínuo, assim como modelos médicos utilizados em doenças crônicas, tal qual diabetes e hipertensão arterial. Em não ser assim, a possibilidade de recaídas e o retorno ao padrão de dependência crônica certamente voltam.
Raros são os usuários que não necessitam de tratamento; muitos interrompem definitivamente o consumo após o surgimento dos primeiros prejuízos. Outros, todavia, continuam a usar a cocaína apesar das consequências danosas evidentes que passam a vivenciar. A necessidade do tratamento é muitas vezes determinada pelo envolvimento obsessivo do sujeito com a droga que passa a prejudicar os demais aspectos de sua vida.
O processo terapêutico inicia-se com medidas para trazer o paciente para os serviços de assistência. O dependente não procura tratamento por achar que está usando droga demasiadamente, mas sempre frente a "situações de crise", geralmente envolvendo trabalho, família, situação financeira, problemas legais, emergências médicas e rompimento de relacionamentos afetivos.
Uma forma de promover o acesso do indivíduo ao tratamento é interromper a "facilitação" familiar. No momento do ingresso no tratamento, quase sempre o paciente tem a ilusão de poder retornar ao uso controlado da cocaína ("dar um tempo").
Esta situação é impossível, pois uma vez cruzada a linha invisível da dependência, a capacidade de retorno a consumo ocasional ou controlado é definitivamente perdida.
Muitas vezes o paciente demora meses ou anos com inúmeras recaídas e aumento dos prejuízos, até que se conscientize deste fato.
Qualquer modelo de tratamento para a dependência da cocaína deve incluir alguns aspectos básicos, fundamentais para a obtenção de resultados positivos. A abstinência deve ser não somente da cocaína, mas de todas as drogas de abuso, primeiro e principal objetivo do processo terapêutico.
Tanto o álcool como outras drogas deflagram "fissuras", mesmo meses (ou anos) após a interrupção da cocaína; como citado acima, o consumo tem um efeito desinibitório sobre o consumo de outras drogas (reduz a capacidade de evitar o consumo), aumentando ainda a impulsividade do paciente.
Aspectos psico-educacionais, tanto sobre a cocaína, álcool e outras drogas, como sobre a própria dependência, devem sempre ser incluídos em qualquer modalidade terapêutica empregada. Este componente auxilia o paciente a compreender e aceitar a própria dependência e sua doença. Deve incluir aspectos farmacológicos, princípios básicos da doença, sinais de recaída e formas de preveni-las, as consequências biopsicossociais da dependência, aspectos familiares, capacitação e codependência de amigos e, principalmente, familiares.
O envolvimento familiar é fundamental. Outras medidas que costumam ser incluídas no processo são terapia individual e familiar, participação em grupos de autoajuda, busca de atividades alternativas ao consumo de substâncias psicoativas, cuidados médicos, nutricionais, análises toxicológicas, intervenção farmacológica prescrita por profissional experiente no tratamento da dependência e tratamento em regime de internação (hospitalar e comunidades terapêuticas). Quanto mais abrangente e completo o programa terapêutico, maior a chance de recuperação.
A internação do dependente, ao contrário do que se acreditava antigamente, não é solução para todos os pacientes. Ao contrário, os estudos científicos realizados nas últimas décadas não comprovam nenhuma vantagem de um método hospitalar em relação a ambulatório para toda a população de dependentes que busca, ou é levada para o tratamento.
Pelo contrário, a internação é mais bem entendida como um método de promoção de abstinência e desintoxicação, sendo apenas uma parte da recuperação do indivíduo, devendo sempre ser associada a posterior seguimento ambulatorial. A internação carrega também um estigma social importante, que é delegado ao indivíduo.
O tratamento em ambulatório, de fato apresenta algumas vantagens sobre a internação, por ser menos custoso (possibilita ao serviço o tratamento de um maior número de dependentes), causar menor interrupção na vida do indivíduo (muitos dependentes que procuram tratamento, por exemplo, continuam a manter atividades sociais e ocupacionais importantes, auxiliando na manutenção de toda sua família).
O dependente aceita mais facilmente o tratamento ambulatorial e este modelo busca que ele lide com sua compulsão em seu "mundo real" (ao qual irá retornar muitas vezes despreparado após uma internação). Por outro lado, existem algumas indicações importantes em que a internação é inevitável e altamente recomendada.
Indicações de internação de dependentes
  • Risco de suicídio, agressividade física importante, quadro psicótico;
  • Doenças médicas ou psiquiátricas associadas que indiquem internação (infarto de miocárdio, convulsões, etc.);
  • Intensa disfunção de vida do dependente ou incapacidade de lidar com tarefas básicas de sua própria rotina (cuidados pessoais, alimentação, etc.);
  • Dependência associada de substâncias que requerem tratamento hospitalar (abstinência de álcool ou opioides);
  • Fracasso das tentativas de abordagem ambulatorial do dependente;
Merla
Introdução
A merla é derivada da cocaína. É uma junção das folhas da coca com alguns produtos químicos como ácido sulfúrico, querosene, cal virgem entre outros que ao ser misturado se transforma numa pasta onde se concentra em torno de 40 a 70% de cocaína. É ingerida pura ou misturada num cigarro normal ou num cigarro de maconha.
É uma droga perigosa causando dependência física e psíquica ao paciente, além de danos irreparáveis ao organismo. Sua capacidade de causar dependência física e psicológica é muito grande e a abstinência costuma ser extremamente dificultosa.
É absorvida pela mucosa pulmonar rapidamente e assim como a cocaína é excitante ao sistema nervoso. Causa euforia, diminuição de fadiga, aumento de energia, diminuição do sono, do apetite e consequentemente causa perda de peso bastante expressiva e psicose tóxica como alucinações, delírios e confusões mentais.
Durante o uso da merla, o usuário pode ter convulsões e perda de consciência. As convulsões podem levar o usuário a ter uma parada respiratória, coma, parada cardíaca e a morte. Ao passar o efeito da merla, o usuário sente medo, depressão e paranoia de perseguição que em alguns casos leva ao suicídio.
O usuário da merla normalmente apresenta a ponta dos dedos amarelada, olhos avermelhados, lacrimejados e irritados, respiração difícil, tremores nas mãos, irritação e inquietação. Ao longo do tempo o usuário perde seus dentes, pois na merla existe ácido de bateria que começa a furar os dentes até que a perda total aconteça.
Os efeitos da droga duram cerca de quinze minutos, sendo a primeira sensação a do bem-estar intenso e energia revigorada. Uma característica predominante no usuário da merla é a presença do cheiro forte de querosene, éter e outras substâncias, que o corpo exala na eliminação (pela transpiração intensa). Isto acontece devido aos produtos químicos adicionados durante a preparação da droga.
Geralmente a droga é consumida em grande parte por usuários com a faixa etária de 16 a 18 anos, prevalecendo mais em rapazes, onde o consumo é de cerca de 80%, e em 20% por mulheres. Devido a estes dados o uso da merla é relativamente fácil de ser identificado.
Infelizmente, o tratamento para os dependentes da droga é muito difícil e requer vigilância constante. Muitos não aguentam a síndrome de abstinência ou até mesmo a depressão causada pelo uso contínuo, o que leva cerca de 20% dos usuários ao suicídio.
Crack
Introdução
O crack é uma substância psicoativa euforizante (estimulante), um subproduto da pasta da cocaína preparada à base da mistura da pasta de cocaína com bicarbonato de sódio.
Para obtenção das pedras de crack também são misturadas à cocaína diversas substâncias tóxicas como gasolina, querosene e até água de bateria.
A pedra de crack não é solúvel em água e não pode ser injetada. Ela é fumada em cachimbo, tubo de PVC ou aquecida numa lata. Após ser aquecida em temperatura média de 95ºC, passa do estado sólido ao de vapor. Quando queima, produz o ruído que lhe deu o nome. Pode ser misturada com maconha e fumada com ela.
Crack, também chamado de pedra, é cocaína solidificada em cristais. O nome inglês crack deriva do seu barulho peculiar ao ser fumado. O crack é a conversão do cloridrato de cocaína para base livre através de sua mistura com bicarbonato de sódio e água. É a forma de cocaína mais viciante e também a mais viciante de todas as drogas. As pedras de crack oferecem uma curta, mas intensa euforia aos fumantes.
História
Inicialmente o crack foi disseminado nas classes mais baixas da sociedade, embora atualmente já não se restrinja somente a elas. Nos centros das grandes cidades é comum ver os moradores de rua - de todas as idades, inclusive as crianças - fazendo uso desta droga.
Cabe a reflexão sobre a origem daquelas pessoas: muitos já nasceram em condições de miséria comparáveis a aquela em que estão, mas certamente muitas daquelas pessoas, hoje à margem da sociedade, tinham toda uma vida estruturada, vida essa que trocaram pelo crack. O uso do crack e suas consequências tornam possível dizer que atualmente o crack tornou-se uma epidemia, portanto, uma questão de saúde pública.
Com custo relativamente baixo e alto potencial para gerar dependência química, o crack é, dentre as substâncias entorpecentes, aquela que tem causado as consequências mais nefastas em nossa sociedade.
A droga atinge grave e diretamente a saúde física e mental dos usuários. Mais que isso, e de forma muito rápida, debilita laços familiares e relações sociais.
Nesta medida, constitui indiscutível fator de aumento das taxas de criminalidade, violência e outros problemas sociais. O combate mais eficiente faz-se pela prevenção, e, para tanto, conhecimento é fundamental.
O momento caracteriza-se pelo consumo indiscriminado de drogas, quer lícitas, quer ilícitas. O uso do crack, em especial, pelo seu elevado poder lesivo, vem colocando em risco milhares de crianças e adolescentes, seja pelo consumo direto da droga, seja pelos efeitos indiretos, porém devastadores, no núcleo familiar.
A melhor forma de prevenção contra as drogas é a informação. Esta deve ser clara, objetiva e fundamentada cientificamente. A prevenção passa por toda a sociedade, nela incluídas escolas, famílias, poder público, organizações não governamentais, etc.
A droga é algo que já existe há muito tempo. Neste sentido, o consumo de substâncias que alteram o estado de consciência é fenômeno cultural, que ocorre em diversos contextos (social, econômico, ritual, religioso, estético, psicológico, cultural). Não há sociedade livre de drogas. O que há são diferentes finalidades quanto ao uso. A busca de experiências de prazer é apenas uma delas.
O uso de crack, no Brasil, vem crescendo de modo avassalador. Vale lembrar que o álcool o tabaco, a maconha e a cocaína também são largamente utilizados por crianças e adolescentes.
O crack apareceu nos Estados Unidos primeiramente em bairros pobres do centro das cidades de New York, Los Angeles e Miami no final de 1984. As informações sobre a chegada do crack ao Brasil vêm da imprensa ou de órgãos policiais.
A primeira apreensão da substância no município de São Paulo registrada nos arquivos da Divisão de Investigação sobre Entorpecentes (DISE) aconteceu em 1990. Algumas evidências apontam para o surgimento da substância em bairros da Zona Leste da cidade, para, depois, alcançar a região da Estação da Luz (que ficou conhecida como Cracolândia), no centro da cidade.
Produção
O crack surgiu como opção para popularizar a cocaína, pelo seu baixo custo. Para a produção do crack, uma mistura de cocaína em pó (ainda não purificada) dissolvida em água e acrescida de bicarbonato de sódio (ou amônia) é aquecida. O aquecimento separa a parte sólida da liquida. Após a parte sólida secar, é cortada em forma de pedras.
Por não passar pelo processo final de refinamento pelo qual passa a cocaína, o crack, possui grande quantidade de resíduos das substâncias utilizadas durante todo o processo.
Prontas para o consumo, as pedras podem ser fumadas com a utilização de cachimbos, geralmente improvisados. Ao serem acesas, as pedras emitem um som, daí a origem do nome “crack”.
Características
Nas formas mais puras, as pedras de crack aparecem como cristais brancos, com bordas irregulares, com uma densidade ligeiramente maior do que cera de vela, ou ainda, se assemelham a um plástico duro e quebradiço.
Formas mais puras de crack afundam na água ou derretem nas bordas quando perto de uma chama (o crack vaporiza a
O surgimento do crack foi a solução encontrada para o problema do preparo da pasta básica para consumo. Os traficantes passaram a vender doses bem pequenas de crack por um preço muito baixo se comparado com outras drogas.
Para o consumo inalatório da droga, são utilizados cachimbos elaborados pelos próprios usuários, geralmente de alumínio e compartilhados entre o grupo de uso. Também tem sido comum o consumo de cigarros comuns ou de maconha com fragmentos de pedras de crack.
A forma injetável do crack não teve sucesso e foi quase extinta no Brasil, substituído pela pedra que provoca efeito semelhante e mais potente que a cocaína injetada.
Efeitos imediatos
Ao ser fumado, é absorvido pelo pulmão e chega ao cérebro em 10 segundos. Após a “pipada” (ato de inalar a fumaça), o usuário sente grande prazer, intensa euforia, sensação de poder, excitação, hiperatividade, insônia, perda de sensação de cansaço e falta de apetite. Um dependente de crack pode perder entre 8 e 10 kg em um único mês.
O uso passa a ser compulsivo, pois o efeito dura apenas de 5 a 10 minutos e a “fissura” (vontade) de usar novamente a droga torna-se incontrolável.
Segue- se repentina e profunda depressão e surge desejo intenso de uso repetido imediato. Assim, serão usadas muitas pedras em seguida para manter o efeito estimulante.
Dependência
Por ser fumado, expande-se pela grande área da superfície do pulmão e é absorvido em grande quantidade pela circulação sanguínea. O efeito é rápido e potente, porém passa depressa, o que leva ao consumo desenfreado.
Consequências do uso em médio e longo prazo Físicas
Danos ao pulmão, associado a fortes dores no peito, bronquite e asma; aumento da temperatura corporal com risco de causar acidente vascular cerebral; destruição de células cerebrais e degeneração muscular, o que confere aquela aparência esquelética do usuário frequente. Inibição da fome e insônia severa.
Além disso, os materiais utilizados para a confecção dos cachimbos são muitas vezes coletados na rua ou no lixo e apresentam risco de contaminação infecciosa, gerando potencial elevação dos níveis de alumínio no sangue, de modo a aumentar os danos no sistema nervoso central. São comuns queimaduras labiais, no nariz e nos dedos dos usuários.
Psicológicas
Fácil dependência após uso inicial. Grande desconforto durante abstinência gerando depressão, ansiedade e agressividade contra terceiros. Há diminuição marcante do interesse sexual.
A necessidade do uso frequente acarreta delitos, para obtenção de dinheiro, venda de bens pessoais e familiares, e até prostituição, tudo para sustentar o vício.
A promiscuidade leva a grave risco de se contrair AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis. O usuário também apresenta atitudes bizarras devido ao aparecimento de paranoia (“noia”), colocando em risco a própria vida e a dos outros.
Sociais
Abandono do trabalho, estudo ou qualquer outro interesse que não seja a droga. Deterioração das relações familiares, com violência doméstica e frequente abandono do lar.
Grande possibilidade de envolvimento com criminalidade. A ruptura ou a fragilização das redes de relação social, familiar e de trabalho normalmente leva a aumento da estigmatização do usuário, agravando sua exclusão social.
Usuários de crack
Por muito tempo a dependência química foi considerada uma doença masculina; aspectos sociais e culturais que propiciavam mais acesso masculino às drogas levavam a crer que eles seriam mais suscetíveis.
No entanto, atualmente, o consumo de substâncias ilícitas e álcool são indiscriminados entre mulheres e homens adultos e adolescentes. No caso do crack, implicam-se no uso até mesmo crianças de várias idades.
Também se acreditava anteriormente que seu uso era mais intenso nas classes de baixa renda, porém, hoje, a utilização do crack já ocorre em todas as classes sociais. As populações mais vulneráveis, entre elas, moradores de rua, crianças e adolescentes constituem importante grupo de risco.
Sinais para reconhecimento do uso de crack
  • Abandono de interesses sociais não ligados ao consumo e compra de drogas;
  • Mudança de companhias e de amigos não ligados ao consumo desta;
  • Visível mudança física, perda de pelos, pele ressecada, envelhecimento precoce;
  • Comportamento deprimido, cansaço, e descuido na aparência, irritação e agressividade com terceiros;
  • Dificuldades ou abandono escolar, perda de interesse pelo trabalho ou hábitos anteriores ao uso do crack;
  • Mudança de hábitos alimentares, falta de apetite, emagrecimento e insônia severa;
  • Atitudes suspeitas, como telefonar para pessoas desconhecidas dos familiares com frequência e “sumir de casa” sem aviso constantemente;
  • Extorsão de dinheiro da família com ferocidade;
  • Mentiras frequentes, ou, recusa em explicar mudança de hábitos ou comportamentos inadequados.
Atitudes que agravam a situação do usuário
No início do uso da droga, o indivíduo ilude-se, imaginando que “com ele vai ser diferente”, que “não vai se tornar um viciado”. Mesmo quando progride para a dependência, continua acreditando que “para quando quiser” e não percebe que, na realidade, não pode mais parar. Pelo contrário, quer sempre mais.
A atitude de negação da doença pela família também é muito nociva. Ela não deve sustentar mentiras, amenizando a gravidade da situação e acreditando que o usuário deixará de usar o crack com o tempo ou sem ajuda de terceiros.
Pessoas que são dependentes de álcool ou tabaco, apesar de serem drogas lícitas, devem entender que, para criticar o outro por se tornar dependente do crack, precisam antes corrigir em si mesmas estes hábitos, pois, do contrário, não têm alcance, como exemplo a ser seguido ou ouvido.
Associado ao uso de outras drogas
É comum que usuários de crack precisem de outras substâncias psicoativas no período das chamadas “brisas”, ou seja, no período imediato após o uso do crack. Nesse momento, acabando o efeito estimulante, há grande mal-estar, sendo usado álcool, maconha ou outras substâncias para redução desta sensação. O sofrimento psíquico decorrente do uso do crack induz o usuário a múltiplas dependências.
Epidemiologia
Um estudo brasileiro de 2011, examinou a taxa de mortalidade, os indicadores de mortalidade e as causas de mortes entre 131 pacientes brasileiros dependentes de crack que procuraram tratamento durante meados dos anos 1990 no Brasil, o perfil predominante do usuário foi: homem, jovem com menos de 30 anos, solteiro, de baixa classe socioeconômica, baixo nível de escolaridade, sem vínculos empregatícios formais e em geral isolado socialmente.
Efeitos do Crack
Cerca de cinco vezes mais potente que a cocaína, sendo também mais barato e acessível que outras drogas, o crack tem sido cada vez mais utilizado, não somente por pessoas de baixo poder aquisitivo.
Ele está, hoje, presente em todas as classes sociais e em diversas cidades do país. Assustadoramente, cerca de 600.000 pessoas são dependentes, somente no Brasil. Tal substância faz com que a dopamina, responsável por provocar sensações de prazer, euforia e excitação, permaneça por mais tempo no organismo. Outra faceta da dopamina é a capacidade de provocar sintomas paranoicos, quando se encontra em altas concentrações.
Perseguindo esse prazer, o indivíduo tende a utilizar a droga com maior frequência. Com o passar do tempo, o organismo vai ficando tolerante à substância, fazendo com que seja necessário o uso de quantidades maiores da droga para se obter os mesmos efeitos.
Apesar dos efeitos paranoicos, que podem durar de horas a dias e pode causar problemas irreparáveis, e dos riscos a que está sujeito; o viciado acredita que o prazer provocado pela droga compensa tudo isso.
Em pouco tempo, ele vira seu escravo e fará de tudo para tê-lo sempre em mãos. A relação dessas pessoas com o crime, é muito maior do que em relação às outras drogas; e o comportamento violento é um traço típico.
Por ser inalado, o crack chega rapidamente ao cérebro, por isso seus efeitos são sentidos quase imediatamente - de 10 a 15 segundos - no entanto, tais efeitos duram em média 5 minutos, o que leva o usuário a usar o crack muitas vezes em curtos períodos de tempo, tornando-se dependente rapidamente.
Daí o grande poder de causar dependência do crack. Após tornar-se dependente, sem a droga o usuário entra em depressão e sente um grande cansaço, além de sentir a “fissura”, que é a compulsão para usar a droga, que no caso do crack é avassaladora.
Neurônios vão sendo destruídos, e a memória, concentração e autocontrole são nitidamente prejudicados.
Cerca de 30% dos usuários perdem a vida em um prazo de cinco anos – ou pela droga em si ou em consequência de seu uso (suicídio, envolvimento em brigas, “prestação de contas” com traficantes, comportamento de risco em busca da droga – como prostituição, etc.). Quanto a este último exemplo, tal comportamento aumenta os riscos de se contrair AIDS e outras DST.
Os efeitos causados pelo crack são:
  • Euforia;
  • Agitação;
  • Sensação de prazer;
  • Irritabilidade;
  • Alterações da percepção e do pensamento;
  • Taquicardia e tremores;
  • Perda de apetite;
  • Extrema autoconfiança;
  • Insônia;
  • Estado de alerta;
  • Aumento de energia/disposição física.
Grandes quantidades podem induzir tremores, vertigens, espasmos musculares, ou com doses repetidas, uma reação tóxica muito parecida com intoxicação por anfetamina. O uso regular do crack pode provocar impulsos suicidas.
Abuso de crack também leva à "parasitose delirante" (síndrome Ekbom: a crença equivocada de que se está infestado de parasitas).
Essas ilusões também estão associados à febre alta ou abstinência concomitante de álcool, muitas vezes, juntamente com alucinações visuais (insetos).
Pessoas que vivem essas alucinações podem arranhar-se e causar danos cutâneos graves e sangramento, especialmente quando estão delirando.
Em casos raros, morte súbita pode ocorrer no primeiro uso do crack ou de forma inesperada depois. As mortes relacionadas ao crack são, muitas vezes, resultado de parada cardíaca ou convulsões seguidas de parada respiratória. Aumento de sensibilidade pode explicar algumas mortes que ocorrem após doses aparentemente baixas de crack.
O primeiro relato de acidente vascular cerebral induzido por cocaína data de 1977. Com o desenvolvimento e disseminação do crack na década de 1980, houve um aumento significativo no número de relatos de casos descrevendo os acidentes vasculares cerebrais isquêmicos e hemorrágicos associados ao uso de cocaína, porém não há fatores de risco para que ocorra um AVC associado ao uso de cocaína/crack.
Atitudes que podem ajudar
Se você é pai, mãe ou tem alguém que lhe é querido, sob suspeita de uso do crack, principalmente, em faixa de idade vulnerável, como crianças e adolescentes, procure manter bom relacionamento, com o suposto viciado, que garanta abertura para diálogo.
O melhor é buscar saber de sua vida, com quem está, os lugares que frequenta, seu desempenho no trabalho ou na escola. Observe se ocorrem mudanças bruscas de comportamento. A manutenção do vínculo afetivo é muito importante, tanto para a detecção do problema, quanto para solução no tratamento.
Necessário que haja atenção quanto ao ambiente escolar e à vizinhança. Oriente seu a se afastar de pontos de venda de droga ou dos frequentadores desses locais. Adolescentes comumente apresentam comportamento destemido e sentem-se desafiados a se aproximar do perigo para ter a ilusão de que estão acima do bem e do mal.
Como adulto, deixe claro que sua autoridade é fruto não apenas de amor, mas de capacidade de entender o mundo atual e saber diferenciar o que destrói e o que constrói, em oposição à sedução do traficante.
Os agentes do tráfico procuram ser simpáticos e amistosos para com sua população alvo. Ensinam gíria própria e não destoam da imagem da moda seguida pelo público que eles visam. O Disque-Denúncia no seu Estado ou Município pode ser utilizado para denunciar traficantes.
Inicialmente é necessária uma avaliação do paciente, para saber sobre o efetivo consumo de crack. A partir deste perfil, ele deverá ser encaminhado ao ambiente e ao modelo de atenção adequado.
Deve ser verificado o grau de dependência e o uso nocivo, assim como a intenção voluntária de busca de ajuda para o tratamento. É preciso entender qual o padrão do consumo, que pode oscilar muito, e indicar a gravidade do quadro em relação a cada usuário de crack.
Tratamento
Superar o vício não é fácil e requer, além de ajuda profissional, muita força de vontade por parte da pessoa, e apoio da família. Há pacientes que ficam internados por muitos meses, mas conseguem se livrar dessa situação.
Atualmente várias abordagens de tratamento para dependência de cocaína e crack no Brasil vêm sendo discutidas, porém existem muitas controvérsias sobre qual abordagem demonstra maior efetividade na literatura científica. Há um consenso de que a dependência de crack exige um tratamento difícil e complexo, por ser uma doença crônica e grave que deverá ser acompanhada por longo tempo.
Não existe um único tratamento para eliminar o vício de crack: o dependente precisa ser atendido nas diversas áreas afetadas, tais como social, familiar, física, mental, questões legais, qualidade de vida e trabalho de estratégias de prevenção de recaída.
Devido aos baixos índices de motivação do dependente e, consequentemente, pouca aderência do paciente ao tratamento, a família e a rede social de apoio exercem um papel de fundamental importância durante o processo de intervenção terapêutica.
Contudo, a maioria dos estudos de revisão sobre famílias de dependentes químicos confirma que o universo familiar dessa população é frequentemente disfuncional.
Outra dificuldade no tratamento do vício de crack é a ausência de uma medicação específica que reduza o desejo pelos efeitos dessa substância.
Inúmeros ensaios clínicos já foram realizados com antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos de recaptação de serotonina, anticonvulsivantes e estabilizadores de humor, antipsicóticos e agentes aversivos. Contudo, os resultados não mostraram qualquer sucesso.
Caracterizam-se três modos de consumo
  • Baixo risco: com raros e leves problemas. Isto é excepcional entre usuários de crack, praticamente inexistente;
  • Uso nocivo ou abuso: que combina baixo consumo com problemas frequentes (observável em usuários recentes);
  • Dependência: alto consumo com graves problemas (é o perfil do usuário que busca serviço especializado).
O usuário também deve ter avaliada a sua disposição para o tratamento. É o que se chama classificar o “estágio motivacional”, que irá definir as estratégias e atividades para promoção do tratamento individual.
Investigação motivacional:
  • Pré-contemplação: O usuário não tem consciência de que precisa mudar. É resistente à abordagem e à orientação.
  • Contemplação: Reconhece o problema, aceita abordagem sobre mudança, mas continua valorizando e usando a droga.
  • Preparação: Reconhece o problema, percebe que não consegue resolver sozinho e pede ajuda. Esta fase pode ser passageira, daí ser necessário pronto atendimento quando solicitada pelo indivíduo.
  • Ação: O usuário interrompe o consumo, inicia tratamento voluntariamente e precisa ser acompanhado por longo tempo, mesmo melhorando, pois ainda corre grande risco de recaída, mantendo-se ambivalente diante da droga.
  • Manutenção: Nesta fase, o usuário está em abstinência, com risco de recaída, ainda possível pela ambivalência de sua relação com a droga e fatores de risco próprios de cada caso. Pensa nela com frequência. Cuida-se preventivamente do risco de recaída.
  • Recaída: Retorno ao consumo, após período longo de abstinência. É importante notar que recair não é voltar ao zero. Necessária esta percepção, para retomar a recuperação, a fim de que a culpa e a desesperança não destruam o novo empenho de melhora.
Quanto mais pronto e motivado o indivíduo, mais objetiva será a proposta terapêutica, enquanto a situação contrária implicará mais negociação e tempo. Devem ser tratados também problemas psiquiátricos paralelos ao uso do crack.
O uso de medicamentos é indicado para auxiliar na redução da vontade do uso da substância (supressão da “fissura”), aliviar os sintomas da abstinência e diminuir, ou mesmo inibir, o comportamento de busca.
O tratamento multidisciplinar é a melhor forma de intervenção nestes casos e permite resposta ampla às necessidades, principalmente, do usuário que precisará de abordagens terapêuticas por longo tempo.
A recuperação depende fundamentalmente do apoio familiar, da comunidade e da persistência da pessoa. Quanto mais precoce a busca de ajuda, mais provável o sucesso do tratamento.
Este é penoso, com grande sofrimento físico e psicológico, além de significativa possibilidade de recaídas. Mesmo o indivíduo abstinente pensa com frequência na droga. É preciso tomar isso em consideração, para não desanimar e ter coragem de continuar.
A ajuda profissional é indispensável, porém, amor, compreensão e paciência não são apelos demagógicos; mas, estratégias concretas de ajuda, que qualquer decisão pode proporcionar ao seu semelhante em risco. Manter-se bem informado e ter boa vontade são atitudes que podem contribuir muito para o tratamento dos dependentes químicos.
Não há tratamento único para o crack, mas é nos municípios, local onde as pessoas vivem, que deve ocorrer a atenção integral ao usuário de drogas e às famílias. A detecção precoce e imediata intervenção são importantes aliados no enfrentamento da questão.

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