A história sugere que a esquizofrenia atinge a humanidade há
milênios, relegando doentes ao isolamento social. Apesar de vastas e profundas
pesquisas, o transtorno - caracterizado por comportamento anormal e isolamento
emocional - continua sendo um grande mistério.
Cerca de 24 milhões de pessoas no mundo tem esquizofrenia.
Aproximadamente 10% das pessoas que têm o transtorno se suicidam.
Esquizofrênicos normalmente apresentam sintomas como ilusões, alucinações,
obsessão, delírios, além de alterações sociais e emocionais. O mal atinge
56.000 novos casos a cada ano no Brasil.
Embora esteja presente em toda a história da humanidade, o
transtorno não havia sido classificado de modo preciso até o fim do século 19.
No início do século 20, o psiquiatra alemão Eugen Bleuler criou o nome
"esquizofrenia" a partir das palavras gregas "divisão" e
"mente" para descrever a doença.
Ele escolheu esse termo baseado na ideia de dupla
personalidade, um equívoco comum, principalmente em função de os
esquizofrênicos apresentarem uma desconexão com a realidade. Bleuler também se
referia à doença usando o termo no plural, considerando que o quadro poderia se
apresentar de maneiras diferentes.
Embora normalmente sejam confundidas, a esquizofrenia é
diferente do transtorno de dupla personalidade, agora conhecido como transtorno
dissociativo de identidade. Normalmente, é difícil distinguir a esquizofrenia
de quadros como depressão ou transtorno bipolar.
A esquizofrenia normalmente se desenvolve em homens a partir
do fim da adolescência, próximo dos 20 anos, e nas mulheres por volta dos 25 a
30 anos. Sintomas de esquizofrenia podem se desenvolver gradualmente ou
rapidamente.
Os sintomas normalmente são classificados como positivos ou
negativos, no entanto, a razão desses nomes não tem relação com o fato de os
sintomas serem bons ou ruins. Na verdade, sintomas positivos se referem às
formas distorcidas ou exageradas de atividade normal, como por exemplo:
·
Ilusões
·
Alucinações
·
Discurso desorganizado
·
Atividades motoras sem propósito ou falta de
atividade (conhecida como comportamento catatônico)
Por outro lado, os sintomas negativos se referem aos que
apresentam ausência de comportamentos normais, como por exemplo:
·
Não conseguir expressar ou sentir emoções
·
Não sentir prazer na vida
·
Apresentar uma atitude de apatia geral
Alguns classificam os sintomas negativos como sendo
cognitivos ou relacionados à atenção e à memória. Os sintomas cognitivos são:
·
Falta de atenção
·
Falta de habilidades de memória
·
Incapacidade de planejar ou organizar
Outros sintomas são problemas no trabalho, de
relacionamentos e de higiene pessoal. Para que alguém seja diagnosticado como
esquizofrênico, de acordo com os padrões oficiais do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), um certo número de sintomas
precisa ser identificado e o quadro deve se estender, no mínimo, por seis
meses.
A esquizofrenia pode se apresentar de diversas formas que se
subdividem em diferentes categorias.
·
Paranoia - caracteriza-se por ilusões e
alucinações. Frequentemente, pessoas esquizofrênicas acreditam ser vítimas das
demais.
·
Desorganização - consiste em um pensamento
desorganizado, em comportamento que parece incoerente aos demais e falha na
expressão de emoções.
·
Catatonia - pessoas com esquizofrenia catatônica
podem ficar andando sem rumo ou falar excessivamente e sem razão, ou ainda,
podem ficar paradas e caladas.
·
Indiferença - este tipo de esquizofrenia é uma
categoria genérica para os que possuem uma mistura de sintomas que não se
encaixam bem nas demais categorias.
·
Residual - se alguém tem histórico de
esquizofrenia e passa por um período com sintomas negativos, sem apresentar os
sintomas positivos, pode-se caracterizar esquizofrenia residual.
Alguns quadros são bem semelhantes à esquizofrenia. O
transtorno esquizofreniforme, por exemplo, pode incluir sintomas positivos e
negativos de esquizofrenia, mas dura apenas de um a seis meses.
Um outro quadro semelhante é o transtorno esquizoafetivo.
Pessoas com transtorno esquizoafetivo sofrem tanto com sintomas de esquizofrenia
como com transtornos do humor (como depressão).
Muitos sintomas de esquizofrenia podem ter efeitos drásticos
sobre a vida do paciente em termos de atividades diárias, trabalho, vida social
e relacionamentos. Ilusões se referem a crenças falsas e alucinações dizem
respeito a falsas sensações.
Algumas ilusões típicas incluem crenças paranoicas sobre ser
vítima dos outros ou acreditar ser uma famosa figura histórica (como Napoleão
Bonaparte ou Jesus Cristo). Alucinações acontecem por meio de visões, de cheiros,
de sons, de sentimentos ou até mesmo de gostos. Normalmente, os esquizofrênicos
acreditam ouvir vozes. Essas vozes comentariam o comportamento da pessoa ou
dariam ordens à pessoa.
A reintegração de um esquizofrênico na sociedade tende a ser
difícil, considerando-se que o transtorno normalmente se desenvolve quando a
pessoa já tem profissão e é autossuficiente. A maioria não se casa, não forma
família, nem se dá bem no trabalho. Infelizmente, 5% dos esquizofrênicos acabam
virando moradores de rua.
Estes fatores podem contribuir para a alta porcentagem de
esquizofrênicos que cometem suicídio (10%). No entanto, a estatística considera
apenas casos de suicídio consumado. A estatística exata dos esquizofrênicos que
tentam o suicídio é desconhecida, mas acredita-se que fique entre 18 e 55%.
Os especialistas divergem quanto à questão de a
esquizofrenia deixar a pessoa violenta. Estatísticas mostram que a doença não
causa comportamento violento e que a maioria dos doentes não são violentos.
Geralmente, os que têm histórico de violência antes do
início do quadro tendem a continuar violentos, enquanto os não-violentos
dificilmente se apresentam esse comportamento.
No entanto, estudos demonstram que alguns esquizofrênicos
ficam mais propensos à violência do que a população em geral, se abusarem de drogas e álcool. E
quando ficam violentos, isso geralmente acontece com amigos ou com a família
dentro de casa. Notavelmente, as vítimas mais prováveis da violência são eles
próprios, haja vista o alto índice de suicídio.
Para amigos e familiares de esquizofrênicos, lidar com as
ilusões e com as alucinações é difícil. Recomenda-se não tentar competir nem
brincar com a falsa noção do esquizofrênico. Em vez disso, deve-se discordar
educadamente, falando que as pessoas possuem suas próprias opiniões.
Frequentemente, a esquizofrenia é tão súbita que é difícil
entender suas causas. Apesar da profundidade dos estudos e das pesquisas sobre
o transtorno, a causa ainda é pouco conhecida.
Cientistas não sabem o que causa a esquizofrenia, mas é
provável que ela se desenvolva a partir de fatores genéticos e circunstanciais.
Parentes de pessoas com esquizofrenia têm mais propensão de desenvolver a
doença.
Por exemplo, você tem 10% de chance de desenvolver o
transtorno se tiver um parente de primeiro grau (como pais ou irmão) com
esquizofrenia (comparada à chance de 1% da população em geral).
Além disso, um gêmeo idêntico de um esquizofrênico possui de
40% a 65% de chances de desenvolver o transtorno. Embora as estatísticas
indiquem que a genética certamente tem a ver com a doença, ela não explica
tudo.
Apenas analisar a genética não ajuda os cientistas a
determinar quem irá desenvolver o transtorno. É possível que diversos genes
diferentes influenciem o aparecimento da esquizofrenia, mas outros fatores
também contribuem para o transtorno.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que 90% dos
esquizofrênicos com tratamento inadequado vivem em países em desenvolvimento.
Apesar disso, um estudo feito nos anos 60 feito pela OMS descobriu que o índice
de recuperação de esquizofrenia nesses países era, na verdade, maior do que em
outras áreas industrializadas do mundo.
Além disso, um estudo posterior tentou corrigir eventuais
erros na amostragem do estudo inicial, mas a descoberta foi reconfirmada.
Enquanto apenas um terço dos esquizofrênicos nos países industrializados se
recuperam completamente, quase dois terços se recuperam nos países em
desenvolvimento.
Muitas teorias tentam explicar essa disparidade. Uma delas
diz que as pessoas nessas sociedades são, talvez, mais tolerantes e abertas aos
esquizofrênicos. Outra teoria alega que um esquizofrênico se beneficia com um
emprego produtivo adequado a suas capacidades individuais (tal conquista é mais
difícil em sociedades competitivas e industrializadas).
Talvez, a natureza do trabalho nos países em desenvolvimento
mais pobres, tais como agricultura de subsistência, seja um facilitador para o
esquizofrênico conseguir um emprego.
Algumas pesquisas revelam possíveis causas para sintomas
específicos de esquizofrenia. Por exemplo, as alucinações que muitos
esquizofrênicos vivenciam podem ter relação com a desconexão do indivíduo com a
realidade. Se suas ideias são separadas de suas verdadeiras sensações ou
emoções, eles podem não ser capazes de prever o próprio comportamento.
Nesse caso, se não conseguem reconhecer a própria voz
interna, eles podem chegar à conclusão de que ela não veio de si próprio. Isso
também pode explicar a razão pela qual muitos acreditam que uma outra pessoa os
esteja controlando.
Os cientistas têm buscado respostas através de estudos da
composição química do cérebro de esquizofrênicos. Os medicamentos que tratam a
esquizofrenia geram uma grande quantidade de dúvidas e respondem parcialmente
às dúvidas de como as funções cerebrais atuam no transtorno.
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