Sexo feminino é afetado com
mais intensidade e velocidade pelo álcool
Dr. Arthur Guerra de Andrade PSIQUIATRA - CRM 33807/SP
Nas últimas décadas, observamos cada vez mais a discussão sobre quais os
efeitos do álcool em nosso organismo. Mas um fator importante está sendo
deixado praticamente em todo o mundo: o álcool age de diferentes formas no sexo
feminino e no masculino. Junto com a independência das mulheres, pode-se
observar também um maior consumo de álcool nessa parcela da
população. Mediante tal cenário, é imprescindível explanar que as mulheres
apresentam características fisiológicas que as tornam mais susceptíveis aos
efeitos do álcool do que os homens.
Mesmo levando-se em consideração as diferenças entre os gêneros com
relação ao peso corporal, uma mesma quantidade de álcool afeta as mulheres mais
rapidamente do que os homens. Isso ocorre porque elas possuem menor quantidade
de água no organismo (o que faz com que o álcool fique mais concentrado) e menores
níveis das enzimas hepáticas aldeído desidrogenase e álcool desidrogenase,
responsáveis pelo metabolismo dessa substância. Sendo assim, elas tornam-se
mais expostas às consequências do uso de álcool do que os homens, inclusive
maior risco de desenvolver abuso ou dependência alcoólica.
Durante a gestação
Independentemente do gênero, o álcool está associado a 60 tipos de
doenças e lesões, como problemas no coração, hepáticos e dependência química
Quando falamos sobre o uso dessa substância pelas mulheres, sempre surge
o questionamento sobre os efeitos do álcool durante a gestação. Por atravessar
a placenta, ele pode causar efeitos deletérios no feto, incluindo
hiperatividade, déficits de atenção, aprendizado e memória. Uma vez que não há
estudos científicos que definam um limite "seguro" de consumo de
álcool, ou seja, que não afete o bebê, a abstinência é a melhor e única
recomendação para mulheres grávidas ou que estejam tentando engravidar. Elas
não devem, em hipótese alguma, beber.
Independentemente do gênero, o álcool está associado a 60 tipos de
doenças e lesões, incluindo prejuízos agudos, como acidentes de trânsito, e
crônicos - por exemplo, doenças cardíacas, hepáticas e transtornos relacionados
ao uso de álcool (abuso ou dependência). Para as mulheres, ainda vale à pena
enfatizar algumas consequências do uso nocivo dessa substância: suscetibilidade
de sofrer abuso sexual, sexo desprotegido e violência.
Ademais, nos últimos 20 anos, também sido explorada a relação entre o consumo
de álcool e o risco de desenvolver câncer de mama, motivo de grande preocupação
entre as mulheres. Pesquisas científicas indicam que mesmo o consumo de 10 g de
álcool por dia (aproximadamente o equivalente a 285 ml de cerveja, 120 ml de
vinho, ou 30 ml de destilado) aumenta o risco de câncer de mama, sendo que,
quanto maior o consumo de álcool, maior o risco.
Por fim, considero importante mencionar algumas diferenças entre homens
e mulheres acometidos pela dependência alcoólica. Elas ainda sofrem um enorme
preconceito e são muito mal compreendidas na sociedade - motivo pelo qual
geralmente procuram menos serviços de tratamento do que os homens. Além disso,
comorbidades psiquiátricas são mais comuns em mulheres, isso significa que a
dependência alcoólica ocorre concomitantemente a outro transtorno mental, como
a depressão, síndrome de pânico ou transtornos alimentares.
Considerando
os dados expostos, torna-se evidente que atenção especial deve ser direcionada
às diferenças entre os gêneros com relação ao uso de álcool (em especial, as
mulheres, mais vulneráveis aos efeitos dessa substância) - tanto em programas
de prevenção até o atendimento por profissionais ou serviços
especializados.
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