Consumo excessivo de bebida está ligado ao estresse
da vida profissional
A relação entre o consumo de álcool e
questões trabalhistas ganhou repercussão nacional nos últimos dias, quando a
Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado aprovou o Projeto de Lei do
Senado, Nº 48 de 2010, que proíbe a demissão por justa causa de trabalhadores
dependentes de álcool, como diz a atual lei. De acordo com o texto, a
dependência alcoólica passa a ser considerada uma doença crônica e
incapacitante, e o trabalhador acometido por tal doença terá direito à proteção
do Estado.
Além disso, o projeto garante ao empregado o
recebimento de auxílio-doença por causa da dependência ao álcool e estabilidade
no emprego por 12 meses após o término do benefício. Este projeto recebeu
decisão terminativa na CAS, ou seja, já pode ser encaminhado diretamente para a
Câmara dos Deputados sem passar pelo plenário do Senado. Caso aprovado, ele
segue para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Neste contexto, é importante esclarecer que o uso
abusivo de álcool é, de fato, um dos problemas mais sérios de saúde pública no
mundo inteiro. Apesar de alguns estudos científicos destacarem o consumo
abusivo do álcool como causa de desemprego, o contrário - o desemprego levando
ao aumento do consumo de álcool e o risco de desenvolver abuso ou dependência
alcoólica - também tem sido evidenciado de modo consistente.
O que acontece é que geralmente o uso abusivo de
álcool ocasiona não somente prejuízos pessoais e familiares, mas também
prejuízos no ambiente profissional, como diminuição na produtividade, aumento
de absenteísmo (falta ao trabalho), maior probabilidade de acidentes de
trabalho, entre outros.
"Mesmo em pequenas quantidades, o álcool pode
causar prejuízos à performance, qualidade e segurança no trabalho"
Segundo a Organização Internacional do Trabalho
(OIT), agência das Nações Unidas de informação, análise e orientação sobre o
trabalho, de 20% a 25% dos acidentes de trabalho no mundo envolvem pessoas que
estavam sob o efeito do álcool ou outras drogas. Além disso, os prejuízos do
uso de álcool no ambiente de trabalho acarretam custos enormes para a economia
do país.
Ao contrário do que muitos acreditam, mesmo em
pequenas quantidades, o álcool pode causar prejuízos à performance, qualidade e
segurança no trabalho. Uma dose-padrão de bebida alcoólica (350 ml de cerveja,
150 ml de vinho ou 50 ml de destilado) contém, aproximadamente, 10g de álcool
puro. Por isso, é preciso tomar cuidado, já que o álcool é uma substância
depressora do sistema nervoso central. Entre os problemas que o consumo de
álcool pode causar estão:
- Prejuízo do julgamento e da crítica
- Prejuízo da percepção, memória e
compreensão
- Diminuição da resposta sensitiva e retardo da
resposta reativa
- Diminuição da acuidade visual e visão periférica
- Descoordenação sensitivo-motora, prejuízo do
equilíbrio
- Sonolência
Outros fatores no ambiente de trabalho também podem
contribuir para o uso do álcool. Por exemplo, diversos estudos mostram que o
estresse tem um papel importante na relação entre álcool e trabalho, sendo que
os trabalhos mais estressantes (posições com maiores responsabilidades)
influenciariam mais o uso de álcool e transtornos relacionados (abuso e dependência).
As mulheres acabam sendo ainda mais prejudicadas
que os homens quando se trata do impacto da demanda excessiva de trabalho, pois
frequentemente enfrentam uma dupla jornada de trabalho ao chegar em casa (como
cuidar dos filhos e organizar a casa).
Com
tudo isso em mente, a preocupação com o abuso do álcool por trabalhadores é
coerente e envolve diferentes aspectos. Por isso, o encaminhamento de
trabalhadores com uso problemático de álcool aos serviços de saúde é de suma
importância, o que apoia o projeto de lei descrito no início deste artigo.
Mas
é preciso ir mais fundo: programas preventivos direcionados àqueles que ainda
não desenvolveram um transtorno relacionado ao uso de álcool, porém já
apresentam problemas decorrentes do uso dessa substância.
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