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4/01/2015

Uso de Álcool na Terceira Idade: prevalência, efeitos e padrões de uso nesta faixa etária


Alcohol Alert No.40: Alcohol and Aging. Bethesda, MD: the Institute
National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism - NIAAA. 

O Brasil conta hoje com aproximadamente 13 milhões de indivíduos com mais de 60 anos de idade. Esse grupo etário, que no momento representa 8% do total da população brasileira, é aquele que mais rapidamente vem crescendo no país. De fato, estima-se que nos próximos 25 anos o número de idosos vivendo no Brasil deverá praticamente duplicar, estabelecendo de forma definitiva uma verdadeira revolução demográfica em um país que, até pouco tempo, era considerado jovem. 

O envelhecimento da população traz, como uma de suas conseqüências, um aumento na prevalência dos problemas de saúde característicos do idoso: doenças cardiovasculares, neoplasias, diabetes, doenças reumatológicas, e alguns transtornos mentais como o alcoolismo. 


O alcoolismo é um dos principais problemas de saúde pública no mundo e não apresenta um padrão homogêneo no seu quadro clínico, evolução e fatores etiológicos. Essa heterogeneidade clínica é provavelmente a responsável pelo surgimento de inúmeras tipologias de alcoolismo, pois identificar grupos homogêneos de pacientes, que compartilham características clínicas similares - biológicas, psicológicas ou sociais- é importante para introduzir intervenções preventivas e terapêuticas mais específicas, e provavelmente mais eficazes.

Embora ainda existam muitas controvérsias quanto à existência ou não de quadro clínico do alcoolismo característico da população idosa, o diagnóstico e tratamento deste transtorno neste grupo se tornam cada vez mais importantes e justificam a elaboração de um programa terapêutico específico para esse segmento da população. 

Prevalência e padrões de uso do álcool nos idosos 

Pesquisas em diferentes grupos etários sugerem que os indivíduos com mais de 60 anos apresentam menos problemas relacionados ao uso do álcool, do que em pessoas mais jovens. No entanto, algumas pesquisas longitudinais sugerem que o padrão individual para uso do álcool permanece praticamente estável ao longo do tempo e variando de acordo com normas sociais ou aspectos históricos vigentes em determinada época. Por exemplo, o aumento da prevalência do uso do álcool ocorrido após a 2ª Guerra Mundial. 

Algumas pessoas começam a fazer uso do álcool mais tardiamente, o que aumenta a prevalência de dependência do álcool de início tardio. Ao contrário de muitos estudos epidemiológicos, estudos realizados em amostras clínicas evidenciaram um aumento significativo do uso de álcool na população idosa. As pesquisas mostram que 6 a 11% dos pacientes idosos admitidos em hospitais gerais apresentam sintomas de dependência alcoólica, inclusive as estimativas de admissão por alcoolismo nos serviços de emergência se equiparam às admissões por infarto. Apesar disto, a equipe hospitalar reconhece menos os casos de alcoolismo em idosos do que em pacientes mais jovens. 

A prevalência de problemas relacionados ao uso do álcool em casas de repouso chega a 49% em alguns estudos. 

As pesquisas sobre o consumo de álcool na terceira idade são susceptíveis a erros metodológicos, dentre eles, listamos os mais importantes abaixo: 

Os questionários utilizados para rastrear o uso de álcool na população não são adequados aos idosos por mensurarem as conseqüências sociais, legais e ocupacionais do uso indevido do álcool
Os problemas relacionados ao beber pesado podem estar camuflados pelas doenças clínicas ou psiquiátricas próprias dos idosos, a exemplo da depressão, insônia, doenças cardiovasculares e quedas freqüentes.

Em decorrência das doenças relacionadas ao álcool serem uma importante causa de morte prematura, os altos índices de mortalidade entre os bebedores pesados podem levar a uma sobrevivência maior da população idosa que consome níveis menores de álcool. 

Efeitos do álcool na terceira idade 


Muito embora problemas físicos e problemas relacionados ao uso do álcool possam estar associados tanto ao envelhecimento quando ao uso excessivo do álcool, o impacto da interação destes fatores ainda é desconhecida. 

São exemplos prováveis desta interação: 

O aumento da incidência de fraturas em indivíduos que consomem álcool. Este aumento pode ser explicado pela ocorrência de quedas durante o período de intoxicação ou por uma diminuição da densidade óssea em indivíduos alcoolistas.

Estudos na população geral sugerem que o consumo moderado de álcool (até duas doses de bebida alcoólica em homens e uma dose em mulheres) pode ter algum efeito protetor cardíaco. Devido às alterações orgânicas próprias do envelhecimento, o NIAAA recomenda que idosos não façam uso de mais do que uma dose de álcool por dia.

O avançar da idade em indivíduos que fazem uso do álcool pode ter um impacto sobre os índices de acidentes de carro e prejuízos associados, principalmente pelo fato da população idosa ser cada vez maior e portanto mais exposta à acidentes de trânsito.

Sabe-se que a média de medicamentos usada por indivíduos com mais de 60 anos é de 2 remédios/dia, e que o uso crônico do álcool leva a ativação de enzimas que degradam o álcool e algumas substâncias presentes nos remédios. Como a interação de medicamentos e álcool é comum em idosos, há um aumento do risco de efeitos negativos à saúde nesta população.

Transtornos depressivos são mais comuns em idosos do que em pessoas mais jovens e estes tendem a ocorrer conjuntamente ao uso abusivo do álcool. Dentre os idosos, os indivíduos que fazem uso abusivo do álcool apresentam um risco 16 vezes maior do que os não bebedores de morrer de suicídio.

O avançar da idade interfere na sensibilidade ao álcool? 

Poucos estudos sugerem que a sensibilidade aos efeitos do álcool aumenta com a idade. Uma das razões para isso se deve ao fato que os idosos atingem uma concentração alcoólica maior do que indivíduos mais jovens para a mesma quantidade ingerida de álcool. As maiores concentrações de álcool no sangue se devem à diminuição do líquido corporal, decorrente do fenômeno natural do envelhecimento, e conseqüentemente a uma diminuição da diluição do álcool no sangue. Isto significa que muito embora os idosos consigam metabolizar e eliminar o álcool de modo eficaz, eles apresentam um maior risco de intoxicação e efeitos adversos pelo álcool. 

O envelhecimento também interfere na capacidade do organismo se adaptar à presença do álcool, ou seja, tolerar o álcool. Apesar disto, idosos podem começar a ter problemas pelo uso do álcool mesmo que o seu padrão de uso continue o mesmo. 
Envelhecimento, álcool e cérebro 

Tanto o envelhecimento como o alcoolismo produzem déficits semelhantes no funcionamento intelectual e comportamental. O alcoolismo pode acelerar o envelhecimento normal ou levar ao envelhecimento prematuro do cérebro. 

O lobo frontal do cérebro é uma estrutura especialmente vulnerável ao uso crônico e intenso do álcool levando o indivíduo a um prejuízo intelectual intenso. Além disto, idosos alcoolistas se recuperam menos dos déficits cognitivos do que adultos. 

O uso crônico do álcool também pode acelerar o desenvolvimento de instabilidade postural e quedas relacionadas à idade. 

Tratamento do alcoolismo na terceira idade 

Estudos mostram que os idosos se beneficiam menos do tratamento para a dependência do álcool do que indivíduos jovens. O uso de medicamentos que auxiliam na manutenção da abstinência ainda não foi muito estudado. No entanto, alguns estudos sugeriram que o naltrexona pode ajudar a prevenir recaída em indivíduos de 50 a 70 anos.

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