Eric J. Nestler
O artigo publicado por Nestler, na Revista Science de junho de 2001, procurou revisar sucintamente a memória da dependência. Partindo da premissa de que “as drogas de abuso causam mudanças neuronais de longa duração, as quais são responsáveis pelos comportamentos observados entre os dependentes”, o autor procurou detectar na literatura científica estudos acerca das regiões anatômicas envolvidas em tais fenômenos.
Segundo Nestler, os processos moleculares que se sucedem no sistema nervoso durante a aprendizagem e o desenvolvimento da memória são similares aos observados durante o desenvolvimento da dependência química. Partilham, também, das mesmas alterações anatômicas, tais como a formação ou perda de dendritos nos neurônios. Apesar dos estudos atuais sobre as bases neurobiológicas da dependência química estarem centradas no sistema de recompensa, o hipocampo e a amigdala, regiões importantes para os processos de memória e aprendizado, estão intimamente relacionados ao sistema de recompensa e talvez até façam parte desse.
O autor identificou a relação entre o sistema glutamato (excitatório) e o sistema de recompensa, como uma importante responsável pelas mudanças observadas no dependente químico. O sistema glutamato também está envolvido na aprendizagem. O consumo de cocaína, por exemplo, faz aumentar as ligações sinápticas entre ambos, levando a uma maior secreção de neurotransmissores excitatórios nesse sistema.
A presença da cocaína é capaz de aumentar o potencial excitatório do glutamato, inclusive sobre o sistema de recompensa, de natureza dopaminérgica. Por sua vez, o sistema de recompensa (principalmente nas regiões relacionadas à memória, como o córtex pré-frontal e a amigdala) também estimula a atividade glutamatérgica. O nucleus accumbens, parte do sistema de recompensa, modula a intensidade das lembranças (memória) armazenadas no hipocampo. Outra estrutura intimamente relacionada ao sistema de recompensa, o striatum, é o responsável pelo controle dos impulsos.
Dessa forma, há evidências indicando uma convergência substancial entre as estruturas e circuitos neuronais responsáveis pela memória, aprendizado e dependência química. As modificações nessas regiões, ocasionadas pelo consumo de drogas, repercutem por longos períodos, em comportamentos tais como a impulsividade, a irritabilidade e a recaída. Há, ainda, necessidade de mais estudos eletrofisológicos, para que se entenda com mais precisão a natureza da memória de longa duração que sustenta a manutenção da dependência.








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