Escolha o Idioma

4/05/2015

A associação entre o uso de substâncias, relações sexuais incidentais e outros comportamentos sexuais entre estudantes adolescentes

As autoras do presente estudo abordam uma situação relatada com alguma freqüência entre os consumidores de substâncias psicoativas: a ocorrência de relação sexual não planejada, porém facilitada pelo consumo de drogas. Muitas perguntas se colocam quando tal questão é posta: a embriaguez que motivou o ato sexual foi intencional ou acidental? O ato sexual era de fato inesperado, não planejado ou não desejado? Mesmo não sendo, foi consensual naquele momento? É possível estabelecer a capacidade dos indivíduos lidarem com essa situação? Como é possível determinar se a abordagem do outro foi coerciva? Qual o grau de culpa que aparece no dia seguinte? 

Para abordar essa questão as autoras selecionaram randomicamente (ao acaso), 13.549 estudantes, entre 16 e 19 anos, de quatro estados canadenses. Apenas 13% destes não foram localizados pelo estudo. O questionário era auto-aplicativo, com 94 questões itens e três questões abertas. Não era necessária identificação. Quatro questões centrais foram abordadas: [1] presença de relação sexual, [2] tipo de planejamento desta relação, [3] número de parceiros, [4] uso de camisinha. 

O estudo mostrou que a grande maioria dos estudantes utilizava álcool mensalmente ou com freqüência superior. O tabaco era consumido diariamente por cerca de um quinto destes. Por fim, a maconha era utilizada mensalmente (ou além disso) por 15% dos alunos. O consumo de álcool e maconha era maior entre os homens e o consumo de tabaco igual para ambos sexos. 

Cerca de 40% dos estudantes tiveram ao menos uma relação sexual durante os últimos 12 meses. A chance aumentava com o avançar da idade e variou dependendo do estado canadense investigado. A chance de uma relação sexual aumentou proporcionalmente à intensidade do consumo de álcool, nicotina e maconha, sendo essa pelo menos duas vezes maior entre esses usuários. 

Entre os que tiveram relação sexual, 65% referiu que essa não foi planejada. A relação não planejada estava associada ao consumo de drogas em pouco mais da metade dos casos. O álcool foi a substância mais relacionada à presença de sexo não planejado. Além disso, boa parte (37%) dos estudantes relatou possuir múltiplos parceiros e a maioria (57%) não utilizava camisinha todas as vezes. 

Comparando os estudantes que utilizavam drogas durante a relação sexual, aqueles que já tinham a relação como certa tinham menos parceiros sexuais do que aqueles que tinham relações incidentais. O uso de drogas não apareceu como fator de risco para o intercurso sexual sem camisinha. Os adolescentes elegeram oito razões para o uso irregular da camisinha nas suas relações sexuais (figura 3).

A grande maioria aponta a falta da camisinha no momento do ato sexual como o principal motivo da irregularidade. A interferência da camisinha no prazer sexual e o consumo de drogas pelo próprio respondente foi o motivo apontado por cerca de um quarto dos estudantes.

FIGURA 3 : Razões para o uso irregular de camisinha entre os estudantes que tiveram relacionamento sexual nos últimos 12 meses (em porcentagem). As autoras concluíram que o consumo de álcool, tabaco ou maconha está relacionado com a presença de relação sexual entre os adolescentes. O consumo de álcool é o mais relacionado a presença de sexo sem planejamento. Tal comportamento torna-se mais freqüente conforme a intensidade do consumo se eleva. Não foi possível demonstrar causalidade nessa relação. O estudo demonstrou que os usuários de maconha tinham mais parceiros sexuais se comparados aos outros estudantes. Tal resultado, no entanto, não se repete em outros estudos. Apesar da maioria dos estudantes não usarem camisinha regularmente, não houve diferença entre os usuários e não-usuários de drogas. Há, porém, estudos que detectaram essa relação. Desse modo, os dois últimos achados não encontram consenso na literatura.
 

O presente estudo não conseguiu demonstrar que o consumo de drogas leva por si só ao sexo sem planejamento, tampouco, a outros comportamentos de risco, tais como múltiplos parceiros ou uso irregular da camisinha. O achado mais importante do estudo foi que o uso irregular da camisinha e a presença de múltiplos parceiros são mais freqüentes entre aqueles que usam álcool e/ou drogas e praticam sexo sem planejamento. As autoras sugerem que o assunto faça parte tanto das abordagens voltadas para a educação sexual, quanto das ações preventivas voltadas para o uso de substâncias psicoativas. O uso irregular da camisinha parece atingir os adolescentes como um todo e as abordagens disponíveis no momento parecem ser eficazes para informar, porém incapazes de motiva-los para o uso da mesma. O uso da camisinha pelo adolescente ainda permanece como um tabu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário