Medicamento que inibe o prazer de beber tem 50% de eficácia
Com 50% de eficácia (índice considerado alto pelos especialistas), a droga Naltrexona inibe a sensação de prazer proporcionada pela ingestão de álcool e está sendo encarada como uma nova esperança no combate à doença.
A indicação de Naltrexona associada às "técnicas cognitivas comportamentais", que consiste na mudança de hábitos, asseguram 50% de eficácia: "De cada dois pacientes um recai". Só a reeducação garante 35% de eficácia e apenas a desintoxicação, 20%.
A indicação do medicamento, combinada com terapias de apoio ao paciente e à família, tem alcançado "boa resposta" entre os pacientes que não precisam de internação - assistidos somente no consultório. Já entre os que estão internados, ainda não é possível avaliar o tratamento. Os pacientes estão na fase de internação e, portanto, não têm acesso a situações convidativas, estão protegidos. Uma resposta mais concreta só será viável no momento da alta.
O alcoolismo é uma doença bastante complexa, que interfere na vida social e profissional, e que "necessita de outros instrumentos, além dos medicamentosos". Neste sentido, a naltrexona deve ser vista como um coadjuvante no processo.
Droga é indicada para evitar frequentes recaídas
O que faz a Naltrexona ser considerada a droga mais eficaz no tratamento é a forma como ela atua no sistema nervoso central. O medicamento inibe a liberação de endorfina, substância que, na ingestão de álcool, dá a sensação de prazer. A vontade de beber pode permanecer na imaginação da pessoa. Mas como ela bebe e não sente o mesmo prazer da última vez em que bebeu a tendência é que perca a vontade de continuar bebendo. Por este motivo, é indicado para pacientes que recaem frequentemente.
O ganho da Naltrexona é ajudar o paciente neste momento difícil de manter-se abstêmio". A forma como a droga age é exclusiva. Ela não concorre com as outras drogas. Diferente dos benzodiazepínicos, usados na desintoxicação, a Naltrexona não gera dependência química.
O uso do medicamento tem de ser combinado com psicoterapias e programas de ajuda mútua (como o Alcoólicos Anônimos).
Professor comemora abstinência
Há cerca de dois anos o professor, que preferiu não se identificar, se deu conta de que o alcoolismo estava prejudicando sua vida particular e profissional. "Como é progressivo, fica difícil precisar quando se tornou um problema", explica.
O professor procurou o tratamento médico a base de Naltrexona por influência da mulher dele, que havia lido sobre a eficácia do medicamento. O uso do medicamento exige que o fígado esteja em boas condições. Isto é fundamental, salienta. Este estágio de preparação para o início do tratamento dura um pouco mais de uma semana, estima.
O professor tem 47 anos, bebe há alguns anos e nunca havia procurado nem assistência médica nem apoio junto a grupos como o Alcoólicos Anônimos (AA). "Sempre achei que iria resolver na base do 'eu decido, vou botar minha vida em ordem'. Mas a dependência química é um problema físico. Quando você para de beber por conta, no quarto ou quinto dia tem problemas orgânicos.
Só mesmo recorrendo a tratamentos químicos", explica. Ele observa que ainda é cedo para avaliar de forma conclusiva a eficácia do tratamento, mas está "satisfeito por ter parado de beber".
Ainda assim, explica, a droga "diminuiu violentamente o impulso pelo álcool e a necessidade de ter de se controlar". "Neste sentido, o medicamento fez efeito de maneira fantástica", aprova. Ele ressalta a vantagem da Naltrexona sobre outros medicamentos no que diz respeito a ausência de efeitos colaterais. "Tive menos problemas do que tenho quando tomo um analgésico", compara. Somente os quatro primeiros dias da medicação foram "dramáticos", confessa. Neste período, explica, "o medicamento não eliminava completamente a vontade de beber".
Passado este período sem ingerir álcool, o professor se sente bem. "Estou tão bem quanto antes de entrar nesta loucura", compara. "É claro que ainda tenho de me controlar. Sempre que for a uma festa e me oferecerem bebida terei que recusar. Mas encaro isto como um jogo em que o empate não faz sentido".
O professor está consciente de que precisará administrar esta questão "pelo resto da vida". Mas acha que o controle que o alcoolismo exige não é maior do que aquele exigido das pessoas que precisam evitar açúcar e gordura ou fazer hemodiálise.








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