Demência é a perda ou redução progressiva das capacidades cognitivas,
de forma parcial ou completa, permanente ou momentânea e esporádica, suficientemente
importante a ponto de provocar uma perda de autonomia do indivíduo.
Dentre as causas potencialmente reversíveis estão disfunções metabólicas,
endócrinas e hidroeletrolíticas, quadros infecciosos, déficits nutricionais, distúrbios
psiquiátricos, como a depressão (pseudodemência depressiva) e as doenças passíveis
de tratamento neurocirúrgico, principalmente a hidrocefalia do idoso (hidrocefalia
de pressão normal), hematoma subdural crônico, higroma e tumores cerebrais.
Tipicamente, essa alteração cognitiva provoca a incapacidade de realizar
atividades da vida diária. Os déficits cognitivos podem afetar qualquer das funções
cerebrais, particularmente as áreas da memória, a linguagem (afasia), a atenção,
as habilidades visuo construtivas, as práxis e as funções executivas, como a resolução
de problemas e a inibição de respostas.
A demência pode afetar também a compreensão, a capacidade de identificar
elementos de uso cotidiano, o tempo de reação e os traços da personalidade. Durante
a evolução da doença, pode-se observar a perda de orientação espaço-temporal e de
identidade. À medida que a doença avança, os dementes também podem apresentar traços
psicóticos, depressivos e delírios ou alucinações.
Embora a alteração da memória possa, em poucos casos, não ser um
sintoma inicialmente dominante, é alteração típica da atividade cognitiva nas demências
- sobretudo para a mais frequente delas, ligada à doença de Alzheimer -, e sua presença
é condição essencial para o diagnóstico. A depender da origem etiológica, a demência
pode ser reversível ou irreversível.
Prevalência
O envelhecimento da população leva a um aumento das doenças crônicas
e degenerativas, acarretando um maior custo-paciente na área de saúde e a necessidade
de inúmeras adaptações sociais, ambientais e econômicas. É provável que em 2025,
o Brasil se torne o 6o país com mais idosos no mundo então é importante
começar o trabalho preventivo o mais cedo possível.
O número de vítimas de demências aumenta exponencialmente com a idade
afetando apenas 1,1% dos idosos entre 65 e 70 anos e mais de 65% depois dos 100
anos. A doença de Alzheimer, o tipo de demência mais comum, é mais comum em mulheres
enquanto as demências vasculares, segundo tipo mais comum, são mais comuns em homens.
A prevalência média de demência, acima dos 65 anos de idade, é de
2,2% na África, 5,5% na Ásia, 6,4% na América do Norte, 7,1% na América do Sul e
9,4% na Europa.
Tipos
A demência é um termo geral para várias doenças neurodegenerativas
que afetam principalmente as pessoas da terceira idade. Todavia a expressão demência
senil, embora ainda apareça na literatura, tende a cair em desuso. A maior parte
do que se chamava demência pré-senil é de fato a doença de Alzheimer, que é a forma
mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas de idade.
Embora existam casos raros diagnosticados de pessoas na faixa de
idade que vai dos 17 anos aos 50 anos e a prevalência na faixa etária de 60 aos
65 anos esteja abaixo de 1%, a partir dos 65 anos ela praticamente duplica a cada
cinco anos. Depois dos 85 anos de idade, atinge 30 a 40% da população. Segundo a
Organização Mundial da Saúde a exposição aos disruptores endócrinos poderá desencadear
a doença deAlzheimer.
A demência pode ser descrita como um quadro clínico de declínio geral
na cognição como também de prejuízo progressivo funcional, social e profissional.
As demências mais comuns são:
* Demência no mal de Alzheimer;
* Demência vascular e;
* Demência com corpos de Lewy.
No dicionário internacional de doenças outras demências são classificadas
como:
CID 10 - F02.0 Demência da doença de Pick
CID 10 - F02.1 Demência da doença de Creutzfeldt-Jakob
CID 10 - F02.2 Demência da doença de Huntington
CID 10 - F02.3 Demência da doença de Parkinson
CID 10 - F02.4 Demência da doença pelo vírus da imunodeficiência
humana (HIV)
Esses diagnósticos não são exclusivos sendo possível, por exemplo,
a existência de Alzheimer simultaneamente com uma demência vascular. Outras classificações
incluem a demência na Síndrome de Korsakoff.
Demência reversiva
Há fatores que podem causar demência e que podem ser revertidos.
O uso de drogas
Depressão
Hipotiroidismo, encefalite de Hashimoto
Perda progressiva de visão e audição
Infecções , SIDA, sífilis
Deficiência de vitamina b12, ácido fólico: anemia.
Tumores, hidrocefalia
Reações tóxicas a medicamentos: antidepressivos, antihistaminicos,
anticonvulsivos, corticosteroides, sedativos, antiparkinsonianos, anticonvulsivos,
antiansiolíticos
Tratamento integrativo
O tratamento integrativo que pretendemos avaliar foi proposto no
estudo de. A amostra do estudo foi formada por 35 pacientes (20 do sexo masculino,
15 do feminino) com uma idade média de 71 anos, diagnosticados com demência moderada
e depressão. O tratamento proposto pelos autores incluiu: antidepressivos (sertralina,
citalopram ou venlafaxina XR, apenas ou em combinação com bupropiona XR), inibidores
de colinesterase (donepezil, rivastigmine ou galantamine), como também vitaminas
e suplementos (multivitaminas, vitamina E, ácido alfa lipóico, omega-3 e coenzima
Q-10).
As pessoas participantes do estudo foram encorajadas a modificar
a sua dieta e estilo de vida bem como a executarem exercícios físicos moderados.
Os resultados do estudo demonstraram que a abordagem integrativa não apenas diminuiu
o declínio cognitivo em 24 meses, mas até mesmo melhorou a cognição, especialmente
a memória e as funções executivas (planejamento e pensamento abstrato).
Memória Reconstrutiva
Um estudo publicado no "Journal of Experimental Psychology:
Learning, Memory and Cognition" conclui que os declínios que se verificam na
memória reconstrutiva são indicio de um comprometimento cognitivo leve e de demência
de Alzheimer, e não se verificam no envelhecimento saudável. "A memória reconstrutiva
é muito estável em indivíduos saudáveis??, de modo que um declínio neste tipo de
memória é um indicador de comprometimento neurocognitivo" revela Valerie Reyna.
Exercícios Mentais
O exercício mental tem um papel fundamental na preservação de uma
boa saúde mental. Os exercícios deverão ser variados, com um certo grau de complexidade,
ensinar algo de novo e devem ser agradáveis e feitos com regularidade. Deve-se treinar
o cálculo mental, ler em voz alta, aprender uma língua nova e treinar as imagens
mentais (imagery),e também treinar os sentidos: da audição da visão e do cheiro.
A perda da sensibilidade do cheiro, relacionada com o primeiro nervo craniano, é
uma dos primeiras capacidades a serem afetados pela demência.
Um estudo do Wellcome Trust Centre for Neuroimaging do UCL demonstrou
que o treino intensivo de aprendizado levado a cabo pelos taxistas de Londres para
obterem o certificado de motorista de táxi altera a estrutura do cérebro aumentando
o volume da matéria cinzenta na área do hipocampo posterior. O estudo revela que
o cérebro mantém a plasticidade mesmo em adultos e o treino mental intenso é fundamental
para a criação de novos neurônios.
Videogames
Jogos multitarefa
Uma pesquisa, publicada na revista Nature, revela que pessoas idosas
com dificuldades cognitivas podem treinar a mente e melhorar a atenção (o foco de
longo prazo) e a memória de curto prazo. Os neurocientistas revelam que alguns dos
idosos de 80 anos que participaram da pesquisa conseguiram melhorar o seu desempenho
e apresentar um padrão neurológico igual ao de um jovem de 20 anos.
O treino com o jogo multi-tarefa, NeuroRacer, um jogo muito simples,
desenvolvido por uma equipa da Universidade da Califórnia permitiu ainda registar
a alteração que se processa ao nível das ondas cerebrais.
Jogos de estratégia
Um outro estudo da UCL e Queen Mary University of London, usando
o jogo StarCraft, também revela que após várias horas de treino há uma melhoria
na flexibilidade cognitiva. O Jogo Halo também foi objeto de estudo, e revela que
é capaz de melhorar a capacidade de decisão ao torná-la mais rápida.
Tiro em primeira pessoa
Um estudo da universidade dos Países Baixos indica que os jogos de
Tiro em primeira pessoa melhoram a memória de curto prazo e a agilidade mental.
Há ainda a possibilidade do habito de jogar determinados tipos de jogos melhorar
o bem estar e diminuir a possibilidade de ter depressão.
Segundo o Dr Adam Gazzaley "Isso confirma nossa compreensão
de que os cérebros de adultos mais velhos, como os dos jovens, são 'plásticos' -
o cérebro pode mudar em resposta ao treinamento focado".
Um estudo revelou que jogar o jogo “Super Mario 64” provocava aumento
nas regiões do cérebro responsáveis pela orientação espacial, pela formação da memória
e planejamento estratégico, bem como uma melhoria das capacidades motoras finas
das mãos.
Jogar jogos diferentes, cada jogo focado no desenvolvimento específico
de uma capacidade cognitiva distinta, e não apenas um só tipo de jogo, treina e
desenvolve um leque mais vasto de capacidades cognitivas.
Exercícios físicos
Em questão aos exercícios físicos, segundo Pérez e Carral (2008),
estes apresentam um potencial de melhorar a plasticidade do cérebro, reduzindo as
perdas cognitivas ou minimizando o curso progressivo da demência. A importância
dos exercícios físicos no tratamento da demência pode ser apoiada por outros estudos.
O levantamento de pesos, comparado com outros exercícios revelou
melhores resultados embora um conjunto de exercícios envolvendo levantamento de
pesos, aeróbica e equilíbrio tivesse melhorado as capacidades linguísticas.
Alimentação
Uma dieta funcional e exercícios físicos associados também demonstraram
serem protetivos contra o desenvolvimento da demência ou para diminuir o curso progressivo
dessa patologia. Não obstante, pessoas com tendência a demência que utilizaram vitaminas
antioxidantes (vitaminas C e E, por exemplo) apresentaram menor perda cognitiva
que pessoas que não utilizaram tal recurso. A deficiência de vitamina D está associada
a um risco significativamente maior do desenvolvimento de demências incluindo a
doença de Alzheimer.
Pessoas com demência tenderam a ter uma alimentação mais pobre em
macronutrientes, cálcio, ferro, zinco, vitamina K, vitamina A e ácidos gordurosos,
o que pode acentuar o curso degenerativo da doença. Aspecto que justifica a administração
de suplementos alimentares para essa população, devido à dificuldade de se alimentar,
um dos sintomas que tendem a fazer parte do quadro de demência.
Em relação ao ácido alfalipóico e à coenzima Q10, potentes antioxidantes
cerebrais, ou seja, redutores dos radicais livres, existem evidências em estudos
que essas substâncias também contribuem significativamente para a redução da progressão
das perdas cognitivas em pessoas com demência, além de serem agentes protetivos.
Tais substâncias são produzidas naturalmente pelo organismo, mas essa produção tende
a reduzir-se com a idade.
Comportamentos saudáveis
Metade das demências podem ser prevenidas ou pelo menos adiadas mantendo
uma vida social, intelectual e profissional ativa. Uma vida com compromissos e ativa
também revelou melhorar as perdas cognitivas em demências mais moderadas. O uso
do fumo também pode vulnerabilizar as pessoas para a demência. Desse modo, a mudança
do estilo de vida é um fator fundamental para minimizar o curso das perdas evidenciadas
na demência.
Portanto, podemos observar que, no estudo de Bragin et al. (2005),
foram utilizados como tratamento da demência vários recursos disponíveis para tanto.
Ocorreu uma melhora significativa em funções cognitivas importantes, prejudicadas
pela demência moderada.
Assim, o diagnóstico precoce da demência é um aspecto importante
para que os tratamentos existentes possam diminuir a progressão das perdas cognitivas,
funcionais, sociais e profissionais em pessoas com essa patologia. Conforme demonstrou
o estudo de Bragin et al. (2005), o tratamento deve ser integrativo, envolvendo
uma equipe multidisciplinar, com medicações específicas e suplementação alimentar,
além de uma mudança do estilo de vida que inclui exercícios físicos moderados, cessação
do uso do fumo, uma alimentação adequada e uma vida com o máximo possível de atividades.
Uma abordagem integrativa pode reduzir o curso das perdas cognitivas
da demência, porém, ainda não existem tratamentos que possam "curar" integralmente
essa patologia. Assim, a prevenção ao longo da vida é o melhor recurso existente.
É importante durante a vida manter uma alimentação saudável e exercícios físicos
regulares; bem como, na aposentadoria, torna-se imprescindível manter um estilo
de vida ativo.
Psicoterapia
É frequente a comorbidade entre depressão, transtornos de ansiedade,
distúrbios comportamentais e transtornos delirantes e demências, por isso é importante
o acompanhamento psicológico regular. Esse acompanhamento inclui os familiares pois
a demência causa grande impacto nos cuidadores, especialmente na família nuclear,
os deixando vulneráveis a transtornos psicológicos como síndrome de Burnout (exaustão
física e psicológica). São necessárias mais políticas públicas de apoio aos cuidadores
pois, quando exaustos, tendem a colocar os idosos em asilos aumentando seriamente
as despesas do governo.
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