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10/15/2014

Intoxicação alcoólica crônica

O regular e excessivo consumo de bebidas alcoólicas é responsável pela toxicodependência mais frequente em toda a população mundial.

O alcoolismo é uma doença que pode ser provocada quer por fatores psicológicos como sociais. Entre os fatores psicológicos com predisposição para a doença, destaca-se a influência que um meio em que se aceita ou se promove o consumo regular de álcool pode ter nas crianças e nos adolescentes, pois nestas idades a imitação dos atos dos adultos é extremamente importante no processo de aprendizagem. Para além disso, como o álcool tem um efeito desinibidor e atenuante da ansiedade, muitas pessoas têm tendência para consumir bebidas alcoólicas quando se encontram em situações difíceis ou, muito frequentemente, para vencerem inibições ou compensarem frustrações.

A influência do comércio e da publicidade, associada a alguns hábitos e ações socialmente aceites, como a ideia de que as bebidas alcoólicas são imprescindíveis em qualquer tipo de celebrações, também constituem um papel muito importante na motivação para se beber, logo, na origem desta doença.

Por último, é preciso referir que o desencadear dos mecanismos de dependência está intimamente relacionado com o álcool etílico, uma das características próprias desta droga.

Intoxicação aguda

A intoxicação alcoólica aguda, que costuma originar um estado de embriaguez (ou bebedeira), é provocada pelos efeitos deletérios do álcool sobre o sistema nervoso central.

O álcool ingerido com as bebidas alcoólicas costuma ser absorvido no tubo digestivo, de onde passa para a circulação sanguínea. Embora uma pequena quantidade do álcool seja eliminada através da urina, do suor e da respiração, a restante permanece na circulação sanguínea, onde é captada e gradualmente metabolizada pelas células hepáticas.

Os efeitos tóxicos do álcool sobre o sistema nervoso central são proporcionais à taxa de alcoolemia, a denominação atribuída à concentração de álcool no sangue. De fato, uma taxa de alcoolemia de 0,5 g/l provoca uma sensação de tranquilidade e bem-estar, enquanto que se essa taxa alcançar ou superar os 0,8 g/l costuma proporcionar a perda do sentido de autocrítica, desinibição e euforia. A partir dos 2 g/l, a alcoolemia causa dificuldades nas funções intelectuais, uma significativa diminuição dos reflexos, problemas ao nível da locomoção e da articulação das palavras e alterações do estado de ânimo. Uma taxa de alcoolemia de 3 g/l provoca um estado de coma e com 4 g/l costuma originar a morte do indivíduo por parada cardiorrespiratória.

Manifestações e evolução

Intoxicação alcoólica crônica

O regular e excessivo consumo de bebidas alcoólicas durante um prolongado período de tempo costuma provocar uma série de lesões orgânicas, correspondentes a uma intoxicação alcoólica crônica, que dá origem a várias repercussões significativas a nível afetivo, social e profissional. No entanto, estas lesões orgânicas e as suas manifestações podem levar entre 5 a 20 anos a evidenciarem-se, consoante a quantidade de álcool regularmente ingerida, a frequência das intoxicações agudas, o estado físico e nutricional do paciente e a sua relação com o meio que o rodeia.

As principais manifestações físicas da intoxicação alcoólica crônica costumam corresponder a determinados problemas hepáticos, do tubo digestivo e do sistema nervoso.

Os problemas hepáticos, normalmente provocados pelo efeito nocivo do álcool sobre as células do fígado, evoluem de forma progressiva ao longo dos anos. Na fase inicial da sua evolução, o álcool vai provocando a deterioração do fígado, um problema que normalmente não manifesta qualquer sintoma, no qual as células do fígado vão acumulando gordura no seu interior. Em alguns casos, o álcool também pode provocar uma grande inflamação do fígado, uma hepatite alcoólica que se manifesta através de dores abdominais, náuseas e vômitos, debilidade geral e coloração amarela da pele e da mucosa (icterícia). Embora estes dois problemas possam ceder, se se deixar de consumir álcool, as lesões continuam a evoluir até provocarem outros problemas mais graves e irreversíveis, tais como a cirrose alcoólica e a insuficiência hepática, com todas as suas complicações.

Os problemas digestivos característicos do alcoolismo são provocados pela inflamação crônica originada pela presença do álcool na mucosa do tubo digestivo. Entre as suas consequências mais graves destacam-se a úlcera gastroduodenal, o câncer do esôfago e o do estômago, a síndrome de má absorção intestinal, um problema que impede a correta absorção dos nutrientes, piora o estado nutricional do paciente e provoca lesões no encéfalo devido ao défice de vitamina B1.

Os problemas neurológicos são provocados pelos efeitos tóxicos do álcool sobre as células nervosas e pelo déficit sustentado de vitamina B1. Nas fases iniciais, costumam provocar uma encefalopatia, a qual se caracteriza por perda de memória, irritabilidade e delírios persecutórios. São igualmente frequentes as alucinações auditivas, em que o paciente ouve vozes inexistentes que o ameaçam. 

Embora estes problemas neurológicos sejam reversíveis, caso não se interrompa a ingestão de álcool, as lesões irão continuar a evoluir até originarem outro tipo de doenças igualmente típicas do alcoolismo, mas estas muitas vezes irreversíveis. Uma delas é a polineurite, uma inflamação simultânea de vários nervos, que se manifesta por formigueiros e atrofia muscular nos membros. 

Uma outra é a doença de Korsakov, que normalmente se caracteriza por uma considerável perda da memória, que o paciente tenta esconder com recordações inventadas. Por fim, um outro problema neurológico frequente é a encefalopatia de Gayet-Wernicke, que costuma provocar perda de memória e manifestações visuais, tais como perda da acuidade visual e paralisia dos globos oculares.

Por outro lado, a dependência do álcool, os problemas orgânicos provocados pela intoxicação alcoólica crônica e os eventuais episódios de intoxicação aguda acabam por deteriorar de forma evidente a relação do paciente com o ambiente afetivo, social e profissional que o rodeia, sendo por isso frequente que o alcoólico instigue com alguma frequência discussões domésticas, maltrate as crianças, abandone o lar, perca o emprego e, por fim, fique numa situação de completo isolamento, tendo na bebida o seu único refúgio.

O álcool etílico ou etanol, conhecido como álcool, apesar de ser uma substância utilizada para fins médicos devido às suas propriedades antissépticas, é igualmente um componente que define e está sempre presente nas bebidas alcoólicas. Embora a aquisição destas bebidas seja legal, o álcool deve ser considerado uma droga, pois pode provocar uma evidente dependência psíquica e física, tolerância ou necessidade de aumentar progressivamente as doses, de modo a conseguir os mesmos efeitos e uma síndrome de abstinência com graves manifestações. No fundo, o álcool tem, à semelhança de todas as substâncias psicoativas, as características necessárias para a dependência.

Síndrome de abstinência

Uma das manifestações mais típicas do alcoolismo é a síndrome de abstinência consequente da interrupção da ingestão de álcool. Os sinais e sintomas mais característicos são tremor, debilidade, diarreia e suores abundantes. Normalmente, estes sinais e sintomas manifestam-se de manhã, quando o álcool começa a desaparecer da circulação sanguínea, podendo diminuir de intensidade, se o paciente beber alguma bebida alcoólica, o que constitui uma das causas - e também uma desculpa - para que muitos indivíduos alcoólicos comecem a beber logo após acordarem, o que constitui um claro sinal de que a pessoa desenvolveu uma grande dependência do álcool.

Em alguns casos, as manifestações da abstinência são mais graves, como sucede, por exemplo, com o conhecido delirium tremens, que se costuma manifestar alguns dias após a interrupção da ingestão de bebidas alcoólicas, caracterizando-se por uma grande agitação psicomotora, tremor, suores, febre intensa, desorientação, confusão mental, convulsões e alucinações assustadoras, sobretudo visuais, nas quais o paciente costuma ter zoopsias (alucinações visuais de animais, geralmente insetos, répteis ou outros animais repugnantes) aterrorizadores que o perseguem e ameaçam. Embora os sintomas costumem, na maioria dos casos, desaparecer espontaneamente ao fim de alguns dias, convém hospitalizar o paciente, pois através do seu oportuno tratamento consegue-se atenuar o risco de morte.

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