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9/29/2014

Consumo de drogas durante a gestação

A maconha é a substância ilícita mais consumida pelas mulheres em idade gestacional. Utilizada secularmente em algumas culturas orientais, começou a ganhar popularidade na Europa a partir do século XVI. Alvo de constantes polêmicas ao longo dos séculos, o consumo da maconha sempre alternou períodos de maior e menor aceitação. Nos últimos tempos, em virtude de novas polêmicas, a substância voltou a ser bastante estudada.
Ainda preso a discussões apaixonadas, por vezes baseadas em dogmas ou tabus, o consumo de maconha carece ainda de mais e melhores estudos, para que o tema possa receber a importância que merece. O consumo de maconha durante a gestação enfrenta o mesmo problema. Os estudos são recentes e as conclusões, incompletas. Além disso, boa parte destes é retrospectiva (baseada em informações de prontuários ou entrevistas com a gestante após o final da gestação), o que tornam imprecisas informações importantes, tais como a dose consumida, o período da gestação em que o consumo se deu, a presença de outros fatores (além da maconha) que poderiam causar danos semelhantes aos encontrados.
Alguns estudos afirmam que a maconha parece não possuir ação teratogênica, isto é, não causa malformações à constituição física do feto. Parece também, não afetar significativamente o andamento da gestação. Estudos demonstram que a maconha é capaz de aumentar a frequência e a intensidade das contrações uterinas. Esse aumento, no entanto, parece não está associado ao trabalho de parto prematuro. O princípio ativo da maconha (delta-9-THC) mostrou-se capaz de diminuir a concentração sanguínea de hormônio luteinizante (LH) e de prolactina, sem ação sobre o hormônio folículo-estimulante (FSH), em estudos animais. Isso gerou um aumento do tempo da gestação e aumento dos índices de natimortos. A repercussão disso em seres humanos, no entanto, é desconhecida e parece não ser observada na prática clínica.
A redução de peso e tamanho ao nascer foi detectada por alguns estudos. Tal diferença, no entanto, parece desaparecer até o final do primeiro ano de vida. Nas primeiras semanas de vida, os achados são divergentes. Há aqueles que detectaram sintomas neurológicos nos primeiros dias de vida (tremores, espasmos espontâneos e dificuldades de sucção quando amamentados) e outros que não encontraram qualquer diferença, mesmo entre usuárias pesadas.
O maior problema para os recém-nascidos expostos à maconha durante a gestação refere-se aos processos cognitivos superiores (atenção, memória, raciocínio.). Como a estruturação destes continua se desenvolver até a puberdade, essas alterações são detectadas tardiamente. Parece haver alterações relacionadas à estabilidade da atenção e prejuízos na aquisição de informações de natureza não-verbal. Isso parece não afetar a inteligência global. Porém, repercutem de maneira negativa sobre os processos relacionados ao planejamento e a avaliação das respostas captadas do ambiente externo. Há, ainda, relatos de impulsividade, hiperatividade e distúrbios de conduta entre esses indivíduos. De qualquer maneira, a maconha parece interferir de algum modo sobre o desenvolvimento do psiquismo infantil, podendo causar prejuízos em alguns casos.
Na tentativa de descobrir quais as consequências do uso de maconha na gravidez, uma equipe de neonatologistas, psicólogos e psiquiatras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) investigou como a droga interfere no desenvolvimento neurológico do feto. A análise de bebês cujas mães consumiram maconha nos três últimos meses de gravidez constatou, nos primeiros dias de vida, que eles eram mais estressados, menos sensíveis a estímulos externos, mais chorões e mais difíceis de serem acalmados de crises de choro do que bebês que não foram expostos à droga.
A maconha é a droga ilícita mais consumida do mundo e cujos efeitos são os menos estudados. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores avaliaram a coordenação motora, o reflexo, o tônus e procuraram sinais de estresse em 561 filhos de mães adolescentes saudáveis.
Foram estudados bebês com peso apropriado para a idade gestacional de 37 a 42 semanas que não enfrentaram nenhuma dificuldade durante o parto e cujas mães não consumiram nenhum outro tipo de droga durante a gravidez. Por meio da análise do fio de cabelo das adolescentes, o grupo detectou que 26 delas tinham consumido maconha nos últimos meses de gestação.
O teste foi confirmado com o estudo das primeiras fezes da criança, onde também foram encontrados resíduos da droga. Durante os exames, os bebês que tiveram contato com a maconha se mostraram mais inquietos, desatentos e estressados. Os pesquisadores observaram que eles tinham um sono conturbado e mais dificuldade de acordar. Neles, aqueles tremores e movimentos bruscos, bastante comuns entre recém-nascidos, apareceram com mais frequência.
Entre os testes para avaliar a atenção das crianças, os pesquisadores observaram sua capacidade de acompanhar com os olhos o movimento de uma bola vermelha, movimentada em frente ao rosto de cada uma delas. Algumas das que foram expostas à maconha mal olharam para a bola e a maioria delas demonstrou pouco interesse. Os cientistas utilizaram outros objetos como um chocalho e um apito para testar a reação a estímulos visuais e sonoros e concluíram que estas crianças eram mais desatentas.
Esse comportamento alterado nas primeiras 72 horas de vida significa que podem existir problemas na formação do cérebro dos bebês; é provável que o consumo de maconha pela mãe altere no bebê a comunicação entre os neurônios acionada pelo neurotransmissor dopamina e associada ao controle de sensações como a excitação e a irritabilidade.
O desenvolvimento do cérebro não depende apenas de fatores biológicos, mas também do ambiente e da maneira como esses bebês serão criados. Pequenos detalhes como a atenção, o cuidado, a disponibilidade da mãe e de outros familiares de estarem sempre perto, estimulando a percepção do bebê com brincadeiras e com afetividade, são decisivos para sua formação.
Sabendo disso, os pesquisadores decidiram traçar um perfil social, econômico e psicológico dessas mães adolescentes, para ter uma ideia do ambiente em que eles serão criados e quais as chances de obter um desenvolvimento saudável. O perfil foi traçado a partir de entrevistas com todas as 928 mães adolescentes que tiveram filhos durante os dois anos de estudo. Nesse número estão incluídas as 561 mães que participaram da pesquisa sobre a maconha e as demais mães adolescentes que haviam sido excluídas do estudo porque não atendiam ao padrão de saúde ou porque durante a gravidez consumiram outros tipos de droga.
Os pesquisadores encontraram um quadro desanimador: uma em cada cinco adolescentes, com faixa etária média de 15 anos, já era mãe do segundo filho e 90,4% delas estavam desempregadas. Mais de metade das meninas tinha baixa renda e até sete anos de escolaridade. Durante a gestação, 294 contaram usar álcool, 17 maconha e cocaína e 6 relataram uso de drogas injetáveis. Além disso, 8 em cada 10 adolescentes não pretendiam ser mães e por causa da gravidez 67,3% pararam de estudar.
Para complicar ainda mais esse quadro, em outro momento da vida, boa parte delas já tinha enfrentado problemas de violência doméstica, 81 tinham sido atacadas com arma e 51 meninas foram vítimas de violência sexual. Só no decorrer da gravidez a polícia precisou ser acionada em 21 ocasiões para resolver conflitos domésticos. E, como se não bastassem dificuldades, como a inexperiência da mãe adolescente e sua falta de maturidade, a equipe constatou que uma em cada três jovens tinha pelo menos uma desordem psiquiátrica, um índice bastante alto que provavelmente representa mais um obstáculo na criação e no crescimento sadio da criança.
O diagnóstico mais frequente foi depressão, transtorno do estresse pós-traumático e ansiedade. É bem provável que todos esses problemas não tenham se desenvolvido de maneira independente. Alguns estudos sugerem que quanto maior a pobreza, mais baixo o nível educacional e menor o suporte familiar, maiores são as taxas de gravidez na adolescência, associada ao consumo de drogas. Agora os pesquisadores pretendem acompanhar o crescimento dessas crianças tanto para descobrir quais são os efeitos de longo prazo da exposição do feto à maconha como para auxiliar e contribuir para seu desenvolvimento saudável.
No entanto, até o momento, o que a equipe constatou foi que os efeitos provocados pela exposição do feto à maconha apenas se somam a outros problemas encontrados no ambiente em que essas crianças irão crescer – alguns deles são sérios como a exposição à violência – e que provavelmente interferem de modo significativo no futuro delas.
Estou ótima, não posso usar alguma coisa só de vez em quando?
Tudo bem que tem um bebezinho crescendo aí na sua barriga, mas, mesmo assim -- pensa você --, a vida continua e, de vez em quando, dá aquela vontade de badalar e curtir as coisas de sempre com os amigos, incluindo as eventuais drogas recreativas que apareçam pelo caminho.
Sim, você tem toda razão que a "vida continua" e já se sabe há muito tempo que gravidez não é doença ou motivo para as mulheres ficarem isoladas ou de cama. O problema é que tudo que entra no seu corpo passa para o nenê através da corrente sanguínea e da placenta, principalmente substâncias químicas.
O bebê acaba sendo um consumir de drogas também, mesmo sem ter feito essa escolha. Ele é muito pequenininho para isso, os efeitos das substâncias no corpo e especialmente no cérebro dele podem durar para sempre.
Se você faz parte de um grupo que bebe muito e usa drogas, às vezes tem que fazer a opção de se afastar. A futura mãe precisa investir na saúde da família como um todo e no ambiente em que a criança crescerá. Isso inclui também o cigarro, motivo pelo qual os especialistas aconselham as futuras mães a parar de fumar.
Aí pode vir alguém e dizer para você que maconha é uma planta, uma substância da natureza que não vai fazer mal nem para você e nem para o seu filho. Só que o que as pesquisas mais recentes mostram não é bem assim.
Por mais que o filho de uma mulher que usou drogas nasça com a aparência normal, o comportamento da criança poderá não ser normal, nem na fase de bebê nem mais para a frente, quando já tiver idade de frequentar um colégio, segundo um estudo sobre uso de drogas por adolescentes na gravidez da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Crianças cujas mães consumiram maconha durante a gravidez tenderam a ser mais irritadas, mais impulsivas e menos atentas -- características que podem comprometer, e muito, a vida escolar, profissional, emocional e social de qualquer pessoa e de qualquer família.
Toda droga tem o mesmo efeito na gravidez?
Veja a seguir alguns dados mais específicos sobre os efeitos que outras substâncias tóxicas podem ter na gestação e no feto:
Cocaína:
A cocaína é um poderoso estimulante do sistema nervoso central e seu uso na gravidez pode causar problemas bem graves e, em certos casos, irreversíveis. No primeiro trimestre, pode aumentar as chances de um aborto espontâneo e nos últimos meses, de um parto prematuro.
Além disso, pode levar a placenta a se separar da parede uterina antes da hora do parto -- uma condição conhecida como descolamento de placenta, que provoca forte sangramento e pode ser fatal tanto para a mãe como para o bebê.
A maior parte dos bebês expostos ao uso de cocaína antes do nascimento não necessariamente terá uma anomalia, mas pesquisas indicam que correm sim mais riscos de isso acontecer (e os riscos são maiores conforme a frequência com que a mãe consome a droga). Algumas das anomalias associadas à cocaína são defeitos cerebrais, no rosto, nos olhos, coração, intestino e órgãos genitais do bebê.
Outro problema é que filhos de usuárias muitas vezes passam por crises de abstinência da droga, tendo maior dificuldade para ser confortados e se assustando ao menor toque ou barulho. Esse tipo de complicação pode durar de oito a dez semanas depois do nascimento ou até mais.
Ecstasy:
De acordo com uma pesquisa do Serviço de Informações de Teratologia Britânico, houve maior número de más-formações (especialmente de membros e coração) entre os bebês de consumidoras de ecstasy, especialmente se associado a outras drogas, do que de mães que não tomavam nada.
Heroína:
A heroína provoca diversos efeitos negativos no bebê em desenvolvimento, como menor crescimento fetal, nascimento prematuro -- cerca de metade dos filhos de mães viciadas em heroína nasce antes do tempo e até a morte mesmo antes do nascimento.
Crianças expostas à heroína durante a vida uterina costumam sofrer sintomas fortíssimos de crise de abstinência depois do parto, necessitando de tratamento que pode levar semanas. Entre os sintomas estão irritabilidade, desassossego e dificuldade de comer e respirar, e só especialistas no assunto são treinados para lidar corretamente e de maneira segura com esse tipo de situação.
Tem como parar?
Independentemente de você ser uma usuária casual de drogas ou fazer uso pesado delas, parar nem sempre é fácil, mesmo durante a gravidez. É uma decisão que exige coragem e muitas vezes uma mudança radical de estilo de vida por um bebê que você nem conhece ainda ou ama.
Por mais que a decisão seja exclusivamente sua, é sempre bom ter ajuda por perto nessas horas. Não deixe de comentar com o médico ou a enfermeira que acompanha seu pré-natal se você usou ou usa algum tipo de droga. Provavelmente vai dar vergonha de falar, mas lembre-se de que eles são profissionais que já viram coisa muito pior e são treinados para auxiliar e cuidar dos seus pacientes da melhor maneira possível.
Você certamente não será a primeira grávida nessa situação que eles conheceram e sua vontade de se informar mostrará o quanto você se importa com a saúde do bebê que está para chegar. Profissionais de saúde também têm o compromisso de não contar para ninguém o que é discutido dentro do consultório.
E quem usou sem saber que estava grávida? Vai fazer mal para o bebê?

O primeiro passo é realmente não usar mais nada, para não correr mais risco nenhum, ainda que seja no finalzinho da gravidez. Não pense que agora já não vai fazer mais diferença. Faz sim. Procure não ficar desesperada achando que seu filho vai nascer com mil problemas. A verdade é que não dá para ter certeza, por isso é tão importante fazer um pré-natal direitinho, com todas as consultas e ultrassons que forem pedidos.

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