A posição do Budismo em relação às bebidas alcoólicas
Vivemos em uma sociedade onde, de forma explícita ou implícita, o
consumo de bebidas alcoólicas é estimulado e visto com grande simpatia. O
consumidor contumaz dessas bebidas inebriantes é visto como um sujeito
simpático, alegre, sociável e engraçado.
Mesmo com as tentativas hipócritas de disfarçar (como o “beba com
moderação”), o que a mídia vive pregando é “ficar bêbado é legal, é engraçado,
não é uma coisa muito séria”. As propagandas de cerveja mostram sempre um
indivíduo feliz, cercado de belas mulheres, em um ambiente paradisíaco e com
muitos amigos.
Se você for a um bar, padaria ou lanchonete depois das 18:00 (o chamado
“Happy-Hour”) verá que mais de 90% das pessoas presentes estão consumindo álcool.
Se for a uma festa, com toda certeza, terá a oportunidade de ver alguém
embriagado. Se sair à noite em um sábado, será quase impossível não encontrar
alguém visivelmente alterado pelo consumo de bebidas alcoólicas.
A TV mostra, o tempo todo, o bêbado como um tipo engraçado. É engraçado
ver o sujeito falando mole, trançando as pernas e cometendo todo tipo de
imbecilidade. O programa “Pânico na TV” recentemente lançou o quadro “Pânico
Delivery” onde um imbecil alcoolizado é colocado dentro de uma limusine, com a
desculpa de conduzi-lo seguramente ao seu lar, para ser ridicularizado,
rebaixado e exposto da forma mais indigna possível.
O bêbado é excitado por duas fulanas seminuas que depois o rebaixam. É
submetido a lamber tábuas, fivelas de cinto (para ganhar o beijinho de uma das
finíssimas moças de família), dançar, cantar e depois tomar um banho vestido
com fantasias das mais ridículas. Claro que todo esse quadro degradante é
mostrado como uma pilhéria, algo engraçadíssimo, nada reprovável ou ridículo.
A maioria dos bêbados submetidos a esse tratamento “VIP” são jovens,
com idades que variam entre 18 e 30 anos. A cultura da bebida alcoólica é
estimulada por uma vida vazia de ideias, vazia de buscas significativas e vazia
de sentido. Encher a cara é um modo de anestesiar os sentidos, de esconder a
própria insignificância ou a covardia de buscar alçar voos mais altos.
O Budismo condena de forma veemente o uso de bebidas inebriantes. A
mente intoxicada e alterada não tem a capacidade de perceber com precisão
aquilo que se passa no momento e isso, é matar a oportunidade de se obter
sabedoria, compreensão e de se observar adequadamente o que ocorre à sua volta.
Em relação à conduta moral, o álcool é destrutivo pois altera a
capacidade de julgamento e de avaliação entre a conduta correta e a incorreta.
Dois ou três copos de bebida alcoólica são suficientes para destruir o
seguimento da Nobre Senda Óctupla.
Uma pessoa embriagada não tem correta compreensão, não consegue
formular um propósito correto, não usa sua boca para falar palavras corretas,
não tem como ter uma conduta moral correta, não tem capacidade para empreender
um esforço correto, não consegue ter atenção correta e muito menos meditar
corretamente de que forma seja.
Além disso, quem vende bebida alcoólica não tem um meio de vida
correto, assim como quem bebe e estimula os outros a fazerem o mesmo. Em suma,
todo o embasamento do Budismo é jogado no abismo por quem se utiliza de bebidas
alcoólicas.
Os efeitos da bebida alcoólica sobre a sociedade também são trágicos.
Quantas famílias foram desfeitas, quantos indivíduos caíram na indigência,
quantos crimes foram cometidos, quantas vidas foram ceifadas graças ao consumo
do álcool? É impossível precisar um número, mas deve chegar à casa dos milhões
com tranquilidade.
O álcool destrói o corpo, causa centenas de danos no cérebro, no
fígado, nos rins, no coração e em muitos outros órgãos. É criminosa a
indulgência com que se vê aos jovens se viciando pouco a pouco nesse hábito
maldito. É criminoso o pai ou a mãe que se apresentam embriagados perante seus
filhos ou que permitem que eles bebam, seja o que for e em que quantidade for.
O alcoolismo deve ser combatido como se combate uma praga, uma
desgraça, uma chaga purulenta que ameaça destruir todo o organismo onde se
instalou. Não existe nenhuma justificativa racional para o consumo de bebidas
alcoólicas. Só o vício e o interesse daqueles que fabricam essa arma de
autodestruição justificam seu consumo.
Um Budista deve ser um inimigo implacável contra o uso de inebriantes. O
Sutra Upasakasila condena veementemente o uso de álcool e de inebriantes. Aqui
também deve ficar claro que é totalmente absurdo se ofertar bebidas alcoólicas
em um altar budista. É equivalente a zombar dos ensinos do Buda
O budismo da última novela das 6 (Joia Rara) da Globo, recém acabada, pra
variar foi uma bobajada só. O budismo não tem muito a ver com aqueles discursos
sobre “somos todos um” ou “paz mundial” – como a maioria foi educada pela TV a pensar.
Isso é ideologia da Nova Ordem Mundial
adaptada no movimento “Nova Era”, que é uma linha espiritualista, não budista.
Esse estilo apresentado na novela não tem nada a ver com o ensinamento original
de Buda. Eu queria ver um monge budista com coragem pra dizer que o ensinamento
original de Buda defende, por exemplo, que pessoas que bebem bebidas alcoólicas
vão pro inferno. Esse “budismo de propaganda” não passa de lorota pra fascinar adolescente.
Alguns dirão que este budismo é ocidentalizada, que a contracultura o deturpou…
Sim. De acordo com o budismo oriental, original, aqueles que não seguem os cinco
preceitos dedicados aos seguidores leigos (para os monges, existem 8 ou 10 preceitos),
tanto homens quanto mulheres, não podem escapar do inferno, do reino dos fantasmas
famintos ou do reino animal (renascer como animal), ou, em resumo, os “destinos
infelizes”. Os cinco preceitos são:
1.
Não matar.
2.
Não roubar.
3.
Não consumir embriagantes (bebidas alcoólicas e eu
colocaria os alucinógenos no meio).
4.
Não mentir.
5.
Não praticar sexo inapropriado (dentro do contexto
da Índia e do Nepal, acredito que o único apropriado seja dentro do casamento).
Especificamente sobre o preceito relacionado aos embriagantes, está escrito
assim no cânone: “Eu tomo o preceito de abster-me do vinho, álcool e outros embriagantes
que causam a negligência.”
Palavra-chave: negligência.
Em outro sentido, podemos entender a crítica budista contra os embriagantes
porque ela vai exatamente na mão contrária do Nobre Caminho Óctuplo, já que a embriaguez
é uma sabotagem contra a própria mente: contra a percepção correta, contra a atenção
correta, contra o meio de vida correto (que compreende o respeito para com o próprio
corpo; a bebida altera o funcionamento do organismo), concentração correta e também
do esforço correto. Nesse sentido, a bebida alcoólica vai na contramão de tudo que
prega o budismo.
Em um dos seus sermões atribuídos à Buda, ele explica mais:
“Quando alguém bebe vinho, álcool
e outros embriagantes que causam a negligência, então, tendo o beber vinho, álcool
e outros embriagantes que causam a negligência como condição, ele produz medo e
animosidade no aqui e agora, produz medo e animosidade em vidas futuras, experimenta
concomitantes mentais de dor e tristeza mas ao abster-se de beber vinho, álcool
e outros embriagantes que causam a negligência, ele nem produz medo e animosidade
no aqui e agora, nem produz medo e animosidade em vidas futuras, nem experimenta
concomitantes mentais de dor e tristeza: pois naquele que se abstém de beber vinho,
álcool e outros embriagantes que causam a negligência, aquele medo e animosidade
é dessa forma silenciado.”
Um discípulo leigo (não-monge) só pode dizer que superou o inferno
quando supera os efeitos negativos do álcool e de outras práticas.
“Quando, num nobre discípulo,
as cinco formas de medo e animosidade [a respeito dos cinco preceitos] estão silenciadas;
quando ele possui os quatro fatores para entrar na correnteza; e quando, através
da sabedoria, ele viu claramente e penetrou completamente o nobre método, então
se ele quiser poderá afirmar acerca de si mesmo: ‘O inferno foi destruído, os ventres
animais foram destruídos; o estado dos fantasmas famintos foi destruído; os estados
de privação, os destinos infelizes foram destruídos! Eu entrei na correnteza, não
mais destinado aos mundos inferiores, com o destino fixo, tendo a iluminação como
destino!’”
Pra ser mais exato, uma pessoa dada a bebidas, segundo o budismo, pode ir
para o (a) inferno, o (b) reino dos fantasmas famintos e (c) renascer como um animal.
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