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8/23/2014

A posição do Budismo em relação às bebidas alcoólicas
Vivemos em uma sociedade onde, de forma explícita ou implícita, o consumo de bebidas alcoólicas é estimulado e visto com grande simpatia. O consumidor contumaz dessas bebidas inebriantes é visto como um sujeito simpático, alegre, sociável e engraçado.
Mesmo com as tentativas hipócritas de disfarçar (como o “beba com moderação”), o que a mídia vive pregando é “ficar bêbado é legal, é engraçado, não é uma coisa muito séria”. As propagandas de cerveja mostram sempre um indivíduo feliz, cercado de belas mulheres, em um ambiente paradisíaco e com muitos amigos.
Se você for a um bar, padaria ou lanchonete depois das 18:00 (o chamado “Happy-Hour”) verá que mais de 90% das pessoas presentes estão consumindo álcool. Se for a uma festa, com toda certeza, terá a oportunidade de ver alguém embriagado. Se sair à noite em um sábado, será quase impossível não encontrar alguém visivelmente alterado pelo consumo de bebidas alcoólicas.
A TV mostra, o tempo todo, o bêbado como um tipo engraçado. É engraçado ver o sujeito falando mole, trançando as pernas e cometendo todo tipo de imbecilidade. O programa “Pânico na TV” recentemente lançou o quadro “Pânico Delivery” onde um imbecil alcoolizado é colocado dentro de uma limusine, com a desculpa de conduzi-lo seguramente ao seu lar, para ser ridicularizado, rebaixado e exposto da forma mais indigna possível.
O bêbado é excitado por duas fulanas seminuas que depois o rebaixam. É submetido a lamber tábuas, fivelas de cinto (para ganhar o beijinho de uma das finíssimas moças de família), dançar, cantar e depois tomar um banho vestido com fantasias das mais ridículas. Claro que todo esse quadro degradante é mostrado como uma pilhéria, algo engraçadíssimo, nada reprovável ou ridículo.
A maioria dos bêbados submetidos a esse tratamento “VIP” são jovens, com idades que variam entre 18 e 30 anos. A cultura da bebida alcoólica é estimulada por uma vida vazia de ideias, vazia de buscas significativas e vazia de sentido. Encher a cara é um modo de anestesiar os sentidos, de esconder a própria insignificância ou a covardia de buscar alçar voos mais altos.
O Budismo condena de forma veemente o uso de bebidas inebriantes. A mente intoxicada e alterada não tem a capacidade de perceber com precisão aquilo que se passa no momento e isso, é matar a oportunidade de se obter sabedoria, compreensão e de se observar adequadamente o que ocorre à sua volta.
Em relação à conduta moral, o álcool é destrutivo pois altera a capacidade de julgamento e de avaliação entre a conduta correta e a incorreta. Dois ou três copos de bebida alcoólica são suficientes para destruir o seguimento da Nobre Senda Óctupla.
Uma pessoa embriagada não tem correta compreensão, não consegue formular um propósito correto, não usa sua boca para falar palavras corretas, não tem como ter uma conduta moral correta, não tem capacidade para empreender um esforço correto, não consegue ter atenção correta e muito menos meditar corretamente de que forma seja.
Além disso, quem vende bebida alcoólica não tem um meio de vida correto, assim como quem bebe e estimula os outros a fazerem o mesmo. Em suma, todo o embasamento do Budismo é jogado no abismo por quem se utiliza de bebidas alcoólicas.
Os efeitos da bebida alcoólica sobre a sociedade também são trágicos. Quantas famílias foram desfeitas, quantos indivíduos caíram na indigência, quantos crimes foram cometidos, quantas vidas foram ceifadas graças ao consumo do álcool? É impossível precisar um número, mas deve chegar à casa dos milhões com tranquilidade.
O álcool destrói o corpo, causa centenas de danos no cérebro, no fígado, nos rins, no coração e em muitos outros órgãos. É criminosa a indulgência com que se vê aos jovens se viciando pouco a pouco nesse hábito maldito. É criminoso o pai ou a mãe que se apresentam embriagados perante seus filhos ou que permitem que eles bebam, seja o que for e em que quantidade for.
O alcoolismo deve ser combatido como se combate uma praga, uma desgraça, uma chaga purulenta que ameaça destruir todo o organismo onde se instalou. Não existe nenhuma justificativa racional para o consumo de bebidas alcoólicas. Só o vício e o interesse daqueles que fabricam essa arma de autodestruição justificam seu consumo.
Um Budista deve ser um inimigo implacável contra o uso de inebriantes. O Sutra Upasakasila condena veementemente o uso de álcool e de inebriantes. Aqui também deve ficar claro que é totalmente absurdo se ofertar bebidas alcoólicas em um altar budista. É equivalente a zombar dos ensinos do Buda
O budismo da última novela das 6 (Joia Rara) da Globo, recém acabada, pra variar foi uma bobajada só. O budismo não tem muito a ver com aqueles discursos sobre “somos todos um” ou “paz mundial” – como a maioria foi educada pela TV a pensar. Isso é ideologia da Nova Ordem Mundial adaptada no movimento “Nova Era”, que é uma linha espiritualista, não budista.
Esse estilo apresentado na novela não tem nada a ver com o ensinamento original de Buda. Eu queria ver um monge budista com coragem pra dizer que o ensinamento original de Buda defende, por exemplo, que pessoas que bebem bebidas alcoólicas vão pro inferno. Esse “budismo de propaganda” não passa de lorota pra fascinar adolescente.
Alguns dirão que este budismo é ocidentalizada, que a contracultura o deturpou… Sim. De acordo com o budismo oriental, original, aqueles que não seguem os cinco preceitos dedicados aos seguidores leigos (para os monges, existem 8 ou 10 preceitos), tanto homens quanto mulheres, não podem escapar do inferno, do reino dos fantasmas famintos ou do reino animal (renascer como animal), ou, em resumo, os “destinos infelizes”. Os cinco preceitos são:
1.       Não matar.
2.       Não roubar.
3.       Não consumir embriagantes (bebidas alcoólicas e eu colocaria os alucinógenos no meio).
4.       Não mentir.
5.       Não praticar sexo inapropriado (dentro do contexto da Índia e do Nepal, acredito que o único apropriado seja dentro do casamento).
Especificamente sobre o preceito relacionado aos embriagantes, está escrito assim no cânone: “Eu tomo o preceito de abster-me do vinho, álcool e outros embriagantes que causam a negligência.”
Palavra-chave: negligência.
Em outro sentido, podemos entender a crítica budista contra os embriagantes porque ela vai exatamente na mão contrária do Nobre Caminho Óctuplo, já que a embriaguez é uma sabotagem contra a própria mente: contra a percepção correta, contra a atenção correta, contra o meio de vida correto (que compreende o respeito para com o próprio corpo; a bebida altera o funcionamento do organismo), concentração correta e também do esforço correto. Nesse sentido, a bebida alcoólica vai na contramão de tudo que prega o budismo.
Em um dos seus sermões atribuídos à Buda, ele explica mais:
 “Quando alguém bebe vinho, álcool e outros embriagantes que causam a negligência, então, tendo o beber vinho, álcool e outros embriagantes que causam a negligência como condição, ele produz medo e animosidade no aqui e agora, produz medo e animosidade em vidas futuras, experimenta concomitantes mentais de dor e tristeza mas ao abster-se de beber vinho, álcool e outros embriagantes que causam a negligência, ele nem produz medo e animosidade no aqui e agora, nem produz medo e animosidade em vidas futuras, nem experimenta concomitantes mentais de dor e tristeza: pois naquele que se abstém de beber vinho, álcool e outros embriagantes que causam a negligência, aquele medo e animosidade é dessa forma silenciado.”
Um discípulo leigo (não-monge) só pode dizer que superou o inferno quando supera os efeitos negativos do álcool e de outras práticas.
 “Quando, num nobre discípulo, as cinco formas de medo e animosidade [a respeito dos cinco preceitos] estão silenciadas; quando ele possui os quatro fatores para entrar na correnteza; e quando, através da sabedoria, ele viu claramente e penetrou completamente o nobre método, então se ele quiser poderá afirmar acerca de si mesmo: ‘O inferno foi destruído, os ventres animais foram destruídos; o estado dos fantasmas famintos foi destruído; os estados de privação, os destinos infelizes foram destruídos! Eu entrei na correnteza, não mais destinado aos mundos inferiores, com o destino fixo, tendo a iluminação como destino!’”
Pra ser mais exato, uma pessoa dada a bebidas, segundo o budismo, pode ir para o (a) inferno, o (b) reino dos fantasmas famintos e (c) renascer como um animal.


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