Acredita-se que a bebida alcoólica teve origem na Pré-História, mais precisamente durante o período Neolítico quando houve a aparição da agricultura e a invenção da cerâmica. A partir de um processo de fermentação natural ocorrido há aproximadamente 10.000 anos o ser humano passou a consumir e a atribuir diferentes significados ao uso do álcool. Os celtas, gregos, romanos, egípcios e babilônios registraram de alguma forma o consumo e a produção de bebidas alcoólicas.
A droga mais antiga da humanidade
O álcool não é privilégio de nenhum povo sobre a terra. Ao
contrário, é considerado a única droga comum a todas as civilizações. A
fabricação de vinho de uva começou provavelmente no período Neolítico, 8500
anos antes de Cristo. Nas montanhas Zagros, no norte do Irã, uma equipe do
Centro de Arqueologia Química da Universidade da Pensilvânia, nos Estados
Unidos, encontrou um jarro de 7000 anos com capacidade para 9 litros de vinho.
Mais tarde, houve no delta do Rio Nilo uma pujante indústria
vinícola, por volta de 2700 a. C. Beber vinho era um hábito tão comum que
vários faraós foram enterrados com jarros, provavelmente na crença de que
poderiam continuar bebendo depois da morte.
A cerveja é um pouco mais recente. Aparece uns 1500 anos antes de
Cristo. Com um microscópio eletrônico, arqueólogos da Universidade de
Cambridge, na Inglaterra, descobriram que os egípcios usavam malte para
produzir açúcar usado na fermentação. Em outras palavras: conheciam técnicas de
cervejaria.
Os egípcios obtinham seu malte a partir de cevada. Só que em vez de
adicionar lúpulo, como se faz hoje, eles acrescentavam um tipo raro de trigo.
Ao repetir a receita, os pesquisadores descobriram uma boa cerveja. Sem o
amargo do lúpulo, a mistura ganhava um sabor doce e frutado. Era dourada, mas
menos transparente que as atuais.
Vieram depois os destilados, que são mais fortes. Curiosamente, a
técnica não foi desenvolvida para fazer bebidas. Proibidos de beber pelo
islamismo, os árabes foram os primeiros a produzir álcool destilado para
fabricar perfumes. Os europeus aprenderam com eles e no século XI já há
registro de aguardente na Itália.
A Embriaguez de Noé
Em uma das mais belas passagens do Antigo Testamento da Bíblia (Gênesis 9.21)
Noé, após o dilúvio, plantou vinha e fez o vinho. Fez uso da bebida a ponto de se
embriagar. Reza a bíblia que Noé gritou, tirou a roupa e desmaiou. Momentos depois
seu filho Cam o encontrou "tendo à mostra as suas vergonhas". Foi a primeiro
relato que se tem conhecimento de um caso de embriaguez. Michelangelo, famoso pintor
renascentista (1475-1564), se inspirou nesse episódio pintar um belíssimo afresco,
com esse nome, no teto da Capela Sistina, no Vaticano. Nota-se, assim, que não apenas
o uso de álcool, mas também a sua embriaguez, são aspectos que acompanham a humanidade
desde seus primórdios.
E começou Noé a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha.
Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e puseram-na sobre ambos os seus
ombros, e indo virados para trás, cobriram a nudez do seu pai, e os seus rostos
estavam virados, de maneira que não viram a nudez do seu pai.
Grécia e Roma
O solo e o clima na Grécia e em Roma eram especialmente ricos para o cultivo
da uva e produção do vinho. Os gregos e romanos também conheceram a fermentação
do mel e da cevada, mas o vinho era a bebida mais difundida nos dois impérios tendo
importância social, religiosa e medicamentosa.
No período da Grécia Antiga o dramaturgo grego Eurípedes (484 a.C.-406 a.C.)
menciona nas Bacantes duas divindades de primeira grandeza para os humanos: Deméter,
a deusa da agricultura que fornece os alimentos sólidos para nutrir os humanos,
e Dionísio, o Deus do vinho e da festa (Baco para os Romanos). Apesar do vinho participar
ativamente das celebrações sociais e religiosas greco-romanas, o abuso de álcool
e a embriagues alcoólica já eram severamente censurados pelos dois povos.
Egito Antigo
Os egípcios deixaram documentado nos papiros as etapas de fabricação, produção
e comercialização da cerveja e do vinho. Eles também acreditavam que as bebidas
fermentadas eliminavam os germes e parasitas e deveriam ser usadas como medicamentos,
especialmente na luta contra os parasitas provenientes das águas do Nilo.
Idade Média
A comercialização do vinho e da cerveja cresce durante este período, assim
como sua regulamentação. A intoxicação alcoólica (bebedeira) deixa de ser apenas
condenada pela igreja e passa a ser considerada um pecado por esta instituição.
Idade Moderna
Durante e Renascença passa a haver a fiscalização dos cabarés e tabernas,
sendo estipulados horários de funcionamento destes locais. Os cabarés e tabernas
eram considerados locais onde as pessoas podiam se manifestar livremente e o uso
de álcool participa dos debates políticos que mais tarde vão desencadear na Revolução
Francesa.
Idade Contemporânea
O fim do século 18 e o início da Revolução Industrial é acompanhado de mudanças
demográficas e de comportamentos sociais na Europa. É durante este período que o
uso excessivo de bebida passa a ser visto por alguns como uma doença ou desordem.
Ainda no início e na metade do século 19 alguns estudiosos passam a tecer considerações
sobre as diferenças entre as bebidas destiladas e as bebidas fermentadas, em especial
o vinho. Neste sentido, Pasteur em 1865, não encontrando germes maléficos no vinho
declara que esta é a mais higiênica das bebidas.
Durante o século 20 países como a França passam a estabelecer a maioridade
de 18 anos para o consumo de álcool e em janeiro de 1920 o estado Americano decreta
a Lei Seca que teve duração de quase 12 anos. A Lei Seca proibiu a fabricação, venda,
troca, transporte, importação, exportação, distribuição, posse e consumo de bebida
alcoólica e foi considerada por muitos um desastre para a saúde pública e economia
americana. Foi no ano de 1952 com a primeira edição do DSM-I (Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders) que o alcoolismo passou a ser tratado como doença.
No ano de 1967, o conceito de doença do alcoolismo foi incorporado pela Organização
Mundial de Saúde à Classificação Internacional das Doenças (CID-8), a partir da
8ª Conferência Mundial de Saúde. No CID-8, os problemas relacionados ao uso de álcool
foram inseridos dentro de uma categoria mais ampla de transtornos de personalidade
e de neuroses.
Esses problemas foram divididos em três categorias: dependência, episódios
de beber excessivo (abuso) e beber excessivo habitual. A dependência de álcool foi
caracteriza pelo uso compulsivo de bebidas alcoólicas e pela manifestação de sintomas
de abstinência após a cessação do uso.
As expectativas em relação aos efeitos do álcool exercem influências
importantes no início e manutenção do uso de álcool e na emissão de comportamentos
relacionados a este uso.
Antes mesmo de o indivíduo consumir qualquer tipo de bebida alcoólica
em sua vida, vão se formando crenças a respeito dos efeitos do álcool. Desenvolvem-se
através de modelos parentais e do grupo de pares, experiências diretas e indiretas
com bebidas alcoólicas.
A importância do estudo em relação aos efeitos do álcool entre adolescentes
está no impacto das experiências deste período do desenvolvimento sobre as práticas
de beber na idade adulta.
A comparação de diferentes padrões de uso do álcool na adolescência
demonstra que bebedores mais frequentes apresentam expectativas mais fortes e mais
específicas do que bebedores menos frequentes.
Bebedores mais frequentes, em geral, relacionam-se aos seguintes aspectos:
mudanças no comportamento social; aumento da agressividade; mais prazer e melhor
desempenho sexual; aumento de poder; e redução de tensão. Por sua vez, bebedores
menos frequentes apresentaram expectativas amplas de aumento de.
As peculiaridades de cada história de consumo de álcool trazem, paralelamente,
um conjunto de expectativas de efeitos que refletem esta história. Inicialmente,
as relações entre o uso do álcool e suas consequências são aprendidas vicariamente,
existindo antes da experiência direta com bebidas alcoólicas.
As consequências influenciam a decisão de beber. Confiança e bem-estar
podem ser confirmados pela experiência com o álcool e fortalecer as expectativas
previamente existentes, especificando-as.
O fato dos adolescentes beberem com suas famílias propiciou um aprendizado
sobre os limites para parar de beber. Estas famílias dão pistas verbais a respeito
das mudanças que observam no comportamento do adolescente que está bebendo, orientando-o
para evitar a embriaguez. Beber com a família pode ser uma preferência, pois é uma
forma segura de consumo.
A experiência de embriagar-se é percebida como desagradável pelos adolescentes,
que temem a reação dos pais e não consideram prazerosos os efeitos como tontura
e desinibição excessiva. A tontura é o limite escolhido como aquele em que se deve
parar de beber.
As festas são mencionadas como ocasiões de maior consumo de álcool.
Ressalve-se, contudo, que o item não é específico e nem sempre distingue o tipo
de festa. Assim, estão incluídos como festas as comemorações familiares, aniversários,
festividades e encontros com amigos.
Nas atividades sociais dos adolescentes, especialmente as festas com
os amigos, a bebida alcoólica está presente. De forma geral, uma festa sem bebida
não seria uma festa. A festa perderia a graça, as pessoas não se aproximariam e
as pessoas iriam embora ou sairiam para comprar bebida. O álcool pode atuar como
facilitador da aceitação pelo grupo de amigos.
Quando se trata dos rapazes, o uso de álcool aparece como uma prova
de maturidade, um ritual de passagem para a idade adulta. Quando um rapaz não bebe,
sua virilidade é questionada e sua maturidade também.
Para as garotas que não bebem, por sua vez, não há pressão para beber.
Mesmo entre os jovens, as garotas que não bebem são vistas como virtuosas, pois
cuidam de sua saúde. Já a garota que resolve beber, acaba sendo vista como liberada
e de mais fácil aproximação por parte dos meninos.
Esta vinculação do álcool com a sexualidade do adolescente apareceu
fortemente na relação das moças com os rapazes, que hoje podem cortejá-los, usando
o álcool para se desinibir e também como uma desculpa para os comportamentos considerados
socialmente inadequados.
No caso das adolescentes o uso do álcool relaciona-se à expectativa
de facilitar relacionamentos sociais, especialmente com amigos. A experimentação
de bebidas alcoólicas com os amigos faz com que estas adolescentes não apresentem
um controle eficiente sobre a quantidade consumida e um limite frouxo em relação
à embriaguez.
O porre não é relatado como experiência desagradável. Ao contrário,
é ao beber demais que outras expectativas, como: esquecer problemas e incremento
da sexualidade validam comportamentos de desabafo dos problemas e sedução, respectivamente.
A literatura já apontou que regras explícitas sobre a bebida aconselhadas
pelos pais e educadores são mais eficientes na prevenção do alcoolismo. Pais que
não expressam normas reguladoras a respeito do álcool têm mais probabilidade de
ter filhos que bebam do que aqueles que as expressam. A permissividade ou o interesse
dos pais pelo consumo de álcool de seus filhos influenciam os hábitos alcoólicos
dos adolescentes.
A aceitação do álcool como uma droga legitimamente usada por adolescentes
reflete o quanto nossa sociedade é tolerante e, muitas vezes, instigadora deste
uso. A consequência disto é que o uso precoce expõe o jovem aos efeitos do álcool
mais rapidamente, em um momento de seu desenvolvimento em que o álcool pode facilitar
o enfrentamento de novas situações.







