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5/30/2014

O ÁLCOOL ATRAVÉS DA HISTÓRIA

Acredita-se que a bebida alcoólica teve origem na Pré-História, mais precisamente durante o período Neolítico quando houve a aparição da agricultura e a invenção da cerâmica. A partir de um processo de fermentação natural ocorrido há aproximadamente 10.000 anos o ser humano passou a consumir e a atribuir diferentes significados ao uso do álcool. Os celtas, gregos, romanos, egípcios e babilônios registraram de alguma forma o consumo e a produção de bebidas alcoólicas.

A droga mais antiga da humanidade
O álcool não é privilégio de nenhum povo sobre a terra. Ao contrário, é considerado a única droga comum a todas as civilizações. A fabricação de vinho de uva começou provavelmente no período Neolítico, 8500 anos antes de Cristo. Nas montanhas Zagros, no norte do Irã, uma equipe do Centro de Arqueologia Química da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, encontrou um jarro de 7000 anos com capacidade para 9 litros de vinho.
Mais tarde, houve no delta do Rio Nilo uma pujante indústria vinícola, por volta de 2700 a. C. Beber vinho era um hábito tão comum que vários faraós foram enterrados com jarros, provavelmente na crença de que poderiam continuar bebendo depois da morte.
A cerveja é um pouco mais recente. Aparece uns 1500 anos antes de Cristo. Com um microscópio eletrônico, arqueólogos da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, descobriram que os egípcios usavam malte para produzir açúcar usado na fermentação. Em outras palavras: conheciam técnicas de cervejaria.
Os egípcios obtinham seu malte a partir de cevada. Só que em vez de adicionar lúpulo, como se faz hoje, eles acrescentavam um tipo raro de trigo. Ao repetir a receita, os pesquisadores descobriram uma boa cerveja. Sem o amargo do lúpulo, a mistura ganhava um sabor doce e frutado. Era dourada, mas menos transparente que as atuais.
Vieram depois os destilados, que são mais fortes. Curiosamente, a técnica não foi desenvolvida para fazer bebidas. Proibidos de beber pelo islamismo, os árabes foram os primeiros a produzir álcool destilado para fabricar perfumes. Os europeus aprenderam com eles e no século XI já há registro de aguardente na Itália.


A Embriaguez de Noé
Em uma das mais belas passagens do Antigo Testamento da Bíblia (Gênesis 9.21) Noé, após o dilúvio, plantou vinha e fez o vinho. Fez uso da bebida a ponto de se embriagar. Reza a bíblia que Noé gritou, tirou a roupa e desmaiou. Momentos depois seu filho Cam o encontrou "tendo à mostra as suas vergonhas". Foi a primeiro relato que se tem conhecimento de um caso de embriaguez. Michelangelo, famoso pintor renascentista (1475-1564), se inspirou nesse episódio pintar um belíssimo afresco, com esse nome, no teto da Capela Sistina, no Vaticano. Nota-se, assim, que não apenas o uso de álcool, mas também a sua embriaguez, são aspectos que acompanham a humanidade desde seus primórdios.
E começou Noé a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha.
E bebeu do vinho, e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda.
E viu Cão, o pai de Canaã, a nudez do seu pai, e fê-lo saber a ambos seus irmãos no lado de fora.
Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e puseram-na sobre ambos os seus ombros, e indo virados para trás, cobriram a nudez do seu pai, e os seus rostos estavam virados, de maneira que não viram a nudez do seu pai.
E despertou Noé do seu vinho, e soube o que seu filho menor lhe fizera. Gênesis 9:20-24
Grécia e Roma
O solo e o clima na Grécia e em Roma eram especialmente ricos para o cultivo da uva e produção do vinho. Os gregos e romanos também conheceram a fermentação do mel e da cevada, mas o vinho era a bebida mais difundida nos dois impérios tendo importância social, religiosa e medicamentosa.
No período da Grécia Antiga o dramaturgo grego Eurípedes (484 a.C.-406 a.C.) menciona nas Bacantes duas divindades de primeira grandeza para os humanos: Deméter, a deusa da agricultura que fornece os alimentos sólidos para nutrir os humanos, e Dionísio, o Deus do vinho e da festa (Baco para os Romanos). Apesar do vinho participar ativamente das celebrações sociais e religiosas greco-romanas, o abuso de álcool e a embriagues alcoólica já eram severamente censurados pelos dois povos.
Egito Antigo
Os egípcios deixaram documentado nos papiros as etapas de fabricação, produção e comercialização da cerveja e do vinho. Eles também acreditavam que as bebidas fermentadas eliminavam os germes e parasitas e deveriam ser usadas como medicamentos, especialmente na luta contra os parasitas provenientes das águas do Nilo.
Idade Média
A comercialização do vinho e da cerveja cresce durante este período, assim como sua regulamentação. A intoxicação alcoólica (bebedeira) deixa de ser apenas condenada pela igreja e passa a ser considerada um pecado por esta instituição.
Idade Moderna
Durante e Renascença passa a haver a fiscalização dos cabarés e tabernas, sendo estipulados horários de funcionamento destes locais. Os cabarés e tabernas eram considerados locais onde as pessoas podiam se manifestar livremente e o uso de álcool participa dos debates políticos que mais tarde vão desencadear na Revolução Francesa.
Idade Contemporânea
O fim do século 18 e o início da Revolução Industrial é acompanhado de mudanças demográficas e de comportamentos sociais na Europa. É durante este período que o uso excessivo de bebida passa a ser visto por alguns como uma doença ou desordem. Ainda no início e na metade do século 19 alguns estudiosos passam a tecer considerações sobre as diferenças entre as bebidas destiladas e as bebidas fermentadas, em especial o vinho. Neste sentido, Pasteur em 1865, não encontrando germes maléficos no vinho declara que esta é a mais higiênica das bebidas.
Durante o século 20 países como a França passam a estabelecer a maioridade de 18 anos para o consumo de álcool e em janeiro de 1920 o estado Americano decreta a Lei Seca que teve duração de quase 12 anos. A Lei Seca proibiu a fabricação, venda, troca, transporte, importação, exportação, distribuição, posse e consumo de bebida alcoólica e foi considerada por muitos um desastre para a saúde pública e economia americana. Foi no ano de 1952 com a primeira edição do DSM-I (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) que o alcoolismo passou a ser tratado como doença.
No ano de 1967, o conceito de doença do alcoolismo foi incorporado pela Organização Mundial de Saúde à Classificação Internacional das Doenças (CID-8), a partir da 8ª Conferência Mundial de Saúde. No CID-8, os problemas relacionados ao uso de álcool foram inseridos dentro de uma categoria mais ampla de transtornos de personalidade e de neuroses.


Esses problemas foram divididos em três categorias: dependência, episódios de beber excessivo (abuso) e beber excessivo habitual. A dependência de álcool foi caracteriza pelo uso compulsivo de bebidas alcoólicas e pela manifestação de sintomas de abstinência após a cessação do uso.
Os índices são assustadores. Mais da metade das crianças entre 10 e 12 anos já experimentaram bebida alcoólica e 15% dos jovens entre 10 e 18 anos consomem álcool frequentemente (até cinco dias na semana).
As expectativas em relação aos efeitos do álcool exercem influências importantes no início e manutenção do uso de álcool e na emissão de comportamentos relacionados a este uso.
Antes mesmo de o indivíduo consumir qualquer tipo de bebida alcoólica em sua vida, vão se formando crenças a respeito dos efeitos do álcool. Desenvolvem-se através de modelos parentais e do grupo de pares, experiências diretas e indiretas com bebidas alcoólicas.
A importância do estudo em relação aos efeitos do álcool entre adolescentes está no impacto das experiências deste período do desenvolvimento sobre as práticas de beber na idade adulta.
A comparação de diferentes padrões de uso do álcool na adolescência demonstra que bebedores mais frequentes apresentam expectativas mais fortes e mais específicas do que bebedores menos frequentes.
Bebedores mais frequentes, em geral, relacionam-se aos seguintes aspectos: mudanças no comportamento social; aumento da agressividade; mais prazer e melhor desempenho sexual; aumento de poder; e redução de tensão. Por sua vez, bebedores menos frequentes apresentaram expectativas amplas de aumento de.
As peculiaridades de cada história de consumo de álcool trazem, paralelamente, um conjunto de expectativas de efeitos que refletem esta história. Inicialmente, as relações entre o uso do álcool e suas consequências são aprendidas vicariamente, existindo antes da experiência direta com bebidas alcoólicas.
As consequências influenciam a decisão de beber. Confiança e bem-estar podem ser confirmados pela experiência com o álcool e fortalecer as expectativas previamente existentes, especificando-as.


O fato dos adolescentes beberem com suas famílias propiciou um aprendizado sobre os limites para parar de beber. Estas famílias dão pistas verbais a respeito das mudanças que observam no comportamento do adolescente que está bebendo, orientando-o para evitar a embriaguez. Beber com a família pode ser uma preferência, pois é uma forma segura de consumo.
A experiência de embriagar-se é percebida como desagradável pelos adolescentes, que temem a reação dos pais e não consideram prazerosos os efeitos como tontura e desinibição excessiva. A tontura é o limite escolhido como aquele em que se deve parar de beber.
As festas são mencionadas como ocasiões de maior consumo de álcool. Ressalve-se, contudo, que o item não é específico e nem sempre distingue o tipo de festa. Assim, estão incluídos como festas as comemorações familiares, aniversários, festividades e encontros com amigos.
Nas atividades sociais dos adolescentes, especialmente as festas com os amigos, a bebida alcoólica está presente. De forma geral, uma festa sem bebida não seria uma festa. A festa perderia a graça, as pessoas não se aproximariam e as pessoas iriam embora ou sairiam para comprar bebida. O álcool pode atuar como facilitador da aceitação pelo grupo de amigos.
Quando se trata dos rapazes, o uso de álcool aparece como uma prova de maturidade, um ritual de passagem para a idade adulta. Quando um rapaz não bebe, sua virilidade é questionada e sua maturidade também.
Para as garotas que não bebem, por sua vez, não há pressão para beber. Mesmo entre os jovens, as garotas que não bebem são vistas como virtuosas, pois cuidam de sua saúde. Já a garota que resolve beber, acaba sendo vista como liberada e de mais fácil aproximação por parte dos meninos.
Esta vinculação do álcool com a sexualidade do adolescente apareceu fortemente na relação das moças com os rapazes, que hoje podem cortejá-los, usando o álcool para se desinibir e também como uma desculpa para os comportamentos considerados socialmente inadequados.
No caso das adolescentes o uso do álcool relaciona-se à expectativa de facilitar relacionamentos sociais, especialmente com amigos. A experimentação de bebidas alcoólicas com os amigos faz com que estas adolescentes não apresentem um controle eficiente sobre a quantidade consumida e um limite frouxo em relação à embriaguez.
O porre não é relatado como experiência desagradável. Ao contrário, é ao beber demais que outras expectativas, como: esquecer problemas e incremento da sexualidade validam comportamentos de desabafo dos problemas e sedução, respectivamente.
A literatura já apontou que regras explícitas sobre a bebida aconselhadas pelos pais e educadores são mais eficientes na prevenção do alcoolismo. Pais que não expressam normas reguladoras a respeito do álcool têm mais probabilidade de ter filhos que bebam do que aqueles que as expressam. A permissividade ou o interesse dos pais pelo consumo de álcool de seus filhos influenciam os hábitos alcoólicos dos adolescentes.

A aceitação do álcool como uma droga legitimamente usada por adolescentes reflete o quanto nossa sociedade é tolerante e, muitas vezes, instigadora deste uso. A consequência disto é que o uso precoce expõe o jovem aos efeitos do álcool mais rapidamente, em um momento de seu desenvolvimento em que o álcool pode facilitar o enfrentamento de novas situações.