Pilares
na prevenção do uso de álcool e outras drogas
Amandio
Teixeira
Isabel
Scott
O
papel da família
A
família é um ponto chave no tratamento terapêutico de dependentes
químicos. A todo o momento, o ser humano é cobrado e influenciado
pelo meio social em que vive e esse meio também determina como ele
deve agir pensar e se comportar. Se ele fugir às normas sociais
consequentemente será “punido” pela sociedade.
Com
isso, a todo o momento o indivíduo se sente “vigiado” por esta
e, em última instância, por ele mesmo. Sendo assim, o nível de
estresse ao qual é submetido todos os dias é alto, saindo às vezes
do “normal” para o descontrole.
Nem
mesmo na condição de dependente químico, o indivíduo se livra da
cobrança e do julgamento social – ao contrário – a cobrança
passa a ser muito maior e, como não pode mais obedecer às regras
sociais, passa a ser excluído de todo o convívio em sociedade, seja
na escola, no trabalho ou até mesmo na família.
A
família em muitos casos faz parte deste processo de exclusão do
doente, muitas vezes por medo, desconhecimento, ou simplesmente pelo
estigma de ter em seu convívio um doente tido pela sociedade como
alguém sem capacidades, “louco” ou “drogado”.
Percebemos
as dificuldades e a carga psicológica às quais as famílias estão
expostas; porém é essencial todo e qualquer apoio nestes casos,
sendo de suma importância seu envolvimento e participação durante
todo o tratamento terapêutico vivenciado pelo paciente, a fim de
conhecer e entender melhor a problemática, tornando-se parte deste
processo.
Além do
preconceito que os dependentes químicos sofrem da sociedade, eles
também são submetidos aos da família, que se sente envergonhada da
sociedade pelo simples fato de não terem conseguido formar um
indivíduo “saudável” e preparado para cumprir com suas
obrigações sociais.
Não é
possível julgá-las, pois também são vítimas da sociedade assim
como o doente, mas é possível reconhecer a importância dela na
vida de qualquer ser humano.
Os
familiares são fundamentais no processo de tratamento do doente. No
entanto, necessitam saber como lidar com as situações estressantes,
evitando comentários críticos ou se tornando exageradamente
superprotetores, dois fatores que reconhecidamente provocam recaídas.
Torna-se
muito importante que os familiares dosem o grau de exigências em
relação ao doente, não exigindo mais do que ele pode realizar em
dado momento, mas sem deixá-lo abandonado, ou sem participação na
vida familiar.
Conhecendo
melhor a doença e tendo um diagnóstico claro, a família passa a
ser um aliado eficiente em conjunto com a medicação e a terapêutica
trabalhada pela equipe multiprofissional.
Ao mesmo
tempo em que se trata o quadro de doença do paciente, a família
deve receber total atenção no sentido de ser orientada em sua
abordagem ao paciente ou em sua dinâmica de relacionamento durante o
processo terapêutico, visto que em muitos casos a família adoece em
conjunto, sendo necessário um processo de escuta, apoio e
orientação.
Trabalhar
com famílias traz à tona traços relacionados à dinâmica
funcional familiar muitas vezes já cristalizados ao longo do tempo e
que necessitam ser repensados e apreendidos.
Orientação
familiar
Educação
em saúde é fundamental para assegurar não só o entendimento do
doente, como também de sua família, sobre os problemas relacionados
ao uso crônico de álcool. Assim como é imprescindível a
orientação do paciente sobre o seu problema, a família, parte
integrante dessa disfunção, precisa ser informada e encaminhada
para um tratamento mais intensivo, se necessário.
Em
qualquer dos níveis de comprometimento que o indivíduo apresente, é
essencial trabalhar os conceitos de síndrome de dependência e
abstinência alcoólica, com objetivo claro de desenvolver, nesse
sistema familiar, a análise crítica sobre seu papel nesse
transtorno, como também promover sua mudança de pensamento e
comportamento.
Trabalhar
a autoestima e a importância da desintoxicação, assim como a
prevenção da recaída, são estratégias a serem adotadas nessa
fase inicial do tratamento, não só com o paciente, como também com
seu sistema familiar e social.
Como
falar sobre drogas com os filhos
Reconhecendo
que os pais exercem grande influência sobre o consumo precoce dos
filhos, damos algumas dicas para conversar sobre o assunto em casa,
começando pelo álcool. A idade ideal para começar a falar sobre os
efeitos do álcool é a partir dos nove anos de idade.
Dê o
exemplo: Se você bebe, não cometa exageros. Não se gabe por beber
nem menospreze aqueles que não bebem. Não dirija embriagado nem
seja tolerante com quem o faz. Se você não bebe, converse sobre o
álcool e explique o que motivou sua opção.
Seja
realista: Apresente fatos concretos. Os efeitos imediatos e nocivos
da bebida são os principais argumentos. Ensine que o álcool
atrapalha o desenvolvimento físico, mental, social e espiritual.
Processo
terapêutico familiar
O
processo terapêutico é o momento onde o paciente passa por cuidados
efetivos exercidos pela equipe multiprofissional tendo por finalidade
o tratamento dos sintomas de sua doença e a manutenção e garantia
de sua continuidade no tratamento tendo o suporte adequado para este
fim, visando sua recuperação e melhora.
É neste
momento também que estão lado a lado a equipe multidisciplinar e os
familiares do paciente, juntos pelo mesmo objetivo - o da melhora e
qualidade de vida do paciente.
Diante
desde complexo cotidiano, as ações dirigidas às famílias devem
estruturar-se de modo a favorecer e fortalecer a relação
familiar/profissional/serviço, entendendo que o familiar e
fundamental no tratamento dispensado ao doente.
Durante
o processo terapêutico onde os familiares estão inseridos e
participantes, conseguem lidar com menos apreensão e assim oferecer
cuidados de melhor qualidade ao doente, principalmente quando estão
inseridos em reuniões e/ou grupos de família ou em outros
processos, sendo estes espaços propícios para a reflexão,
discussão, escuta, troca de vivências, angústias e orientações,
constituindo-se estes como efetivos espaços privilegiados de
atendimento familiar.
Os
pacientes sofrem e suas famílias também necessitam ser atendidas
pela equipe respeitando sua forma de constituição, porem levando em
consideração os vínculos estabelecidos e a dinâmica funcional,
reconhecendo e respeitando suas limitações, procurando trabalhar
preconceitos e outras formas de entendimento da situação e do
problema do paciente.
A
relação familiar é o sustentáculo e a base para uma boa estrutura
emocional para o paciente, tanto para a prevenção de uma crise,
quanto para sua manutenção e recuperação, fato pelo qual se torna
essencial sua participação em todos os processos terapêuticos no
qual o paciente esteja inserido, o que irá propiciar uma melhor
adequação do tratamento e consequente melhora.
O
papel da religião
Profissionais
da saúde, pesquisadores e a população em geral reconhecem, cada
vez mais, a importância da dimensão religiosa e espiritual para a
saúde.
Diversos
estudos científicos sobre as relações entre saúde e
espiritualidade estão presentes em diversos centros de pesquisas
espalhados pelo mundo e esses estudos apontam que crenças e práticas
religiosas estão associadas a uma melhor saúde física e mental,
incluindo melhor qualidade de vida.
Há um
consistente e diversificado corpo de evidências indicando a
relevância da religiosidade e da espiritualidade na saúde mental,
de tal maneira que discutir ou pesquisar se essa relação benéfica
entre espiritualidade e saúde é válida ou não já está
ultrapassada.
Em
relação à saúde mental, existem milhares de pesquisas. A maior
parte sugere uma associação do envolvimento religioso com maiores
níveis de satisfação de vida, tais como:
- Sensação de bem estar;
- Senso de propósito;
- Significado da vida;
- Esperança;
- Otimismo;
- Estabilidade nos casamentos;
- Menores índices de ansiedade e depressão;
- Menores índices de abuso de substâncias.
Outros
estudos demonstram que pessoas com envolvimento religioso têm menor
probabilidade de:
- Usar e abusar de álcool e drogas;
- Apresentar comportamentos de risco, como o sexo sem proteção, delinquência e crime, especialmente os adolescentes.
Ainda
entre os adolescentes, o envolvimento religioso também é
relacionado a menores taxas de suicídio e de atividade sexual
precoce e consequente gravidez prematura.
O que
nos cabe hoje, em ciência moderna, como profissionais de saúde
mental, é encontrar as nossas dificuldades em lidar com esses
assuntos na prática diária. Essas dificuldades passam por tópicos
desde carência de treinamento em temas dessa natureza até os
sistemas de crenças diversos de cada profissional, que podem gerar
dificuldades em lidar com as crenças religiosas dos pacientes.
Os
conceitos de religiosidade e espiritualidade
Espiritualidade
e religião parecem a mesma coisa. Mas não são.
Antes de
iniciar o estudo sobre o tema, é de extrema importância definir os
conceitos de espiritualidade e religiosidade, uma vez que existe um
infindável debate epistemológico na utilização desses conceitos.
Há
várias definições para esses dois vocábulos, mas apresentamos
aquelas que nos parecem mais simples e mais perto do que consideramos
adequado:
Espiritualidade
é uma busca pessoal pela compreensão das questões da vida, de seu
significado e da relação com o sagrado e o transcendente, podendo
ou não conduzir ou originar rituais religiosos e formação de
comunidades.
Religião
é um sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos,
destinados a facilitar a proximidade com o sagrado e o transcendente:
Deus ou uma força superior, nominadas ou não.
Prática
religiosa funcional
- Reduz a ansiedade existencial;
- Fonte de esperança e sensação de bem estar emocional;
- Promove coesão social;
- Fornece identidade ao unir pessoas em torno de um ideal comum;
- Orientação moral que diminui estilo de vida autodestrutivo;
- Sensação de controle ao se unir com uma força onipotente;
- Diminui a ansiedade da morte;
- Desperta segurança para enfrentar dor e sofrimento;
- Fonte de solução de conflitos emocionais e situacionais.
Prática
religiosa disfuncional
- Gera culpa patológica;
- Diminui a autoestima;
- Gera ansiedade e medo por meio de crenças punitivas;
- Obstáculo para o crescimento pessoal;
- Favorece o conformismo e a sugestionabilidade;
- Inibe a expressão de sensações sexuais;
- Fonte de paranoia.
Interação
com líderes religiosos
Por
vezes pode ocorrer oposição entre questões religiosas e o
tratamento oferecido. Nestes casos pode ser de grande valia contar
com o líder religioso, depois de autorizado pelo paciente, nunca com
postura de confronto, mas sempre tentando trabalhar em conjunto.
Normalmente ao perceber postura não hostil e atuação colaborativa,
o líder passa a estimular a adesão da paciente ao tratamento.
Critérios
sugestivos de experiências espirituais saudáveis
- Ausência de sofrimento psicológico;
- Ausência de prejuízos sociais e ocupacionais;
- Existe uma atitude crítica sobre a realidade objetiva da experiência;
- Existe compatibilidade da experiência com algum grupo cultural ou religioso;
- Ausência de comorbidades;
- A experiência é controlada;
- A experiência gera crescimento pessoal;
- A experiência é voltada para os outros.
Tratamentos
com abordagem religiosa e espiritual
A APA
(Associação Psiquiátrica Americana) recomenda que os psiquiatras
respeitem e considerem com relevância a identidade cultural,
espiritual e religiosa dos pacientes ao decidir por um tratamento.
Esclarece que as crenças religiosas e espirituais podem ser
importantes fontes de esperança e significado.
Cita o
programa de 12 passos, com uma dimensão espiritual, como importante
para o tratamento. Considera que as comunidades religiosas e
espirituais facilitem a reintegração social e oferecem
estabilidade, inspiração e apoio prático para os membros
mentalmente doentes.
O
papel da fé
Fica
claro que a busca pela fé está diretamente ligada à história de
dependência química, pois quando questionados sobre “em que
momento da sua vida sentiram necessidade de procurar uma religião ou
desenvolver sua espiritualidade” a maioria relata que foi no pior
momento que tiveram quando ainda usavam drogas.
Observa-se
também que esses momentos estão ligados a rupturas drásticas na já
frágil estabilidade emocional dos dependentes tais como: brigas e
separação familiar, perda de emprego, perdas financeiras,
discriminação generalizada, isolamento, etc.
Outro
fator importante de estresse durante a dependência química é o
tratamento e internação psiquiátrica, 40% dos sujeitos sentiram
necessidade de buscar apoio religioso/espiritual nesse momento da
vida.
Assim, a
religião influencia o modo como as pessoas lidam com situações de
estresse, sofrimento e problemas vitais. A religiosidade pode
proporcionar à pessoa maior aceitação, firmeza e adaptação a
situações difíceis de vida, gerando paz, autoconfiança e perdão,
além de permitir o despertar de uma imagem mais positiva de si
mesmo.
É
notório, porém, que esse despertar para fé, não acontece apenas
por uma situação única e isolada, mas como a “gota d’água”,
isto é, parte dos recorrentes conflitos causados pelo consumo de
drogas, que na maioria das vezes é decorrente de uma desestruturação
existencial e comportamental.
Quando
inquiridos sobre qual a importância que a fé teve na recuperação
de sua doença pode-se dizer que muitos dependentes encaram a fé
como a salvação de suas vidas e como suporte indispensável para
alcançar a abstinência e conseguir manter-se assim.
Esses
são aspectos responsáveis pelo sucesso de programas que abordam a
espiritualidade/religiosidade no tratamento contra as drogas.
Aproximar
a espiritualidade ao tratamento convencional ainda representa uma
tarefa muito difícil para a psiquiatria. Entretanto, todo indivíduo
tem a necessidade de ser tratado como pessoa completa num contexto
biológico psicológico sociológico e espiritual.
Talvez
se o tratamento psiquiátrico ao qual são submetidos tiver, em algum
momento, um aporte espiritual, estejamos na verdade conseguindo
abordar da forma mais abrangente possível todos os recursos capazes
de levar à recuperação.
A fé
como proteção à recaída
Os
indivíduos de menos idade são os que menos atribuem à
espiritualidade e à religiosidade o caráter de fator protetor para
manter-se longe das drogas. Eles são os que mais cedo fazem uso de
substâncias de dependência e que também usam um número maior no
que se refere à diversidade de substâncias. Entretanto, vários
pesquisadores concluem que quanto maior a importância dada à
religião, menor o envolvimento com drogas.
Ainda
que existam outros fatores que contribuam para a mudança de conduta
dos dependentes químicos, é a espiritualidade desenvolvida ao longo
de alguns meses, através do contato com a informação religiosa,
que os faz permanecer no caminho da abstinência - pessoas que há
mais de dois anos estão abstêmios demonstram uma estreita relação
com a religião professada e a ela atribuem o principal fator da
manutenção da abstinência.
As
questões que tratam do apoio de membros da instituição religiosa
têm significativa relevância, confirmando que a religião não
promove apenas a abstinência do consumo de drogas, mas, em especial,
oferece recursos sociais de reestruturação: nova rede de amizades,
ocupação do tempo livre em trabalhos voluntários, atendimento
“psicológico” individualizado, valorização das potencialidades
individuais, coesão do grupo e apoio incondicional dos líderes
religiosos, sem julgamentos.
A
religiosidade controla indiretamente as atitudes frente ao consumo de
drogas através da percepção do perigo de usar. Em especial, os
aspectos de suporte social oferecido pela igreja ficam mais
evidentes, pois realiza um forte acolhimento, demonstra mais zelo,
preocupação e cuidado com os seus membros. A importância da igreja
como suporte social também é destacada por algumas pessoas em
recuperação.
Na
igreja, o fiel passa a seguir as regras adotadas e passa a respeitar
as normas e valores determinados pela religião. Naturalmente essas
normas levam a um distanciamento das drogas, devido à
conscientização gradual da degradação moral associada ao seu uso
e também pelo receio da rejeição por parte dos outros membros da
igreja.
A
gratidão que o dependente químico tem pela instituição religiosa,
apoiado na fé, afasta-o de atitudes e comportamentos que não
estejam de acordo com a moral difundida pela religião.
O
papel da oração
Pesquisas
demonstram que a oração parece ser a ferramenta mais adotada para
evitar a fissura e lidar com as dificuldades, uma vez que 80,0% dos
dependentes fazem orações nessas ocasiões.
Este
aspecto demonstra que a devoção pessoal, expressa essencialmente
pelas orações dirigidas a Deus, mostra-se inversamente associada ao
abuso e à dependência das drogas e é o principal método de
tratamento da síndrome de abstinência e de qualquer sintoma de
recaída associada à fissura.
É
utilizada sempre que surge a vontade de usar e sempre que os
dependentes sentem necessidade de “conversar com Deus”. A oração
atua também como um ansiolítico, pois além de promover a fé, é
nesse momento que o indivíduo divide suas angústias, sua luta
diária contra a vontade de consumir drogas, confiante na resposta
que terá do Divino.
O
papel dos grupos de mútuo ajuda
Alcoólicos
Anônimos e Narcóticos Anônimos são irmandades mundiais de homens
e mulheres que se ajudam mutuamente a permanecerem sóbrios. Eles
oferecem a mesma ajuda a qualquer um que tenha um problema com a
bebida/drogas e queira parar.
Por
serem todos dependentes químicos, eles tem uma compreensão mutua
especial. Sabem como essa doença os atinge – e aprenderam como se
recuperar dentro de A.A /N.A.
Cada
grupo realiza reuniões regulares, nas quais os membros relatam entre
si suas experiências - geralmente em relação aos "Doze
Passos"
sugeridos para a recuperação, e às "Doze
Tradições"
sugeridas para as relações dentro da Irmandade e com a comunidade
de fora.
Muitas
pessoas não aceitarão a nossa mensagem. As pessoas que estão no
“caminho fácil que leva para o inferno” não se mostrarão
entusiasmadas em submeter-se aos passos claramente definidos no
caminho para a recuperação. Mas, para aqueles que ouvirem a nossa
história poderá ser a diferença entre a vida e a morte.
São
seguramente os primeiros a falarem em espiritualidade para seus
membros, gente com uma história de sofrimento absurdo em função de
sua toxicodependência/alcoolismo, desvinculando esse conceito de um
modelo tradicional de religião. Isso pode ser verificado no próprio
preâmbulo de AA:
Alcoólicos
anônimos é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas
experiências, forças e esperanças a fim de resolver o seu problema
comum e ajudarem outros a se recuperarem do alcoolismo. O único
requisito para se tornar membro é o desejo de parar de beber.
Para ser
membro de A.A. não há necessidade de se pagar taxas nem
mensalidades somos autossuficientes graças às nossas próprias
contribuições. A.A. não está ligado a nenhuma seita ou religião,
nenhum movimento político, nenhuma organização ou instituição
não deseja entrar em qualquer controvérsia; não apoia nem combate
quaisquer causas. Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios
e ajudar outros alcoólicos a alcançarem a sobriedade.
Essas
características podem ser responsáveis pela imensa capacidade de
agregar em um mesmo espaço pessoas tão diferentes. Mas outra
relação menos conhecida do Programa de Doze Passos está de fato
intimamente ligada ao convívio religioso.
O
papel dos tratamentos psicossociais
O
alcoolismo é uma doença incurável, de determinação fatal e
progressiva até mesmo em períodos de abstinência, entretanto,
existem tratamentos para interromper o crescimento da doença, como
veremos a seguir.
As
psicoterapias descritas mais adiante têm sido usadas no tratamento
dos transtornos causados pelo uso do álcool. Vários autores fizeram
revisões da eficácia das várias psicoterapias para tais
transtornos.
Este
tópico faz revisões dos resultados na literatura sobre terapias
comportamentais cognitivas, terapias comportamentais, terapias
psicodinâmicas/interpessoais, intervenções breves, terapia
conjugal e familiar, terapia de grupo, after
care
e grupos de autoajuda.
Terapias comportamentais cognitivas
Existem
muitas evidências de que os tratamentos comportamentais cognitivos
que objetivam a melhora do autocontrole e das habilidades sociais
levam consistentemente à redução do alcoolismo.
Estratégias
de autocontrole incluem estabelecimento de metas, automonitorização,
análise funcional dos antecedentes do alcoolismo e possibilidades de
aprendizagem de alternativas para enfrentamento de situações
conflitivas.
O
treinamento das capacidades sociais concentra-se em desenvolver
habilidades para formar e manter relações interpessoais mais
estáveis, positividade e recusa para aceitar bebidas.
Intervenções
em terapia cognitiva concentradas em identificar e modificar
pensamentos mal adaptativos e que não incluam um componente
comportamental não têm sido tão efetivas quanto os tratamentos
comportamentais cognitivos.
O
treinamento do autocontrole consiste em estratégias cognitivas e
comportamentais, inclusive automonitorização, estabelecimento de
metas, recompensas para obtenção de metas, análise funcional de
situações propícias para beber e aprendizagem das habilidades
alternativas para enfrentamento do problema com bebidas.
Embora
alguns estudos de treinamento de autocontrole comportamental tenham
incluído alcoolismo controlado, bem como abstinência, como objetivo
do tratamento, as técnicas comportamentais de autocontrole devem ser
utilizadas com o objetivo explícito a longo prazo de abstinência.
Em
vários estudos, o aumento das respostas de enfrentamento ou “auto
eficácia” ao final do tratamento predisseram melhores resultados
com a bebida durante o acompanhamento.
Os
indivíduos que relatam uso mais frequente de estratégias cognitivas
ou comportamentais com intuito de resolver ou dominar o problema
(“enfrentamento por aproximação”) tipicamente têm melhores
resultados que aqueles que dependem de ficar distantes das situações
de alto risco (“enfrentamento por evitar”).
Terapias comportamentais
A
terapia comportamental individual e a conjugal têm demonstrado
efetividade para pacientes com transtornos causados pelo uso do
álcool.
A
abordagem mais estudada do tratamento de pacientes com transtornos
causados pelo uso do álcool é a abordagem do reforço da
comunidade, que utiliza princípios comportamentais e, geralmente,
inclui terapia conjunta, treinamento para encontrar trabalho,
aconselhamento enfocado em atividades sociais e recreativas livres de
álcool.
Usando
designação aleatória para reforço da comunidade ou tratamentos
hospitalares padronizados, observa-se que os pacientes no grupo de
reforço da comunidade bebem menos, passam menos dias longe de casa,
trabalham mais dias e são menos institucionalizados durante um
acompanhamento de 24 meses.
Terapias psicodinâmicas/interpessoais
Há
poucas evidências empíricas de estudos controlados de que a
psicoterapia orientada pelo insight ou aconselhamento são
tratamentos efetivos para o alcoolismo.
A
psicoterapia individual produz melhores resultados que uma condição
de controle e a terapia de grupo orientada psicodinamicamente produz
melhores resultados.
Abordagens
genéricas de aconselhamento (caracterizadas como primariamente
diretivas e de apoio) produzem melhores resultados que os controles.
Terapia conjugal e familiar
O
estado do relacionamento do paciente com familiares ou outras pessoas
igualmente significativas pode ser fator crítico no ambiente
pós-tratamento para pacientes que sejam casados ou que vivam com a
família.
Comparando
a terapia conjugal comportamental e a terapia conjugal interacional
com um grupo-controle sem tratamento evidencia que ambos os grupos de
tratamento mostram melhor evolução no ajuste conjugal, e os grupos
de terapia conjugal mostram maior grau de sobriedade no decorrer de
um período de acompanhamento a curto prazo.
Pacientes
que recebem terapia conjugal comportamental começam a ter melhores
resultados com relação ao alcoolismo que aqueles que não a tem.
O
envolvimento do cônjuge no tratamento leva à melhora dos resultados
conjugais e do uso do álcool precocemente no período
pós-tratamento, que os pacientes em terapia conjunta têm menor
probabilidade de abandonar o tratamento, e que a terapia com o
intuito de melhorar o casamento como um todo parece funcionar melhor
que a terapia de casais concentrada rigidamente nos problemas
relacionados ao álcool.
Intervenções Breves
As
intervenções breves, em geral, são oferecidas por uma a três
sessões e incluem uma avaliação abreviada da gravidade do
alcoolismo e de problemas relacionados e fornecimento de feedback
motivacional, além de aconselhamento.
As
intervenções breves: a) são tipicamente mais efetivas (em termos
de uso do álcool, saúde geral ou funcionamento social); b) muitas
vezes têm eficácia comparável à de programas tradicionais mais
intensos e a mais longo prazo; c) aumentam a efetividade do
tratamento posterior. Mesmo as intervenções que sejam muito breves
(isto é, de algumas horas) podem ter algum efeito positivo.
Intervenções
breves são utilizadas tipicamente (e têm mais sucesso) para
pacientes afetados menos gravemente e que não tenham recebido
tratamento anterior para um transtorno com o álcool.
São
necessárias mais pesquisas para determinar quais pacientes são
otimamente servidos pelo recebimento de uma intervenção breve.
Terapia
Ocupacional
A
Terapia Ocupacional tem como um dos objetivos, resgatar a autonomia,
a qualidade de vida e o contato consigo mesmo, centra-se na relação
terapeuta-sujeito-atividade.
É no
fazer, ou seja na ocupação humana, (atividades manuais ou
corporais, expressivas, individual ou grupal) que a Terapia
Ocupacional traz a possibilidade de auxiliar o paciente em sua busca
pela construção e reconstrução de sua história, é buscar a
significação nos fazeres, exceto no vício.
Dentro
desse contexto o trabalho da Terapia Ocupacional em conjunto com a
equipe multidisciplinar (psicólogos, enfermeiros, psicopedagogos,
psiquiatras, educadores físicos) torna-se de fundamental importância
para o tratamento de dependentes químicos e alcoolistas.
Grupo
terapia
A
integração em grupos de terapia é um ponto fundamental na ajuda à
libertação do alcoólico e no tratamento do alcoolismo. Para que o
tratamento do alcoolismo seja eficaz é essencial que o alcoólatra
aceite a sua condição e opte por se integrar nos conteúdos
programáticos direcionados para deixar o álcool. Esta modalidade de
tratamento consiste nos grupos de apoio e de ajuda mútua, como os
Alcoólicos Anônimos – AA, que são os mais conhecidos, mas há
outros grupos.
A
diferença entre terapia em grupo de autoajuda é que na terapia há
um moderador ou supervisor de grupo, normalmente um terapeuta,
psicólogo, psiquiatra ou outro tipo de profissional. Já os grupos
de ajuda mútua são pessoas que enfrentam o alcoolismo juntas, ou
seja, uma ajudando a outra. Um dos fatores de sucesso na recuperação
mais importantes nestes grupos é que, os mais experientes e a mais
tempo “limpos” ajudam os que estão no começo do tratamento.
O
papel da escola
A
adolescência é como uma etapa de transição, um período
psicossociológico entre a infância e a vida adulta, fruto da
organização da nossa sociedade tal como a conhecemos. Um dos
fatores mais marcantes durante a adolescência é a busca dos jovens
por um grupo que os defina.
Ainda
que durante a adolescência a família continue ocupando um lugar
preferencial como contexto socializador, à medida que vão se
desvinculando de seus pais, as relações com os companheiros ganham
em importância, em intensidade e em estabilidade e o grupo de iguais
passa a ser o contexto de socialização mais influente. Esse
fenômeno acontece basicamente na convivência escolar diária.
A
escola, por ser um elemento de presença forte para os jovens e -
juntamente com a família - responsável pela educação destes de
forma global, tendo as ferramentas necessárias para proporcionar
prevenção ao uso de drogas.
O
trabalho com drogas pode vir a ser feito em três níveis -
prevenção, repressão e tratamento. A prevenção divide-se em duas
etapas: prevenção primária que procura desestimular a primeira
experiência dos não iniciados e a prevenção secundária que busca
prevenir o aprofundamento do uso experimental.
A
prevenção coloca-se portanto como imperativo desse processo já que
o tratamento de pessoas já em dependência é longo, difícil,
aleatório e caro. Quanto mais precoce, maiores são as
possibilidades de eficácia da mesma.
Ela pode
vir a seguir vários modelos: princípio moral (uso de drogas como
algo condenável do ponto de vista ético e moral), amedrontamento
(enfatiza aspectos negativos e perigosos das drogas), conhecimento
científico (propõe fornecimento de informação de modo imparcial e
científico), educação afetiva (modificação dos fatores
predisponentes ao uso de drogas), estilo de vida saudável e pressão
de grupo positiva (o grupo como fator de proteção do jovem contra
as drogas).
Quando
se considera a prevenção no contexto escolar deve-se dar ênfase no
investimento da formação de profissionais qualificados, bem
treinados e habilidosos para lidar com as demandas da instituição.
Deve
também buscar envolver o corpo escolar inteiro e colocar o
adolescente como participante ativo do processo de elaboração dos
projetos utilizando linguagem acessível e escutando o que ele tem a
dizer sobre sua realidade.
Na
impossibilidade de excluir as drogas do domínio social há que se
trabalhar visando à construção de profissionais mais preparados
para enfrentar os problemas causados por elas. A prevenção entra,
portanto como parte da formação dentro do ambiente escolar.
É papel
do psicólogo escolar/educacional junto ao corpo discente da escola a
elaboração, desenvolvimento e acompanhamento de projetos de
prevenção ao uso de drogas.
Deve
ainda trabalhar junto a projetos que visem à construção de uma
identidade pessoal (autoestima, socialização, disciplina,
organização) e participação social (conscientização de papéis
sociais e cidadania responsável).
O
trabalho deve ser realizado junto ao jovem buscando valorizar as
nuances de seu caráter e propiciar um ambiente favorável para que
elabore os possíveis fatores relativos ao seu contexto social ou sua
subjetividade que possam vir a influir na procura pelo uso de
entorpecentes.
Os
grupos que geralmente servem como meio de iniciação do uso de
drogas podem vir a ser revertidos favoravelmente e servir como fator
de segurança contra o uso de drogas.
O
papel do esporte
O
estímulo das práticas desportivas são, comprovadamente, um caminho
alternativo seguro e pouco dispendioso para a prevenção do uso de
drogas pelos jovens. De uma maneira geral as crianças quando são
inseridas em esportes, qualquer que seja, crescem sabendo mais, tendo
mais informações dos malefícios que as drogas causam. Isto é, de
maneira geral, os clubes e academias sempre fazem palestras sobre
este assunto.
O
esporte pode ser um aliado na luta pelo combate as drogas. Por via
pacífica é um caminho que já provou ser bem mais eficaz que
punições severas. Através do esporte, crianças e jovens são
atraídos para a convivência em grupo marcada pela solidariedade.
A
necessidade de respeitar os limites estabelecidos e as regras da
competição acabam se tornando um aprendizado essencial ao processo
do desenvolvimento humano.
É um
estilo de vida marcado pela disciplina e pelo prazer. Ao conviver em
grupo com pessoas que têm um objetivo comum, a criança tende a se
socializar e a absorver as coisas boas daquela comunidade.
Praticando
o esporte, se aprende a ganhar e perder. E mais, se aprende a
conviver em equipe. Tudo isso dentro de um ambiente de diversão,
mas, com responsabilidade. O potencial educativo e de socialização
do esporte é muito maior do que se imagina.
Exercitar-se
e ultrapassar a cada dia os próprios limites do corpo e da mente,
como único objetivo de subir mais um degrau, direciona o atleta. O
resultado é uma vida centrada, saudável e, com certeza, mais
distante do mundo das drogas.
Cidadania
não se recebe num passe de mágica. Cidadania se conquista. E pode
ser conquistada, através da cultura, da educação, do lazer e do
esporte. Para isso, que outro caminho melhor que o esporte para as
crianças?
No caso
do futebol, por exemplo, é no campo onde se enfrentam jogadores que
despontam os principais preceitos de uma sociedade democrática que
respeita, de fato, seus cidadãos.
O jovem
que corre atrás da bola dribla preconceitos, trabalha com itens de
conduta fundamentais para sua formação: liderança, espirito de
coletividade e igualdade de forças. Além disso, é o esporte que
oferece maior facilidade de ascensão social, para aqueles menos
favorecidos.
A ajuda
de treinadores e árbitros é fundamental, pois oferecem o sentido de
justiça nessa pequena estrutura social que vira uma festa quando
surge um gol. Cidadania também se conquista com sonhos, com utopia e
projetos para o futuro.
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