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8/14/2015

Empirismo

Com este nome designa-se uma doutrina filosófica e em particular gnosiológica segundo a qual o conhecimento se funda na experiência. Costuma contrapor-se o empirismo ao racionalismo, para o qual o conhecimento se funda, pelo menos em grande parte na razão. 

Contrapõe-se também ao inatismo, segundo o qual o espírito, a alma, e, em geral, o chamado "sujeito cognoscente” possuem ideias inatas, isto é, anteriores a toda a aquisição de dados. Para os empiristas, o sujeito cognoscente é semelhante a uma tábua rasa onde se inscrevem as impressões procedentes do mundo exterior. 

Pode-se dizer que, em geral, há três tipos de empirismo: o psicológico, o gnosiológico e o metafísico. 

· Para o primeiro, o conhecimento tem integralmente a sua origem na experiência; 

· O segundo defende que a validade de todo o conhecimento radica na experiência; 

· O último afirma que a própria realidade é empírica, isto é, que não há outra realidade para além da que é acessível à experiência e em particular à experiência sensível. 

Neste texto restringir-se-á o termo empirismo ao chamado empirismo moderno e especialmente ao empirismo inglês, representado por Francis Bacon, Hobbes, Locke, Berkeley e Hume. Costuma-se opor este empirismo ao racionalismo continental (especialmente o de Descartes, Malebranche, Espinosa, Leibniz), embora sem grande pretexto, pois há autores empiristas, como Locke, que revelam uma forte componente racionalista. 

Comum a todos os empiristas ingleses é a concepção do espírito ou sujeito cognoscente como um receptáculo no qual ingressam os dados do mundo exterior transmitidos pelos sentidos mediante a percepção. 

Os dados que ingressam nesse receptáculo são as chamadas (por Locke e Berkeley) ideias, que Hume denomina sensações. Essas ideias ou sensações constituem a base de todo o conhecimento. Mas o conhecimento não se reduz a elas. Com efeito, se o conhecimento fosse assim consistiria numa série desconexa de dados meramente presentes. 

É mister que as ideias ou sensações se acumulem, por assim dizer, no espírito, de onde acorrem, ou melhor, de onde "são chamadas" para se ligarem a outras percepções. Graças a isso, torna-se possível executar operações como recordar, pensar, etc. a menos que sejam estas operações as que tornam possível o recorrer às ideias ou sensações depositadas; em todo o caso, é necessário que esta segunda fase do processo cognitivo para que o conhecimento seja propriamente esse e não mera presença de percepções continuamente mutáveis. 

A relação entre a primeira e a segunda fase do processo cognitivo é paralela à relação entre as ideias ou sensações primitivas e as ideias ou sensações ditas "complexas", sem as quais não poderia haver noções de objetos compostos de várias ideias elementares, isto é, de objetos (que se supõem ser substâncias) com qualidades. 

Com efeito, a formação dos objetos compostos não segue a ordem na qual foram obrigatoriamente dadas as impressões primárias, mas outras ordens diferentes que, além disso, sempre têm de ser confirmadas mediante o recurso à experiência primeira. Acima destes processos encontra-se o processo chamado reflexão, mediante o qual se torna possível o reconhecimento de conceitos e, em geral, de algo universal. Isto não significa que o universal seja aceite como propriamente real. 

Os autores que são, ao mesmo tempo, empiristas e nominalistas manifestam especialmente uma grande desconfiança para com tudo o que aparece como abstrato e, relativamente a este tema, estabelecem-se grandes diferenças entre os autores empiristas. Também diferem os empirismos no que respeita à diferença dos processos de inferência e àquilo a que Hume chamou relações de ideias. 

A admissão de uma diferença básica entre os fatos e as ideias, como propõe Hume (para o qual as ideias, no sentido de relações de ideias, são meras possibilidades de combinação) não é o único tipo de empirismo existente, mas é um dos formulados com maior precisão e que exerceu maior influência. 

Grande parte das tendências empiristas contemporâneas, inclusive o positivismo lógico, seguiram, neste aspecto, o empirismo de Hume. Nos empiristas atrás mencionados, é característico aquilo a que chamámos "empirismo psicológico", a que dão um alcance gnosiológico. 

Contra isto se rebelou Kant. No princípio da CRÍTICA DA RAZÃO PURA, Kant declara que, embora todo o conhecimento comece com a experiência, nem todo o conhecimento procede de a experiência. Isto quer dizer que a origem do conhecimento reside (psicologicamente) na experiência, mas a validade do conhecimento reside (gnosiologicamente) fora da experiência. 

Assim, nem todo o conhecimento é, para Kant, a posteriori; constitui-se por meio do a priori. Para os empiristas ingleses, especialmente para Hume, o a posteriori é sintético e o a priori é analítico. Para Kant existe a possibilidade de juízos sintéticos a priori (na matemática e na física).

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