Daiana
Linhares, Pedro Augusto Papini e Vinícius Franceschi
Abordar o tema religião não é algo simples, pois -
ao falar e refletir sobre ela - vêm à tona questões que dizem respeito à nossa
própria existência. Hellern et al. as denominam questões existenciais. Ei-las
abaixo:
·
Quem sou eu?
·
Como foi que o mundo passou a existir?
·
Que forças governam a história?
·
Existe algo superior a nós?
·
O que acontece conosco quando morremos?
Ainda segundo Hellern et al., as questões existenciais surgem em
todas as culturas e formam a base de todas as religiões .
Segundo ele, Não existe nenhuma raça ou tribo de que haja registro que
não tenha tido algum tipo de religião. Podemos perceber, portanto, o quanto
essas questões são universais e intrínsecas ao homem. A fim de verificar a
consistência de tal afirmação, buscamos dados sobre os primórdios da
religião.
Para Cícero, a palavra “religião” origina-se do
latim relegare (re + legare) que,
em língua portuguesa, significa “reler”.
Um estudo etimológico do final da Antiguidade e de
muitos estudiosos modernos, associam “religião” ao latim religare (português
“religar”), no sentido de
1.
Estabelecer uma
obrigação entre;
2. Uma relação entre humanos e deuses.
Uma outra origem possível provém do grego religiens,
no sentido de cuidadoso (o contrário de negligente). Nesse
caso, cuidadoso significa um sistema particular de fé.
Nas modernas ciências da religião
predomina a ideia de que a religião é um elemento independente, ligado ao
elemento social e ao elemento psicológico, mas que tem sua própria estrutura.
Por religião entendemos o conjunto de crentes
unidos por uma instituição mais ou menos organizada. Esses fiéis ligam-se por
uma tradição, por crenças e por ritos comuns, participando de uma doutrina mais
ou menos codificada.
Com o objetivo de (...) facilitar uma visão
de conjunto de fenômeno religioso, como se articula concretamente no tempo e no
espaço, Urbano Zilles utiliza a seguinte classificação: Religiões
primitivas; Religiões sapienciais; Religiões proféticas; Religiões
espiritualistas; Místicas filosóficas e Superstições.
Procuraremos destacar no presente trabalho, as
principais características das grandes religiões presentes na atualidade: o
Hinduísmo; o Budismo; o Judaísmo; o Islamismo; o Cristianismo (Catolicismo
Romano, Protestantismo, Igrejas Pentecostais e Neo-pentecostais, Igreja
Universal do Reino de Deus).
O Hinduísmo e o Budismo (Religiões
Sapienciais)
O HINDUÍSMO
·
Por Hinduísmo, entendemos um conjunto ou mosaico de
religiões e filosofias; de mitologias e regras diferentes e até, por vezes,
contraditórias. Dentro do Hinduísmo, permitem-se núcleos contrários de crenças
e sistemas opostos de filosofias, desde que não rejeitem abertamente a
autoridade das escrituras védicas. Para ser hindu é necessário aceitar as
escrituras védicas e participar, por nascimento, da estrutura social.
·
Essa é a principal religião da Índia, onde conta
com mais de 500 milhões de adeptos. O sistema social hindu está baseado em
regras e costumes que regem as relações entre os grupos sociais. O sistema de
castas é um sistema hierárquico no qual os grupos sociais diferenciados carecem
de igualdade e não têm os mesmos deveres, nem os mesmos direitos e privilégios.
O Hinduísmo apresenta algumas características, embora não estejam presentes em
toda parte:
·
Respeito da antiguidade e da tradição;
·
Fé na autoridade dos livros sagrados;
·
Permanência do sistema de castas;
·
Confiança nos guias espirituais, os chamados gurus;
·
Crença em sucessivas reencarnações.
O BUDISMO
·
No Budismo, há uma busca pelo equilíbrio entre a arte
de viver e a renúncia. Esse caminho leva à serena tranquilidade e à paz aqui e
agora mesmo. A doutrina budista começa com as “quatro verdades sagradas”:
·
A própria vida é sofrimento porque tudo é instável.
·
A origem é a sede ou desejo, que provém da ignorância.
·
O fim da dor - consequência do bom êxito, da
santidade ou do ser digno – é, negativamente, nirvana e positivamente,
felicidade.
·
A via sagrada para chegar ao ponto culminante que é
o nirvana, são: conhecimento da verdade; intenção de resistir ao mal; não
ofender aos outros; respeitar a vida; exercer um trabalho que não fira aos
outros; lutar para libertar a mente do mal; controlar os sentimentos e os
pensamentos; praticar as formas adequadas de concentração.
·
A ética budista pode ser resumida numa moral
negativa e positiva:
o Negativa: não matar
(nem mesmo animal); não furtar; não tomar a mulher do próximo; não mentir; não
tomar bebidas alcoólicas.
o Positiva: meditação
sobre o sofrimento dos vivos; participar de suas dores e alegrias; a
benevolência; a piedade; o perdão das ofensas e o sacrifício por outrem.
O Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo (Religiões
proféticas)
O JUDAÍSMO
·
O judaísmo é a mais antiga das religiões
Abraâmicas. Tem Abraão como seu profeta, e Sarah como símbolo da mulher ideal.
Tem na base de sua crença a vinda do Messias. Hoje em dia, alguns adeptos do
Judaísmo acreditam no Messias como um ser divino, mas a maioria o vê como uma
“era divina”, um tempo de paz e fraternidade. Outros veem a criação do estado
de Israel como o cumprimento da profecia: o neto de Abraão – Jacó -
teria tido doze filhos, que deram origem às doze tribos de Israel.
·
A maioria dos judeus está nos EUA e em Israel,
nação criada para eles pela ONU em 1948. Além de formarem uma religião, formam
também um grupo étnico historicamente muito unido entre si. Os
judeus sofreram grandes períodos de perseguições. Na Idade Média, eram mal
vistos por toda a parte e acusados de terem matado Jesus. No Renascimento, foi
proibido que possuíssem terras; daí a conhecida tradição deles no comércio,
única alternativa que lhes restou. A última grande perseguição foi a da
Alemanha nazista, acabando com quase metade da população judia no mundo.
·
Um grande movimento judeu é o sionismo: a volta dos
judeus para Israel. Por não serem bem aceitos em outros países, essa ideia foi
muito defendida. Com a criação do estado de Israel, houve uma imigração em
massa, principalmente de judeus russos.
·
O principal livro sagrado judeu é a Torá; o Antigo
Testamento para os Cristãos, mas organizada de uma forma diferente e sem os
livros de Salmos e Provérbios. Na Torá, constam as leis transmitidas por Deus
ao suposto povo escolhido. No judaísmo, é permitido o álcool - desde que com
moderação - e o tabaco é tolerado. O vinho deve vir de produtores judeus. Jogos
de azar são desaconselhados. Além disso, há uma extensa lista de comidas
proibidas.
·
A circuncisão é tradição, devendo ser feita oito
dias após o nascimento. O homem - aos 13 anos - passa pelo Bar Mitsvá,
cerimônia de passagem para a vida adulta. A mulher tem o Bat Mitsvá, aos 12
anos e é função dela conhecer muito bem as regras alimentares. Devido à
circuncisão, a taxa de câncer de útero nas mulheres judias é bem menor do que
em outras etnias.
·
A família e o casamento são de suma importância
para os judeus. O casamento é considerado o modo de vida ideal, próximo da
Vontade de Deus. Judeus ortodoxos costumam se casar entre si apenas.
O ISLAMISMO
·
Islã significa “submissão”, representando a posição
das pessoas perante Allah. Monoteísta, representa 15% da população mundial;
sendo a segunda maior religião do mundo. É a religião que mais cresce, devido à
alta taxa de fertilidade das mulheres muçulmanas (cerca de 4,1 filhos por
mulher, oscilando bastante entre os países).
·
Têm em Allah seu Deus e em Abu al-Qasim Muhammad
ibn 'Abd Allah ibn 'Abd al-Muttalib ibn Hashim (ou simplesmente Maomé) seu
profeta. Esse não é um ser divino - como Jesus é para os Cristãos - mas sim um
mensageiro de Allah. Conta-se que Maomé recebeu a ordem para que
profetizasse a mensagem de Allah do Anjo Gabriel, quando meditava numa caverna
em 613. Embora tenha enfrentado a resistência de muita gente devota do
paganismo, arrebanhou muitos seguidores na sua viajem a Meca em 615, onde
pregou até 622. Nesse ano, houve a Hégira (fuga) para Medina. Em 627, Maomé
volta com seus seguidores para Meca, conquistando a cidade.
·
“Não há Deus senão Allah, e Maomé é seu profeta” é
a frase que resume a máxima muçulmana. Os cinco pilares da religião são, nessa
ordem: o credo; a oração; a caridade; o jejum e a peregrinação a Meca, que deve
ser feita pelo menos uma vez na vida por todo muçulmano que tiver condições
financeiras e saúde para isso.
·
Álcool, tabaco, drogas em geral e jogos de azar são
totalmente proibidos.
·
Mulheres devem vestir o “Chador” (véu), a partir da
menarca até o fim da vida. O tamanho, forma, e locais obrigatórios de uso
dependem dos costumes de cada região.
·
O divórcio é permitido, ainda que Maomé tenha dito
que “é a atividade legal menos preferida por Deus”. Apesar dessa diretriz, o
índice de divórcio nos países de maioria muçulmana são os mais altos do mundo.
·
Para os mais ortodoxos, só o Corão escrito em árabe
tem valor; porém, hoje, é muito comum se aceitar em outros idiomas.
O ISLÃ E O CRISTIANISMO
·
No Corão, Maomé trata com muito respeito os
Cristãos, considerando-os um povo muito bom e caridoso. Fala de Jesus como um
homem iluminado, que veio para trazer o bem e a paz à Terra, negando – porém -
sua divindade. O respeito e a tolerância são ensinados e obedecidos pelos
muçulmanos em geral. Durante o domínio árabe em Jerusalém, os Cristãos não
foram expulsos e - mesmo em tempos de conflitos - era proibido tocar em
qualquer Igreja ou mesmo entrar sem permissão nelas. Saladino - líder militar
árabe - costumava se ajoelhar e fazer uma reverência sempre que passava por
uma, pois entendia que aquela era um símbolo importante para alguém.
·
Os ensinamentos se mantêm até hoje; porém, o
imperialismo ocidental acaba por criar o ódio entre grupos extremistas. Esses
grupos - normalmente repudiados pela maioria dos muçulmanos - promovem
atentados terroristas, caos, desordem pública e psicológica nas pessoas.
·
Outro grande choque de civilizações ocorre na
Europa, onde a imigração massiva de turcos e africanos muçulmanos tem gerado
atritos. De um lado, os imigrantes - que não querem abandonar suas tradições,
mas justificam ter deixado sua terra em busca de oportunidades - de outro, os
europeus - que veem concorrência, desemprego e segurança pública comprometidos
devido a essas imigrações. Em meio a esse contexto, nascem grupos extremistas
dos dois lados, inclusive de inspiração neonazista.
O CRISTIANISMO
·
O Cristianismo é a maior religião do mundo em
número de fiéis, contando com cerca de 2,1 bilhões deles. Acredita em um só
Deus - aquele que criou tudo e todos - embora a base da sua crença seja a
figura de Jesus de Nazaré, o Salvador. Nasceu como uma seita do Judaísmo, que
acreditava na vinda de um messias. Para muitos, então, o messias é Jesus.
·
Acredita que - após a morte - esperamos pelo dia do
julgamento final, onde será decidida a vida eterna de cada um. Aquele
que crer em Cristo e na sua divindade (Mateus 16; 21-28) terá a vida
eterna, segundo a Bíblia.
·
Como uma das mais importantes figuras da história
da humanidade, pode-se ver Jesus das mais diferentes formas e dar múltiplos
sentidos ao que ele diz e ensina. Jesus pode ser visto como um revolucionário
de cunho socialista; um hippie; um conservador; um ditador; um charlatão; ou
como o filho de Deus que veio para nos salvar, segundo as mais importantes correntes.
·
Ao longo do tempo, o Cristianismo se desenvolveu em
múltiplas correntes. Abordaremos, nesse trabalho, algumas: o Catolicismo
Romano; o Protestantismo e as Igrejas Pentecostais e Neopentecostais.
O Catolicismo Romano
·
O Catolicismo Romano é a maior vertente do
Cristianismo, abrangendo cerca de um bilhão de pessoas, quase metade dos
Cristãos do mundo.
·
Você é Pedro, e sobre está pedra construirei minha
Igreja, e nem a morte poderá vencê-la. Eu lhe darei as chaves do Reino dos
Céus; o que você proibir na terra será proibido no céu, e o que permitir na
terra será permitido no céu (Mateus 16;18-19). Segundo os católicos,
essas palavras - profetizadas pelo próprio Cristo em vida - teriam dado a Pedro
o poder de fundar a verdadeira Igreja de Jesus. Pedro teria então ido pregar em
Roma onde fundou a Igreja; ele foi considerado o primeiro Papa, embora fatos
históricos digam que Pedro nunca pisou em Roma. Os cristãos católicos têm na
figura do Papa o descendente de Pedro; tendo ele, portanto, o poder de decidir
as leis da Igreja e sendo considerado infalível. O Papa é considerado
descendente de Pedro porque Jesus disse que “nem a morte poderá vencê-la.” Há
uma hierarquia rígida, que visa: organizar a Igreja pelo mundo e - por meio de
missões - arrebanhar seguidores.
·
É dada uma importância extrema à Igreja em si.
·
Além de venerar Cristo e o próprio Deus, têm o
costume de venerar e pedir graças a pessoas ditas “santas”; além de reverenciar
suas imagens, ambas as práticas de origem pagãs e condenadas por Jesus.
·
Embora tenha se modernizado com o tempo, ainda
mantém práticas medievais: como a importância extrema dada à castidade e
condenação de métodos contraceptivos; a importância dada à Eucaristia - que vê
na hóstia e no vinho Jesus materializado - o celibato aos sacerdotes; entre
outras coisas.
O Protestantismo
·
Martinho Lutero, monge alemão, foi o responsável
pela primeira dissidência no Cristianismo. Revoltado com a venda de
indulgências realizada pela Igreja Católica, lançou as suas 95 teses em 1517.
Encontrando resistência dentro da Igreja Católica, fundou uma nova Igreja,
amplamente aceita pela burguesia - já cansada de pagar impostos à Igreja - que
queria lucrar sem a culpa e as ameaças ao inferno que o Papa colocava em suas
cabeças. Apesar de reverenciado como um libertário, Lutero apoiou o massacre de
camponeses.
·
As Igrejas Protestantes negam os santos, o Papa, as
indulgências e reduz os Sacramentos a apenas dois: o Batismo (luteranos batizam
crianças; outras Igrejas Protestantes apenas adultos) e a Eucaristia.
·
Diferentemente da Igreja Católica, que proíbe o
casamento dos sacerdotes, os Protestantes aceitam e até recomendam.
·
A Igreja em si geralmente é vista como um caminho
até Cristo, mas é Ele quem salva; é Ele quem se deve reverenciar.
·
A Igreja Protestante desmembrou-se em Calvinistas,
Batistas, Anglicanos, Mórmons, Testemunhas de Jeová, entre outros.
Igrejas Pentecostais e Neopentecostais
·
William Seymour (1870 – 1922) - em 1906 - recebeu,
supostamente, um chamado de Deus para que fundasse um novo segmento Cristão.
Essa nova doutrina chamava a atenção pela exaltação de Cristo; na salvação por
meio d’Ele; e por correr atrás de novos fiéis de todas as maneiras. Rapidamente
se espalharam mundo afora, criando o segmento Cristão que mais cresce no mundo.
·
Pregam que o homem pode e deve buscar a felicidade
na terra, mas sempre respeitando as leis e a Vontade de Deus. Veem outras
religiões e pessoas que não creem como gente que necessita de iluminação. Por
isso, têm por missão levar a Palavra de Deus a todos; tornando-se, muitas
vezes, preconceituosos e gerando conflitos com outras ideias.
·
No Brasil, começou a se desenvolver nos anos 80,
tendo seu ápice na segunda metade dos anos 90. Seus líderes são muito
conhecidos, e - muitas vezes - acusados de charlatanismo; desonestidade, ao
enganar pessoas fracas psicologicamente; ou mesmo crimes, como lavagem de
dinheiro.
·
Mesmo com todo tipo de acusação, Igrejas como a
Universal do Reino de Deus, Deus é Amor, Internacional da Graça de Deus - entre
outras - crescem a cada dia, principalmente entre as pessoas de classes sociais
mais desfavorecidas. Essas Igrejas – muitas vezes - prometem riquezas materiais
e a solução dos mais variados problemas, tidos como “possessões demoníacas” por
eles.
Em geral, sobre o Cristianismo:
·
Embora tenham grandes diferenças, há semelhanças
visíveis entre todas essas Igrejas:
o
São todas monoteístas, crendo em Jesus como
Salvador; têm uma noção moral bem parecida quanto a assuntos como castidade,
casamento, divórcio, adultério, homossexualismo, aborto;
o
Permitem o álcool, embora seja da conduta do bom
cristão não abusar;
o
São tolerantes com o tabagismo, embora
desaconselhem isso para os fiéis;
o
Proíbem totalmente drogas além dessas, pois dizem
que os afasta de Deus;
o
Proíbem o jogo, embora promoções, sorteios, rifas e
loterias governamentais sejam toleradas;
o
Crêem na Bíblia como caminho da verdade - embora a
Bíblia Católica seja um pouco diferente da Protestante - o que mais difere uma
corrente das outras é a interpretação dada.
Apesar das inúmeras Igrejas e religiões existentes
(cada uma com seus ritos, crenças e mitos) existe algo em comum entre elas. É a
chamada Regra de Ouro que está presente em todas as religiões
e diz:
“Faz aos outros aquilo que gostarias que fosse
feito a ti e não faz aos outros aquilo que não gostarias que fosse feito
a ti.”
DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
Apesar de muito desconhecido, o diálogo
inter-religioso é uma realidade bastante presente na atualidade. Como uma forma
de demonstrar a existência desse diálogo, ressaltamos o Encontro Internacional
promovido pela comunidade romana de Santo Egídio, com o tema “Por um mundo de
paz, religiões e culturas em diálogo”.
Esse encontro aconteceu nos dias 04 e 05 de
setembro de 2006 em Assis – na região italiana da Úmbria – e buscou recordar o
primeiro e histórico “Dia mundial de oração pela paz”, convocado vinte anos
atrás pelo Papa João Paulo II, realizado em 27 de outubro de 1986 também em Assis.
Representantes das várias confissões cristãs
juntamente com judeus, muçulmanos e expoentes de outras religiões participaram
do encontro, para dizer juntos, que o diálogo e a amizade são mais fortes do
que o ódio e as divisões.
O Cardeal Paul Poupard (presidente dos Pontifícios
Conselhos para a Cultura e para o Diálogo Inter-religioso) participou do
Encontro e, em entrevista à Rádio Vaticano comentou: Nesses 20 anos (...)
muitas coisas mudaram, verdadeiramente. Eu diria que, de um lado, a difusão da
violência sob todas as suas formas – guerra e terrorismo – e também a sua
onipresença através dos meios de comunicação social; de outro lado, uma tomada
de consciência crescente em nosso mundo globalizado sobre a responsabilidade de
todos – homens e religiões – pela paz.
UM FENÔMENO ATUAL
A Igreja Universal do Reino de Deus
A IURD é uma Igreja Protestante de tendência Neopentecostal
fundada em 1977 no Brasil onde possui sua maior atuação. Essa Igreja é a maior
responsável pelo crescimento evangélico no mundo e vem expandindo suas
fronteiras através de países da América, Ásia, África e Europa. Ela é uma das
Igrejas que mais tem crescido no Brasil. Em apenas 30 anos, a IURD arrecadou
mais de oito milhões de fiéis só no Brasil; possui cerca de 9600 pastores em mais
de 4700 templos.
A Igreja Universal do Reino de Deus é muito
conhecida devido à polêmica que causa. Sua estreita relação com o capitalismo e
com a política tem se destacado nos meios de comunicação.
RELIGIÃO versus PSICOLOGIA
O que os psicólogos pensam com relação à religião?
Escolhemos alguns criadores de teorias psicológicas
que têm visões distintas sobre a religião. São eles: Freud, Jung e Viktor
Frankl.
A Religião segundo Freud
Freud diz que todo indivíduo é virtualmente inimigo
da civilização. Ela nos impõe regras que nos oprimem e nos frustram. Não
podemos tomar a mulher que queremos como objeto sexual; não é possível matar
sem hesitação o rival ao amor dela ou qualquer outra pessoa que se colocasse no
caminho. Não se pode pegar os pertences de uma pessoa sem pedir licença. Os
homens sentem como um pesado fardo os sacrifícios que a civilização deles
espera, a fim de tornar possível a vida comunitária (Freud, S.).
O homem, segundo Freud é oprimido pela sua cultura.
Para isso, ele desenvolveu meios a fim de lidar com essa opressão; um desses
meios, é a via da religião. O ser humano teme aquilo que não pode controlar:
como as forças da natureza; tem dúvidas existenciais (Qual é o sentido da vida?
Como o mundo começou? etc.); sente-se desamparado perante um mundo caótico e opressor.
Tudo isso - segundo Freud - gera uma pesada carga psíquica no homem, o qual
consegue aliviá-la nas crenças religiosas.
Freud diz que muito da força da religião têm sua
origem na infância do ser humano. Ele diz que o homem - ao personificar as
forças da natureza, por exemplo - está seguindo um modelo infantil. O sujeito,
durante a infância, aprendeu das pessoas de seu primeiro ambiente que a maneira
de influenciá-las é estabelecer um relacionamento com elas; assim, mais tarde,
tendo o mesmo fim em vista, trata tudo o mais com que se depara da mesma
maneira que tratou aquelas pessoas.
Além disso - na infância - experienciamos uma
impressão terrificante de desamparo que desperta a necessidade de proteção, a
qual é completamente proporcionada pelo pai. Esse desamparo perdura através da
vida, o que torna necessário afinar-se à existência de um pai; porém, um pai
mais poderoso.
Assim, a crença divina ameniza nosso temor dos
perigos da vida; o estabelecimento de uma ordem moral mundial assegura a
realização das exigências de justiça. As respostas aos enigmas que tentam a
curiosidade do homem (como, por exemplo: como o universo começou?) são
saciadas, o que constitui alivio enorme para a psique individual.
As ideias religiosas são ilusões; realizações dos
mais antigos, fortes e prementes desejos da humanidade. O segredo da força das
doutrinas religiosas reside na força desses desejos.
A Religião para Jung
Segundo uma avaliação de Viktor Frankl, Jung
deslocou a religiosidade inconsciente para o id. No sentido que Jung lhe deu, o
eu não era responsável pelo elemento religioso, este não era da competência do
eu; o religioso não pertencia à responsabilidade e decisão do eu.
E ainda, De acordo com Jung, há “algo” em
mim, um “id” que é religioso, mas não é que “eu” seja religioso; o “id” me
impulsiona em direção a Deus, neste caso, porém, não sou eu quem se decide por
Deus.
Fica claro que Jung não considera o homem autônomo
em relação à religião:
De acordo com Jung, com efeito, a religiosidade
inconsciente está ligada a arquétipos religiosos, a elementos do inconsciente
arcaico ou coletivo. Na realidade, a religiosidade inconsciente em Jung muito
pouco tem a ver com uma decisão pessoal do homem; representa muito mais um evento
coletivo, “típico”, justamente arquetípico, “no” homem.
Viktor Frankl destaca que para Jung e sua
escola (...) a religiosidade é algo essencialmente instintivo. H.
Bänzinger chega a declarar sem rodeios: “Podemos falar de um “impulso
religioso” como falamos de um impulso sexual ou agressivo.
A Religião para Viktor Frankl
Das três “escolas vienenses de psicoterapia” –
Psicanálise, Psicologia Individual e Logoterapia - Viktor Frankl foi o fundador
da terceira. Ele traz uma visão totalmente diferente da de Freud. Através das
quatro seguintes citações – retiradas de seu livro “A presença ignorada de
Deus” - torna-se possível compreender essa distinção.
Da mesma forma que a logoterapia, como aplicação
clínica da análise existencial, acrescentou o espiritual ao psicológico (que
era até então praticamente o único objeto da psicoterapia), ela passou a
aprender e ensinar a ver o espiritual também dentro do inconsciente, algo como
um “logos” inconsciente; ao id, como inconsciente instintivo, foi acrescentado,
como nova descoberta, o inconsciente espiritual. Com esta espiritualidade
inconsciente do homem, que qualificamos como inteiramente pertencente ao eu,
descobrimos aquela profundeza inconsciente, onde são tomadas as grandes
decisões existencialmente autênticas.
(...) a análise existencial descobriu,
dentro da espiritualidade inconsciente do homem, algo como uma religiosidade
inconsciente no sentido de um relacionamento inconsciente com Deus, de uma
relação com o transcendente que, pelo visto, é imanente no homem, embora muitas
vezes permaneça latente.
Esta fé inconsciente do homem, que aqui se nos
revela e está englobada e incluída no conceito de seu “inconsciente
transcendente”, significaria então que sempre houve em nós uma tendência
inconsciente em direção a Deus, que sempre tivemos uma ligação intencional,
embora inconsciente, com Deus. E é justamente este Deus que denominamos de Deus
inconsciente.
Da mesma forma que para Freud, para Jung o
inconsciente, e assim também o inconsciente “religioso”, continua sendo algo
que determina a pessoa. Para nós, no entanto, a religiosidade inconsciente e,
de modo geral, todo inconsciente espiritual, constituem um ser inconsciente que
decide, e não um ser impelido a partir do inconsciente. Para nós, o
inconsciente espiritual e, sobretudo, a religiosidade inconsciente, ou seja, o
“inconsciente transcendente”, não são um inconsciente determinante, mas
existente.









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