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1/22/2015

O Álcool e o sono

Em média um adulto dorme 7 horas e meia a 8 horas todas as noites. Apesar do sono ter uma função desconhecida, as evidências demonstram que dormir pouco pode ter graves consequências, incluindo o aumento do risco de doenças depressivas, dificuldades respiratórias e doenças coronárias. 

Além disso, dormir em excesso durante o dia, resultante de distúrbios do sono, está associado a défices de memória, dificuldades nas funções sociais e ocupacionais e acidentes de trânsito. O consumo de álcool pode induzir a perturbações do sono, por interromper a sequência e a duração dos estados de sono e por alterar o tempo de sono total, assim como o tempo necessário para adormecer (i.e., sono latente).

A estrutura do sono, início e despertar

Antes de discutirmos os efeitos do álcool no sono, torna-se importante resumir algumas das características do sono normal. Uma pessoa passa por dois estados alternados de sono, caracterizados em parte por diferentes tipos de atividade eléctrica cerebral (i.e., ondas cerebrais). 

Estes estados são designados por sono SWS (“slow wave sleep”), porque neste tipo de sono as ondas cerebrais são muito lentas (é um sono de ondas lentas), e por sono REM (“rapid eye movemente”), onde há movimentos rápidos dos olhos apesar da pessoa continuar a dormir.

A maior parte do sono é SWS, ou seja, profundo e relaxante. O sono REM ocorre periodicamente, ocupando cerca de 25% do tempo de sono no jovem adulto. Episódios do sono REM ocorrem normalmente em cada 90 minutos e duram entre 5 a 30 minutos. 

O sono REM é menos repousante que o sono SWS e está geralmente associado aos sonhos. Apesar da sua função ser desconhecida, o sono REM parece ser essencial para a saúde. Nos ratos, a privação do sono REM pode levar à morte num espaço de poucas semanas.

Ao sono foi formalmente atribuída a diminuição da atividade dos sistemas cerebrais que mantêm o estado de vigília. Dados mais recentes indicaram que o sono, como a consciencialização, é um processo ativo. O sono é controlado na sua maioria por centros nervosos localizados na base do cérebro, onde se junta à espinal medula. 

Algumas destas células nervosas produzem serotonina, um mensageiro químico associado ao início do sono e com a regulação do sono SWS. Outras células nervosas produzem norepinefrina, que ajuda a regular o sono REM e facilita o despertar. 

As funções exatas e as interações destes e de outros mensageiros químicos para “orquestrar” os padrões de sono não são conhecidas. Porém, o consumo de álcool afeta significativamente a função destes e de outros mensageiros químicos que parecem influenciar o sono.

O álcool e o sono nos não alcoólicos

O álcool consumido a horas de dormir, após um efeito estimulante inicial, pode diminuir o tempo necessário para adormecer. Devido ao efeito sedativo do álcool, muitas pessoas com insônia consomem álcool para promoverem o sono. 

Todavia, o álcool consumido acerca de uma hora de ir dormir parece interromper a segunda metade do período de sono. A pessoa pode dormir irregularmente durante a segunda metade do sono, acordando de sonhos e tornando a adormecer com dificuldade. 

Mantendo o consumo mesmo antes da hora de dormir, o efeito de sono induzido pelo álcool pode diminuir, enquanto os seus efeitos de interrupção continuam ou aumentam. Esta interrupção do sono pode originar fadiga e sonolência durante as horas do dia. 

Os mais idosos estão perante um risco maior, porque eles atingem níveis mais elevados de álcool no sangue e no cérebro do que os mais jovens, depois de consumirem doses equivalentes. O consumo de álcool às horas de dormir entre pessoas mais velhas pode levar a uma instabilidade se tentarem andar durante a noite, com o aumento do risco de quedas e ferimentos.

As bebidas alcoólicas são habitualmente consumidas ao princípio da noite (e.g., em “happy hour” ou ao jantar) sem outro consumo antes da hora de dormir. Estudos demonstram que uma dose moderada de álcool consumido até 6 horas antes da hora de dormir pode aumentar o despertar durante a segunda metade do sono. Quando este efeito ocorre, a dose de álcool consumida anteriormente já terá sido eliminada pelo corpo, sugerindo uma mudança relativamente longa no mecanismo de regulação do sono.

Os efeitos adversos da privação de sono sofrem um aumento seguindo o consumo de álcool. Pessoas a quem foram administradas baixas doses de álcool seguindo-se uma noite de sono reduzido, tiveram uma má prestação num simulador de condução, mesmo sem álcool nos seus organismos. 

Uma vigilância reduzida pode aumentar potencialmente o efeito sedativo do álcool em situações como horários rotativos de sono (e.g., trabalhar por turnos) e viagens rápidas através de múltiplas zonas (i.e., jet lag). Uma pessoa pode não reconhecer a dimensão do distúrbio de sono que ocorre sob estas circunstâncias, aumentando o perigo em que a sonolência e o consumo de álcool venham a co-ocorrer.

O álcool e as doenças respiratórias

Aproximadamente 2 a 4% dos Americanos sofrem de apneia obstrutiva do sono (OSA), uma doença em que a passagem superior do ar (i.e., a faringe, localizada na parte detrás da boca) se estreita ou fecha durante o sono. 

O episódio resultante da respiração interrompida (i.e., apneia) acorda a pessoa, que retoma a respiração e volta a dormir. Episódios recorrentes de apneia seguidos do despertar podem ocorrer centenas de vezes em cada noite, reduzindo significativamente o tempo de sono e provocando sonolência durante o dia. 

Aqueles que sofrem de alcoolismo parecem apresentar um aumento do risco de sofrerem apneia do sono, especialmente se ressonarem. Além disso, doses moderadas a doses elevadas de álcool consumidas ao serão podem levar ao estreitamento da passagem de ar, causando episódios de apneia inclusive em pessoas que de outra forma não exibem sintomas de apneia obstrutiva do sono (OSA). Os efeitos depressivos do álcool podem aumentar os períodos de apneia, piorando qualquer OSA preexistente.

Entre os pacientes com grave OSA, a taxa de consumo de álcool de duas ou mais bebidas por dia está associada a 5 vezes o aumento do risco de acidentes rodoviários relacionados com a fadiga, comparado com pacientes com OSA que não consomem álcool ou que o consomem em pequenas quantidades. Além disso, a combinação de álcool, OSA e do ressonar aumenta o risco de uma pessoa ter um ataque cardíaco, arritmia, enfarte e morte súbita.

Os efeitos relacionados com a idade e o impacto do consumo

Pouca pesquisa tem sido feita nos efeitos específicos do álcool nos estados de sono em diferentes grupos de idades. Foi feita uma investigação acerca dos efeitos da exposição pré-natal ao álcool nos padrões de sono dos bebês. 

A medição da atividade eléctrica cerebral demonstrou que os bebês de mães que consumiam pelo menos uma bebida alcoólica por dia durante o primeiro trimestre de gravidez, exibiam perturbações do sono e um aumento das vezes que despertavam, comparativamente aos bebés de mães não consumidoras de álcool. 

Estudos adicionais revelaram que os bebês expostos ao álcool através do leite materno adormeciam mais cedo, mas geralmente dormiam menos do que os que não tinham sido expostos ao álcool. (O significado exato destes resultados não é evidente).

O envelhecimento normal é acompanhado por um decréscimo gradual do sono SWS e um aumento da vigília durante a noite. Pessoas acima dos 65 anos frequentemente acordam 20 ou mais vezes durante a noite, fazendo com que o sono seja menos repousante e restaurador. Problemas em dormir relacionadas com a idade podem encorajar o uso de álcool para promover o sono, enquanto aumentam a susceptibilidade da pessoa idosa a distúrbios relacionados com o álcool.

Efeitos do álcool no sono dos alcoólicos

Os distúrbios de sono associados ao alcoolismo incluem o aumento do tempo necessário para adormecer, despertares frequentes, e um decréscimo da qualidade de sono com fadiga durante as horas do dia. Uma redução abrupta do consumo excessivo de álcool pode accionar um síndrome relacionado com essa ausência, acompanhado de insônias profundas com marcadas fragmentações do sono. 

A diminuição do sono SWS durante esta privação do consumo pode reduzir a quantidade de sono repousante. Tem-se sugerido que o aumento do sono REM pode estar relacionado com alucinações que por vezes ocorrem durante esta paragem do consumo. Em pacientes com reduções severas, o sono pode consistir, quase por completo, de breves períodos de sono REM interrompidos por numerosos despertares.

Recuperação e reincidência Apesar de algumas melhorias subsistirem após a privação do consumo, os padrões de sono podem nunca voltar ao normal nos que sofrem de alcoolismo, mesmo depois de vários anos de abstinência. Os alcoólicos abstinentes tendem a dormir pior, com quantidades inferiores de sono SWS e aumento da vigília noturna que pode tornar o sono menos restaurador e contribuir para a fadiga durante o dia. 

O reinício do excesso de consumo leva ao aumento do sono SWS e diminui a vigilância. Este aparente melhoramento na continuidade de sono pode promover a reincidência por contribuir para a impressão (errada!) de que o consumo de álcool melhora o sono. No entanto, ao continuar o consumo de álcool, os padrões de sono voltam a sofrer distúrbios.

Apesar de serem necessárias mais pesquisas, estes resultados podem facilitar a identificação precoce de pacientes em risco de reincidência e permitir aos médicos adequar os programas de tratamento.

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