Maconha...
Um hectare de maconha dá lucro 45 vezes maior que o de tomate e 200 vezes mais que o de feijão.
Plantinha
natureba, erva milagrosa, cigarrinho do capeta? Pode ser qualquer coisa. Só não
pode dizer que faz bem à saúde. Não pode porque quem diz isso ou é burro ou não
compreende a diferença entre fumar maconha e usar o THC com fins medicinais.
São coisas totalmente diferentes e que nem sequer podem ser comparadas. Mas
fazer o que? Dentre todas as drogas não tenho dúvidas de que é ela a que gera
maior polêmica e que mobiliza milhões de pessoas ao redor do mundo que saem em
sua defesa.
Fácil
de cultivar e de encontrar, relativamente barata, capaz de dar um "barato"
legal, amparada por quem defende sua liberação escorada em muletas científicas
capengas, a maconha sai destruindo e detonando tanto quanto suas congêneres
tidas como mais barra pesadas.
O
cigarro é prejudicial porque pode, além de matar quem fuma, matar quem não
fuma. O álcool é problema de saúde pública em vários países (Ucrânia e Rússia,
por exemplo, onde o hábito de se derrubar uma garrafa inteira de vodca, em
goles únicos, é uma instituição). Mas, de longe, nenhuma dessas duas drogas
causa tanta polêmica e discussão como a maconha. E tudo porque suas ações no
organismo podem ser defendidas tanto por quem a estima como por quem a detrata.
Quem
ousa defender o cigarro com argumentos científicos sobre suas benesses?
Pesquisadores ingleses tentaram e foram quase apedrejados. Com o álcool, o
máximo que se pode dizer em seu benefício é que pequenas ingestões de vinho
podem auxiliar o ritmo cardíaco (o chamado bom colesterol). Passou disso, as
defesas só se escoram nos tamancos emocionais que essas duas drogas
proporcionam. Com a maconha é diferente. Suas propriedades terapêuticas são há
muito tempo estudadas. E esse é o ringue em que se batem os contendores.
Para
começo de conversa, ninguém usa espontaneamente a maconha por causa de suas
propriedades terapêuticas. Usa porque gosta, já que ela induz, conforme o
estilo de uso, a um estado narcótico que propicia ao usuário a fuga da
realidade. Seja porque motivo for. Se ela beneficia alguma coisa no organismo
do sujeito, o faz por tabela. Da mesma forma, a pessoa que bebe não o faz
porque é bom para o coração. Faz porque gosta e, a depender dos tragos, também
para dar uma escapadinha sabe-se lá para onde.
A
maconha está entre as primeiras drogas ilícitas a serem consumidas, até porque
está presente no cotidiano do homem desde priscas eras. Ela aparece no Pen
Ts'oo Ching, texto medicinal de origem chinesa, considerado o mais antigo do
gênero no mundo (6.000 anos atrás), onde é indicada para asma, cólicas
menstruais e inflamações da pele. Daí se pode aferir que a celeuma em torno de
suas propriedades – narcotizantes e medicamentosas – são antigas.
Uma
vez que surgiu nesse texto chinês, tudo indica que fazia parte do herbário do
imperador Nung, da China, há quase 5.000 anos. Outro tratado chinês de 2.000
anos indicava seu uso como anestésico em cirurgias. Já na medicina Ayurvédica
da Índia, a maconha é recomendada como hipnótico, analgésico e espasmolítico.
No
Brasil, seus primeiros registros "medicamentosos" são desse século. Os
que propunham o uso médico da maconha não apresentam nenhuma novidade pois, na
primeira edição da Farmacopeia Brasileira, de 1929, a sua monografia incluía,
junto com o extrato fluido (solução), o pó e a tintura (solução alcoólica) de
cânhamo indiano (cannabis).
Hoje
vários estudos estão sendo conduzidos no sentido de verificar sua eficácia no
tratamento de câncer, glaucoma, asma e epilepsia entre outros. Aventa-se a
hipótese de que a maconha possa ter propriedades anestésicas e antiasmáticas.
Pesquisadores debatem em torno de sua eficácia como estimulante de apetite e
quadros anoréxicos.
Isso
quer dizer que os estudos a respeito de sua qualidade como medicamento
prosseguem, o que dá munição para aqueles que defendem o uso "tolerável e
responsável" da droga. A polícia, por exemplo, é muito mais rígida com
outras drogas – cocaína e crack — do que com essa velha conhecida, quem sabe
porque sua forma clássica de utilização resida numa relação muito próxima com o
cigarro. Aliás, é comum que o cigarro seja a primeira droga com a qual a
maconha é comparada.
A
maconha é vendida em pequenas quantidades, normalmente suficientes para um ou
dois cigarros. A mistura, no Brasil, é feita com capim, folhas secas e esterco
de boi entre outras "substâncias". O plantio e a comercialização da
maconha é uma atividade rendosa. Não é sem motivo que muitas pessoas abandonam
o plantio de grãos.
Na
região conhecida como o "Polígono da Maconha", região que vai de
Petrolina, em Pernambuco, a Juazeiro, na Bahia, um hectare de maconha dá lucro
45 vezes maior que o de tomate e 200 vezes mais que o de feijão. A importância
econômica da maconha para o sertão de Pernambuco, por exemplo, é notável.
Quando a polícia destrói plantações, os traficantes fogem e param de dar
emprego aos agricultores. Sem dinheiro, esses deixam de movimentar o comércio
local e as vendas caem. Mas o plantio de maconha não está restrito ao Nordeste,
ainda que esse responda por mais de 90% das plantações no Brasil. Norte, Sul e
Sudeste já estão contabilizando bons lucros com seu cultivo, o que leva a
polícia a dar batidas sistemáticas nessas regiões. Os traficantes
contra-atacam: plantam em pequenas quantidades e as disfarçam em meio a outras
culturas.
Se
comparado ao que está sendo feito nos EUA, em termos de cultivo da planta, o
tipo de manejo que se faz no Brasil é jurássico. Quando o governo Reagan aumentou
a pressão contra os plantadores, esses dispararam um processo de cultivo
altamente sofisticado. Em vez de grandes plantações, passaram a abrigar a
Cannabis em estufas montadas em apartamentos. Com pesquisa genética, alta tecnologia,
manipulação de luminosidade, de nutrientes e dióxido de carbono, os
cultivadores colocaram nas ruas dos EUA espécimes com um teor de THC mais alto
e que completam a florada em apenas dois meses.
Numa
área de dois metros quadrados se concentram 100 pés de maconha. Tudo controlado
por computadores que zelam também pela segurança dos cultivadores. Com
softwares especialmente desenvolvidos eles podem se comunicar, dar alertas
sobre a ação da polícia e escapar da prisão.
Há
como se imaginar o esboroamento da vida do usuário pesado da maconha. Como na
grande maioria dos dependentes de outras drogas, o dependente da marijuana
desenvolve uma série de artimanhas, subterfúgios, simulações que dificultam sua
recuperação. Até porque ele não se considera doente da maconha. A liberação
lenta do THC em seu organismo faz com que seus efeitos se mantenham mesmo
depois que está sóbrio, para usar um jargão mais próximo do alcoolismo.
Nesse
sentido, as duas drogas – maconha e álcool – podem diferir radicalmente. Quando
um indivíduo, sob ação do álcool, procede de maneira alterada e, depois,
sóbrio, é relembrado disso, ele tende a separar a sua pessoa deste tipo de
atitude ou comportamento, com alegações do tipo eu estava embriagado. Com o
usuário crônico de maconha ocorre que, mesmo sóbrio, ele permanece com a mesma
personalidade desencadeada pela ação da droga, recusando-se a voltar "ao
normal".
A Phoenix
House de Nova York – uma das maiores instituições de tratamento de usuários
crônicos de maconha –, afirma que "mesmo quando fica sem fumar, duas ou
três semanas, ao invés de voltar ao normal, o usuário teimosamente fica no
estado de "racionalidade" que desenvolveu induzido pela
maconha". A toxicidade comportamental da maconha, proveniente do uso
pesado da droga, mesmo por curtos períodos (entre três e seis meses, por
exemplo), induz a sutis ou pronunciadas modificações no estilo de vida e nos
objetivos do usuário.
Quando
consumida durante boa parte de horas em que está acordado, ele se entrega a uma
sensível passividade e perda de interesse por atividades, pessoas e objetivos.
Sua vida pode se esvair como a fumaça da maconha que exala e que o encanta.
A
relação uso-óbito nunca foi confirmada, mas a participação da maconha como coautora
de morte entre usuários é mais do que comprovada. Já que é comparada ao
cigarro, uma vez fumada, há como imaginar que tanto quanto o tabaco provoque,
no mínimo, os mesmos malefícios.
Liberar
o uso da maconha seria aumentar a maré de mortes por câncer, enfisema e edema
pulmonar, bronquite, pneumonia, hipertensão arterial, infarto. Como diminui os
reflexos e debilita a atenção, acidentes de automóveis são mais comuns entre os
usuários de maconha.
A
maconha é uma droga idiotizante. A psicose canábica é um quadro psiquiátrico
muito grave, que se parece com a esquizofrenia paranoide, provocada pelo efeito
narcotizante da maconha. O que não se sabe é se ela detona uma psicose
preexistente ou se provoca esse tipo de psicose. Pesquisas indicam que o uso da
maconha é a causa e não a consequência desses distúrbios psicológicos.
E
quanto ao suicídio? É sabido que usuário de drogas, sejam elas quais forem,
estão muito mais propensos a dar cabo da própria vida do que outras pessoas. Se
foge da realidade por meio da droga, pode chegar um dia que nem ela esteja mais
proporcionando isso. E é aí que a droga tornar-se um bilhete sem volta.
Muitos
profissionais que lidam com jovens usuários crônicos de maconha diagnosticam,
com preocupante constância, crises psicóticas aliadas a estados depressivos com
tendências suicidas. Se a maconha não provoca mortes diretamente pode, sem
dúvida, provocá-las indiretamente, pelos efeitos do uso prolongado e/ou
concomitante com outras drogas.
Por
isso, à maconha não deve ser debitada a exclusividade de um índice maior de
suicídios entre seus usuários. A polícia do Rio de Janeiro estourou uma
"boca de fumo" onde encontrou "craconha". Mistura de crack
com maconha, o mix que compõe "o produto" leva solvente, ácido,
talco, mármore e outros componentes menos nobres ainda. O uso de maconha com
álcool é comum e conhecer os processos usados pelo organismo para metabolizar a
droga é suficiente para saber porque o corpo vai à lona e pode não se levantar
mais: alguns canabinóides deprimem o centro do vômito que, como se sabe, é uma
espécie de defesa do indivíduo alcoolizado para eliminar o álcool do organismo;
ora se o vômito não ocorre, por estar deprimido o seu centro pela ação da
maconha, é lógico que o risco de morte é muito mais pronunciado.
Entretanto,
os gladiadores que defendem e atacam a maconha encontram-se no coliseu maior da
discussão quando o tema é a propriedade medicamentosa da Cannabis. Os primeiros
dizem que seus efeitos terapêuticos, em algumas situações, depõem a favor de
sua liberação e demonstram que sua ação no organismo não é tão deletéria quanto
se alardeia. Os segundos afirmam que, muito embora algumas ações benéficas da
Cannabis tenham sido identificadas, drogas mais atuais, sintetizadas por
laboratórios, são muito mais convenientes, eficazes, não possuem a ação
narcotizante da droga e, portanto, desvestem (ou ao menos esmaecem bastante) a
aura de "remédio" que os primeiros colocam na maconha.
Como
o THC é solúvel nas gorduras, não pode ser injetado por via endovenosa;
administrado por via oral ou fumado, sua biodisponibilidade (que corresponde à
quantidade ativa da droga que entra na corrente sanguínea) é de apenas 6% a
20%, o que fica bem abaixo da metoclopramida (Plasil), por exemplo, droga que
pode ser administrada por via endovenosa e que dá uma biodisponibilidade de
100% com poucos efeitos colaterais e nenhuma ação mental.
Maconha
é droga. Alegar que ela possui alguma condição medicinal não tira seu cerne
maior de droga. Se a sociedade continuar a bater nessa tecla, terá de permitir
que a cocaína seja liberada (afinal, Freud tratou e se tratou com cocaína), a
morfina, os ansiolíticos e toda um sorte imensa de drogas que possuem um substrato
de amenização de sintomas danosos ao organismo. Volto a dizer: a maconha é uma
droga idiotizante; ela está sendo divulgada como uma droga fraca, uma droga que
faz menos mal do que o cigarro, que não tem consequência nenhuma e isso, além
de ser uma mentira deslavada, é uma irresponsabilidade.
Quando
ouço o Gabeira, o Lobão, a Rita Lee divulgarem essa droga fico revoltado porque
eles só alimentam uma população de adolescentes que usam ou vão usar maconha
com consequências funestas como baixo rendimento escolar, atenção e memória
alterados, desmotivação; e tudo isso leva a um desempenho, escolar e de vida,
medíocre".
Inúmeros
adolescentes e jovens não vão amadurecer como deveriam, não terão os ganhos
intelectuais que deveriam ter nos seus anos de crescimento, não se tornarão os
cidadãos produtivos e capazes de que a sociedade precisa. O uso de maconha
colabora decisivamente para isso. Para ilustrar, crescem as evidências de que,
entre os adolescentes e os jovens, a maconha é uma das maiores causas de
problemas psiquiátricos.
Entorpecido
pela ação da maconha e drogas acessórias, o adolescente poderá fazer emergir
uma pessoa com conceitos distorcidos. O cérebro, espremido e afetado por anos
de uso das drogas, buscará referenciais dos momentos em que não estava afetado,
levando o usuário a comportamentos incompatíveis com sua idade. Ele
simplesmente para de amadurecer e crescer no momento em que começa a se drogar.
Tenho
visto usuários de drogas de 18 anos ou mais que quando se livram da maconha
começam a brincar com miniaturas de carros ou bonecas, tentando retornar ao
tempo que não tiveram ou conheceram; felizmente, com tratamento adequado,
pode-se ensinar-lhes certas habilidades que lhes permite recapturar a falta dos
anos da infância ou adolescência perdidos".
A
sociedade de hoje, por estar saturada, está descuidando das novas gerações. Quando
há saturação, a sociedade começa a machucar as novas gerações. Ele fala de
permissividade. É como se fosse a lei da evolução natural. A falta de controle
dá raízes esquálidas e imaturas, mas abundantes, a uma geração que não está
muito preocupada em herdar bons valores, não se agredir e nem aos outros. São
essas pessoas, sem o menor verniz de cidadão (até porque, no caminho em que se
encontram, não sabem o que é cidadania), que moldarão as próximas gerações.
Podemos
prever o crescimento de uma população de imaturos, adultos não qualificados,
vários deles incapazes de viver sem um suporte social, econômico e clínico; com
o tempo, teremos um número inimaginável de cidadãos emocional, social e
intelectualmente deficientes. Será que devemos assistir passivamente aos
herdeiros desse mundo bebendo, fumando, injetando e inalando a morte em nome de
uma individualidade torturada e entortada pelas drogas?
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