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9/24/2014

O que plantar? Tomate, feijão ou maconha?

Maconha...
Um hectare de maconha dá lucro 45 vezes maior que o de tomate e 200 vezes mais que o de feijão.
Plantinha natureba, erva milagrosa, cigarrinho do capeta? Pode ser qualquer coisa. Só não pode dizer que faz bem à saúde. Não pode porque quem diz isso ou é burro ou não compreende a diferença entre fumar maconha e usar o THC com fins medicinais. São coisas totalmente diferentes e que nem sequer podem ser comparadas. Mas fazer o que? Dentre todas as drogas não tenho dúvidas de que é ela a que gera maior polêmica e que mobiliza milhões de pessoas ao redor do mundo que saem em sua defesa.
Fácil de cultivar e de encontrar, relativamente barata, capaz de dar um "barato" legal, amparada por quem defende sua liberação escorada em muletas científicas capengas, a maconha sai destruindo e detonando tanto quanto suas congêneres tidas como mais barra pesadas.
O cigarro é prejudicial porque pode, além de matar quem fuma, matar quem não fuma. O álcool é problema de saúde pública em vários países (Ucrânia e Rússia, por exemplo, onde o hábito de se derrubar uma garrafa inteira de vodca, em goles únicos, é uma instituição). Mas, de longe, nenhuma dessas duas drogas causa tanta polêmica e discussão como a maconha. E tudo porque suas ações no organismo podem ser defendidas tanto por quem a estima como por quem a detrata.
Quem ousa defender o cigarro com argumentos científicos sobre suas benesses? Pesquisadores ingleses tentaram e foram quase apedrejados. Com o álcool, o máximo que se pode dizer em seu benefício é que pequenas ingestões de vinho podem auxiliar o ritmo cardíaco (o chamado bom colesterol). Passou disso, as defesas só se escoram nos tamancos emocionais que essas duas drogas proporcionam. Com a maconha é diferente. Suas propriedades terapêuticas são há muito tempo estudadas. E esse é o ringue em que se batem os contendores.
Para começo de conversa, ninguém usa espontaneamente a maconha por causa de suas propriedades terapêuticas. Usa porque gosta, já que ela induz, conforme o estilo de uso, a um estado narcótico que propicia ao usuário a fuga da realidade. Seja porque motivo for. Se ela beneficia alguma coisa no organismo do sujeito, o faz por tabela. Da mesma forma, a pessoa que bebe não o faz porque é bom para o coração. Faz porque gosta e, a depender dos tragos, também para dar uma escapadinha sabe-se lá para onde.
A maconha está entre as primeiras drogas ilícitas a serem consumidas, até porque está presente no cotidiano do homem desde priscas eras. Ela aparece no Pen Ts'oo Ching, texto medicinal de origem chinesa, considerado o mais antigo do gênero no mundo (6.000 anos atrás), onde é indicada para asma, cólicas menstruais e inflamações da pele. Daí se pode aferir que a celeuma em torno de suas propriedades – narcotizantes e medicamentosas – são antigas.
Uma vez que surgiu nesse texto chinês, tudo indica que fazia parte do herbário do imperador Nung, da China, há quase 5.000 anos. Outro tratado chinês de 2.000 anos indicava seu uso como anestésico em cirurgias. Já na medicina Ayurvédica da Índia, a maconha é recomendada como hipnótico, analgésico e espasmolítico.
No Brasil, seus primeiros registros "medicamentosos" são desse século. Os que propunham o uso médico da maconha não apresentam nenhuma novidade pois, na primeira edição da Farmacopeia Brasileira, de 1929, a sua monografia incluía, junto com o extrato fluido (solução), o pó e a tintura (solução alcoólica) de cânhamo indiano (cannabis).
Hoje vários estudos estão sendo conduzidos no sentido de verificar sua eficácia no tratamento de câncer, glaucoma, asma e epilepsia entre outros. Aventa-se a hipótese de que a maconha possa ter propriedades anestésicas e antiasmáticas. Pesquisadores debatem em torno de sua eficácia como estimulante de apetite e quadros anoréxicos.
Isso quer dizer que os estudos a respeito de sua qualidade como medicamento prosseguem, o que dá munição para aqueles que defendem o uso "tolerável e responsável" da droga. A polícia, por exemplo, é muito mais rígida com outras drogas – cocaína e crack — do que com essa velha conhecida, quem sabe porque sua forma clássica de utilização resida numa relação muito próxima com o cigarro. Aliás, é comum que o cigarro seja a primeira droga com a qual a maconha é comparada.
A maconha é vendida em pequenas quantidades, normalmente suficientes para um ou dois cigarros. A mistura, no Brasil, é feita com capim, folhas secas e esterco de boi entre outras "substâncias". O plantio e a comercialização da maconha é uma atividade rendosa. Não é sem motivo que muitas pessoas abandonam o plantio de grãos.
Na região conhecida como o "Polígono da Maconha", região que vai de Petrolina, em Pernambuco, a Juazeiro, na Bahia, um hectare de maconha dá lucro 45 vezes maior que o de tomate e 200 vezes mais que o de feijão. A importância econômica da maconha para o sertão de Pernambuco, por exemplo, é notável. Quando a polícia destrói plantações, os traficantes fogem e param de dar emprego aos agricultores. Sem dinheiro, esses deixam de movimentar o comércio local e as vendas caem. Mas o plantio de maconha não está restrito ao Nordeste, ainda que esse responda por mais de 90% das plantações no Brasil. Norte, Sul e Sudeste já estão contabilizando bons lucros com seu cultivo, o que leva a polícia a dar batidas sistemáticas nessas regiões. Os traficantes contra-atacam: plantam em pequenas quantidades e as disfarçam em meio a outras culturas.
Se comparado ao que está sendo feito nos EUA, em termos de cultivo da planta, o tipo de manejo que se faz no Brasil é jurássico. Quando o governo Reagan aumentou a pressão contra os plantadores, esses dispararam um processo de cultivo altamente sofisticado. Em vez de grandes plantações, passaram a abrigar a Cannabis em estufas montadas em apartamentos. Com pesquisa genética, alta tecnologia, manipulação de luminosidade, de nutrientes e dióxido de carbono, os cultivadores colocaram nas ruas dos EUA espécimes com um teor de THC mais alto e que completam a florada em apenas dois meses.
Numa área de dois metros quadrados se concentram 100 pés de maconha. Tudo controlado por computadores que zelam também pela segurança dos cultivadores. Com softwares especialmente desenvolvidos eles podem se comunicar, dar alertas sobre a ação da polícia e escapar da prisão.
Há como se imaginar o esboroamento da vida do usuário pesado da maconha. Como na grande maioria dos dependentes de outras drogas, o dependente da marijuana desenvolve uma série de artimanhas, subterfúgios, simulações que dificultam sua recuperação. Até porque ele não se considera doente da maconha. A liberação lenta do THC em seu organismo faz com que seus efeitos se mantenham mesmo depois que está sóbrio, para usar um jargão mais próximo do alcoolismo.
Nesse sentido, as duas drogas – maconha e álcool – podem diferir radicalmente. Quando um indivíduo, sob ação do álcool, procede de maneira alterada e, depois, sóbrio, é relembrado disso, ele tende a separar a sua pessoa deste tipo de atitude ou comportamento, com alegações do tipo eu estava embriagado. Com o usuário crônico de maconha ocorre que, mesmo sóbrio, ele permanece com a mesma personalidade desencadeada pela ação da droga, recusando-se a voltar "ao normal".
A Phoenix House de Nova York – uma das maiores instituições de tratamento de usuários crônicos de maconha –, afirma que "mesmo quando fica sem fumar, duas ou três semanas, ao invés de voltar ao normal, o usuário teimosamente fica no estado de "racionalidade" que desenvolveu induzido pela maconha". A toxicidade comportamental da maconha, proveniente do uso pesado da droga, mesmo por curtos períodos (entre três e seis meses, por exemplo), induz a sutis ou pronunciadas modificações no estilo de vida e nos objetivos do usuário.
Quando consumida durante boa parte de horas em que está acordado, ele se entrega a uma sensível passividade e perda de interesse por atividades, pessoas e objetivos. Sua vida pode se esvair como a fumaça da maconha que exala e que o encanta.
A relação uso-óbito nunca foi confirmada, mas a participação da maconha como coautora de morte entre usuários é mais do que comprovada. Já que é comparada ao cigarro, uma vez fumada, há como imaginar que tanto quanto o tabaco provoque, no mínimo, os mesmos malefícios.
Liberar o uso da maconha seria aumentar a maré de mortes por câncer, enfisema e edema pulmonar, bronquite, pneumonia, hipertensão arterial, infarto. Como diminui os reflexos e debilita a atenção, acidentes de automóveis são mais comuns entre os usuários de maconha.
A maconha é uma droga idiotizante. A psicose canábica é um quadro psiquiátrico muito grave, que se parece com a esquizofrenia paranoide, provocada pelo efeito narcotizante da maconha. O que não se sabe é se ela detona uma psicose preexistente ou se provoca esse tipo de psicose. Pesquisas indicam que o uso da maconha é a causa e não a consequência desses distúrbios psicológicos.
E quanto ao suicídio? É sabido que usuário de drogas, sejam elas quais forem, estão muito mais propensos a dar cabo da própria vida do que outras pessoas. Se foge da realidade por meio da droga, pode chegar um dia que nem ela esteja mais proporcionando isso. E é aí que a droga tornar-se um bilhete sem volta.
Muitos profissionais que lidam com jovens usuários crônicos de maconha diagnosticam, com preocupante constância, crises psicóticas aliadas a estados depressivos com tendências suicidas. Se a maconha não provoca mortes diretamente pode, sem dúvida, provocá-las indiretamente, pelos efeitos do uso prolongado e/ou concomitante com outras drogas.
Por isso, à maconha não deve ser debitada a exclusividade de um índice maior de suicídios entre seus usuários. A polícia do Rio de Janeiro estourou uma "boca de fumo" onde encontrou "craconha". Mistura de crack com maconha, o mix que compõe "o produto" leva solvente, ácido, talco, mármore e outros componentes menos nobres ainda. O uso de maconha com álcool é comum e conhecer os processos usados pelo organismo para metabolizar a droga é suficiente para saber porque o corpo vai à lona e pode não se levantar mais: alguns canabinóides deprimem o centro do vômito que, como se sabe, é uma espécie de defesa do indivíduo alcoolizado para eliminar o álcool do organismo; ora se o vômito não ocorre, por estar deprimido o seu centro pela ação da maconha, é lógico que o risco de morte é muito mais pronunciado.
Entretanto, os gladiadores que defendem e atacam a maconha encontram-se no coliseu maior da discussão quando o tema é a propriedade medicamentosa da Cannabis. Os primeiros dizem que seus efeitos terapêuticos, em algumas situações, depõem a favor de sua liberação e demonstram que sua ação no organismo não é tão deletéria quanto se alardeia. Os segundos afirmam que, muito embora algumas ações benéficas da Cannabis tenham sido identificadas, drogas mais atuais, sintetizadas por laboratórios, são muito mais convenientes, eficazes, não possuem a ação narcotizante da droga e, portanto, desvestem (ou ao menos esmaecem bastante) a aura de "remédio" que os primeiros colocam na maconha.
Como o THC é solúvel nas gorduras, não pode ser injetado por via endovenosa; administrado por via oral ou fumado, sua biodisponibilidade (que corresponde à quantidade ativa da droga que entra na corrente sanguínea) é de apenas 6% a 20%, o que fica bem abaixo da metoclopramida (Plasil), por exemplo, droga que pode ser administrada por via endovenosa e que dá uma biodisponibilidade de 100% com poucos efeitos colaterais e nenhuma ação mental.
Maconha é droga. Alegar que ela possui alguma condição medicinal não tira seu cerne maior de droga. Se a sociedade continuar a bater nessa tecla, terá de permitir que a cocaína seja liberada (afinal, Freud tratou e se tratou com cocaína), a morfina, os ansiolíticos e toda um sorte imensa de drogas que possuem um substrato de amenização de sintomas danosos ao organismo. Volto a dizer: a maconha é uma droga idiotizante; ela está sendo divulgada como uma droga fraca, uma droga que faz menos mal do que o cigarro, que não tem consequência nenhuma e isso, além de ser uma mentira deslavada, é uma irresponsabilidade.
Quando ouço o Gabeira, o Lobão, a Rita Lee divulgarem essa droga fico revoltado porque eles só alimentam uma população de adolescentes que usam ou vão usar maconha com consequências funestas como baixo rendimento escolar, atenção e memória alterados, desmotivação; e tudo isso leva a um desempenho, escolar e de vida, medíocre".
Inúmeros adolescentes e jovens não vão amadurecer como deveriam, não terão os ganhos intelectuais que deveriam ter nos seus anos de crescimento, não se tornarão os cidadãos produtivos e capazes de que a sociedade precisa. O uso de maconha colabora decisivamente para isso. Para ilustrar, crescem as evidências de que, entre os adolescentes e os jovens, a maconha é uma das maiores causas de problemas psiquiátricos.
Entorpecido pela ação da maconha e drogas acessórias, o adolescente poderá fazer emergir uma pessoa com conceitos distorcidos. O cérebro, espremido e afetado por anos de uso das drogas, buscará referenciais dos momentos em que não estava afetado, levando o usuário a comportamentos incompatíveis com sua idade. Ele simplesmente para de amadurecer e crescer no momento em que começa a se drogar.
Tenho visto usuários de drogas de 18 anos ou mais que quando se livram da maconha começam a brincar com miniaturas de carros ou bonecas, tentando retornar ao tempo que não tiveram ou conheceram; felizmente, com tratamento adequado, pode-se ensinar-lhes certas habilidades que lhes permite recapturar a falta dos anos da infância ou adolescência perdidos".
A sociedade de hoje, por estar saturada, está descuidando das novas gerações. Quando há saturação, a sociedade começa a machucar as novas gerações. Ele fala de permissividade. É como se fosse a lei da evolução natural. A falta de controle dá raízes esquálidas e imaturas, mas abundantes, a uma geração que não está muito preocupada em herdar bons valores, não se agredir e nem aos outros. São essas pessoas, sem o menor verniz de cidadão (até porque, no caminho em que se encontram, não sabem o que é cidadania), que moldarão as próximas gerações.

Podemos prever o crescimento de uma população de imaturos, adultos não qualificados, vários deles incapazes de viver sem um suporte social, econômico e clínico; com o tempo, teremos um número inimaginável de cidadãos emocional, social e intelectualmente deficientes. Será que devemos assistir passivamente aos herdeiros desse mundo bebendo, fumando, injetando e inalando a morte em nome de uma individualidade torturada e entortada pelas drogas?

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