Crack, também chamado de pedra rocha, é cocaína solidificada em
cristais. O nome inglês crack deriva do seu barulho peculiar ao ser fumado. O
crack é a conversão do cloridrato de cocaína para base livre através de sua
mistura com bicarbonato de sódio e água. É a forma de cocaína mais viciante e
também a mais viciante de todas as drogas. As pedras de crack oferecem uma
curta, mas intensa euforia aos fumantes.
História
Inicialmente o crack foi
disseminado nas classes mais baixas da sociedade, embora atualmente já não se
restrinja somente a elas. Nos centros das grandes cidades é comum ver os
moradores de rua - de todas as idades, inclusive as crianças - fazendo uso desta
droga. Cabe a reflexão sobre a origem daquelas pessoas: muitos já nasceram em
condições de miséria comparáveis a aquela em que estão, mas certamente muitas
daquelas pessoas, hoje à margem da sociedade, tinham toda uma vida estruturada,
vida essa que trocaram pelo crack. O uso do crack e suas consequências tornam
possível dizer que atualmente o crack tornou-se uma epidemia, portanto, uma
questão de saúde pública.
Com custo relativamente baixo e alto potencial para gerar
dependência química, o crack é, dentre as substâncias entorpecentes, aquela que
tem causado as consequências mais nefastas em nossa sociedade.
A droga atinge grave e diretamente a saúde física e mental dos
usuários. Mais que isso, e de forma muito rápida, debilita laços familiares e
relações sociais. Nesta medida, constitui indiscutível fator de aumento das
taxas de criminalidade, violência e outros problemas sociais. O combate mais
eficiente faz-se pela prevenção, e, para tanto, conhecimento é fundamental.
O momento caracteriza-se pelo consumo indiscriminado de drogas,
quer lícitas, quer ilícitas. A ingestão do crack, em especial, pelo seu elevado
poder lesivo, vem colocando em risco milhares de crianças e adolescentes, seja
pelo consumo direto da droga, seja pelos efeitos indiretos, porém devastadores,
no núcleo familiar.
A melhor forma de prevenção contra as drogas é a informação.
Esta deve ser clara, objetiva e fundamentada cientificamente. A prevenção passa
por toda a sociedade, nela incluídas escolas, famílias, poder público,
organizações não governamentais, etc.
A droga é algo que já existe há muito tempo. Neste sentido, o
consumo de substâncias que alteram o estado de consciência é fenômeno cultural,
que ocorre em diversos contextos (social, econômico, ritual, religioso,
estético, psicológico, cultural). Não há sociedade livre de drogas. O que há
são diferentes finalidades quanto ao uso. A busca de experiências de prazer é
apenas uma delas.
O uso de crack, no Brasil, vem crescendo de modo avassalador.
Vale lembrar que o álcool o tabaco, a
maconha e a cocaína também são largamente utilizados por crianças e
adolescentes.
As informações sobre a chegada do crack ao Brasil vêm da
imprensa leiga ou de órgãos policiais. A primeira apreensão da substância no
município de São Paulo registrada nos arquivos da Divisão de Investigação sobre
Entorpecentes (DISE) aconteceu em 1990. Algumas evidências apontam para o
surgimento da substância em bairros da Zona Leste da cidade, para, depois,
alcançar a região da Estação da Luz (que ficou conhecida como Cracolândia),
no Centro da cidade.
Produção
O crack surgiu como opção para popularizar a
cocaína, pelo seu baixo custo. Para a produção do crack, uma mistura de cocaína
em pó (ainda não purificada) dissolvida em água e acrescida de bicarbonato de
sódio (ou amônia) é aquecida. O aquecimento separa a parte sólida da liquida.
Após a parte sólida secar, é cortada em forma de pedras. O crack apareceu nos Estados Unidos primeiramente em bairros
pobres do centro das cidades de New York, Los Angeles e Miami no final de 1984 e
em 1985. No Brasil, o crack passou a ser conhecido nos anos de 1990.
Por não passar pelo
processo final de refinamento pelo qual passa a cocaína, o crack, possui uma
grande quantidade de resíduos das substâncias utilizadas durante todo o
processo. Prontas para o consumo, as pedras podem ser fumadas com a utilização
de cachimbos, geralmente improvisados. Ao serem acesas, as pedras emitem um
som, daí a origem do nome “crack”.
Características e uso
Efeitos imediatos
Dependência
Por ser fumado, expande-se pela grande área da superfície do
pulmão e é absorvido em grande quantidade pela circulação sanguínea. O efeito é
rápido e potente, porém passa depressa, o que leva ao consumo desenfreado.
Consequências do uso em médio e longo prazo
Físicas
Danos ao pulmão, associado a fortes dores no peito, bronquite e
asma; aumento da temperatura corporal com risco de causar acidente vascular
cerebral; destruição de células cerebrais e degeneração muscular, o que confere
aquela aparência esquelética do usuário frequente. Inibição da fome e insônia
se- vera. Além disso, os materiais utilizados para a confecção dos cachimbos
são muitas vezes coletados na rua ou no lixo e apresentam risco de contaminação
infecciosa, gerando potencial elevação dos níveis de alumínio no sangue, de modo
a aumentar os danos no sistema nervoso central. São comuns queimaduras labiais,
no nariz e nos dedos dos usuários.
Psicológicas
Fácil dependência após uso inicial. Grande desconforto durante
abstinência gerando depressão, ansiedade e agressividade contra terceiros. Há
diminuição marcante do interesse sexual. A necessidade do uso frequente acarre-
ta delitos, para obtenção de dinheiro, venda de bens pessoais e familiares, e
até prostituição, tudo para sustentar o vício. A promiscuidade leva a grave risco
de se contrair AIDS e outras DST (doenças sexualmente transmissíveis). O
usuário também apresenta com frequência atitudes bizarras devido ao
aparecimento de paranoia (“nóia”), colocando em risco a própria vida e a dos
outros.
Sociais
Abandono do trabalho, estudo ou qualquer outro interesse que não
seja a droga. Deterioração das relações familiares, com violência doméstica e
frequente abandono do lar. Grande possibilidade de envolvimento com
criminalidade. A ruptura ou a fragilização das redes de relação social,
familiar e de trabalho normalmente leva a aumento da estigmatização do usuário,
agravando sua exclusão social. É comum que usuários de crack matem ou sejam
mortos.
Usuários de crack
Por muito tempo a dependência química foi considerada uma doença
masculina; aspectos sociais e culturais que propiciavam mais acesso masculino
às drogas levavam a crer que eles seriam mais suscetíveis. No entanto,
atualmente, o consumo de substâncias ilícitas e álcool são indiscriminados
entre mulheres e homens adultos e adolescentes. No caso do crack, implicam-se
no uso até mesmo crianças de várias idades.
Também se acreditava anteriormente que seu uso era mais intenso
nas classes de baixa renda, porém, hoje, a utilização do crack já ocorre em
todas as classes sociais. As populações mais vulneráveis, entre elas, moradores
de rua, crianças e adolescentes constituem importante grupo de risco.
Sinais para reconhecimento do uso de crack
• Abandono de interesses sociais não ligados
ao consumo e compra de drogas;
• Mudança de companhias e de amigos não
ligados ao consumo desta;
• Visível mudança física, perda de pelos,
pele ressecada, envelhecimento precoce;
• Comportamento deprimido, cansaço, e
descuido na aparência, irritação e agressividade com terceiros, por palavras e
atitudes;
• Dificuldades ou abandono escolar, perda de
interesse pelo trabalho ou hábitos anteriores ao uso do crack;
• Mudança de hábitos alimentares, falta de
apetite, emagrecimento e insônia severa;
• Atitudes suspeitas, como telefonar para
pessoas desconhecidas dos familiares com frequência e “sumir de casa” sem aviso
constantemente;
• Extorsão de dinheiro da família com
ferocidade;
•
Mentiras
frequentes, ou, recusa em explicar mudança de hábitos ou comportamentos
inadequados.
Associado ao uso de outras drogas
É comum que usuários de crack precisem de outras substâncias
psicoativas no período das chamadas “brisas”, ou seja, no período imediato após
uso do crack. Nesse momento, acabando o efeito estimulante, há grande
mal-estar, sendo usados álcool, maconha ou outras substâncias para redução
desta péssima sensação.
O sofrimento psíquico decorrente do uso do crack induz o usuário
a múltiplas dependências.
Atitudes que agravam a situação do usuário
No início do uso da droga, o indivíduo ilude-se, imaginando que
“com ele vai ser diferente”, que “não vai se tornar um viciado”. Mesmo quando
progride para a dependência, continua acreditando que “para quando quiser” e
não percebe que, na realidade, não quer parar nunca. Pelo contrário, quer sempre
mais.
A atitude de negação da doença pela família também é muito
nociva. Ela não deve sustentar mentiras para si mesma, amenizando a gravidade
da situação e acreditando que o usuário deixará de usar o crack com o tempo ou
sem ajuda de terceiros.
Pessoas que são dependentes de álcool ou tabaco, apesar de serem
drogas lícitas, devem entender que, para criticar o outro por se tornar
dependente do crack, precisam antes corrigir em si mesmas estes hábitos, pois,
do contrário, não têm alcance, como exemplo a ser seguido ou ouvido.
Epidemiologia
Um estudo brasileiro de 2011, examinou a taxa de mortalidade, os
indicadores de mortalidade e as causas de mortes entre 131 pacientes
brasileiros dependentes de crack que procuraram tratamento durante meados dos
anos 1990 no Brasil, o perfil predominante do usuário foi: homem, jovem com
menos de 30 anos, solteiro, de baixa classe socioeconômica, baixo nível de
escolaridade, sem vínculos empregatícios formais e em geral isolado
socialmente.
Em 19 de setembro de 2013, o governo federal do Brasil
apresentou os resultados das pesquisas "Estimativa do número de usuários
de crack e/ou similares nas capitais do país" e "Perfil dos usuários
de crack e/ou similares no Brasil", que fazem parte do programa nacional
de prevenção e pesquisa "Crack, é possível vencer", lançado em 2011.
Em janeiro de 2014, viciados em crack de São Paulo começaram a
trabalhar como garis com uma renda de quinze reais por dia, através de um
programa social da prefeitura. O programa não obrigava ninguém a largar as
drogas e a adesão era voluntária. Os dependentes ficaram em hotéis.
Efeitos do Crack
Tal substância faz com que a dopamina, responsável
por provocar sensações de prazer, euforia e excitação, permaneça por mais tempo
no organismo. Outra faceta da dopamina é a capacidade de provocar sintomas
paranoicos, quando se encontra em altas concentrações.
Perseguindo esse prazer, o indivíduo tende a
utilizar a droga com maior frequência. Com o passar do tempo, o organismo vai
ficando tolerante à substância, fazendo com que seja necessário o uso de
quantidades maiores da droga para se obter os mesmos efeitos. Apesar dos
efeitos paranoicos, que podem durar de horas a poucos dias e pode causar
problemas irreparáveis, e dos riscos a que está sujeito; o viciado acredita que
o prazer provocado pela droga compensa tudo isso. Em pouco tempo, ele virará
seu escravo e fará de tudo para tê-la sempre em mãos. A relação dessas pessoas
com o crime, por tal motivo, é muito maior do que em relação às outras drogas;
e o comportamento violento é um traço típico.
Os efeitos do crack são
basicamente os mesmos da cocaína: sensação de poder, excitação, hiperatividade,
insônia, intensa euforia e prazer. A falta de apetite comum nos usuários de
cocaína é intensificada nos usuários de crack. Um dependente de crack pode
perder entre 8 e 10 kg em um único mês.
Por ser inalado, os crack
chega rapidamente ao cérebro, por isso seus efeitos são sentidos quase
imediatamente - em 10 a 15 segundos - no entanto, tais efeitos duram em média 5
minutos, o que leva o usuário a usar o crack muitas vezes em curtos períodos de
tempo, tornando-se dependente rapidamente. Daí o grande poder de causar
dependência do crack. Após tornar-se dependente, sem a droga o usuário entra em
depressão e sente um grande cansaço, além de sentir a “fissura”, que é a
compulsão para usar a droga, que no caso do crack é avassaladora. O uso
contínuo de grandes quantidades de crack leva o usuário a tornar-se
extremamente agressivo, chegando a ficar paranoico, daí a gíria “nóia”, como
referência ao usuário de crack. Problemas mentais sérios, problemas
respiratórios, derrames e infartos são as consequências mais comuns do uso do
crack.
Neurônios vão sendo destruídos, e a memória,
concentração e autocontrole são nitidamente prejudicados. Cerca de 30% dos
usuários perdem a vida em um prazo de cinco anos – ou pela droga em si ou em
consequência de seu uso (suicídio, envolvimento em brigas, “prestação de
contas” com traficantes, comportamento de risco em busca da droga – como
prostituição, etc.). Quanto a este último exemplo, tal comportamento aumenta os
riscos de se contrair AIDS e outras DST e, como o sistema imunológico dos
dependentes se encontra cada vez mais debilitado, as consequências são
preocupantes.
Os efeitos iniciais do crack são mais rápidos e intensos que os experimentados
pela injeção endovenosa de doses equivalentes. A duração dos efeitos do crack é
muito curta, em média cinco minutos, enquanto a cocaína, depois de injetada ou usada
por via intranasal, provoca efeitos com duração em torno de 20 a 45 minutos. Os
efeitos causados pelo crack são:
* euforia
* agitação
* sensação de prazer
* irritabilidade
* alterações da percepção e do pensamento
* taquicardia e tremores
* perda de apetite
* extrema autoconfiança
* insônia
* estado de alerta
* aumento de energia/disposição física
Grandes quantidades podem induzir tremores, vertigens, espasmos musculares, paranoia, ou com doses repetidas, uma reação tóxica muito parecida com intoxicação
por anfetamina. O uso regular do crack pode provocar alucinações e causar comportamentos
violentos, episódios paranoicos e, inclusive, impulsos suicidas.
Abuso de drogas estimulantes (principalmente anfetaminas e cocaína)
podem levar a "parasitose delirante" (síndrome Ekbom: a crença equivocada
de que se está infestado de parasitas). Essas ilusões também estão associados
a febre alta ou abstinência do álcool, muitas vezes, juntamente com alucinações
visuais sobre insetos. Pessoas que vivem essas alucinações podem arranhar-se e causar
danos cutâneos graves e sangramento, especialmente quando estão delirando.
Grandes quantidades (várias centenas de miligramas ou mais) intensificam
o efeito do crack para o usuário, mas também pode levar a um comportamento bizarro,
errático e violento. Alguns usuários de crack relataram sentimentos de agitação,
irritabilidade e ansiedade. Em casos raros, morte súbita pode ocorrer no primeiro
uso do crack ou de forma inesperada depois. As mortes relacionadas ao crack são,
muitas vezes, resultado de parada cardíaca ou convulsões seguida de parada respiratória.
Pode-se desenvolver uma tolerância considerável ao uso do crack,
é quando os viciados procuram atingir o mesmo prazer de sua primeira experiência.
Alguns usuários aumentam a frequência das doses para intensificar e prolongar os
efeitos eufóricos. Embora a tolerância a altas doses possa ocorrer, os usuários
poderão também tornar-se mais sensíveis (sensibilização) para efeitos anestésicos
e convulsivante do crack, sem aumentar a dose tomada. Aumento de sensibilidade pode
explicar algumas mortes que ocorrem após doses aparentemente baixas de crack.
O primeiro relato de acidente vascular cerebral induzido por cocaína
data de 1977. Com o desenvolvimento e disseminação do crack na década de 1980, houve
um aumento significativo no número de relatos de casos descrevendo os acidentes
vasculares cerebrais isquêmicos e hemorrágicos associados ao uso de cocaína, porém
não há fatores de risco para que ocorra um AVC associado ao uso de cocaína. O
consumo de crack fumado através de latas de alumínio como cachimbo, uma vez que
a ingestão de alumínio está associada a dano neurológico, tem levado a estudos em
busca de evidências do aumento do alumínio sérico em usuários de crack.
Tratamento
Superar o vício não é fácil e requer, além de ajuda
profissional, muita força de vontade por parte da pessoa, e apoio da família.
Há pacientes que ficam internados por muitos meses, mas conseguem se livrar
dessa situação.
Atualmente várias abordagens de tratamento para dependência de cocaína
e crack no Brasil vêm sendo discutidas, porém existem muitas controvérsias sobre
qual abordagem demonstra maior efetividade na literatura científica. Há um consenso
de que a dependência de crack exige um tratamento difícil e complexo, por ser uma
doença crônica e grave que deverá ser acompanhada por longo tempo. Não existe um
único tratamento para eliminar o vício de crack: o dependente precisa ser atendido
nas diversas áreas afetadas, tais como social, familiar, física, mental, questões
legais, qualidade de vida e trabalho de estratégias de prevenção de recaída.
Devido aos baixos índices de motivação do dependente e, consequentemente,
pouca aderência do paciente ao tratamento, a família e a rede social de apoio exercem
um papel de fundamental importância durante o processo de intervenção terapêutica.
Contudo, a maioria dos estudos de revisão sobre famílias de dependentes químicos
confirma que o universo familiar dessa população é frequentemente disfuncional.
Outra dificuldade no tratamento do vício de crack é a ausência de uma medicação
específica que reduza o desejo pelos efeitos dessa substância. Inúmeros ensaios
clínicos já foram realizados com antidepressivos tricíclicos (imipramina), inibidores
seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) (fluoxetina, sertralina e paroxetina),
anticonvulsivantes e estabilizadores de humor (carbamazepina, gabapentina, lamotrigina,
lítio), antipsicóticos e agentes aversivos (dissulfiram). Contudo, os resultados
não mostraram qualquer sucesso.
Possibilidades de tratamento
Atitudes que podem ajudar
Se você é pai, mãe ou tem alguém que lhe é querido, sob suspeita
de uso do crack, principalmente, em faixa de idade vulnerável, como crianças e
adolescentes, procure manter bom relacionamento, com o suposto viciado, que
garanta abertura para diálogo. O melhor é buscar saber de sua vida, com quem
está, os lugares que frequenta, seu desempenho no trabalho ou na escola.
Observe se ocorrem mu- danças bruscas de comportamento. A manutenção do vínculo
afetivo é muito importante, tanto para a detecção do problema, quanto para
solução no tratamento.
Necessário que haja atenção quanto ao ambiente escolar e à
vizinhança. Oriente seu filho ou ente querido a se afastar de pontos de venda
de droga ou dos frequentadores desses locais. Adolescentes comumente apresentam
comportamento destemido e sentem-se desafiados a se aproximar do perigo para
ter a ilusão de que estão acima do bem e do mal.
Como adulto, deixe claro que sua autoridade é fruto não apenas
de amor, mas de capacidade de entender o mundo atual e saber diferenciar o que
destrói e o que constrói, em oposição à sedução do traficante.
Os agentes do tráfico procuram ser simpáticos e amistosos para
com sua população-alvo. Ensinam gíria própria e não destoam da imagem da moda
seguida pelo público que eles visam. O Disque-Denúncia no seu Estado ou
Município pode ser utilizado para denunciar traficantes.
Inicialmente é necessária uma avaliação do paciente, para saber
sobre o efetivo consumo de crack. A partir deste perfil, ele deverá ser
encaminhado ao ambiente e ao modelo de atenção adequado. Deve ser verificado o
grau de dependência e o uso nocivo, assim como a intenção voluntária de busca
de ajuda para o tratamento.
É preciso entender qual o padrão do consumo, que pode oscilar
muito, e indicar a gravidade do quadro em relação a cada usuário de crack.
Caracterizam-se três modos de consumo:
• baixo risco: com raros e leves problemas. Isto é excepcional
entre usuários de crack, praticamente inexistente;
• uso nocivo ou abuso: que combina baixo consumo com problemas
frequentes (observável em usuários recentes);
• dependência: alto consumo com graves problemas (é o perfil do
usuário que busca serviço especializado).
O usuário também deve ter avaliada a sua disposição para o
tratamento. É o que se chama classificar o “estágio motivacional”, que irá
definir as estratégias e atividades para promoção do tratamento individual.
Investigação motivacional:
Pré-contemplação: O usuário não tem consciência de que precisa
mudar.
É resistente à abordagem e à orientação.
Contemplação: Reconhece o problema, aceita abordagem sobre
mudança, mas continua valorizando e usando a droga.
Preparação: Reconhece o problema, percebe que não consegue
resolver sozinho e pede ajuda. Esta fase pode ser passageira, daí ser
necessário pronto atendimento quando solicitada pelo indivíduo.
Ação: O usuário interrompe o consumo, inicia tratamento
voluntariamente e precisa ser acompanhado por longo tempo, mesmo melhorando,
pois ainda corre grande ris- co de recaída, mantendo-se ambivalente diante da droga.
Manutenção: Nesta fase, o usuário está em abstinência, com risco
de recaída, ainda possível pela ambivalência de sua relação com a droga e
fatores de risco próprios de cada caso. Pensa nela com frequência. Cuida-se
preventivamente do risco de recaída.
Recaída: Retorno ao consumo, após período longo de abstinência,
É importante notar que recair não é voltar ao zero. Necessária esta percepção,
para retomar a recuperação, a fim de que a culpa e a desesperança não destruam
o novo empenho de melhora.
Quanto mais pronto e motivado o indivíduo, mais objetiva será a
proposta terapêutica, enquanto a situação contrária implicará mais negociação e
tempo. De- vem ser tratados também problemas psiquiátricos paralelos ao uso do
crack. O uso medicamentoso é indicado para auxiliar na redução da vontade do
uso da substância (supressão da “fissura”), aliviar os sintomas da abstinência
e diminuir, ou mesmo inibir, o comportamento de busca. O tratamento
multidisciplinar é a melhor forma de intervenção nestes casos e permite
resposta ampla às necessidades, principalmente, do usuário que precisará de
abordagens terapêuticas por longo tempo.
A recuperação depende fundamentalmente do apoio familiar, da
comunidade e da persistência da pessoa. Quanto mais precoce a busca de ajuda,
mais provável o sucesso do tratamento. Este é penoso, com grande sofrimento
físico e psicológico, além de, dependendo do caso, significativa possibilidade
de recaídas. Mesmo o indivíduo abstinente pensa com frequência na droga. É
preciso tomar isso em consideração, para não desanimar e ter coragem de
continuar.
A ajuda profissional é indispensável, porém, amor, compreensão e
paciência não são apelos demagógicos; mas, sim, estratégias concretas de ajuda,
que qualquer decisão pode proporcionar ao seu semelhante em risco. Manter-se
bem informado e ter boa vontade são atitudes que podem contribuir muito para o
tratamento dos dependentes químicos.
Não há tratamento único para o crack, mas é nos Municípios,
local onde as pessoas vivem, que deve ocorrer a atenção integral ao usuário de
drogas e às famílias. A detecção precoce e imediata intervenção são importantes
aliados no enfrentamento da questão. Para atendimento, procure o CAPSad Centro
de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPSad) ou o Programa Saúde da
Família no seu Município. Em caso de dúvidas, entre em contato com a Secretaria
de Saúde de sua cidade.







