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7/10/2015

Drogas Inalantes

Tíner

Menores trocam cola de sapateiro por removedor de tinta

Os menores de rua trocaram a cola de sapateiro pelo removedor de tintas Thinner. Além da venda não ser proibida para menores, o removedor custa muito menos que a cola de sapateiro. As crianças usam garrafas, panos e estopas para inalar o removedor de tintas. A euforia causada pela inalação do produto é muito semelhante à da cola de sapateiro. Ela inibe a sensações de cansaço, de fome e de medo, segundo a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) do Rio de Janeiro.

Os efeitos do Thinner sobre o organismo são devastadores. Quem cheira o removedor de tintas pode até morrer. Há casos em que crianças e adolescentes têm síncopes cardíacas e convulsões. As pessoas entram em coma e podem chegar a morte. A longo prazo o uso do Thinner pode causar retardo, perda da capacidade de memória e dificuldade de concentração. Pelo menos 3,1 mil crianças, de sete a 14 anos, estão envolvidas em atividades ilícitas no Rio, de acordo com dados da DPCA.

A exemplo do que aconteceu com as lojas que vendem cola de sapateiro, as casas de material de construção podem ser proibidas de vender thinner a menores de 18 anos. Hoje, quem vender cola a menores está sujeita a perder o alvará de funcionamento. 

Solventes ou Inalantes

Essas substâncias fazem parte da composição de vários produtos de uso doméstico ou industrial, como:

· Cola de sapateiro

· Produtos de limpeza que contém nitritos (limpador de couro, aromatizadores líquidos para veículos)

· Lança perfume (cloreto de etila)

· Combustíveis (Thinner, aguarrás, removedores em geral, gasolina, benzina, gás de isqueiro, etc.)

· Produtos de beleza (spray para cabelo, acetona, removedor de esmalte, esmalte)

· Produtos de papelaria (corretivo líquido), entre outros

Os efeitos têm início bastante rápido após a inalação, de segundos a minutos, e também têm curta duração, o que predispõe o usuário a inalações repetidas, com consequências, às vezes desastrosas. 

Assim como o álcool, os solventes são substâncias que tem efeito bifásico, ou seja, causam excitação inicial, seguida por depressão do funcionamento cerebral, que dependerá da dose inalada.

Efeitos agudos dos inalantes 

Primeira Fase 
  • Excitação 
  • Sintomas de euforia, excitação, tonturas, perturbações auditivas e visuais. 
  • Efeitos indesejados: náuseas, espirros, tosse, vermelhidão na face e intolerância a luz (fotofobia) 
Segunda Fase 
  • Depressão inicial do SNC 
  • Confusão mental, desorientação, visão embaçada, dor de cabeça, palidez. 

Terceira Fase 
  • Depressão média do SNC 
  • Redução acentuada do estado de alerta, incoordenação ocular e motora, fala pastosa e perda dos reflexos. 
Quarta fase 

Depressão profunda do SNC 

O usuário pode ficar inconsciente, algumas vezes ocorrendo convulsões e mesmo morte súbita, por parada respiratória. 

Os inalantes possuem forte poder destrutivo das células cerebrais (neurônios), causando danos irreversíveis ao cérebro, assim como lesões no fígado, rins, nervos periféricos, pulmões e medula óssea.

Os principais sintomas decorrentes de sua ação no SNC são:
  • Perda de memória, confusão mental, depressão, agressividade, delirium, paranoia.
  • Principais sintomas físicos: rinite crônica, epistaxe (sangramento nasal), halitose (mau hálito), ulcerações nasais e bucais, conjuntivite, bronquite.
Sintomas do uso crônico de inalantes:

· Vertigem e alucinações, sonolência, desorientação, visão embaçada;

· Sintomas semelhantes a um resfriado, sinusite, sangramento nasal;

· Indigestão, úlceras estomacais;

· Acidentes e lesões;

· Perda de memória, confusão mental, depressão, agressão;

· Dificuldade de coordenação motora, reflexo diminuído, hipóxia (falta de oxigênio no cérebro);

· Morte por disfunção cardíaca.

Os solventes são substâncias utilizadas tipicamente por adolescentes do sexo masculino, provenientes de classes sociais menos favorecidas com predomínio da faixa etária entre 13 e 15 anos. Abusos físicos ou sexuais sofridos durante a infância, presença de famílias desestruturadas, com história de uso de drogas pelos pais e os conflitos e a curiosidade próprios da adolescência são considerados fatores de risco para o envolvimento com tais substâncias. 

Assim, o abuso de inalantes parece servir como 'defesa temporária' para o estado depressivo decorrente de sentimentos de abandono e rejeição, problemas econômicos, conflitos e dificuldades de relacionamento associados, principalmente com a crise da adolescência. Sendo a população de risco primariamente muito jovem é natural a influência exercida pela família e pelo grupo de amigos no seu comportamento e, consequentemente, na determinação do uso."

Entre estudantes, é mais comum a busca de locais privados, dentro de suas próprias casas, utilizando-se produtos de uso doméstico. Já entre meninos e meninas em situação de rua, o uso se dá no espaço público, com produtos obtidos a partir de compra ou furto. 

A maioria dos jovens experimenta poucas vezes e para. Uma pequena parte, no entanto, prossegue utilizando por tempo indeterminado. Entre esses, há relatos de sessões contínuas de uso, com consumo de dois litros de adesivos e butano. Há usuários que permanecem no vício por 5 anos ou mais.

Os inalantes parecem se caracterizar como substâncias de início precoce, influência pelo grupo de amigos (é improvável o início do consumo de forma solitária), com diminuição ou desinteresse pelo consumo com o avançar da idade. A progressão para outras drogas não está plenamente demonstrada.

A forma física do produto determina o modo do consumo. As colas são preferencialmente cheiradas em sacos ou a partir da própria embalagem. Já os aerossóis, líquido, são inalados a partir do próprio recipiente em panos embebidos com o produto. A maneira usual de se utilizar fluido de isqueiro é colocar a válvula entre os dentes e pressiona-la para a liberação do gás. A inalação de tais substâncias pode ser feita pelo nariz (sniffing) ou pela boca (huffing). Substâncias cuja inalação é feita a partir do aquecimento (heroína) ou da queima direta do produto (crack) não são consideradas inalantes.

Eis o grande problema dos solventes. Há uma gama infinita de produtos de venda legal. E não poderia ser outra maneira: como proibir ou controlar a venda de isqueiros, esmaltes de unha, tintas, pinceis atômicos e líquidos corretores? Teoricamente, qualquer produto com substâncias voláteis pode ser utilizado para inalação. No Brasil, os produtos mais utilizados são o lança-perfume, a cola de sapateiro e cheirinho-da-loló, sendo também populares a acetona, esmalte de unha, thinner, benzina e gasolina.

Estudantes preferem o lança-perfume e o loló, enquanto a cola de sapateiro é mais comum entre meninos de rua. As meninas utilizam solventes contidos em produtos de beleza. Já os meninos preferem lança-perfume, éter, benzina e thinner.

As colas são indubitavelmente os produtos mais utilizados ao redor do mundo. Há uma variedade de solventes em sua composição. No Brasil, os solventes mais encontrados são: n-hexano (61%), tolueno (51%), acetona (28%), metiletilcetona (15%) e acetato de etila (8,4%). Entre os solventes puros, os mais encontrados em nosso meio são o tolueno, o clorofórmio, o éter etílico e a acetona. O cheirinho-da-loló pode ser fabricado a partir das seguintes misturas: etanol e clorofórmio; etanol, éter etílico e clorofórmio; etanol e éter etílico.

Os solventes são absorvidos principalmente pela via inalatória. Uma vez nos alvéolos, alcançam a circulação sanguínea por difusão simples. Quanto maior a concentração de solvente nos alvéolos, maior será a difusão para a corrente sanguínea.

A solubilidade do solvente interfere diretamente no processo de difusão. Além disso, solventes capazes de diluição em água (hidrossolúveis) são transportados pelas células vermelhas (eritrócitos) e pelas proteínas do plasma em igual proporção. Já os insolúveis em água (hidrofóbicos) são transportados preponderantemente pelas células vermelhas.

A difusão dos solventes do sangue para os tecidos depende de três fatores: a solubilidade nos tecidos, a concentração de solvente no sangue e o fluxo sanguíneo dentro daquele tecido determinado. A natureza lipossolúvel (solúvel em gorduras) dos solventes lhes confere afinidade pelo sistema nervoso central, ricamente composto por lipídios.

Os solventes podem ser eliminados em sua forma pura pelos pulmões. Quanto menos solúveis, mais rápida a excreção pulmonar. Muitos deles, no entanto, são metabolizados pelo fígado, por meio do sistema citocromo P450. Algumas enzimas do sistema P450 têm alta afinidade por solventes como o clorofórmio e cloreto de etila (presentes no loló e no lança-perfume, respectivamente). Tal afinidade potencializa a ação nefrotóxica (nefro = rim) e hepatotóxica (hepato = fígado) dos solventes.

A metabolização dos solventes é feita por duas vias: [1] oxidação pelo citocromo P450, levando a quebra da molécula do solvente e originando 10 a 30% de monóxido de carbono (CO) e conjugado pelas enzimas Glutadiona-S-Transferases (GST), levando à produção de formaldeído. A metabolização do CO produzido é inibida quando clorofórmio e álcoois são administrados concomitantemente. O potencial carcinogênico dos solventes está relacionado com a quantidade de diclorometano biotransformado pela via GST. 

Há alguns fatores envolvidos na toxicidade dos solventes: a estrutura química do composto, a quantidade inalada, a frequência da exposição, exposição concomitante a outros produtos e suscetibilidade individual. Os efeitos mais observados derivam da exposição a altas doses de solventes, levando à depressão do sistema nervoso central. 

Após a ingestão há uma fase de excitação inicial, que geralmente é seguida por período de depressão do SNC. A fase excitatória se inicia de 5 a 30 segundos após o consumo e dura de poucos segundos até uma hora, dependendo do solvente utilizado. Os sintomas são de euforia, hilaridade, excitação, tranquilidade, 'paz de espírito' e alucinações. 

A ação irritante dos solventes sobre a pele e mucosas pode desencadear os seguintes efeitos indesejáveis: náuseas, vômitos, espirros, tosse, vertigens, rubor da face e aumento da salivação. Uma 'ressaca' moderada, tendo como principal sintoma a cefaleia já foi relatada.

Os efeitos depressores dos solventes são: confusão, desorientação, obnubilação, perda do autocontrole, diplopia, cólicas abdominais, cefaleia, palidez, redução acentuada do estado de alerta, sonolência, incoordenação muscular, ataxia, fala pastosa, nistagmo, redução dos reflexos. Casos mais graves podem ocasionar convulsões, depressão respiratória e coma. 

A morte súbita é possível. Há quatro mecanismos diretamente envolvidos: anóxia (falta de oxigênio), inibição vagal, depressão respiratória e arritmia cardíaca. A anóxia se desenvolve a partir da obstrução das vias aéreas (espasmos ou edemas secundários a queimaduras ou lesões da mucosa) ou diminuição da concentração de oxigênio (asfixia pelo saco plástico colocado na cabeça para potencializar a inalação, porém não retirado pelo usuário devido à depressão do sistema nervoso causada pelo produto).

Para o sistema nervoso central, a presença de alto teor de lipídios (gorduras), principalmente nas bainhas de mielina (que permitem que a informação elétrica não se dissipe), torna-o altamente susceptível à ação dos solventes. As complicações crônicas mais observadas são: neuropatia periférica, disfunção cerebelar, encefalopatia crônica e demência. Há relação entre a quantidade, o tempo de consumo e idiossincrasias do usuário no aparecimento de tais complicações. A recuperação geralmente não está isenta de sequelas. Complicações neurológicas específicas ao consumo de um ou mais solventes em conjunto já foram descritas pela literatura (quadro 2).

Os distúrbios no sistema nervoso central levam com frequência a sintomas tais como, apatia, dano intelectual e da memória, cefaleia, diminuição da atividade sexual, instabilidade emocional, depressão, perda da concentração, irritabilidade e hostilidade.

A ação dos solventes sobre a pele e mucosas leva ao aparecimento, na primeira, de prurido (coceira), eritema (vermelhidão) e edema (inchaço). A irritação e lesão das mucosas levam ao aparecimento de rinite crônica, ulcerações, halitose, tosse, expectoração abundante, conjuntivite e hemorragias nasais episódicas. 

O fígado pode ser atingido diretamente por alguns solventes, causando aumento do órgão (hepatomegalia) e acúmulo de gordura (esteatose hepática). O uso concomitante de álcool e tolueno pode potencializar a esteatose hepática. Problemas nos rins, principalmente associados ao consumo de tolueno, já foram relatados. São eles: proteinúria (proteínas na urina), hematúria (sangue na urina), oligúria (pouca excreção de urina ao longo do dia), acidose tubular distal, síndrome de Fanconi. 

O sistema respiratório pode sofrer grandes prejuízos crônicos com o uso de solventes. A superfície alveolar pode acabar ocluída. Além disso, o enfisema costuma desenvolver-se usuários habituais. Doenças autoimunes já foram descritas entre usuários de solventes. Entre elas, destaca-se a síndrome de Goodpasture, caracterizada por glomerulonefrite e lesão pulmonar.

O consumo de solventes durante a gestação aumenta os riscos de prematuridade, morte perinatal, anormalidades no crescimento e quadros semelhantes à síndrome alcoólica fetal (microcefalia, malformações faciais, cardiovasculares, ósseas e renais). Não há informações a respeito do potencial carcinogênico dos solventes sobre os seres humanos. 

Tolerância e dependência

Há relatos de ambos naqueles que utilizam solventes de modo intenso e frequente. Há necessidade de inalação e ansiedade frente a ausência do produto. Não há, no entanto, evidências conclusivas de neuroadaptação.

Efeitos agudos dos inalantes

Primeira Fase
Excitação
Sintomas de euforia, excitação, tonturas, perturbações auditivas e visuais.
Efeitos indesejados: náuseas, espirros, tosse, vermelhidão na face e intolerância a luz (fotofobia)
Segunda Fase
Depressão inicial do SNC
Confusão mental, desorientação, visão embaçada, dor de cabeça, palidez.
Terceira Fase
Depressão média do SNC
Redução acentuada do estado de alerta, incoordenação ocular e motora, fala pastosa e perda dos reflexos.
Quarta fase
Depressão profunda do SNC
O usuário pode ficar inconsciente, algumas vezes ocorrendo convulsões e mesmo morte súbita, por parada respiratória.

Quadro 1: Principais produtos utilizados como inalantes e seus produtos voláteis
Produtos
Principais componentes voláteis
Cheirinho-da-loló
Etanol, éter etílico, clorofórmio
Lança-perfume
Cloreto de etila
Líquido corretivo
1,1,1-tricloretano, diclorometano, acetato de amila
Removedores para tintas
Tolueno, diclorometano, acetato de etila, vários álcoois
Esmalte de unha e removedores
Acetona, acetato de etila, acetato de butila, etanol, tolueno, xileno
Tintas e diluentes
Acetona, ésteres, MEC, hexano, tolueno, tricloroetileno, xilenos
Agentes desengraxantes e produtos de limpeza a seco
Tricloroetileno, tetracloroetileno, 1,1,1-tricloretano, diclorometano
Adesivos de contato
Hexano, tolueno, benzina, etanol, MEC, isopropanol, acetato de etila, acetato de butila, acetato de metila, acetato de propila, metanol, diclorometano, acetona
Cola para borracha
Tolueno, xileno
Cola para PVC
Acetona, MEC, cicloexano, tricloretileno
Cola para marcenaria
Xilenos
Cola doméstica
Tolueno, acetona, isopropanol, MEC, MIC, glicol, nafta
Cola de aeromodelismo
MEC, hexano, tolueno, acetona, nafta, acetato de etila
Cola líquida para plásticos
1,1,1-tricloretano, isopropanol, benzina, etanol, butanol, acetato de etila, acetato de butila, acetato de metila, hidrocarbonetos aromáticos C- C12
Odorizante de ambientes, spray fixador de cabelos, desodorantes
Halons 11,12,22, éter dimetílico, butano, propano, isobutano
Tintas spray
Butano, éter dimetílico, halons, ésteres
Gasolina
Composição variável dependendo da fonte de petróleo e método de refino. Constituída principalmente por hidrocarbonetos alifáticos (C-C12) e hidrocarbonetos aromáticos em pequenas quantidades (xileno, tolueno, benzeno, parafinas e naftenos)
Benzina
Destilado de petróleo que consiste de hidrocarbonetos alifáticos (C5 - C12)
Thinner
Composição variada dependendo do nome comercial do produto. Pode conter álcoois (etanol, metanol, butanol, isopropanol), cetonas (acetona, MEC, MIC), acetatos alifáticos, tolueno, xileno e vários outros hidrocarbonetos aromáticos ou alifáticos
Agentes anestésicos
Óxido nitroso, halotano, enflurano, isoflurano, cloreto de etila, éter etílico, halons 11,12,22
Gases combustíveis de isqueiros
Butano, propano, isobutano

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