Prof. Elvin Morton Jellinek, Decano do Instituto de Estudos sobre Alcoolismo da Universidade Cristã do Texas, Forth Worth, E.U.A. Foi Consultor em Alcoolismo da OMS no período de 1.950/1951, quando foi publicado o Informe Técnico No. 42 do Comitê de Expertos em Saúde Mental determinando o “modelo doença” para o alcoolismo.
A “Carta de Jellinek” consta da publicação “The Disease Concept of Alcoholism” – HillHouse Press 1960, sendo anteriormente publicada em vários jornais americanos, em forma de um V, onde a parte decrescente representava a progressividade da doença e a parte ascendente representava a fase de recuperação do alcoolismo.
A-Fase Prodrômica (Primeiros Avisos).
1-Maior e mais freqüente ingestão de drinks.
Os drinks, que eram ocasionais, tornam-se freqüentes e a quantidade de bebida ingerida aumenta (tolerância).
Pode ocorrer um primeiro apagamento (blackout), isto é, um tipo de amnésia que ocorre quando somos incapazes de lembrar certas coisas sobre o período em que estivemos bebendo. Como na piada: “Eu devo ter passado uma grande noite, pois nem consigo lembrar-me de onde estive”.
2-Dissimulação.
Quando uma pessoa não tem problemas com a bebida, beber de forma dissimulada pode parecer ridículo. Entretanto, para os que têm problema, não lhes agrada que os outros notem o quanto estão bebendo e então procuram dar a perceber que bebem como os outros, quando realmente bebem muito mais. Então vão ao bar “só para sair um pouco”, na festa ajudam a servir, etc. Enfim, não querem ser notados.
3-Preocupação com a bebida.
Uma pessoa torna-se preocupada com a bebida quando seus pensamentos se voltam principalmente para quando vai beber, o que vai beber e o quão logo vai beber. Conversa bastante sobre bebidas e “carrega” no tema sobre garrafas, produção, etc., podendo mesmo discutir com freqüência sobre onde adquirir bebidas mais baratas e de boa qualidade.
4-Ingestão mais rápida.
Quando uma pessoa bebe mais depressa, está tentando chegar mais rapidamente ao seu estado de satisfação. Ela estará pensando provavelmente que com isso estará mais corajosa, confiante e descontraída.
5-Prevenção de referências.
Neste ponto o bebedor freqüentemente já esqueceu o que acontece depois que começa a beber. Ele constantemente pede desculpas pelos seus atos.
Mais e mais as pessoas reparam em seus problemas. Passa a evitar aqueles que lhe chamam a atenção.
6-Freqüentes blackouts.
Aqui o bebedor é incapaz de predizer com absoluta certeza o que vai lhe acontecer quando bebe pois há uma absoluta perda de controle.
Ele continua bebendo, talvez acorde num ônibus ou em algum local, sem saber como foi parar ali.
Está cruzando a linha entre abuso e dependência.
7-Perda de controle.
Agora o bebedor já está usando quantidades maiores de bebida para obter os mesmos efeitos anteriores. O seu corpo está pedindo mais e mais bebida.
Ele alcançou o estágio em que precisa da droga para sentir-se normal.
B-Fase aguda (Média, intermediária)
1-Álibis
São as justificativas para beber.”É o meu aniversário”. “É fim de semana”.“Eu mereço isto após o trabalho que tive”. Para ele são todas razôes válidas e despistam o fato de que tem um problema.
2-Censuras.
Embora o alcoólico sinta que o seu procedimento afete só a ele, os seus familiares, amigos e colegas também são atingidos e transmitem a ele as suas raivas e frustrações.
3-Extravagâncias.
Aqui, para desviar as críticas e raivas, o alcoólico age generosamente para manipular as pessoas que assim agem ou sentem. Ele compra presentes caros enquanto os seus rendimentos se reduzem com os gastos do seu próprio hábito de beber ou negligência financeira.
4-Agressões.
O alcoólico torna-se bravo, raivoso ou furioso, às vezes até violento quando o seu estilo de vida é questionado. Mais uma vez essas atitudes constituem uma defesa para desviar as atenções sobre os seus problemas e deixarem-no continuar bebendo em paz.
5-Remorso.
O alcoólico, percebendo os danos que causou, volta a uma sanidade temporária e sente remorso pelas feridas ocasionadas. Ele enfim relaciona-as com as suas bebidas com seus perseguidores que necessita mudar.
6-Abstinência.
Em virtude do alcoólico ainda não estar convencido da sua impotência perante o álcool, ele tenta parar por conta própria, dizendo aos amigos, com ar triste, que parou de beber. Devido à sua falta de “entrega”, isto nunca acontece efetivamente.
7-Mudanças de padrão.
Aqui o alcoólico culpa seus problemas por alguma coisa que fez de errado. Por ex., ele diz que se só tomasse cerveja ou vinho não teria problemas. Um alcoólico nunca tem sucesso na empreitada de beber controladamente. Se pudesse, não seria como é!
8-Decadência social.
O alcoólico está agora desprendendo-se do seu círculo social e juntando-se à sua roda de iguais. Esta gente não o critica e não se aborrece quando bebe. Ele se sente confortável longe dos não bebedores ou dos bebedores sociais.
9-Problemas no trabalho.
Agora o alcoólico está incapaz de agir adequadamente e tenta esconder esse problema no desempenho do seu trabalho. Nessa altura ele corre o risco de perder o emprego ou no mínimo, entrar para um programa de recuperação -se por sorte houver.
10-Mudanças na família.
A família do alcoólico ajusta-se conforme as circunstâncias, tornando-se seus membros codependentes. Podem tornar-se protetores, permitindo ao alcoólico continuar com seu estilo de vida. Podem também tornar-se amargos, ressentidos, descarregando suas frustrações em outros, em vez de reparti-las entre si. O impacto negativo é progressivo, desestruturando-se totalmente.
11-Tentativas de ajuda.
O alcoólico busca ajuda por razões erradas. Procura ajuda de terceiros para salvar seu matrimônio e débâcle financeiro, mas não atenta para a real causa dos seus problemas, o próprio alcoolismo.
12-Ressentimentos.
O alcoólico sente que fez de tudo para resolver os seus problemas mas que as pessoas não lhe crêem, e por tal motivo começa a se ressentir contra elas, culpando-as pelo seu próprio modo de beber.
13-Tentativas de fuga.
A esta altura o alcoólico pode tentar, para curar-se, uma mudança de lugar,-cura geográfica, assemelhando-se para ele, que seus problemas resultam do ambiente em que vive. Isso não funciona porque ele não se apercebeu que o problema está nele mesmo.
14-Manutenção de suprimento.
Com medo de ficar sem a bebida e resignando-se com seu estado de alcoólico, ele se assegura de possuir um constante abastecimento de bebida.
15-O Ciclo da Bebida.
Neste estágio o alcoólatra bebe constantemente, não apresenta mais as ressacas como antes e o álcool lhe é necessário para sentir-se normal.
16-Embrutecimento físico e psicológico.
Tendo o corpo envenenado pelo excesso de álcool, sua saúde geral se deteriora e sua consciência e capacidade intelectual decompõem-se.
17-Bebendo em tempo integral.
Sua vida agora está totalmente preenchida pelo uso de bebidas. É inconcebível para ele passar dias ou semanas sem beber.
C-Fase Crônica (Final)
1-Diminuição da tolerância.
O alcoólatra apresenta uma diminuição da tolerância ao álcool.
Uma pequena quantidade de bebida já é suficiente para deixá-lo bêbado.
2-Deterioração ética.
O alcoólatra já perdeu o senso do certo e do errado. Ele trocará objetos por bebida ou pagará quantia que, se estivesse sóbrio, jamais o faria.
3-Pensamentos ilógicos.
O pensamento só corre por um curso de tempo bem limitado. Ele encontra dificuldade em distinguir a realidade da fantasia.
4-Desconfianças infundadas.
O alcoólatra torna-se desconfiado das pessoas, sem motivo. Ele pode ter ciúme e acusar seu/sua cônjuge sem qualquer razão.
5-Medo indefinido.
Ele poderá sofrer de paranóia, incapaz de superar o medo que sente.
Ele poderá esconder-se de inimigos inexistentes.
6-Tremores e agitação.
Esses sintomas físicos resultam das constantes intoxicações.
7-Inibições psico-motoras.
A habilidade para a execução de tarefas simples fica muito diminuída.
Ele terá dificuldades para coordenar os movimentos dos pés, até para subir na calçada.
8-Desespero.
Não descobrindo uma saída amena, ele estará incapaz de formular um plano de recuperação e se desespera.
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