Delírio
Convicção ou juízo falso, incorrigível, fora dos padrões da realidade e incompatível com as crenças sociais da cultura e do meio do indivíduo. Os delírios primários são essencialmente incompreensíveis em termos de história de vida e de personalidade do indivíduo; os delírios secundários são psicologicamente compreensíveis e estão associados a outras perturbações mentais, como, p.ex., transtorno afetivo ou de desconfiança.
Uma distinção foi feita por Birnbaum em 1908 e Jaspers em 1913 entre delírio propriamente dito e idéias delirantes; estas últimas são meramente um juízo equivocado mantido com excessiva tenacidade. Em avaliações psiquiátricas, uma crença cultural pode ser confundida com um delírio se o clínico não souber que esta crença particular é uma crença prescrita culturalmente e “normal”, independentemente de sua validez empírica. O brusco questionamento das crenças culturais sem a sua adequada substituição por outros conceitos ou crenças pode resultar em anomia ou crise de identidade.
Delírio de grandeza
Crença mórbida na própria importância, grandiosidade ou superioridade (como, p.ex., no delírio de missão messiânica), freqüentemente acompanhada por outras idéias delirantes. Pode ser sintoma de paranoia, esquizofrenia (com freqüência, mas não invariavelmente do tipo paranoide), mania e síndromes orgânicas cerebrais, particularmente paralisia geral.
Delírio de influência
Convicção delirante que algo de si está sendo substituído ou está sendo submetido à influência e controle de alguma força estranha. As descrições originais deste fenômeno delirante o associavam a pseudo-alucinações (Kandisnki, 1849-1889) e a alterações da consciência (Clérambault, 1872-1934).
Delírio de perseguição
Crença patológica de vitimização de um ou mais indivíduos ou grupos. Ocorre nos transtornos paranoides, mais comumente na esquizofrenia, mas também em alguns estados orgânicos ou depressivos. Certos transtornos da personalidade aumentam a predisposição para tais delírios.
Delírio polimórfico
Quadro composto por delírios (p.ex., idéias delirantes, juízos delirantes) com numerosos conteúdos inconsistentes e contraditórios. Caracteriza-se pela inconstância dos temas e mudança de forma em breves unidades de tempo; é um fenômeno que se contrapõe ao delírio sistematizado.
Delírio sensitivo de auto-referência
Forma específica de psicose paranoide não esquizofrênica com idéias mórbidas de auto-referência surgindo da base de uma estrutura de personalidade introvertida sensitiva, com uma capacidade pobre de desenvolver a liberação de afeto e tensão. A psicose normalmente se segue a uma experiência significante envolvendo humilhação e amor-próprio ferido. A personalidade é caracteristicamente bem preservada e o prognóstico, favorável. O conceito foi introduzido por Kretschmer (1888-1964).
Cognição delirante
Sob a designação de Cognição Delirante incluem-se certas convicções intuitivas que surgem inesperadamente, sobretudo no início de surtos psicóticos agudos, vivências que, não raro, se mantêm, arraigadas e firmes, durante largo tempo. O característico dessas vivências é que, em contraste com as anteriores, elas dispensam por completo de conexões significativas com quaisquer dados perceptivos ou representativos concretos, ocorrendo à guisa de intuições puras atuais.
É o que pode se evidenciar no seguinte relato do tipo: "Súbito, eu me dei conta de que a situação significava qualquer coisa de mau, mas eu não sabia o que".
O mesmo se verifica, neste outro exemplo, em que a paciente se revela repentinamente tomada da tranquila convicção de sua alta linhagem: "sabia que era filha do Presidente da República", certeza que se instala sob a forma de uma evidência interna imediata, isto é, que não lhe vem de qualquer interpretação, suposição ou reflexão crítica ou lógica, referente a acontecimentos vividos.
Caracteriza-se igualmente como Cognição Delirante, por exemplo, a vivência experimentada por um paciente que, acometido de súbita alteração, sai para a rua, dizendo: "Eu sou o filho da estrela d'Alva". Algumas vezes, contudo, essas cognições aparecem em estreita consonância com a temática delirante, ligando-se então, incidentalmente, a acontecimentos implicados no delírio.
Esse tipo de Cognição Delirante ligada à temática do próprio delírio se observa, por exemplo, em pacientes obcecados com a Bíblia. Jaspers cita o caso de certa jovem que, ao ler o episódio da Ressurreição de Lázaro, sente-se, de repente, ela própria, encarnada na pessoa de Maria. Daí em diante assume o delírio onde sua irmã é Marta, Lázaro é um primo seu e passa a viver, com grande intensidade, o acontecimento narrado na Bíblia.
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