Tomar um café pode tirar o sono e fumar um cigarro parece dar mais concentração no trabalho. Não são meras especulações e sim consequências da cafeína e da nicotina no cérebro. Cada substância atua de maneira diferente nos neurônios, mas todas as drogas acabam por modificar o funcionamento destas células cerebrais porque vão imitar as moléculas que já existem, o que faz com que o cérebro deixe de as produzir ao recebê-las artificialmente.
"A cafeína atua numas proteínas nos neurônios que são responsáveis por responder a uma substância que nós temos internamente no nosso cérebro que controla o ritmo do sono e portanto essa substância induz o sono, a cafeína bloqueia a ação dessa substância e daí a ação que todos sentimos quando bebemos café, é ter menos sono e conseguirmos trabalhar mais tempo." Garante a investigadora do Instituto de Medicina Molecular(IMM) e da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (/FMUL), Ana Sebastião.
NEUROCIÊNCIA
Os investigadores do IMM/FMUL estudam o efeito das drogas no cérebro porque, estas substâncias, ao imitarem moléculas já existentes podem contribuir para perceber melhor como funcionam os neurónios, como comunicam entre si e como se pode alterar essa comunicação. Esta investigação pode levar, no futuro, ao desenvolvimento de fármacos eficazes contra doenças como Parkinson, Alzheimer, Epilepsia e até Acidentes Vasculares Cerebrais.
As drogas de adição também alteram alguns processos de comunicação entre os neurónios, e quanto mais duradoura for essa alteração, maior é o grau de dependência. "Para cada droga que se possa imaginar, se ela tem uma acção sobre o cérebro há sempre uma molécula endógena que está a fazer qualquer coisa, e como costumo dizer, a natureza é muito poupada, portanto não vai produzir moléculas que não sejam úteis ao funcionamento do cérebro (...)
O que o nosso cérebro produz é com alguma utilidade, até pode ser para matar neurónios que é importante remover muitas vezes aquilo que já não está a funcionar, mas tem alguma utilidade e portanto, cada droga que altera o funcionamento do cérebro tem uma molécula no cérebro a que se liga e que é útil para o cérebro. Explica Ana Sebastião.
Por exemplo, a cannabis pode trazer benefícios em situações específicas de controlo da dor, mas tem efeitos nocivos para a memória. A cocaína e o ecstasy acabam por lesar e matar neurônios porque hiper-estimulam o cérebro; e a heroína, de acordo com Ana Sebastião, é uma das drogas mais lesivas pelas consequências que provoca.
"A heroína atua numas moléculas do cérebro que são muito responsáveis para o controlo de questões associadas ao próprio prazer e também ao controlo da dor, duas consequências grandes que as pessoas que consomem heroína quando querem deixar de a consumir, dores intensíssimas porque o cérebro está reequilibrado para conseguir não sentir dor, mas com aquela substância, quando aquela substância desaparece há um desequilíbrio no sentido de uma maior sensibilidade à dor."