Serão as mulheres mais vulneráveis aos efeitos do álcool?
As mulheres parecem ser mais vulneráveis do que os homens a muitas consequências adversas do consumo de álcool. As mulheres alcançam maiores concentrações de álcool no sangue e tornam-se mais fragilizadas do que os homens após terem bebido quantidades equivalentes de álcool.
Pesquisas sugerem igualmente que as mulheres são mais susceptíveis a danos nos órgãos, relacionados com o consumo de álcool, e a traumas resultantes de desastres rodoviários e violência interpessoal.
Este “Alerta sobre o álcool” examina as diferenças entre os gêneros relativamente aos efeitos do álcool e considera alguns fatores que podem colocar as mulheres em risco face aos problemas relacionados com o álcool.
Metabolismo
As mulheres absorvem e metabolizam o álcool de forma diferente dos homens. Geralmente, as mulheres possuem uma menor quantidade de água corporal do que os homens com peso corporal semelhante, por isso as mulheres atingem maiores concentrações de álcool no sangue após consumirem quantidades semelhantes de álcool.
Além disso, as mulheres parecem eliminar mais rapidamente o álcool do sangue do que os homens. Esta descoberta pode ser explicada pelo maior volume de fígado por unidade de massa corporal seca das mulheres, pelo facto de o álcool ser metabolizado quase completamente no fígado.
Consequências do consumo de álcool
Pesquisas sugerem que as mulheres são mais vulneráveis do que os homens a danos nos órgãos relacionados com o consumo de álcool, traumas, e a dificuldades legais e interpessoais.
Danos hepáticos
Comparativamente aos homens, as mulheres desenvolvem doenças do fígado induzidas pelo álcool, durante um menor período de tempo e depois de consumirem menos álcool. Além disso, as mulheres têm maiores probabilidades de desenvolverem hepatites alcoólicas e de morrerem de cirrose.
Pesquisas em animais sugerem que o maior risco de danos hepáticos por parte das mulheres pode estar associado a efeitos fisiológicos da hormônio reprodutiva feminina: o estrogênio.
Danos cerebrais
Observações do cérebro obtidas por simulação imaginária magnética (MRI) sugerem que as mulheres podem ser mais vulneráveis que os homens a danos cerebrais provocados pelo álcool. Utilizando o MRI, investigadores descobriram que a região do cérebro envolvida na coordenação de múltiplas funções cerebrais foi significativamente menor entre mulheres alcoólicas comparativamente a mulheres não alcoólicas e homens alcoólicos.
Estas diferenças permaneceram significantes após as medidas terem sido ajustadas aos tamanhos dos crâneos. Em oposto, um estudo medindo a utilização da energia metabólica em regiões cerebrais selecionadas, descobriu uma diferença significativa entre homens alcoólicos e não alcoólicos, mas nenhuma diferença significativa entre mulheres alcoólicas e não alcoólicas.
Estes resultados não são consistentes com a maior vulnerabilidade das mulheres aos danos cerebrais provocados pelo álcool. No entanto, as mulheres alcoólicas apresentaram menor consumo “forte” de álcool comparativamente aos homens alcoólicos estudados.
Doenças coronárias
Homens e mulheres que consomem uma ou duas bebidas alcoólicas por dia têm uma menor taxa de morte por doenças coronárias (ataques cardíacos) do que “fortes consumidores” e abstêmios. Entre os “consumidores fortes”, pesquisas demonstram taxas semelhantes de doenças dos músculos coronários associadas ao álcool para homens e mulheres, apesar das mulheres apresentarem 60% menos consumo de álcool durante toda a sua vida.
Câncer da mama
Muitos estudos informam que o moderado a forte consumo de álcool aumenta o risco de câncer da mama, apesar de um estudo recente não ter descoberto nenhum aumento do risco de cancro da mama associado ao consumo de até uma bebida por dia, o nível máximo de consumo indicado pela maior parte das mulheres.
Vitimização violenta
Uma pesquisa acerca das jovens universitárias verificou uma significativa relação entre a quantidade de álcool que estas admitiam consumir por semana e as suas experiências de vitimização sexual.
Um outro estudo descobriu que as jovens estudantes de nível universitário que consumiam álcool no último ano tinham maior probabilidade de serem vítimas de encontros violentos do que as que não bebiam.
O historial de um forte consumo pré-matrimonial por ambos os parceiros tem permitido prever agressões no primeiro ano de casamento. Nalguns estudos, os problemas de bebida das esposas têm sido associadas às agressões por parte dos maridos, independentemente dos níveis de bebida destes.
Acidentes rodoviários
Apesar de as mulheres apresentarem uma menor probabilidade de conduzir depois de beber do que os homens, e de se envolverem em acidentes fatais relacionados com o consumo de álcool, estas têm um maior risco relativo de uma fatalidade rodoviária do que os homens com semelhantes concentrações de álcool no sangue.
Estudos laboratoriais acerca dos efeitos do álcool sobre as respostas a marcas visuais e outras tarefas sugerem que pode haver diferenças entre os gêneros na forma como o álcool afeta a performance de condução.
O fato de as mulheres apresentarem menores taxas de condução após beberem podem ser devidas à sua baixa tendência para arriscar, comparativamente aos homens. As mulheres são igualmente aquelas que menos consideram aceitável a condução após a bebida.
Os fatores de risco para as mulheres que consomem álcool
Os fatores que podem aumentar o risco de abuso ou dependência de álcool entre as mulheres incluem influências genéticas, iniciação precoce no consumo de álcool e vitimização.
Fatores Genéticos
A contribuição relativa dos fatores genéticos relativamente ao risco de alcoolismo nas mulheres tem sido debatida. No entanto, as potenciais interações entre as influências genéticas e ambientais necessitam de maiores estudos.
Através da utilização de animais de laboratório, os pesquisadores estão atualmente a tentar identificar fatores genéticos específicos do gênero, cujas interações podem contribuir para a sensibilidade diferencial dos efeitos do álcool.
A idade de iniciação do consumo de álcool. Os resultados de um estudo nos Estados Unidos da América efetuado mostram que mais de 40% das pessoas que iniciaram o consumo de álcool antes dos 15 anos de idade, foram diagnosticadas como alcoólicas nalgum momento das suas vidas. As taxas de dependência decresceram para aproximadamente 10% entre aqueles que começaram a beber aos 20 anos ou mais.
A taxa anual deste decréscimo foi semelhante em ambos os gêneros. Apesar de no passado as mulheres começarem geralmente a consumir álcool em idades mais avançadas que os homens, um estudo recente mostra que esta diferença quase desapareceu.
Vitimização
Pesquisadores descobriram que as mulheres que revelaram terem sido abusadas sexualmente durante a infância, tinham mais probabilidades, do que outras mulheres, de terem experimentado problemas relacionados com o álcool (discórdias ou acidentes familiares) e de possuírem um ou mais sintomas de dependência do álcool.
Outro estudo descobriu que as mulheres em tratamento do alcoolismo eram, significativamente, mais prováveis de revelar abuso sexual na infância e agressão verbal ou física por parte da figura paternal do que as mulheres na população geral.
Outros pesquisadores chegaram a diferentes conclusões. Em vez de se basearem nas lembranças do passado destas mulheres, consultaram registos jurídicos para identificar os casos de abusos físicos ou sexuais na infância.
Estes pesquisadores descobriram que, para as mulheres, a história de negligência durante a infância, mas não de abuso, previam significativamente o número de sintomas de alcoolismo experienciado, independentemente dos problemas parentais de álcool ou outras drogas, pobreza na infância, raça e idade.
Maus tratos físicos durante a idade adulta têm sido igualmente associados ao consumo de álcool, e problemas relacionados, nas mulheres. Um estudo descobriu que significativamente mais mulheres, sob tratamento do alcoolismo, sofreram violência grave por parte do parceiro (através de pontapés, murros ou ameaças com armas) comparadas com outras mulheres na comunidade.







