Em dez anos, o consumo de maconha cresceu quatro vezes entre os adolescentes de 16 a 18 anos. E a tolerância aumentou. Policia , Justiça e escola têm punido menos o usuário.
A maconha é a droga ilícita mais tolerada pelos brasileiros. Embora o consumo tenha aumentado regularmente nos últimos anos, a polícia prende menos usuários , a Justiça condena pouco e a escola aceita mais . Dados da Secretária de Segurança Estadual do Rio de Janeiro mostram que o número de pessoas flagradas com maconha vem diminuindo consideravelmente.
Em apenas um ano, houve uma redução de 60 %. No Estado de São Paulo, foi de 30%. Em Porto Alegre, os casos caíram pela metade . A Situação é semelhante em outras capitais brasileiras. A análise dos últimos censos penitenciários não deixa margem de dúvidas; o volume de condenações por uso de drogas caiu nos últimos 20 anos.
Entre as maiores escolas particulares do país, o número de expulsões relacionadas com o uso de maconha também baixou. Hoje, em apenas um de cada dez casos, o estudante é convidado a se desligar do estabelecimento. Geralmente, quando fuma dentro das dependências do colégio.
De acordo com um calculo aproximado, quase 700 toneladas de maconha são consumidas todos os anos no país. É quantidade suficiente para confecção de 700 milhões de cigarros e para deixar satisfeitos algo como 5 milhões de usuários; 14% do número de fumantes de tabaco.
No ranking do consumo das drogas , ela vem quilômetros à frente de crack, cocaína , heroína ou ectasy. Um levantamento de uso de drogas entre os estudantes em dez capitais brasileiras , realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), revelou que o consumo frequente da maconha quadruplicou em apenas dez anos.
O dado mais impressionante, no entanto, é outro. Conforme uma tendência também observada em outros países, esse aumento é maior entre adolescentes e jovens na faixa que vai dos 16 aos 18 anos . Nessa comunidade muito jovem, 13% das pessoas fazem uso da maconha. Outro fato surpreendente; algumas estimativas extra oficiais informam que até 50% dos jovens brasileiros experimentaram a Cannabis Sativa, pelo menos uma vez na vida.
Isso significa que chegamos perto de uma situação em que a dúvida não é mais saber se uma pessoa vai experimentar um cigarro de maconha. Agora a pergunta mais realista é quando ela fará isso.
O problema desse avanço é a banalização do vício. A tolerância com o álcool e o cigarro produziu o fenômeno do "cigarrinho" e da "cervejinha". Hoje, já há quem use a expressão "baseadinho" para tratar de uma droga que, como o cigarro e o álcool, tem efeitos colaterais ruinosos.
Segundo os especialistas , a maconha produz uma perda da capacidade cognitiva . Ao fumar um baseado duas a três vezes por semana , o consumo médio de um usuário, a pessoa passa a apresentar alguma dificuldade para reter conhecimentos . Muitos usuários relatam uma perda da capacidade de memorização e também de aprendizado. Mesmo depois da interrupção do uso, o efeito pode persistir . A segunda característica é a perda da motivação.
A maconha tem ainda sobre as concorrentes a vantagem de já ser considerada uma droga relativamente leve diante da devastação física e psicológica provocada pelas mais pesadas. Por fim, ela é a mais barata.
Apesar da diferenças das Rotas entre maconha e cocaína , a rede de traficantes é a mesma. A Polícia Federal diz que o tráfico da erva foi uma etapa anterior à da distribuição da cocaína . Quando passaram a ter contato com os cartéis colombianos de pó, os traficantes já tinham experiência de distribuir a maconha pelo país e precisaram só fazer a adaptação do sistema à mercadoria mais lucrativa que vinha dos cartéis.
A maconha resistiu ao avanço de varias outras drogas. Na década de 80, a cocaína se tornou uma coqueluche. Em certos meios, como o mercado financeiro, com seu ritmo alucinante, o pó prosperou muito nesse período. Mais tarde, veio o crack, um tipo de pasta de cocaína para as camadas mais pobres da população e, recentemente, o ecstasy, droga bastante utilizada pelos que gostam de passar a noite inteira sacolejando em danceterias.
Comparados aos efeitos dessas drogas, os da maconha são muito mais brandos. Ninguém, por exemplo, vai morrer de overdose de maconha. Seu poder viciante também não é tão alto. De cada dez pessoas que experimentam a erva, só uma desenvolverá dependência. Em usuários de cocaína, esse número é cinco vezes maior.
Muitos dos que se viciam em maconha passam depois para drogas mais pesadas. Os especialistas afirmam que essa passagem é bastante comum. A erva seria, segundo eles, uma porta de entrada para outras drogas. Isso não significa que toda pessoa que fuma maconha vai passar a cheirar cocaína no mês seguinte e a fumar crack até o final do ano.
No entanto, mais de 90% dos usuários dessas drogas fizeram primeiro um estágio na maconha. Estatísticas do Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo americano mostram que um em cada quatro consumidores de maconha já experimentou cocaína. O motivo é simples. As mesmas razões que induzem ao baseado podem arrastar a pessoa para o pó. Entre os vários motivos que levam o jovem a fumar maconha, há alguns mais freqüentes: desequilíbrio familiar, necessidade de auto-afirmação perante um grupo de amigos e também a curiosidade.







