Escolha o Idioma

9/06/2011

Transformando o Veneno em Remédio



Os meus pais me levaram correndo para o hospital. Eu agia de forma estranha e exalava um bafo com cheiro estranho. Teria tomado algum veneno? O meu pai se levantou e minha mãe cobriu o rosto quando o médico se aproximou.

¨Senhor e Senhora Jennings, a sua filha está bem. Ela está bêbada, pois ingeriu cerveja.¨ Eu tinha três anos e experimentei a minha primeira garrafa de bebida alcóolica.

Quando tinha oito anos, eu esperava ansiosamente por alguns goles de cerveja durante o jantar. Aos doze, já consumia latas inteiras. Acabei descobrindo a maconha no ginásio e outras drogas foram acrescentadas no colégio, onde eu dormia durante o dia, fazia festas a noite e conquistei alguns concursos.

Minha avaliação escolar era alta, mas era muito mais conhecida pelo título de Campeã Norte-Americana de Beber Vinho. No final, por estar sempre sob o efeito de drogas e álcool, fiquei na penúltima colocação dentre 1045 alunos e não sei como acabei me graduando.

Eu voltei para casa em 1977, consegui um emprego e me apaixonei por um veterano da Guerra do Vietnam que tinha perdido um braço e uma perna. Logo, estávamos usando drogas todos os dias. A nossa filha, Lonna, nasceu em 1979. Quando ela completou três semanas, ele comprou uma girafa de pelúcia, me deu vinte dólares e deixou o país. Eu chorava e me drogava todos os dias.

Quando Lonna tinha um ano, eu fumava seis cigarros de maconha e bebia uma garrafa de vinho ou cerveja todos os dias. Eu me inscrevi e fui aceita na Faculdade de Direito de Los Angeles. Com somente 365 dólares no bolso, eu parti para a Califórnia. O curso era difícil e eu tinha outras fontes de problemas para adicionar.

Eu era solteira, abandonada, negra, com uma filha pequena, sem dinheiro e viciada em drogas e álcool. Na faculdade, eu competia com jovens privilegiados. Mas, assim como eu, muitos estudantes bebiam todos os dias, fumavam maconha todas as noites e cheiravam cocaína nos corredores do bar das redondezas. O uso do crack foi inevitável para muito de nós, e no terceiro ano da faculdade, eu já estava viciada.

Em nove terríveis anos de crack, eu vi de tudo: assassinatos, violência, roubos, agressões e abuso infantil. Eu não cometi estes crimes, mas fiz muita coisa ruim. Eu roubei, menti, enganei, tratando todos como minhas vítimas. Estava cercada pelo desemprego, abandono e medo de ser presa.

Algumas pessoas tiraram vantagem de mim, de outras eu tirei vantagem. Eu sofri danos físicos e emocionais devido uma parada cardíaca após uma overdose e fui espancada repetidamente por um traficante. Eu fui demitida de todos os empregos e expulsa de todos os apartamentos. A minha irmã e filha me acusaram de tê-las roubado – algo que cometi. A minha família e amigos me abandonaram e eu fiquei sem nenhuma esperança.

Como muitos viciados, eu geralmente pensava em suicídio. Na primavera de 1985, eu deixei a minha filha no jardim de infância em Santa Mônica. A sua escola era perto do oceano, local propício para a minha morte. Eu lhe dei um abraço apertado e um beijo. Ela se mostrou preocupada.

¨Qual o problema, mamãe ?¨

¨Nada, querida. Somente se lembre. Eu te amo.¨, respondi.

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