Entrevista com o Dr. Anderson Spickard
Inquéritos recentes acerca dos hábitos de bebida dos americanos confirmam as suspeitas que algo é radicalmente impróprio: 81% dos adultos disseram que consideravam o alcoolismo o maior problema nacional e uma em três famílias relacionaram o álcool como a causa de vários problemas nas suas famílias. Em simultâneo com este parecer "epidêmico" dos problemas relacionados com o álcool, cada vez mais se encontram cristãos evangélicos relaxando a sua oposição quanto às bebidas sociais e adotando hábitos de bebida muito parecidos com a generalidade da sociedade. A longa cadeia de acontecimentos desta tendência está pouco clara; o que é certo é que os membros da comunidade evangélica não estão imunes a nenhum dos problemas de abuso de álcool ou aos estragos que o alcoolismo causa.
Na entrevista seguinte, Anderson Spickard, Jr., fala sinceramente dos problemas de abuso do álcool e alcoolismo dentro da Igreja e oferece algum conhecimento profundo para as preocupações dos cristãos com o desenvolvimento de uma perspectiva saudável a respeito do consumo do álcool.
Spickard é o diretor-geral de uma clínica, professor de medicina no Centro Médico Universitário de Vanderbilt e fisioterapeuta. É membro do colégio americano de fisioterapeutas e orador freqüente no assunto do alcoolismo nas escolas médicas e Igrejas.
Hoje em dia o alcoolismo é o terceiro maior problema de saúde nos Estados Unidos e sabe-se que destrói diretamente a vida de qualquer um em cada quatro ou cinco americanos. Qual é a dimensão do problema dentro da igreja?
O alcoolismo não é tão implacável na Igreja como é na sociedade em geral, mas todos nós poderíamos ser surpreendidos se conhecêssemos a extensão do problema nas nossas Igrejas locais. Eu pertenço a uma grande congregação e pessoalmente conheço cinco ou seis membros que estiveram seriamente doentes por causa do alcoolismo. Só Deus sabe quantos mais existem que bebem secretamente.
Há um aumento incidente de roturas familiares, famílias disfuncionais e divórcios, nas nossas igrejas evangélicas. A partir somente deste desenvolvimento, penso que é seguro supor que o alcoolismo e outras formas de dependência química estão a assumir um papel maior do que geralmente acreditamos.
Além disso, devem ser milhares, talvez milhões as pessoas que experimentaram a graça salvadora de Jesus quando eram crianças ou adolescentes e acabaram por abandonar a Igreja por causa do seu problema de alcoolismo. Este grupo de pessoas constitui uma subclasse de absoluto desespero no corpo de Cristo.
Cristãos praticantes podem ser, ou tornarem-se alcoólicos. Como é que isto acontece?
Da mesma forma que acontece com qualquer outra pessoa. Existem muitos fatores, mas dois são mais marcantes: uma predisposição genética para o alcoolismo e um hábito sustentado de beber.
Cada vez mais está claro, que há uma susceptibilidade física hereditária para o alcoolismo. Um estudo recente feito na Suíça, onde os recordes de adoção são mantidos, mostra que os filhos de pais alcoólicos colocados à nascença em casa de famílias não alcoólicas, correm um risco de nove para um de se tornarem alcoólicos, comparando com os que nascem de pais não alcoólicos. Esta é uma estatística extraordinária.
E segundo lugar, uma pessoa que bebe dois ou três copos, três ou mais vezes por semana ou mais, coloca-se a si mesmo numa posição problemática. O tempo que leva o problema a instalar-se varia de pessoa para pessoa e da quantidade de bebida que ingere, mas geralmente, num período de sete a dez anos, este comportamento de beber pode levar a pessoa ao alcoolismo, mesmo na ausência de uma predisposição genética.
Existe uma "personalidade alcoólatra", ou traço característico específico, que torna a pessoa mais propensa a tornar-se num alcoólico?
Não. Muitos estudos têm sido feitos na tentativa de estabelecer uma ligação entre certos tipos de personalidades e o alcoolismo, mas não há evidências de que um tipo de personalidade seja mais vulnerável do que outro. Qualquer pessoa pode tornar-se um alcoólico – mesmo ministros ou médicos.
Como é que distingue uma pessoa que simplesmente bebe demasiado, de um alcoólico crônico?
Os homens e as mulheres que apenas abusam do álcool fazem-no no controlo da sua própria vontade, ao contrário dos alcoólicos que normalmente, nunca se demitem da sua escolha. Talvez um membro da igreja se embebede numa festa, na véspera do ano novo, por "acidente" e apanhe uma intimação judicial por estar "intoxicado enquanto conduzia". A família fica zangada e ele, socialmente envergonhado promete não voltar a beber. Este é o final do seu problema.
Este gênero de abuso de álcool, pode não trazer outras sérias conseqüências, mas é notado muito claramente nas Escrituras. Jesus e Paulo, avisaram repetidamente, que os beberrões não herdam o reino de Deus (Lucas 21:34, I Cor. 6:10, Gál. 5:21). Não é difícil compreender porque é que eles falaram tão fortemente: o abuso do álcool está envolvido na maioria dos crimes, na maior parte dos assaltos, na maior parte dos casos de abuso infantil, nas maiores fatalidades relacionadas com tráfego– a lista é interminável. Fazemos um grande prejuízo a nós mesmos e à sociedade inteira quando nos rimos da embriaguez ou a tratamos superficialmente.
Por outro lado, o alcoólico é alguém que tem sido aprisionado pelo álcool, alguém que literalmente não pode parar de beber. Ele ou ela está preso a uma progressiva e completa destruição do seu ser físico, mental e espiritual. Fisicamente, começa a sofrer de má nutrição e sérios danos no fígado, na zona digestiva e no sistema nervoso central. Emocional e intelectualmente, começa a ficar cada vez mais preocupado com a bebida, com a necessidade de negar que tem um problema e com a freqüente ocorrência de esquecimentos– períodos de tempo nos quais o alcoólico age perfeitamente normal, no entanto, mais tarde não se recorda de nenhum dos acontecimentos que ocorreram. Espiritualmente, o alcoólico afoga-se na culpa, no medo e na vergonha; Quanto mais perde o controlo em si mesmo, mais é consumido pelo ódio a si próprio.
Obviamente, estas três áreas – física, mental, emocional e espiritual – estão intimamente relacionadas. É por isso que alguns chamam ao alcoolismo uma doença do corpo, da alma e do espírito.
Quando os médicos e profissionais de saúde mental se referem ao alcoolismo como uma doença, muitos cristãos ficam incomodados. Vêem este rótulo como um estratagema comportamental ou outra interpretação "humanística" do pecado que desculpa a responsabilidade do alcoólico pelo seu próprio comportamento. Qual é a sua posição?
O abuso do álcool – a embriaguez é um pecado. A Escritura é clara neste ponto. Mas uma vez que uma pessoa é um alcoólico, uma vez que permitiu que a sua própria vontade fosse aprisionada pelo álcool devido ao seu abuso, está doente. Não pode ajudar-se a si mesmo durante mais tempo. Dizer a um alcoólico para se desvencilhar e parar de beber é como dizer a um homem que acabou de saltar de um monumento histórico de nove andares para se atirar apenas de três. Isto, apenas, não vai acontecer.
Se definirmos o alcoolismo como uma doença física, sem a dimensão espiritual, isso sim, pode ser humanismo. Existem muitos médicos e cientistas à procura de uma cura física para o alcoolismo. Na minha opinião, não vão encontrá-la. Uma pessoa pode ter uma doença física como cancro ou tuberculose e continuar perfeitamente bem emocional e espiritualmente, mas ninguém pode cair no alcoolismo sem descer completamente a nível físico, mental e espiritual. Não irá ficar bem até ser recuperado nestas três áreas. Insistir nestes fatos não é humanismo; é ter uma compreensão total do paciente.
Depois de ter dito tudo isto, sei que o modelo de doença continua controverso. Sobretudo, é um problema na comunidade médica porque, ainda nenhum mecanismo físico específico tem sido isolado como a causa do alcoolismo.
Então qual é a finalidade de usar o termo doença?
A finalidade é tirar o alcoólico da arena da sociedade moralizante para as mãos de pessoas que podem ajudá-lo. A percepção comum dos alcoólicos é de que eles são casos perdidos mas 60% a 70% de todos os alcoólicos que entram em programas de tratamento, recuperam. É uma estatística extraordinária para qualquer doença!
(Esta alta percentagem é aplicada aos alcoólicos empregados, integrados em programas de assistência, que têm trabalhos estáveis, estruturas familiares e conhecimentos acadêmicos básicos.) Então, enquanto esperamos que a ciência descubra um mecanismo biológico que permite que o alcoolismo possa receber o rótulo de "doença", podemos salvar muitos alcoólicos desesperados proporcionando- lhes a ajuda profissional que tão desesperadamente necessitam. E quanto mais cedo, melhor é o prognóstico.
Porque é que o alcoólico não consegue ver o seu problema, com tudo o que o devasta física e socialmente e se ajuda a si próprio?
Literalmente, o alcoólico não consegue ver-se a si mesmo como doente. Ele pode sentar-se à nossa frente a cair de bêbedo, com um nariz intensamente vermelho, o fígado a desfalecer até à linha pélvica e continuar a negar que é um alcoólico. Tive um paciente que passava os dias ajoelhado em frente a um lavatório, vomitando sangue e bebendo intermitentemente de uma lata de cerveja. Tanto quanto lhe dizia respeito, ele não tinha nenhum problema.
Esta completa incapacidade de se ver a si mesmo, como outro, é popularmente conhecido como "carrossel da negação". É o aspecto mais trágico e menos compreendido do alcoolismo. Usar o termo "recuperar" alcoólicos pode não ser compreendido aos olhos deles. O que todos eles dizem sempre, é, "devo ter estado doido." Se observar o tempo suficiente o seu processo de refutar, é difícil argumentar com este diagnóstico.
É freqüente dizer-se que os alcoólicos costumam descer ao fundo do poço a nível físico e espiritual, antes de desejarem aceitar ajuda. No entanto, quanto mais tempo o alcoólico bebe, mais se prejudica a si próprio e menos probabilidades tem de recuperar. O que é que os amigos e os membros da família podem fazer para parar esta espiral descendente?
Havia um adágio dos Alcoólicos Anônimos, que dizia que um alcoólico tinha de bater no fundo antes de poder ser resgatado. Infelizmente, o nível mais fundo, muitas vezes significava a morte, prisão ou suicídio. Ainda é extremamente difícil, permanecer irremediavelmente a observar alguém de quem se gosta a ir direto a uma completa deterioração física e espiritual.
O instituto Johnson no Minnesota tornou pioneiro um processo chamado "intervenção", o qual parou com sucesso a espiral descendente para milhares de alcoólicos e suas famílias. A família reúne-se com o patrão do alcoólico e este é confrontado com muitos exemplos específicos do seu comportamento.
A atmosfera é afetuosa, não acusadora, mas firme. A acumulação de evidências cria um "fundo artificial" e os muros da refutação são quebrados. O alcoólico é forçado a ver-se como ele é e, é esperado, que aceite a responsabilidade da sua condição e inicie um programa de tratamento.
É necessário que a família procure ajuda profissional para intervir na vida de um dos seus membros?
Na minha opinião, sim. Em primeiro lugar, a família, através dos anos de vivência com comportamentos bizarros e imprevisíveis, está normalmente tão doente ou mais doente que o alcoólico. Em segundo lugar, estas intervenções são muito difíceis.
Por tentativas e mesmo com os meus próprios erros, tenho aprendido algumas lições bastante terríveis. A segunda intervenção que sempre fiz, foi um assunto apressado sem um planejamento correto. O doente era meu amigo chegado e ficou literalmente consumido pela ira quando foi confrontado com o seu comportamento. As suas ameaças foram tão específicas e substanciais, que tive de ser escoltado pela polícia durante diversos dias. Ver este amigo tão incontrolavelmente enfurecido foi um dos acontecimentos mais traumáticos da minha vida.
O confronto entre as trevas e a luz, num alcoólico, pode ser martirizante. Emoções incompreendidas, vão muito longe quando os seus filhos dizem coisas como: "Pai, quando trouxe a minha namorada a casa para conhecer a família, disse-me que podia trazê-la sempre que quisesse". A hostilidade e a fúria que é derramada do alcoólico durante estes tempos pode destruir a família se não estiver suficientemente preparada.
Uma vez que a intervenção é bem sucedida e que o alcoólico entra para tratamento voluntariamente, torna-se a pessoa mais grata que alguma vez vai conhecer. Ele esteve no inferno e voltou e o novo nascimento que está a experimentar vale bem qualquer dos riscos que envolve.
Porque é que o álcool tem um efeito tão devastador na vida espiritual dos bebedores excessivos?
O álcool é uma droga alteradora-de-humor que afeta diretamente a parte do nosso cérebro que controla as inibições. Todos nós construímos proibições contra certos tipos de comportamento. Quando estas restrições são diminuídas devido ao uso do álcool, achamos muito mais fácil violar os nossos padrões morais.
Um homem com valores familiares perfeitamente corretos, pode beber demasiado, tornar-se eufórico e ir para a cama com a secretária. Quando o efeito do álcool passar, deixa-o com profundos sentimentos de culpa e vergonha – e talvez com um caso de herpes ou outra doença infecto contagiosa grave como HIV. Se o pecado não é confessado, os sentimentos são reprimidos, mas a memória continuará bastante viva e ficará gravada permanentemente no homem que foi prejudicado na sua vida moral.
Pondo isto de outra forma, se se aceita o fato de que a embriaguez é pecado, o que eu aceito, então beber excessivamente é apenas mais uma maneira de saciar o espírito. Deus colocou a sua luz dentro de nós e esta tem o potencial de arder com tanto resplendor como o próprio Jesus. O pecado escurece esta luz e a escuridão da embriaguez é tão negra como qualquer outra coisa no mundo.
Acha que a igreja está a responder adequadamente à presença de alcoólicos no seu meio e na sociedade em geral?
Não. A Igreja devia estar no primeiro plano de esforços para ajudar alcoólicos, porque o alcoolismo tem uma dimensão espiritual muito acentuada. Infelizmente, a Igreja reflete as atitudes da sociedade como um todo e vê os alcoólicos como pessoas de vontade fraca e inúteis.
Até mesmo cristãos bem intencionados tratam de bater com a Bíblia na cabeça dos alcoólicos, avisando-os para se arrependerem dos seus pecados, dizendo-lhes para não voltarem à Igreja até que consigam parar com a bebida. Não importa o quão arrependido o alcoólico se sente por não conseguir parar de beber e então ele não voltará à Igreja.
Muitos membros da Igreja, bem conceituados, ocultam o seu problema de alcoolismo durante anos. Vão ter com os seus Pastores queixando-se da família ou de dificuldades pessoais, mas nunca reconhecem nem confrontam a raiz do problema. À medida que o seu alcoolismo progride, vão afastando-se totalmente da igreja.
Estas pessoas não podem suportar por mais tempo a angústia mental que cai sobre os seus ombros para com as pessoas que elas compreendem como evangélicas. O cristão alcoólico convence- se de que perdeu a salvação e não volta a pôr os pés na porta da Igreja. É desta forma que, efetivamente, se isola das pessoas que deviam ser as mais qualificadas para ajudá-lo.
Qual o papel positivo que a igreja pode ter?
Uma igreja em Montgomery, Alabama, fornece-nos um bom modelo de exemplo. A esposa de um membro veio à Igreja pedir ajuda porque o marido era alcoólico. A Igreja investigou o problema, recolheu dinheiro para mandá-lo para um tratamento, enviaram-lhe cartões desejando-lhe as melhoras, oraram por ele todos os dias e finalmente, deram-lhe as boas vindas a casa com uma tremenda celebração. O alcoólico "recuperado" foi recebido como um filho pródigo, como o homem que tinha sido cego e que agora podia ver.
Este homem teve a felicidade de ter uma mulher amorosa, carinhosa e uma congregação que o ajudou na estrada da recuperação. Hoje, ele é um dos servos de Jesus mais entusiásticos e produtivos que eu alguma vez conheci. Ele esteve muitas vezes no "inferno", regressou e no processo, deixou o Cristianismo religioso bem para trás.
Para interceder desta forma pelos alcoólicos, a Igreja deve ter um grupo de pessoas que tenham recebido formação nas áreas da dependência química e do alcoolismo.
Existem muitos livros úteis disponíveis e está ao alcance de qualquer pessoa tornar-se bastante entendido num curto período de tempo. Costumo dizer às pessoas, nos seminários que faço nas Igrejas, que em duas horas vão ficar a saber mais sobre o alcoolismo do que 90% de todos os médicos.
Este grupo de pessoas, pode ensinar posteriormente o resto da Igreja e da comunidade, através de estudos bíblicos, filmes e aulas práticas criativas. Nem todas as Igrejas necessitam de ter o seu próprio serviço de aconselhamento, mas alguém precisa saber onde encontrar a ajuda profissional que está mais próxima. A Igreja deve estar aberta para receber os Alcoólicos Anônimos (AA), Al-Anon ou Alcoólicos Vitoriosos (AV).
Muitos Cristãos Evangélicos sentem-se desconfortáveis com a vaga espiritualidade dos AA, com o ênfase no "Deus como tu o conheces".
Eu sei que há alguns evangélicos que acreditam que os únicos programas de recuperação fiáveis são aqueles que nomeiam o nome de Jesus. Do meu ponto de vista como médico, isto é "visão-curta" e impede muita gente de alcançar a ajuda que necessita.
Por causa da sua concentração em Deus como um "Poder Superior", os Alcoólicos Anônimos têm ajudado milhares de alcoólicos de todas as tendências religiosas e os cristãos alcoólicos não tiveram problemas em entender este "Poder Superior" como sendo Jesus Cristo.
Historicamente falando, os alcoólicos têm-se virado para procurar ajuda nas profissões que os podem ajudar, como os médicos e pastores e têm recebido ajuda de todos. Os médicos, por exemplo, têm tendência para mostrar a porta aos alcoólicos o mais depressa possível, talvez neste processo receitem Valium criando uma dependência cruzada. Então, os alcoólicos desesperados, voltam-se uns para os outros, saem do seu círculo de amizades e vêem aos Alcoólicos Anônimos. No meio de um grupo de pessoas em que todos eles se sentem demitidos de qualquer esperança, os Alcoólicos Anônimos produziram mais de dois milhões de alcoólicos "recuperados". O testemunho destas vidas transformadas não pode ser posto de parte.
Na minha própria experiência, com algumas exceções, uma pessoa deve primeiro estar sóbria antes de poder ouvir o evangelho. Eu tenho um amigo, nascido de novo, cirurgião e alcoólico, que se recusa a ir aos Alcoólicos Anônimos. Ele tentou ficar sóbrio indo a estudos bíblicos e reuniões de oração, principalmente porque não queria admitir que era um bêbedo como todos os outros. Ele nunca podia parar de beber. Finalmente, humilhou-se a si mesmo, admitiu que era impotente em relação à sua dependência e percorreu os 12 passos dos Alcoólicos Anônimos. Hoje, está de volta aos estudos bíblicos e às reuniões de oração e é fiel servindo a Deus.
As curas e conversões entre os alcoólicos são freqüentes e instantâneas?
Não muito. Mas não há dúvida de que algumas pessoas são miraculosamente libertas do poder do álcool. Eu tive um doente alcoólico, paraplégico, que veio ao meu consultório e anunciou: "Doutor, eu sou salvo e estou bem". O seu desejo de beber foi- se instantaneamente. Este é o tipo de experiências que desejávamos que acontecesse freqüentemente, mas de fato, são muito raras.
Na minha experiência como médico, cheguei à conclusão de que essas curas imediatas, ou aceleração do processo de cura, não podem ser contabilizados cientificamente, porque resultam da intercessão e oração dos crentes. Muitas vezes, a oração intercessória é a única maneira de derrubar os poderes espirituais que cegam o alcoólico e a igreja deve levar a sério este mandato de interceder, em oração, em benefício daqueles que são apanhados nas teias do alcoolismo.
A procura de cura imediata pode, em alguns casos, impedir a recuperação de alcoólicos através de outros meios?
Não há qualquer dúvida. Bill Wilson, que fundou os Alcoólicos Anônimos, teve uma cura imediata e incitou todos os outros a consegui-lo também. Finalmente percebeu que o seu esforço não era ajudar alcoólicos a melhorar. De fato, a cura imediata, é trabalho de Deus e nós não podemos prever se, e quando isso vai acontecer.
Pela minha experiência, às vezes dá- se o caso das conversões "rápidas" irem bem durante algumas semanas, até as coisas começarem a dar voltas. A dependência volta e o desejo ardente persiste, o alcoólico continua a ser um hóspede dentro da família e com problemas pessoais com aqueles com que se confronta. Neste ponto, ele pode ficar desencorajado e algumas vezes irá simplesmente desistir por completo.
Precisamos de nos certificar de que não vamos induzir em erro semelhante pessoa com um conhecimento superficial do evangelho. Deus certamente pode resolver qualquer uma das nossas dificuldades imediatamente, mas os nossos problemas não vão desaparecer todos. O alcoólico pode ser completamente liberto da sua dependência, mas ele e os membros da sua família continuam a ter problemas físicos residuais, emocionais e espirituais. Esta é outra razão pela qual precisamos ser completos ao lidar com estes três aspectos da doença.
Em "Deus é a favor do alcoólatra", Jerry Dunn disse: "O alcoolismo começa com as bebidas sociais e não como um problema de personalidade". Ele começa por argumentar que o próprio álcool, é um produto defeituoso e que os crentes deveriam responder com a abstinência total. Qual é a sua posição?
Ele tem um bom ponto de vista. Penso que estaríamos melhor sem álcool. Muitas pessoas discordam, mas aqueles que como nós se preocupam com as desgraças que o álcool provoca, certamente iriam gostar de encontrar uma alternativa melhor para relaxar. Infelizmente, a bebida é tão velha como a Bíblia e não vai desaparecer sem mais nem menos.
Em sua opinião qual deveria ser a atitude do cristão em relação ao álcool?
Não vou andar a defender a abstinência por toda a comunidade cristã; parece claro na Palavra de Deus que os cristãos no passado bebiam bebidas fermentadas e muitos cristãos hoje, bebem por uma questão de liberdade pessoal. De qualquer forma, eu pessoalmente não bebo mais e penso que existem boas razões pelas quais todos os cristãos deveriam considerar seriamente a abstinência.
Primeiro, os cristãos que têm alguma evidência de alcoolismo na sua história familiar – pai, mãe, irmã, irmão, avô, tio – não deveriam beber de todo. Estas pessoas precisam levar a sério a ordem de Paulo para fugir do pecado. Um homem cristão, que descendia de quatro gerações de alcoólicos, perguntou-me recentemente, se isso significava que ele tinha de se abster até mesmo de uma cerveja ocasional com os amigos. Tive de lhe dizer: "sim, é exatamente isso que significa." Na presença de uma história familiar de alcoolismo, qualquer bebida é uma imprudência grave.
Também sou de opinião de que pastores, anciãos, diáconos e outros líderes da igreja deviam considerar o voto do nazireu como ideal e absterem-se de beber, todos eles. Um líder da Igreja que bebe e que talvez, ocasionalmente, se embriague levemente, estará a permitir que o poder do Espírito que está sobre si, saia. A embriaguez, mesmo que seja acidental, extingue o Espírito e é imprudente para um líder da Igreja correr esse risco. Este comportamento coloca muitas coisas em questão.
Finalmente, todos os cristãos precisam considerar seriamente o efeito que o álcool tem na parte do nosso cérebro que controla as inibições. Como seguidores de Jesus estamos envolvidos em combate espiritual e enfrentamos tentações constantemente. Mesmo quando estamos no nosso melhor, quando as nossas inibições estão sob o controlo total, é muitas vezes difícil resistir aos estratagemas subtis de Satanás. Reduzirmos propositadamente as nossas inibições, num tempo de combate, é realmente bastante imprudente.
PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO
Um modelo das escrituras relacionado com os alcoólicos.
1. Quando o filho pródigo anunciou a sua partida para uma terra longínqua, o pai não argumentou com a sua escolha culpando-o. Deixou-o ir. LIÇÃO: Se um alcoólico está determinado a beber, nenhum açoite verbal ou armazém de soluços o vai fazer parar.
2. O pai relacionou-se com o filho pródigo como um adulto que tomou as suas próprias decisões. A maneira de amar um alcoólico que se recusa a deixar de beber é permitir-lhe experimentar as conseqüências – para que colha o que semeou. Se o pai tivesse vindo à pocilga dos porcos, carregando-o para casa, ele teria regressado para a terra longínqua. Os alcoólicos, cujos cônjuges os tratam com ternura, ralham, tiram-nos da prisão sob fiança e os desculpam posteriormente, não contribuem para que eles parem de beber. Deixemos o problema de a bebida ser o problema dos bebedores com problemas.
3. Quando o filho pródigo regressou a casa, o pai fez tudo o que era possível para lhe demonstrar amor e apoio, ele não disse: "nunca irás saber o quanto eu sofri por tua causa. Tens sido pecador e fraco, agora tens que conquistar o meu amor e a minha bênção."
4. O alcoólico não precisa de ninguém para condená-lo. Não precisa de ninguém para puni-lo. Eles condenam-se e punem-se a si próprios. Nenhum destas coisas faz o alcoólico necessitar de alguém, para ser sempre doce, amável e agradável. O que o alcoólico precisa é de alguém que fruste a sua parte negativa, imatura, destrutiva e que o leve a abraçar o seu lado positivo, em crescimento e otimismo. Precisa de um amigo cristão. Precisa de si!








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