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4/10/2014

Adolescentes e Drogas - o que pais precisam saber

INTRODUÇÃO 

As drogas sempre estiveram presentes na história da humanidade. Há indícios do uso de plantas alucinógenas em vários cultos pagãos, como no xamanismo, prática que tem entre 10 e 15 mil anos em busca, através de transe, viajar ao mundo dos espíritos e de seus ancestrais. 

Ao que tudo indica a relação de dependência e vício entre homem e plantas teve origem na descoberta, por parte dos nossos ancestrais, de que a autoadministração de certas espécies poderia diminuir a dor, curar doenças, possibilitar maior energia, aguçar atividades cognitivas e proporcionar mais sensibilidade. 

Um dos problemas mais graves que nossa sociedade tem a resolver está relacionado ao tráfico e ao consumo de drogas. Hoje, milhares de brasileiros, principalmente crianças e adolescentes, são o alvo preferencial dos traficantes. Muitos já se tornaram dependentes químicos e diversos deles já ingressaram no mundo do crime, atraídos pela droga. A constatação dá-se na presença do crack que aumentou 700 % nos últimos quatro anos e se tornou uma epidemia. 

O uso de drogas ilícitas por adolescentes cresceu entre 2009 e 2012, sobretudo entre as meninas. É o que mostra pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), em 2012, a proporção de adolescentes que vivem nas capitais que já experimentaram drogas ilícitas chegou a 9,9%, o que equivale a mais de 312 mil jovens. Em 2009, quando foi feita a primeira pesquisa desse tipo, o porcentual foi de 8,7%. 

Além das providências que devem ser adotadas pelas autoridades, devemos assumir o compromisso de acender uma consciência cidadã, capaz de alertar pais e familiares para o tema, responsabilidade de todos. Afinal de contas, muitos males disseminaram-se em função das falhas da sociedade e da própria família. 

Os governantes são, indubitavelmente, os principais culpados. Mas, e os pais que não dão atenção aos filhos? E as famílias que se dispersam desprezando os valores e esquecendo-se da importância do amor e da religião? Esse é um tema que todos nós temos a obrigação de discutir e, por conseguinte, encontrar soluções. 

São raros os estabelecimentos de ensino que desenvolvem ações e disciplinas que proporcionam aos alunos atividades culturais, artísticas, esportivas, línguas estrangeiras, noções de informática, enfim, algo apropriado para expandir os horizontes dessas crianças e lhes proporcionar melhores condições para discernir sobre o que é bom ou ruim. 

Os jovens estão usando drogas mais e cada vez mais cedo, o que aumenta o risco de boa parte desta juventude desenvolver a dependência química. Esta equação se repete em praticamente todo o mundo, inclusive no Brasil, apesar de as pesquisas sobre o tema aqui ainda serem bem escassas. 

Numa delas, feita pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), com apoio da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), foi constatado que entre estudantes de escolas públicas crianças de 10 anos de idade começam a ter contato com as drogas - e o álcool que, na maioria das vezes, é a porta de entrada para o vício. 

No trabalho, intitulado Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino, foram entrevistados cerca de 50 mil estudantes que responderam aos questionários, anonimamente. 

A maioria dos usuários está na faixa de 16 anos de idade. Na faixa etária de 10 a 12 anos, 12,7% dos estudantes já usaram algum tipo de droga. Quase a metade dos alunos pesquisados (45,9%) cursa uma série que não é adequada à sua idade. A pesquisa constatou que a defasagem escolar é maior entre os que consomem drogas. 

O total de estudantes que usam drogas, na rede estadual de ensino, é de 22,6%. As substâncias mais procuradas são os solventes, a maconha, os remédios para diminuir a ansiedade (ansiolíticos), os estimulantes (anfetaminas) e os remédios que atuam no sistema nervoso central parassimpático (anticolinérgicos). Entre os meninos, a maconha é a primeira da lista e, entre as meninas os estimulantes. A maioria das crianças do ensino público fundamental e médio já consumiu bebidas alcoólicas - sete de cada dez crianças. Três de cada dez já fumaram ou fumam regularmente. 

De acordo com o estudo, 67,5% dos estudantes cariocas já consumiram bebidas alcoólicas e 26% já fumaram ou fumam regularmente. O maior problema é a droga lícita. Esse nível (de 67,5%) é muito grande em se tratando de adolescentes. Os índices de consumo de drogas ilícitas chegam a 6,3% com a maconha, 13,6% com solventes e 1,6% com cocaína. O levantamento revela que o consumo de álcool por adolescentes de 12 a 17 anos já atinge 54% dos entrevistados e desses, 7% já apresentam dependência. Entre jovens de 18 a 24 anos, 78% usam álcool e 19% deles são dependentes. 

Outro estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em comparação com os países da América Latina, o Brasil aparece em terceiro lugar no consumo de álcool entre os adolescentes. A pesquisa foi feita com estudantes do ensino médio e incluiu 347.771 meninos e meninas, de 14 a 17 anos, do Brasil, da Argentina, da Bolívia, do Chile, do Equador, do Peru, do Uruguai, da Colômbia e do Paraguai. Entre os brasileiros, 48% admitiram consumir álcool. Sabe-se, que o uso precoce de álcool aumenta o risco de alcoolismo em idade adulta e é um facilitador para o início do uso de outras drogas. 

De acordo com os especialistas, pais e os profissionais de educação devem se destituir de qualquer preconceito com relação às drogas, a fim de que haja um relacionamento melhor com os filhos/alunos que são usuários. É importante que o pai e o professor não deixem o preconceito atrapalhá-los no momento de escutar e diagnosticar em que grau de uso de droga esse jovem ou criança está para poder melhor acolhê-la e ajudá-la. 

OBJETIVOS 

O objetivo desse conjunto de palestras é esclarecer e informar de maneira simples e desmistificada o fenômeno do uso crescente de drogas por pré-adolescentes e adolescentes. Orientar os pais no que tange a um conhecimento mais detalhado do universo das drogas, as consequências de seu uso e, principalmente, proporcionar subsídios para que, nós pais e professores, possamos identificar, compreender e saber como agir quando identificamos possíveis sinais de que nossos filhos podem estar se envolvendo nesse mundo cercado de perigos, informações incorretas, vergonha, sofrimento e discriminação. 

Pretende esclarecer que antes de sermos culpados, somos pais, vítimas desse fenômeno social, que ao invés de nos afundarmos nesse sentimento de culpa, frustração e impotência, dispomos de ferramentas relativamente eficientes para identificar o problema, compreender que é ou pode se tornar uma doença e que igual a qualquer outra enfermidade pode e deve ser tratada de forma a buscar a libertação de nossos filhos desse caminho que, infelizmente, na maioria das vezes não tem volta. 

É proporcionar mecanismos para que nós pais terminemos com esse bordão de que drogas terminam sempre em três C´s. Clínica, cadeia ou cemitério. 

DEFINIÇÃO DE DROGA 

O termo droga possui uma aplicação bastante específica. Segundo a definição literal, droga é uma substância de uso médico ou terapêutico, ou ainda, aquilo que tem efeito entorpecente, alucinógeno ou excitante, cujo uso pode levar à dependência. É toda e qualquer substância, natural ou sintética que, uma vez introduzida no organismo, modifica suas funções. São substâncias que atuam sobre o cérebro, alterando de alguma forma o psiquismo. 

Por essa razão, são também conhecidas como substâncias psicoativas. As drogas que são utilizadas para alterar o funcionamento cerebral, causando modificações no estado mental são chamadas drogas psicotrópicas. O termo "droga" envolve os analgésicos, estimulantes, alucinógenos, tranquilizantes e barbitúricos, além do álcool e substâncias voláteis entre outros. 

Atualmente, o termo droga, segundo a definição da Organização Mundial de Saúde – OMS, abrange qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas produzindo alterações em seu funcionamento. 

Contudo, em um contexto legal e no sentido corrente (fixado depois de quase um século de repressão ao consumo de certas drogas), o termo "droga" refere-se, geralmente, a substâncias psicoativas e, em particular, às drogas ilícitas ou àquelas cujo uso é regulado por lei, por provocarem alterações do estado de consciência do indivíduo, levando-o eventualmente à dependência química. 

No Brasil, a legislação define como droga "as substâncias ou produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União" segundo o parágrafo único do art. 1.º da Lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006 (Lei de Drogas). 

CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS 

Quanto à legalidade do uso 

As drogas, substâncias naturais ou sintéticas que possuem a capacidade de alterar o funcionamento do organismo, são divididas em dois grandes grupos, segundo o critério de legalidade: drogas lícitas e ilícitas. 

Drogas Lícitas 

As drogas lícitas são aquelas legalizadas, produzidas e comercializadas livremente e que, apesar de trazerem prejuízos aos órgãos do corpo, são liberadas por lei e aceitas pela sociedade. Os dois principais exemplos de drogas lícitas na nossa sociedade são o cigarro e o álcool. 

É importante ressaltar que não é pelo fato de serem lícitas, que essas drogas são pouco ameaçadoras; o alerta é da OMS. Segundo o órgão, as drogas ilícitas respondem por 0,8% dos problemas de saúde em todo o mundo, enquanto apenas o cigarro e o álcool, são responsáveis por 8,1% desses problemas. 

As drogas permitidas por lei são as mais consumidas e as que mais resultam em fatalidades diárias, já que por meio das alterações causadas no organismo, o indivíduo perde o controle e acaba por fazer coisas que no normal não faria. Nesse sentido, muitos questionam a aceitação, por parte da sociedade, das drogas lícitas, uma vez que as mesmas são prejudiciais à saúde e também causam dependência. Assim, o critério de legalidade ou não de uma droga é historicamente variável e não está relacionado, necessariamente, com a gravidade de seus efeitos. Na verdade, esse critério é fruto de um jogo de interesses políticos, e, sobretudo, econômicos. 

O consumo de qualquer medicamento em uma dosagem acima da que o metabolismo humano suporta é prejudicial à saúde. Além do cigarro e do álcool, alguns medicamentos lícitos são frequentemente utilizados de maneira abusiva, causando problemas de saúde e até mesmo dependência. No Brasil os mais utilizados são: 

· Anabolizantes: medicamentos com alta dose de hormônios concentrados, utilizados com o objetivo de aumentar a massa muscular. Pode causar alterações no metabolismo do corpo e até impotência sexual. 

· Descongestionantes nasais: remédios utilizados com o fim de desobstruir o nariz, aparentemente não oferecem nenhum risco, mas podem causar dependência e crises de abstinência caso não sejam utilizados. 

· Benzodiazepínicos: são medicamentos tranquilizantes, utilizados para induzir ao sono ou para reduzir a ansiedade, nervosismo, etc. 

· Xaropes: medicamentos utilizados para controlar a tosse ou dificuldade de respiração, mas que podem conter substâncias ter substâncias como a codeína, um derivado do ópio, causando dependência. 

· Anorexígenos: medicamentos utilizados para reduzir o apetite, controlando assim, o peso. 

No Brasil, enfrenta-se um sério problema denominado tráfico de drogas lícitas. Trata-se do grande consumo de remédios anorexígenos, xaropes, benzodiazepínicos, descongestionantes nasais, anabolizantes, etc. Apesar da compra de alguns ser restrita à apresentação de receita médica e de apenas alguns laboratórios terem a licença para produzi-los, ainda é muito fácil ter acesso a esses medicamentos de forma ilegal. 

Ao ingerirmos determinada substância o nosso metabolismo interrompe a produção desta ou de outras, já que a quantidade existente no corpo é suficiente, devido à produção causada pela ingestão da substância. Com o tempo, o corpo para de produzi-las e, não voltará imediatamente a fazê-lo, caso elas deixem de ser introduzidas de forma brusca no sistema metabólico. É nesse intervalo de tempo que acontecem as crises de abstinência, tão comuns para quem está deixando de consumir determinada droga. 

Drogas Ilícitas 

As drogas ilícitas são substâncias proibidas de serem produzidas, comercializadas e consumidas. Tais substâncias podem ser estimulantes, depressivas ou perturbadoras do sistema nervoso central, o que perceptivelmente altera em grande escala o funcionamento do organismo. 

Por serem proibidas, as drogas ilícitas entram ou são produzidas no país de forma ilegal e são distribuídas através do tráfico que promove a sua comercialização. O volume de dinheiro gerado com esse comércio ilegal é usado para os mais diversos fins, suportado por diferentes interesses e controlado por pessoas que, seguramente não são os donos de morro, chefes de boca, etc. São aqueles que, por meio desse negócio garantem o poder econômico, social ou mesmo político. 

São drogas ilícitas: maconha, cocaína, crack, ecstasy, LSD, inalantes, heroína, barbitúricos, morfina, skank, chá de cogumelo, anfetaminas, clorofórmio, ópio entre muitas outras. A lista completa de todas as drogas conhecidas e classificadas pode ser encontrada em publicação da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) instituição do Governo Brasileiro responsável por fazer cumprir a legislação relativa ao controle sanitário dos estoques, produções, importações, exportações, consumos e perdas das substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras a controle especial, bem como os medicamentos que as contenham. 

Dentre as consequências sociais que as drogas ilícitas trazem pode-se dar ênfase à violência gerada, da produção até o consumidor final, à falência social, familiar e individual, aos enormes investimentos necessários para o combate ao tráfico e à recuperação de dependentes, para não falar das milhares de vidas perdidas anualmente devido ao uso direto ou às consequências terríveis decorrentes das ações daqueles que estão sob seu efeito. 

Quanto ao tipo de efeito no sistema nervoso central 

Podem ser classificadas como: 

· Drogas depressoras - diminuem a atividade do sistema nervoso atuando em receptores (neurotransmissores) específicos. Exemplos: álcool, barbitúricos, diluentes, quetamina, cloreto de etila ou lança perfume, clorofórmio, ópio, morfina, heroína, e inalantes em geral (cola de sapateiro, etc.). As drogas depressoras do sistema nervoso fazem com que o cérebro funcione lentamente, reduzindo a atividade motora, a ansiedade, a atenção, a concentração, a capacidade de memorização e a capacidade intelectual. 

· Drogas estimulantes - produzem aumento da atividade pulmonar (ação adrenérgica), diminuem a fadiga, aumentam a percepção ficando os demais sentidos ativados. Aceleram a atividade de determinados sistemas neuronais, trazendo como consequências um estado de alerta exagerado, insônia e aceleração dos processos psíquicos. Exemplos: cocaína, crack, cafeína, teobromina (presentes em chocolates), GHB, metanfetaminas, anfetaminas (bolinha, arrebite) etc. 

· Drogas perturbadoras – têm por característica principal a despersonalização ou modificação da percepção (daí o termo alucinógeno para sua designação) em maior ou menor grau. Exemplos: Algumas espécies de cogumelos, LSD, maconha, MDMA ou ecstasy e o DMT. Todas produzem uma série de distorções cognitivas e qualitativas no funcionamento do cérebro, como delírios, alucinações e alteração no senso-percepção. 

· Outra classificação se refere ao uso das drogas em desvio de seu uso habitual, como por exemplo, o uso de cola, gasolina, benzina, éter, dentre outras substâncias químicas, para provocar um estado de euforia ou torpor. 

Quanto à forma de produção 

Classificam-se como: 

· Naturais - aquelas que são extraídas de plantas. Exemplos: tabaco, cannabis, ópio. 

· Semissintéticas - são produzidas através de modificações em drogas naturais. Exemplos: crack, cocaína, heroína. 

· Sintéticas - são produzidas através de componentes ativos não encontrados na natureza. Exemplos: anfetaminas, anabolizantes. 

O USO DE DROGAS 

Sob o efeito de determinadas drogas, o indivíduo parece ver além do comum em objetos, em gestos ou até mesmo no vazio, daí a utilização de termos como despersonalização, alucinação ou sintomas paranoicos e psicóticos na descrição do seu comportamento. Sob o efeito de drogas, algumas pessoas tendem a parecer mais introspectivas ou mais extrovertidas, agressivas, a depender do tipo de substância consumida, assim como do contexto de utilização e dos próprios traços de personalidade individual. 
Sobre a "fuga da realidade", expressão usada para descrever a sensação de prazer derivada do uso de certas drogas, Freud escreveu, em 1930: 

O serviço prestado pelos veículos intoxicantes na luta pela felicidade e no afastamento da desgraça é tão altamente apreciado como um benefício, que tanto indivíduos quanto povos lhes concederam um lugar permanente na economia de sua libido. Devemos a tais veículos não só a produção imediata de prazer, mas também um grau altamente desejado de independência do mundo externo, pois se sabe que, com o auxílio desses ‘amortecedores de preocupações’, é possível, em qualquer ocasião, afastar-se da pressão da realidade e encontrar refúgio num mundo próprio, com melhores condições de sensibilidade. Sabe-se igualmente que é exatamente essa propriedade dos intoxicantes que determina o perigo e a sua capacidade de causar danos. São responsáveis, em certas circunstâncias, pelo desperdício de uma grande quota de energia que poderia ser empregada para o aperfeiçoamento do destino humano. 

Outro aspecto do efeito de drogas e das razões que causam relações de dependência psicológica é a forma como estas interagem com o que, na perspectiva de teoria comportamental, se considera como variáveis de autocontrole, ou seja, na medida em que substituem as condições controladoras do ambiente (religião, economia, governo etc.). 

Através do uso de anestésicos, analgésicos e soporíferos, reduzem-se os estímulos dolorosos ou distraidores que não podem ser facilmente alterados de outra maneira. Aperitivos e afrodisíacos algumas vezes são usados na crença de que duplicam os efeitos da privação nos campos da fome e do sexo, respectivamente. Usam-se outras drogas para efeitos opostos. Os estímulos aversivos condicionados na "culpa" são contra-atacados mais ou menos eficientemente pelo álcool. Padrões típicos de comportamento eufórico são gerados pela morfina e drogas parecidas, e com menor escala pela cafeína e nicotina. 

CLASSIFICAÇÃO DOS USUÁRIOS DE DROGAS 

É comum distinguir o abuso de drogas (dependência) do seu consumo experimental, ou já em fase de risco de dependência. Esta classificação refere-se à quantidade e periodicidade em que ela é usada. Os usuários podem ser classificados, segundo CID 10, em: 

CID 10 
· Experimentador 
· Usuário ocasional 
· Habitual 
· Dependente 

OMS 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a seguinte classificação para as pessoas que utilizam substâncias psicoativas: 

· Não usuário: nunca utilizou; 
· Usuário leve: utilizou drogas, mas no último mês o consumo não foi diário ou semanal; 
· Usuário moderado: utilizou drogas semanalmente, mas não diariamente no último mês; 
· Usuário pesado: utilizou drogas diariamente no último mês. 

UNESCO 

Segundo considerações de saúde pública, sociais e educacionais, uma publicação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) distingue entre quatro tipos de usuários: 

· Usuário experimental ou experimentador: limita-se a experimentar uma ou várias drogas, por diversos motivos, como curiosidade, desejo de novas experiências, pressão de grupo etc. Na grande maioria dos casos, o contato com drogas não passa das primeiras experiências. 

· Usuário ocasional: utiliza um ou vários produtos, de vez em quando, se o ambiente for favorável e a droga disponível. Não há dependência, nem ruptura das relações afetivas, profissionais e sociais. 

· Usuário habitual ou "funcional": faz uso frequente de drogas. Em suas relações já se observam sinais de ruptura. Mesmo assim, ainda "funciona" socialmente, embora de forma precária e correndo riscos de dependência. 

· Usuário dependente ou "disfuncional" (dependente, toxicômano, adicto, fármaco-dependente, dependente químico): vive pela droga e para a droga, quase que exclusivamente. Como consequência, rompe os seus vínculos sociais, o que provoca isolamento e marginalização, acompanhados de decadência física e moral. 

A DOENÇA DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA 

A dependência química é uma doença que faz parte do grupo dos Transtornos Mentais. Os dependentes químicos são equivocadamente vistos como pessoas fracas, de pouca força de vontade, sem bom senso e sem sabedoria. Porém, quando considerada como uma doença, podemos olhar sob outra perspectiva: de que se trata de um transtorno em que o portador desse distúrbio perde o controle do uso da substância, e sua vida psíquica, emocional, espiritual e física vão se deteriorando gravemente. Nessa situação, a maioria das pessoas precisa de tratamento e de ajuda competente e adequada. 

· É uma doença química: Pelo fato de que a dependência é provocada por uma reação química no metabolismo do corpo. O álcool, embora a maioria das pessoas o separe das drogas ilegais, é uma droga tão ou mais poderosa em causar dependência em pessoas predispostas, quanto qualquer outra droga, ilegal ou não. 

· É uma doença interna e não externa: A causa básica e única é o uso do produto, mas existem fatores internos inerentes ao organismo, que atuam ao mesmo tempo direta e indiretamente e que contribuem para a instalação da doença, provocando uma predisposição física e emocional para a dependência. As expressões externas de uma dependência, como uma série de problemas sociais (pressão de grupo, moda, fome e miséria), familiares (falta de diálogo com os pais), sexuais, profissionais, emocionais (ansiedade, culpa), etc., não são as geradoras da dependência química e sim consequências de um determinado estilo de vida. 

· É uma doença progressiva: A lógica da interrupção desse processo destrutivo é não usar mais a droga, caso contrário a tendência é piorar com o passar do tempo. 

· É uma doença crônica incurável: Uma vez dependente químico, sempre dependente, indiferente de estar ou não em recuperação, usando ou não usando algum tipo de droga. Não há cura para a dependência; existe sim tratamento com êxito - contínuo e permanente. 

· É uma doença controlável: Mesmo que não se possa usar o álcool ou outras drogas de maneira “social” ou “recreativa”, o dependente, se aceitar, e realmente se empenhar no tratamento, poderá viver muito bem sem a droga e sem as consequências negativas do seu uso frequente. 

· É uma doença que atinge toda família: Qualquer tipo de comportamento toxicomaníaco tem uma incidência sobre aqueles que rodeiam a pessoa em causa e, sobretudo, sobre a sua família, tornando-a co-dependente do problema. O convívio com o dependente faz com que os familiares adoeçam emocionalmente, sendo necessário que também se tratem e recebam orientações a respeito de como lidar com o dependente e com seus sentimentos em relação ao mesmo. 

· É uma doença física: Se manifesta pelo aparecimento de profundas modificações físicas, alterando o metabolismo orgânico quando se interrompe o uso da droga. Essas alterações físicas obrigam o usuário a continuar consumindo; caso contrário ocorre uma “crise ou síndrome de abstinência”. Essas alterações presentes na “Síndrome de Abstinência” se manifestam por sinais e sintomas de natureza física e variam conforme a droga. 

· É uma doença psicológica: É a sensação de satisfação e um impulso psíquico provocado pelo uso da droga que faz com que o indivíduo a use continuamente, para permanecer satisfeito e evitar mal estar, ou seja, quando o consumo repetido cria o invencível desejo de usá-lo pela satisfação que produz. A falta do tóxico deixa o usuário abatido, em lastimável estado psicológico. Quando privados os dependentes sofrem modificações de comportamento, mal-estar, e uma vontade irreprimível de usar a droga. 

Segundos os critérios diagnósticos do DSM-IV a dependência de substância se apresenta sob os seguintes sintomas: 

1. Tolerância - Definida por qualquer um dos aspectos: 

· Necessidade progressiva de maiores quantidades da substância pra atingir o efeito desejado; 

· Significativa diminuição do efeito após o uso continuado da mesma quantidade da substância. 

2. Abstinência - Manifestada por qualquer um dos seguintes aspectos: 

· Presença de sintomas como ansiedade, irritabilidade, insônia e sinais fisiológicos (tremor) desconfortáveis após a interrupção do uso da substância ou diminuição da quantidade consumida usualmente; 

· Consumo da mesma substância ou outra similar a fim de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. 

3. Ingestão da substância em quantidades maiores ou por um período maior do que o inicialmente acontecia. 

4. Desejo de diminuir - O indivíduo expressa o desejo de reduzir ou controlar o consumo e a quantidade da substância ou apresenta tentativas nesse sentido, porém malsucedidas. 

5. Perda de Tempo - Boa parte do tempo do indivíduo é gasto na busca e obtenção da substância, na sua utilização ou na recuperação de seus efeitos. 

6. Negligência em relação às atividades - O repertório de comportamentos do indivíduo, como atividades sociais, ocupacionais ou de lazer encontra-se extremamente limitado em virtude do uso da substância. 

7. Persistência no uso - Embora o indivíduo se mostre consciente dos problemas ocasionados, mantidos e/ou acentuados pela substância, sejam físicos ou psicológicos, seu consumo não é interrompido. 

A dependência química é uma das doenças psiquiátricas mais frequentes da atualidade. 

COMORBIDADE 

Designação de duplo diagnóstico. Corresponde a associação de pelo menos duas patologias num mesmo paciente. 

Comorbidade : é a ocorrência de pelo menos duas entidades diagnósticas em um mesmo indivíduo. Estudos demonstram que o abuso de substâncias é o transtorno coexistente mais frequente entre portadores de transtorno mental. Os mais frequentes são: os transtornos do humor, transtorno de ansiedade, transtorno de déficit de atenção e a esquizofrenia. 

Comorbidade patogênica ocorre quando duas ou mais doenças estão etiologicamente relacionadas; comorbidade diagnóstica ocorre quando as manifestações da doença associada forem similares às da às da doença primária; e comorbidade prognóstica ocorre quando houver doenças que predispõem o paciente a desenvolver outras doenças. 

Conforme afirma o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Norte-americana de Psiquiatria) o Transtorno por Uso de Substâncias, que engloba o abuso e a dependência a substâncias, encontra-se frequentemente associado a outras patologias psiquiátricas. Assim diante de um paciente com uso problemático de drogas, seja dependência ou uso abusivo, deve-se sempre investigar a existência de outra doença emocional; ou por baixo da dependência ou como consequência. 

É provável até que a existência de outros transtornos emocionais comórbidos à dependência dificulte a adesão do paciente ao tratamento, proporcione resultados piores em termos de frequência e quantidade da droga consumida, bem como do funcionamento psicossocial. Nem sempre é a droga em si a responsável exclusiva pela apatia ocupacional do dependente, pelos fracassos sociais e familiares. Muitas vezes sua própria personalidade se mostra algo inviável para a condução da vida. 

Muitos trabalhos de pesquisa têm mostrado uma elevada prevalência (13%) da associação de doença mental com uso abusivo de substâncias. Nas populações em tratamento psiquiátrico, tanto ambulatorial quanto em internação hospitalar, encontra-se 20 a 50% de comorbidade entre as variadas doenças mentais com o alcoolismo e abuso de outras drogas. 

Observações inversas também ocorrem, pois nos centros especializados no atendimento ao dependente químico a comorbidade com outros transtornos mentais também é maior, se comparada à população em geral. Em relação às doenças mentais mais severas, como são a esquizofrenia e o transtorno bipolar do humor, em quase metade dos pacientes também aparece a associação com abuso ou dependência de substâncias psicoativas. 

Embora não haja evidências na literatura de determinados transtornos emocionais e de personalidade como sendo causas do comportamento aditivo, a presença de Transtorno de Conduta na infância, de diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar na adolescência e Transtorno Anti-Social de Personalidade ou Borderline seriam fortes fatores de risco para uso de drogas no futuro. 

Não obstante, há evidencias de que a desinibição de comportamento e o temperamento considerado "difícil" na criança possam representar fatores de risco para o uso futuro de drogas (idem). Em outras palavras, embora sem critérios suficientes para se constituir em relação causa-efeito, as observações mostram sugestiva associação de determinadas patologias mentais e traços de personalidade com o uso de drogas. 

Uma das hipóteses que tentam justificar a associação entre dependência química e transtornos emocionais seria uma espécie de vulnerabilidade da pessoa para a doença mental. Neste caso a droga apenas desencadearia e agravaria os sintomas mentais dormentes. 

O segundo modelo sugere que essa associação se dá em função da pessoa que se sente mal por conta de algum transtorno emocional buscar a droga como uma espécie de “automedicação”. Ela aliviaria os sintomas de sua depressão, sua ansiedade, obsessão, angústia e assim por diante. 

A terceira hipótese supõe uma causa (biológica?) comum que predisporia o sujeito ao uso de drogas e à doença mental simultaneamente. Um quarto e último modelo entende a associação droga-doença mental como a ocorrência independente das duas coisas, apenas uma concomitância. Nesse caso o uso de drogas pela pessoa com doença mental seria determinado por fatores independentes daqueles da doença mental. 

Esses quatro modelos podem ser usados para tentar explicar, por exemplo, a associação de uma pessoa com transtorno afetivo bipolar e dependência à cocaína, ou do transtorno obsessivo-compulsivo com o álcool, o transtorno de ansiedade, fóbico ou do pânico com maconha e assim por diante. É, inclusive, útil para entender o severo agravamento da tendência esquizofrênica (personalidade esquizóide, por exemplo) com abuso de craque ou coisa que o valha. 

Já é muitíssimo conhecido das pessoas que lidam com pacientes internados o fato da maioria dos esquizofrênicos fumarem exageradamente, sugerindo algum substrato neurobiológico comum aos dois estados. Os pacientes esquizofrênicos que fazem uso de tabaco, iniciam seu uso exagerado em aproximadamente antes do inicio dos sintomas psicóticos em 86% dos casos. 

No caso da esquizofrenia e o tabaco, os achados neurobiológicos da esquizofrenia envolvem alterações em circuitos córtico-mesolímbicos associados tanto aos sintomas cognitivos, perceptuais e afetivos da doença, quanto ao comportamento de recompensa e fissura do tabaco, o que fortalece a hipótese de uma mesma causa para os dois estados. 

Tecnicamente, a literatura científica vem estabelecendo o sistema dopaminérgico mesolímbico como o principal substrato biológico para o reforço positivo de psicoestimulantes, maconha, nicotina e álcool. Essas substâncias direta ou indiretamente aumentam a liberação de dopamina, um neurotransmissor, nos sistemas que envolvem os neurônios de uma determinada área cerebral (a área tegmentar ventral na sua conexão com o núcleo acumbens). Essas mesmas áreas cerebrais (mesolímbicas) estão envolvidas no comportamento de fissura pela droga. 

É interessante saber que esse mesmo sistema cerebral (mesolímbico) esta relacionado com os sintomas esquizofrênicos, com a ação dos medicamentos para esquizofrenia e com o desenvolvimento de sintomas psicóticos pelo uso de anfetaminas e cocaína, como é o caso da chamada “noia” (sintomas francamente paranoicos). 

O tratamento do dependente químico portador também de outra doença mental tem resultados melhores quando se integra o tratamento dos sintomas psíquicos do eventual transtorno com atitudes direcionadas à dependência. A existência de comorbidade aumenta a dificuldade no controle de cada doença isoladamente, ou seja, é mais difícil tratar um paciente deprimido e dependente de cocaína do que o tratamento da depressão ou dependência à cocaína isoladamente. 

Tem sido comum a comorbidade de Transtorno Depressivo com uso diário de bebida alcoólica, com dependência ou não. Na maioria dos casos percebe-se claramente que o álcool está sendo usado como lenitivo da angústia, desânimo e tristeza próprios da depressão. Neste caso o sucesso terapêutico será inegavelmente maior se a depressão for tratada com mesmo entusiasmo que a abstinência do álcool. É bastante frequente a associação de alcoolismo, dependência de cocaína ou anfetaminas com depressão. Não se pode tratar uma doença sem tratar igualmente a outra. 

O quadro de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), anteriormente acreditado afetar apenas crianças, é bastante associado ao consumo de cocaína. Os pacientes referem sentir-se aliviados com a cocaína. A semelhança neuroquímica entre esses dois estados deduz-se até pelo fato do tratamento do TDAH ser através de fortes estimulantes, como, por exemplo, o metilfenidato. Neste caso o tratamento precoce do TDAH, ainda em criança, deve ser encorajado até por uma questão de prevenção para a eventual futura dependência química. 

A dependência a anfetaminas, cocaína e seus derivados (craque) leva a um quadro francamente psicótico, paranoico e alucinatório. Como não se trata de uma esquizofrenia franca ou genuína, falamos em quadro esquizofreniforme. Apesar de muito exuberante em sintomas, tudo isso se resolve em poucas semanas com a abstinência e o tratamento da dependência. 

Por outro lado, embora a esquizofrenia verdadeira não seja causada pelas drogas, poderá ser severamente piorada com o uso de destas, formando assim um círculo vicioso; esquizofrenia – drogas - piora da esquizofrenia – mais drogas... e assim por diante. Nesses pacientes o controle dos sintomas psicóticos é de grande importância para a redução na utilização da droga. 

O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TSPT), também tem forte relação com o uso de drogas, tanto de cocaína quanto de maconha. Trabalho policial, violência urbana, guerras, acidentes e outros eventos traumáticos favorecem o TSPT e, consequentemente o uso de drogas. 

O Transtorno de Pânico é outro quadro que também representa um risco aumentado para o uso abusivo de substância, notadamente do álcool. Há prevalência de uso abusivo de drogas em 16% da população com Transtorno do Pânico. 

É muito importante avaliar a presença de comorbidades nos pacientes com dependência química para maior eficácia do tratamento. Além de proporcionar o não-uso da substância, o tratamento objetiva assistir intensivamente a eventual síndrome de abstinência, a correção de estados agudos de ansiedade e depressão, ideias delirantes e eventuais alucinações. 

CO-DEPENDÊNCIA 

O dependente químico raramente vive “no vazio”. Aqueles que o cercam são direta ou indiretamente afetados pela disfunção comportamental que acompanha a progressão da doença da dependência e desenvolvem mecanismos de racionalização para melhor suportar a dor de serem rejeitados em função da droga do familiar dependente. Quando isto ocorre, estas pessoas passam a ser o que denominamos co-dependentes. 

É um problema progressivo, capaz de tornar doentes as pessoas que, em consequência de uma relação tão intensa e comprometida com um dependente químico, não conseguem administrar suas próprias vidas. Esse fato inicia-se quando nessa relação alguém tenta controlar o uso de drogas, o consumo de bebidas ou quaisquer comportamentos compulsivos de um dependente na esperança de ajudá-lo, sendo mal sucedido nesse controle, acabando assim por perder o domínio sobre seu próprio comportamento e vida. 

Assim como o dependente químico necessita da droga, a droga do co-dependente é o dependente. Embora seja uma resposta normal para uma situação anormal, a co-dependência é extremamente prejudicial a todos quando se tenta controlar algo ou alguma coisa que não pode ser controlada. 

Todo indivíduo é dotado de algo chamado “Soberania Pessoal”. Não há restrições quanto a isso, exceto se ela agride a terceiros. Na “Soberania Pessoal” está incluído o direito de usar qualquer substância, seja para que fim for, mas responsabilizar-se integralmente pelas consequências. 

No atendimento e tratamento do dependente químico é comum o indivíduo ser trazido pela família, é comum também, que a família apresente certa resistência quando solicitada a participar, ou então aceite o tratamento apenas por causa do dependente, como se ela não precisasse refletir sobre a qualidade da relação familiar. Normalmente a fala é a seguinte: - “Ele estando bem, eu também estarei”. 

O “sistema de negação” desenvolvido pelos co-dependentes, é basicamente idêntico ao utilizado pelo dependente químico. Estas características são desenvolvidas ou geradas por reflexo de comportamento diretamente vinculado e sob a influência da conduta do dependente. 

Além disso, outros mecanismos de defesa mais complexos atuam no sentido de sustentação das possibilidades de ganho que a doença promove. A princípio, os ganhos são quase sempre representados pela atenção social que recebe e parece envolver de satisfação imediata tanto o dependente quanto o co-dependente, seja pela necessidade de que carecem, seja pela força da patologia à qual estão aferrados. 

Todavia, com o tempo, o indivíduo com essa característica se torna insistente e a qualidade das relações que desenvolvem tende a se tornar obstinada. Como consequência, ele fica cada vez mais isolado socialmente e entra em estado depressivo cíclico, apresenta sentimentos de abandono, frustração e baixa autoestima. 

Todas as atitudes a que o co-dependente responde mediante a manipulação do dependente pressupõe-se atuarem no sentido de uma degradação de conduta de ambas as partes. Assim, o que o co-dependente necessita, é de uma orientação para que possa perceber como responder às diretrizes de conduta do seu dependente, o grau de envolvimento e de participação na patologia em questão. 

COMO LIDAR COM AS DROGAS 

O primeiro aspecto e talvez o mais importante para que os pais possam lidar com o uso de drogas por seus filhos é desmistificar todo e qualquer adjetivo pejorativo, rotulador do indivíduo, compreender que na maioria das vezes o uso é ou poderá se transformar numa doença séria que, embora incurável, pode ser tratada, estabilizada e permitir que o usuário volte a ter uma vida normal em todos os seus aspectos. 

Conhecendo as drogas mais usadas no Brasil, os sinais que podem indicar o uso de cada uma dessas drogas, os efeitos do uso a curto, médio e longo prazo, as consequências para a saúde, as possibilidades de tratamento e o papel fundamental da família no processo de recuperação do dependente, os pais e a família podem desenvolver seu verdadeiro papel de protetores, cuidadores e formadores não só dos aspectos morais, mas como da saúde física e mental de seus filhos. 

Qual é a hora de procurar ajuda 

Com toda certeza no primeiro momento em que se notam certos tipos de comportamento, soa o alarme e aparecem os indícios e os questionamentos dos pais sobre a mudança de rotina de seus filhos. Importante: a mudança sempre ocorre; sempre. Listamos uma série de pontos que podem levar à conclusão de que um jovem está se transformando em um dependente químico, seja álcool ou qualquer outra droga. 
Indícios do uso abusivo de drogas por adolescentes 

Para ilustrar esse ponto vamos usar o álcool, pois, além de lícito e amplamente aceito pela sociedade - é droga, gera dependência e mata. Os pontos mencionados servem da mesma forma para quaisquer outras drogas. 

É preciso distinguir consumo de bebida e alcoolismo, mas sintomas como: queda do rendimento escolar, depressão, mentiras desenvolvimento de antipatias ou até mesmo hostilidade frente sua própria sociedade ou cultura e outras alterações psicopatológicas podem ser indicadores do início da dependência. 

Mudanças sociais que implicam na decisão de beber (ou usar outra droga): 

· De famílias extensas por famílias nucleares, 
· De status atribuído por status conquistado, 
· De uma vida centrada na família por uma vida centrada nos pares, 
· De valores religiosos por seculares, 
· Do comunalismo pelo individualismo, 
· Da estabilidade social por mudanças sociais, 
· Da moral tradicional pela amoralidade. 

A alienação causada pelo abuso de álcool durante a adolescência, se generalizada, pode resultar em problemas psicossociais epidêmicos, como, delinquência, depressão, conflitos familiares, gravidez fora do casamento, abandono escolar, vandalismo e até suicídio. 

Outros sinais de abuso 

· Atrasos constantes na escola; 
· Desculpas as mais variadas para não ir à escola; 
· Dificuldade para despertar, levantar-se, etc.. 
· Colocar-se em situações de risco como não prestar atenção ao atravessar a rua, tombos, distração generalizada; 
· Incapacidade de se lembrar do que aconteceu depois de beber; 
· Envolvimentos mal explicados com a polícia devido a brigas e outros fatores de risco; 
· Chegar a casa machucado e não saber explicar ou distorcer os motivos para o incidente; 
· Beber para curar uma ressaca; 
· Preocupação de colegas e amigos com a forma dele ou dela se comportar; 
· Incapacidade de controlar a quantidade de bebida ingerida; 
· Aumento significativo na frequência e na quantidade ingerida; 
· Impedido de beber apresenta dores de estômago, sudorese excessiva, tremedeira, ansiedade, mau humor, agressividade, isolamento; 
· Abandono progressivo de atividades antes costumeiras e prazerosas; 
· Passar muito tempo na rua sem justificativas plausíveis; 
· Rompimento progressivo de relações sociais e tendências a ficar cada vez mais só; 
· Beber sozinho, em casa, no quarto ou escondido; 
· Esconder bebida pela casa; 
· Mudar o que costuma beber como, por exemplo, deixar a cerveja e passar a beber vodca ou uísque; 
· Gabar-se de que bebe muito, mas não fica bêbado; 
· Sentir-se culpado depois de uma ressaca ou um porre; 
· Perda de peso, gastrite, inchaço nos pés, bochechas e nariz vermelhos. 

Entendendo o dependente - Sete regras básicas 

1 - O momento de parar é agora 

Uma das táticas mais usadas pelos dependentes e abusadores de álcool e/ou outras drogas para evitar ingressar em tratamento é a procrastinação (“deixar para mais tarde ou para depois”, adiamento indefinido que colabora para o aumento das consequências derivadas do consumo). A frase “Eu vou parar amanhã” significa exclusivamente que o indivíduo não tem nenhuma intenção de interromper o consumo. 

2 - Deve-se parar o consumo de uma vez 

Reduzir o consumo de drogas e álcool é uma tarefa ingrata e infrutífera. Cada episódio de consumo de droga aumenta o desejo por mais droga e assim o processo de recuperação acaba sempre adiado. 

3 - Parar todas as drogas de abuso 

Esta é uma das regras mais difíceis para o dependente aceitar. O indivíduo tende a focalizar todas as suas dificuldades, por exemplo, na cocaína, desprezando a participação das outras substâncias no seu padrão de consumo. O consumo de álcool ou de maconha frequentemente representa o primeiro passo para uma recaída no consumo da própria cocaína. Além desse fato, o consumo de qualquer substância evoca as memórias do consumo da droga principal consumida, desencadeando “fissuras” intensas. Ao consumir outra droga, o indivíduo terá menor capacidade de resistir a tais “fissuras”, recorrendo ao consumo. 

4 - Mudar o estilo de vida 

Os dependentes de drogas não devem manter relacionamentos com antigos companheiros de consumo, não devem ir aos bares e outros ambientes onde costumavam encontrar esses colegas, pois o consumo de substâncias psicoativas (drogas e/ou álcool) é o ponto central dessas atividades. O indivíduo, nessas ocasiões, volta a sentir desejo intenso, como uma necessidade de consumir, não conseguindo resistir à droga. Esta é a principal razão de recaídas, pelo menos nos pacientes em tratamento. 

5 - Sempre que possível evitar situações, pessoas e ambiente que causem fissuras 

É importante antecipar estas situações antes de se encontrar nas situações acima descritas, para que o paciente possa lidar adequadamente e evite o uso. Os dependentes em tratamento nunca devem testar-se, para saber “como estão indo no tratamento”. Este fenômeno é muito visto entre os pacientes, que acreditam que “passando no teste” estarão provando que voltaram a conquistar o controle sobre a droga e que “jamais irão consumir novamente”. Infelizmente nada poderia ser mais falso que isto. Mesmo passando no “teste” o paciente estará mais próximo de uma recaída, por ter se aproximado ao ambiente de consumo e, provavelmente, por excesso de autoconfiança. 

6 - Procurar outras recompensas (fontes de prazer) 

Durante a trajetória da dependência os indivíduos costumam afastar-se de praticamente todas as formas de lazer que não se encontram associadas diretamente ao consumo. Frequentemente abandonam hobbies, afastam-se de pessoas que não usam, param de exercitar-se; com a evolução da dependência mesmo o interesse no sexo se reduz muito, e a vida torna-se escassa de prazeres não quimicamente induzidos. O aprendizado de como voltar a estar em sintonia com o mundo “careta” é uma das tarefas mais difíceis da recuperação. Alguns indivíduos chegam a relatar que “desaprenderam a falar” sem o efeito das drogas. 

7 - Cuidados pessoais: aparência, alimentação, exercício etc. 

A cocaína, por exemplo, é um potente inibidor do apetite, de forma que usuários crônicos tendem a apresentar deficiências de diversos nutrientes e vitaminas. Alguns indivíduos dependentes de álcool ingressam no tratamento muito adoecidos, física e emocionalmente. Da mesma forma, o condicionamento físico do paciente costuma ser negligenciado, indicando a inclusão de exercícios físicos na recuperação. O exercício pode, ainda, auxiliar a controlar a ansiedade do indivíduo, facilitando a manutenção da abstinência, além de produzir sensação de bem-estar pela liberação de substâncias (endorfinas), que podem resultar em redução do desejo pelo consumo. 

TRATAMENTO MÉDICO E PSICOLÓGICO 

Os jovens em geral são rebeldes às clássicas psicoterapias, mas quando usam drogas a resistência piora e acabam criando verdadeiras batalhas em casa para não ir às consultas. As alegações mais comuns são, entre outras: 

· "Não sou louco para ir a um psiquiatra, os loucos são vocês", 
· "Não sou viciado. Paro quando eu quiser", "Vão gastar dinheiro à toa!”. 

Quando há comprometimento psicológico ou físico, a consulta especializada se faz necessária. Cabe ao profissional - médico, psiquiatra, psicólogo- especializado fazer um bom diagnóstico e estabelecer um procedimento adequado. Os especialistas estão mais capacitados a utilizar, se necessário, medicamentos específicos. Há muito progresso no campo medicamentoso terapêutico. Novidades surgem a toda hora, entretanto a validade deverá ser confirmada pelos profissionais escolhidos. 

Internação 

Em casos graves, quando o usuário está muito comprometido, a internação hospitalar é necessária e fundamental para dar início à recuperação. Nesse sentido, os hospitais funcionam bem. 

Apesar da internação involuntária do dependente químico ser permitida, especialistas afirmam que o ideal é o desejo do paciente em se tratar e o apoio da família para ajudar a pessoa a deixar as drogas. Muitos profissionais concordam com esse tipo de internação para alguns casos, como quando há risco à vida do dependente ou quando ele põe em risco a vida de outros. Nesses casos, pode-se recorrer a essa última alternativa para prevenir algum tipo de tragédia. A pessoa acaba perdendo o amor próprio e a substância acaba sendo mais importante que qualquer outra coisa, inclusive sua própria vida. 

A recomendação, em qualquer caso, é que se procure uma clínica legalizada onde a pessoa passe por uma avaliação médica. É essencial que a família participe do processo de tratamento e recuperação, o que não é fácil, mas é muito importante. Dentro do hospital, o dependente passará por uma desintoxicação com a ajuda de remédios e, mesmo após receber alta, precisa continuar o tratamento com terapia. “Não é um passe de mágica”, nem a cura, pois o processo de recuperação é longo, as taxas de êxito são baixas e precisamos estar cientes que estamos lidando com uma doença que não tem cura. 

Terapia 

Só internação não resolve. A terapia é essencial e faz parte de todas as etapas do tratamento contra as drogas, durante e após a internação. A participação da família é obrigatória para pacientes adolescentes e recomendada no caso dos adultos. Nos programas, também há um grupo de acolhimento, onde orientadores e pessoas em geral criam um espaço que permite a reflexão e informação entre todos os presentes. A duração do tratamento depende muito de cada caso, mas, em geral, é necessário ficar pelo menos dois anos sem usar nenhum tipo de droga para ser considerado livre da dependência. 

Grupos de ajuda mútua 

Também é fundamental a participação, tanto do dependente quanto da família em grupos de mútua ajuda como os Alcoólicos Anônimos (AA) ou Narcóticos Anônimos (NA). As igrejas muitas vezes também oferecem programas de apoio para quem quiser procurar ajuda. Se o dependente não estiver disposto a iniciar um tratamento, a família pode comparecer às reuniões e aos centros para se informar qual é a melhor maneira de lidar com a situação. 

Depois da alta, o apoio desses grupos é excelente. Os "padrinhos" que adotam um novo membro cuidam dele como se fosse um filho. A única obrigação desse "filho" é ligar para o "padrinho" quando a vontade de usar a droga começar a ser despertada. É a força da coletividade agindo sobre o indivíduo necessitado. Não há psicoterapias nem internações que garantam uma proteção tão grande e tão empenhada quanto a que esses grupos oferecem. E, se houver, pode se tornar inviável para a maioria da população, pelo seu alto custo. 

Fases do tratamento da dependência de álcool e drogas 

Desintoxicação ou Promoção da abstinência 

Fase de abstinência, onde a droga é retirada e o paciente permanece internado sob supervisão médica para acompanhamento dos efeitos da retirada abrupta do químico e a reação física e psicológica do paciente a essa interrupção forçada do uso. Fisiologicamente esta fase dura poucos dias, porém a vontade de consumir pode persistir por meses. O uso de medicações pode reduzir o desconforto dos usuários ou mesmo minimizar as complicações médicas. A desintoxicação estabiliza o paciente, permitindo que ele ingresse na próxima fase do tratamento. Porém a desintoxicação sozinha tem impacto mínimo na dependência. 

Reabilitação 

É a fase do tratamento em que os pacientes aprendem como modificar seu comportamento para manter a abstinência. Inúmeras modalidades terapêuticas podem (e devem) ser utilizadas para esta finalidade – aconselhamento individual e familiar, aprendizado sobre dependência e sobre as substâncias que consumiam, psicoterapia individual e familiar, medicamentos, reaprendizado social e vocacional e muitos outros processos de tratamento. Grupos de mútua-ajuda devem sempre ser incluídos no processo de reabilitação 

Cuidados continuados 

Muitos dos pacientes dependentes devem se manter em tratamento por um período longo em suas vidas. Esta fase é composta de propostas para a manutenção do estado de sobriedade frente às dificuldades de suas vidas. Participação em grupos de mútua-ajuda é um dos mais conhecidos meios de manutenção dos benefícios conseguidos em um tratamento. Outras possibilidades para esta fase são oferecidas pelas comunidades terapêuticas, terapia ocupacional, hospitais dia, entre outros. 

Comunidades terapêuticas oferecem um ambiente bem estruturado para indivíduos que não disponham destes recursos em sua vida. As internações nestas instituições são frequentemente longas, possibilitando uma estruturação da vida antes dele retornar ao seu ambiente social. A maioria delas oferece encorajamento, suporte moral, psicológico e espiritual. 

Prevenção de recaídas 

Estratégias que podem ser aplicadas conjuntamente ou logo após o tratamento primário (desintoxicação e reabilitação). Em geral estas estratégias têm o objetivo de antecipar (e lidar) com as situações em que os pacientes terão possibilidade de recair, ajudando-os a adquirir instrumentos eficazes para evitar o retorno ao consumo, modificando seu estilo de vida. Essas estratégias são muito efetivas na redução da exposição dos indivíduos às situações de risco, fortalecendo suas habilidades de evitar uma recaída. 

O MODELO MINNESOTA 

O Modelo Minnesota é o precursor de todos os modelos para tratamento de dependência química, tem suas bases estruturadas nos Doze Passos de AA e faz uso de uma abordagem multidisciplinar. 

O Modelo Minnesota baseia-se nas seguintes concepções: 

· Dependência química é uma doença e não um sintoma de outra patologia 
· É uma doença multifacetada e multidimensional 
· O motivo inicial que leva à dependência não está relacionado com o resultado 
· Focaliza a causa que desencadeia o processo e não a pré-disposição para a dependência. 

O Modelo Minnesota rege-se pelos seguintes princípios: 

· A meta é tratar, mas não a possibilidade de curar. O paciente é motivado a aprender a viver com a sua doença que é uma condição crônica e não em procurar as causas e esperar por uma cura. 
· Baseia seu programa de tratamento nos Doze Passos de AA especialmente nos primeiros cinco. 
· Recomenda a abstinência total de substâncias psicoativas. 
· Cria um ambiente onde a comunidade terapêutica é totalmente aberta e honesta, o que propicia uma troca de experiências em todos os níveis. 
· Tem uma equipe multidisciplinar que inclui um profissional denominado “conselheiro”, que pode ser um dependente em recuperação há muitos anos. 
· Apresenta um programa essencialmente didático que é aplicável a qualquer pessoa, mas utiliza um plano de tratamento que é específico para cada paciente. 

Pontos Fracos do Modelo Minnesota: 

· Seu funcionamento é complexo e depende muito das características pessoais daqueles que compõem o ambiente terapêutico. É de difícil avaliação objetiva devido às particularidades de cada caso. 
· Devido à complexidade metodológica, é difícil sua avaliação mediante estudos dos processos dessa natureza. 
· Apresenta uma mistura de princípios científicos com sabedoria adquirida, o que dificulta a sua avaliação e descrição. 
· Os papéis terapêuticos nem sempre são desempenhados por profissionais de formação formal. Isto cria muitas críticas dos profissionais de classes, especialmente entre os psiquiatras e psicólogos, além de problemas referentes a licenciamento e credenciamento. 
· Existe tanta diversidade dentro do Modelo Minnesota que às vezes torna-se difícil determinar nitidamente o que é e o que não é o Modelo Minnesota. 
· Devido à mescla de filosofias e profissionais, a administração de um programa dentro do Modelo Minnesota torna-se bastante trabalhosa. 
· O modelo Minnesota não é a resposta definitiva para o tratamento de dependência química. É um método que não permite prognosticar com segurança para quem vai dar resultado sem antes experimentar. 

Resumo do Modelo Minnesota: 

· Os profissionais de tratamento e os pacientes colaboram na definição do caminho da recuperação. 
· O foco do tratamento é a mudança do estilo de vida. 
· O tratamento é de longo prazo. 
· O tratamento é multidisciplinar. 
· A reabilitação depende do apoio de sistemas naturais como a família, amigos e grupos de ajuda-mútua. 

Contrastes desse modelo de reabilitação com o modelo médico tradicional onde: 

· Os pacientes são passivos. 
· Os medicamentos são os instrumentos mais utilizados. 
· O tratamento focaliza a cura. 

O PAPEL DA FAMÍLIA 

A família é o ponto chave no tratamento terapêutico de dependentes químicos 

A todo o momento, o ser humano é cobrado e influenciado pelo meio social em que vive e esse meio também determina como ele deve agir pensar e se comportar. Se ele fugir às normas sociais consequentemente será “punido” pela sociedade. Com isso, a todo o momento o individuo se sente “vigiado” por esta, e em última instância por ele mesmo. 

Sendo assim, o nível de estresse ao qual é submetido todos os dias é alto, saindo às vezes do “normal” para o descontrole. Nem mesmo na condição de dependente químico, o indivíduo se livra da cobrança e do julgamento social – ao contrário – a cobrança passa a ser muito maior e, como não pode mais obedecer às regras sociais, passa a ser excluído de todo o convívio em sociedade, seja na escola, no trabalho ou até mesmo na família. 

A família em muitos casos faz parte deste processo de exclusão do doente, muitas vezes por medo, desconhecimento, ou simplesmente pelo estigma de ter em seu convívio um doente tido pela sociedade como alguém sem capacidades, “louco” ou “drogado”. Percebemos as dificuldades e a carga psicológica à qual as famílias estão expostas, porem é essencial, todo e qualquer apoio nestes casos, sendo de suma importância seu envolvimento e participação durante todo o tratamento terapêutico vivenciado pelo paciente, a fim de conhecer e entender melhor a problemática, tornando-se parte deste processo. 

Além do preconceito que os dependentes químicos sofrem da sociedade, eles também são submetidos aos da família, que se sente envergonhada pela sociedade pelo simples fato de não terem conseguido formar um individuo “saudável” e o preparado para cumprir com suas obrigações sociais. Não é possível julgá-las, pois também são vitimas da sociedade assim como o doente, mas é possível reconhecer a importância dela na vida de qualquer ser humano. 

Os familiares são fundamentais no processo de tratamento do doente. No entanto, necessitam saber como lidar com as situações estressantes, evitando comentários críticos ao paciente ou se tornando exageradamente superprotetores, dois fatores que reconhecidamente provocam recaídas. Torna-se muito importante que os familiares dosem o grau de exigências em relação ao doente, não exigindo mais do que ele pode realizar em dado momento, mas sem deixá-lo abandonado, ou sem participação na vida familiar. Conhecendo melhor a doença e tendo um diagnóstico claro, a família passa a ser um aliado eficiente em conjunto com a medicação e a terapêutica trabalhada pela equipe multiprofissional. 

Ao mesmo tempo em que se trata o quadro de doença do paciente, a família deve receber total atenção no sentido de ser orientada em sua abordagem ao paciente ou em sua dinâmica de relacionamento durante o processo terapêutico, visto que em muitos casos a família adoece em conjunto, sendo necessário um processo de escuta, apoio e orientação. Trabalhar com famílias traz à tona traços relacionados à dinâmica funcional familiar muitas vezes já cristalizados ao longo do tempo e que necessitam ser repensados e apreendidos. 

PROCESSO TERAPÊUTICO 

O processo terapêutico é o momento onde o paciente passa por cuidados efetivos exercidos pela equipe multiprofissional tendo por finalidade o tratamento dos sintomas de sua doença e a manutenção e garantia de sua continuidade ao tratamento tendo o suporte adequado para este fim, visando sua recuperação e melhora. É neste momento também que estão lado a lado a equipe multidisciplinar e os familiares do paciente, juntos pelo mesmo objetivo - o da melhora e qualidade de vida do paciente. Diante desde complexo cotidiano, as ações dirigidas às famílias devem estruturar-se de modo a favorecer e fortalecer a relação familiar/profissional/serviço, entendendo que o familiar e fundamental no tratamento dispensado ao doente. 

Durante o processo terapêutico onde os familiares estão inseridos e participantes, conseguem lidar com menos apreensão e assim oferecer cuidados de melhor qualidade ao doente, principalmente quando estão inseridos em reuniões e/ou grupos de família ou em outros processos, sendo estes espaços propícios para a reflexão, discussão, escuta, troca de vivencias, angustias e orientações, constituindo-se estes como efetivos espaços privilegiados de atendimento familiar. 

Os pacientes sofrem e suas famílias também necessitam ser atendidas pela equipe respeitando sua forma de constituição, porem levando em consideração os vínculos estabelecidos e a dinâmica funcional, reconhecendo e respeitando suas limitações, procurando trabalhar preconceitos e/outras formas de entendimento da situação problema do paciente. 

A relação familiar é o sustentáculo e a base para uma boa estrutura emocional para o paciente, tanto para a prevenção de uma crise, quanto para sua manutenção e recuperação, fato pelo qual se torna essencial sua participação em todos os processos terapêuticos no qual o paciente esteja inserido, o que irá propiciar uma melhor adequação do tratamento e consequente melhora. 

O PAPEL DA ESCOLA 

A adolescência é como uma etapa de transição, um período psicossociológico entre a infância e a vida adulta do sujeito, fruto da organização da nossa sociedade tal como a conhecemos. Um dos fatores mais marcantes durante a adolescência é a busca dos jovens por um grupo que os defina. Ainda que durante a adolescência, a família continue ocupando um lugar preferencial como contexto socializador, à medida que vão se desvinculando de seus pais, as relações com os companheiros ganham em importância, em intensidade e em estabilidade e o grupo de iguais passa a ser o contexto de socialização mais influente. Esse fenômeno acontece basicamente na convivência escolar diária. 

Prevenção no contexto escolar 

A escola, por ser um elemento de presença forte para os jovens e - juntamente com a família - responsável pela educação destes de forma global, tendo as ferramentas necessárias para proporcionar prevenção ao uso de drogas. 

O trabalho com drogas pode vir a ser feito em três níveis - prevenção, repressão e tratamento. A prevenção divide-se em duas etapas: prevenção primária que procura desestimular a primeira experiência dos não iniciados e a prevenção secundária que busca prevenir o aprofundamento do uso experimental. A prevenção coloca-se, portanto como imperativo desse processo já que o tratamento de pessoas já em dependência é longo difícil, aleatório e caro. Quanto mais precoce, maiores são as possibilidades de eficácia da mesma. 

Ela pode vir a seguir vários modelos: princípio moral (uso de drogas como algo condenável do ponto de vista ético e moral), amedrontamento (enfatiza aspectos negativos e perigosos das drogas), conhecimento científico (propõe fornecimento de informação de modo imparcial e científico), educação afetiva (modificação dos fatores predisponentes ao uso de drogas), estilo de vida saudável e pressão de grupo positiva (o grupo como fator de proteção do jovem contra as drogas). 

Quando se considera a prevenção no contexto escolar deve-se dar ênfase no investimento da formação de profissionais qualificados, bem treinados e habilidosos para lidar com as demandas da instituição. Deve também buscar envolver o corpo escolar inteiro e colocar o adolescente como participante ativo do processo de elaboração dos projetos utilizando linguagem acessível e escutando o que ele tem a dizer sobre sua realidade. 

Na impossibilidade de excluir as drogas do domínio social há que se trabalhar visando à construção de profissionais mais preparados para enfrentar os problemas causados por elas. A prevenção entra, portanto como parte da formação dentro do ambiente escolar. 

É papel do psicólogo escolar/educacional junto ao corpo discente da escola a elaboração, desenvolvimento e acompanhamento de projetos de prevenção ao uso de drogas. Deve ainda trabalhar junto a projetos que visem à construção de uma identidade pessoal (autoestima, socialização, disciplina, organização) e participação social (conscientização de papéis sociais e cidadania responsável). 

O trabalho deve ser realizado junto ao jovem buscando valorizar as nuances de seu caráter e propiciar um ambiente favorável para que elabore os possíveis fatores relativos ao seu contexto social ou sua subjetividade que possam vir a influir na procura pelo uso de entorpecentes. Os grupos que geralmente servem como meio de iniciação do uso de drogas podem vir a ser revertidos favoravelmente e servir como fator de segurança contra o uso de drogas. 

O PAPEL DA IGREJA 

A fé como proteção à recaída 

Os indivíduos de menos idade são os que menos atribuem à espiritualidade e à religiosidade o caráter de fator protetor para manter-se longe das drogas. Eles são os que mais cedo fazem o primeiro uso de substâncias de dependência e que também usam um número maior no que se refere à diversidade de substâncias. Entretanto, vários pesquisadores concluem que quanto maior a importância dada à religião, menor o envolvimento com drogas. 

Ainda que existam outros fatores que contribuam para a mudança de conduta dos dependentes químicos, é a espiritualidade desenvolvida ao longo de alguns meses, através do contato com a informação religiosa, que os faz permanecer no caminho da abstinência - pessoas que há mais de dois anos estão abstêmios demonstram uma estreita relação com a religião professada e a ela atribuem o principal fator da manutenção da abstinência. 

As questões que tratam do apoio de membros da instituição religiosa têm significativa relevância, confirmando que a religião não promove apenas a abstinência do consumo de drogas, mas, em especial, oferece recursos sociais de reestruturação: nova rede de amizades, ocupação do tempo livre em trabalhos voluntários, atendimento “psicológico” individualizado, valorização das potencialidades individuais, coesão do grupo e apoio incondicional dos lideres religiosos, sem julgamentos. 

A religiosidade controla indiretamente as atitudes frente ao consumo de drogas através da percepção do perigo de usar. Em especial, os aspectos de suporte social oferecido pela igreja ficam mais evidentes, pois realiza um forte acolhimento, demonstra mais zelo, preocupação e cuidado com os seus membros. A importância da igreja como suporte social também é destacada por algumas pessoas em recuperação. 

Na igreja, o fiel passa a seguir as regras adotadas e passa a respeitar as normas e valores determinados pela religião. Naturalmente essas normas levam a um distanciamento das drogas, devido à conscientização gradual da degradação moral associada ao seu uso e também pelo receio da rejeição por parte dos outros membros da igreja. A gratidão que o dependente químico tem pela instituição religiosa, apoiado na fé, afasta-o de atitudes e comportamentos que não estejam de acordo com a moral difundida pela religião. 

O papel da oração 

Pesquisas demonstram que a oração parece ser a ferramenta mais adotada para evitar a fissura e lidar com as dificuldades, uma vez que 80,0% dos dependentes fazem orações nessas ocasiões. Este aspecto demonstra que a devoção pessoal, expressa essencialmente pelas orações dirigidas a Deus, mostra-se inversamente associada ao abuso e à dependência das drogas e é o principal método de tratamento da síndrome de abstinência e de qualquer sintoma de recaída associada à fissura. 

É utilizada sempre que surge a vontade de usar e sempre que os dependentes sentem necessidade de “conversar com Deus”. A oração atua também como um ansiolítico, pois além de promover a fé, é nesse momento que o indivíduo divide suas angústias, sua luta diária contra a vontade de consumir drogas, confiante na resposta que terá do Divino. 

O despertar da fé 

Fica claro que a busca pela fé está diretamente ligada à história de dependência química, pois quando questionados sobre “em que momento da sua vida sentiram necessidade de procurar uma religião ou desenvolver sua espiritualidade” a maioria relata que foi no pior momento que tiveram quando ainda usavam drogas. 

Observa-se também que esses momentos estão ligados a rupturas drásticas na já frágil estabilidade emocional dos dependentes tais como: brigas e separação familiar, perda de emprego, perdas financeiras, discriminação generalizada, isolamento, etc.. Outro fator importante de estresse durante a dependência química é o tratamento e internação psiquiátrica, 40% dos sujeitos sentiram necessidade de buscar apoio religioso/espiritual nesse momento da vida. 

Assim, a religião influencia o modo como as pessoas lidam com situações de estresse, sofrimento e problemas vitais. A religiosidade pode proporcionar à pessoa maior aceitação, firmeza e adaptação a situações difíceis de vida, gerando paz, autoconfiança e perdão, além de permitir o despertar de uma imagem mais positiva de si mesmo. 

É notório, porém, que esse despertar para fé, não acontece apenas por uma situação única e isolada, mas como a “gota d’água”, isto é, parte dos recorrentes conflitos causados pelo consumo de drogas, que na maioria das vezes é decorrente de uma desestruturação existencial e comportamental. 

Quando inquiridos sobre qual a importância que a fé teve na recuperação de sua doença pode-se dizer que muitos dependentes encaram a fé como a salvação de suas vidas e como suporte indispensável para alcançar a abstinência e conseguir manter-se assim. Esses são aspectos responsáveis pelo sucesso de programas que abordam a espiritualidade/religiosidade no tratamento contra as drogas. 

Aproximar a espiritualidade ao tratamento convencional ainda representa uma tarefa muito difícil para a psiquiatria. Entretanto, todo indivíduo tem a necessidade de ser tratado como pessoa completa num contexto bio-psico-sócio-espiritual. Talvez se o tratamento psiquiátrico ao qual são submetidos tiver, em algum momento, um aporte espiritual, estejamos na verdade conseguindo abordar da forma mais abrangente possível todos os recursos capazes de levar à recuperação. 

LISTA DE FILMES SOBRE DEPENDÊNCIA QUÍMICA 

· 28 DIAS 
· A CARRUAGEM FANTASMA 
· A CORRENTE DO BEM 
· A MANHÃ SEGUINTE 
· À MARGEM DA IMAGEM 
· A SOMBRA DE UM HOMEM 
· A VIDA DE DAVID GALE 
· A VOLTA DOS BRAVOS 
· ABAIXO DE ZERO 
· AMIGOS PARA SEMPRE 
· ANATOMIA DE UM CRIME 
· ANJO EMBRIAGADO 
· BARFLY: CONDENADOS PELO VÍCIO 
· AOS TREZE 
· CANDY 
· CARLITOS NAS TERMAS 
· COISAS QUE PERDEMOS PELO CAMINHO 
· CORAÇÃO LOUCO 
· CRIANÇAS INVISÍVEIS 
· CRÔNICA DE UM AMOR LOUCO 
· DESPEDIDA EM LAS VEGAS 
· DIÁRIO DE UM ADOLESCENTE 
· DOCE PÁSSARO DA JUVENTUDE 
· DOPPING 
· DRUGSTORE COWBOY 
· ESCRITORES DA LIBERDADE 
· EU, CHRISTIANE F. 
· FACTOTUM SEM DESTINO 
· FARRAPO HUMANO 
· IRONWEED 
· JESSE STONE TEMPO DE DESPERTAR 
· JONNY E JUNE 
· JUVENTUDE REBELDE 
· KIDS 
· LA LUNA 
· LONGA JORNADA NOITE ADENTRO 
· M 
· MALDITO CORAÇÃO 
· MARCAS DE UM PASSADO 
· MARIA CHEIA DE GRAÇA 
· MARY E MAX UMA AMIZADE DIFERENTE 
· METALLICA: SOME KIND OF MONSTER 
· MEU NOME NÃO É JOHNNY 
· MOMENTOS ETERNOS DE MARIA LARSSONS 
· MORRER EM LAS VEGAS 
· MORRER MIL VEZES 
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· NAS GARRAS DO VÍCIO 
· NASCE UMA ESTRELA 
· O BICHO DE SETE CABEÇAS 
· NORD 
· O CAMPEÃO 
· O CASAMENTO DE RACHEL 
· O CONCERTO 
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· O DESTINO DE UMA VIDA 
· O FILHO DE JESUS 
· O FIO DA NAVALHA 
· O HOMEM DUPLO 
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· ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ 
· PALAVRAS AO VENTO 
· POLLOCK 
· PROFISSÃO DE RISCO 
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· UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA: PRECIOSA 
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